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Coluna do Mestre Sambinha SALGUEIRO, PARA O BEM OU PARA O MAL, MUDOU O CARNAVAL A Escola de
Samba Acadêmicos do Salgueiro, como já diz o seu lema, “não
é melhor, nem pior, apenas uma escola diferente”. Bem já o
foi quando, contrariando todos os temas da época, apresentou
enredos que falavam dos negros e suas histórias. Quando todas as
escolas falavam de fatos da história do Brasil, seus personagens
ou enredos ufanistas, a Acadêmicos do Salgueiro vinha com Chica
da Silva, Chico Rei e A História da Liberdade no Brasil. Esses
sambas, dentre os melhores de todos os tempos, ajudaram, já na
década de 60, a mudar o samba-enredo, mesmo que fosse por tratar
de temas até então não tão recorrentes. Essa foi só a
primeira mudança causada pela influência da escola da Tijuca. Em 1971, a vermelho-e-branco da Tijuca levou para
a avenida Presidente Vargas o enredo “Festa para um Rei
Negro”, que ficou imortalizado mesmo pelos versos “Pega
no Ganzê, pega no ganzá”. Esse samba foi composto por
Zuzuca e, contam, foi preciso que Fernando Pamplona exercesse
toda a sua influência, a muito custo, para convencer os jurados
de que o samba de Zuzuca era o melhor para a escola e não o
samba de Bala, como queriam os jurados. O samba de Zuzuca já
fazia um sucesso estrondoso muito antes do carnaval. Era a
música preferida em todos os bailes pré-carnavalescos. Quando o
Salgueiro entrou na avenida, foi a consagração e a prova que
Pamplona estava certo. “Festa para um rei negro” é um
samba de embalo, ao estilo de dois grandes blocos da época:
Cacique de Ramos e Bafo-da-Onça. Um samba curto, de versos
fáceis. Em 1972, já se percebia a influência exercida pelo
sucesso imenso desse samba sobre a escolha do hino oficial de
outras escolas. A Imperatriz Leopoldinense veio com “Martim
Cererê”, samba não tão arrebatador, mas curto, de versos
fáceis. O Império Serrano arrebatou a Avenida com “Alô,
alô! Taí, Carmem Miranda”, samba esse que seguia
direitinho a receita do samba do Salgueiro de 1971. O
Salgueiro tentou repetir a mesma fórmula, com outro samba de
Zuzuca, porém não obteve sucesso. Já em 1993, o Salgueiro “explodiu” na
avenida. Quem não se lembra dos versos até hoje cantados:
“Explode coração na maior felicidade. É lindo o meu
Salgueiro contagiando, sacudindo essa cidade. Lá vou eu...”.
Um samba razoável, porém, com um refrão muito forte, com
versos simples, que na teoria, todos poderiam cantar. Outras
escolas tentam até hoje repetir essa fórmula, fazendo sambas
“murrinhas” com supostos refrões fáceis de cantar,
porém, tão pobres em suas composições que ninguém canta,
pois não se pode subestimar a inteligência de quem desfila ou
assiste ao espetáculo. É claro que não é o caso do samba do
Salgueiro de 1993, como disse antes, um samba de razoável para
bom, com um refrão, esse sim, muito bem composto, que empolga
realmente. Agora fica a pergunta: qual a próxima mudança nos sambas-enredo que o Salgueiro irá impor? "Samba-enredo com poesia pura, sem apelação, não cola mais" "Não dá mais para fazer músicas com letras muito grandes, repassadas de poesia. O negócio agora é agüentar o refrão e jogar pra frente. Hoje, tudo funciona num esquema profissional. É dinheiro, só dinheiro. Samba-enredo com poesia pura, sem apelação, não cola mais". Esse era, já em 1977, o questionamento de Dominguinhos do Estácio ao se referir aos sambas-enredo gravados na época, e olha que, quando comparados aos sambas mais recentes, até são considerados lentos demais, sendo necessária uma adaptação ao andamento atual dado pelas baterias aos sambas-enredo, vide o caso da reedição de "Contos de Areia" feita pela Tradição em 2004. Com certeza, Dominguinhos comparavam-nos aos sambas da década de 60, extensos demais, "lentos", porém, na maioria, muito bem compostos, talvez os sambas mais belos de todos os tempos estejam nessa era. Hoje em dia, fica muito difícil até para compreender o que o puxador está cantando, face a velocidade com que sílabas são pronunciadas. Agora a pergunta: Por quê? Por que o "samba" é cantado dessa forma, se assim ele se assemelha a tudo, menos samba. Dizem os especialistas que é em razão do tempo restrito em que as escolas são obrigadas a desfilar e também pelo enorme contigente delas. Dizem que um samba com uma cadência lenta comprometeria de sobremaneira a harmonia atualmente. Tenho uma opinião de que tentaram dar ao samba o que consideraram ser mais moderno, ou seja, assemelharem-no a outros ritmos mais frenéticos como o axé, por exemplo. Acredito que, vendo o enorme sucesso que esse ritmo fazia, e com a decadência do samba-enredo, julgaram que, acelerando o samba, talvez o fizessem mais popular. Ledo engano. Houve, isso sim, uma descaracterização total, com baterias e puxadores em um ritmo, como já disse, em nada parecido com samba, uma batucada maluca que em nada se assemelha àquele ritmo que tanto sucesso fez em outras épocas. Quem duvida, procure ouvir alguma gravação ao vivo da década de 70 ou início dos anos 80. Quem ouviu a bateria de Mestre André sabe o que estou falando. Acredito que seja hora de repensar esses critérios adotados pelas escolas, pois eles são fatores, não as causas totais, da propalada decadência dos sambas-enredo. Mestre
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