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Coluna do Mestre Sambinha

Coluna do Mestre Sambinha

RESGATE DO SAMBA-ENREDO

"E lá vou eeu...pela imensidão do maar...". Esse é o samba magnífico da Portela, para o carnaval de 1981, samba de David Corrêa e Jorge Macedo. Quem, do final de 1980 até o carnaval de 1981, não cantou esse samba? Estava na boca de todo o mundo, era cantado pelas torcidas no Maracanã, sucesso em bailes, nas rádios e, até hoje, muito gente se pega cantando um trecho desse samba. Época boa, em que os "discos" das escolas de samba vendiam cerca de um milhão de cópias, freqüentavam as paradas de sucesso das rádios e todos cantavam os sambas.

O que aconteceu de lá pra cá para justificar esse desinteresse por esse estilo musical atualmente? Não posso precisar um marco, mas acredito que muito contribuiu para que isso ocorresse: a ascensão de outros ritmos como o "axé music" e funk, por exemplo. É evidente que a qualidade atual dos sambas-enredo também tem o seu peso. Sambas muito extensos, sem poesia, sem melodia, sem nada que nos leve a dizer: "esse é um bom samba". É claro que há exceções: a Mangueira apresentou alguns bons sambas, notadamente o samba do Carnaval de 2000, "Dom Obá", a Beija-Flor com uma seqüência de bons sambas, seqüência esta interrompida no carnaval de 2006 com o samba em "homenagem" a Poços de Caldas. Poderemos lembrar de mais um ou outro samba, mas nada que nos empolgue muito como outrora.

De quem é a culpa afinal pela péssima qualidade dos sambas atuais? Dos compositores que perderam a sua inspiração? Dos carnavalescos, que impõem aos compositores sinopses confusas e os obriga a seguir fielmente aquele roteiro? Dos diretores de harmonia, que orientam para que o samba escolhido não seja "arrastado" e seja sim um samba como vemos hoje, super acelerado, quando quase não conseguimos entender o que está sendo cantado, tudo isso para não comprometer a harmonia da escola? Ou, quem sabe, não tenha sido mesmo um processo lento, em que um sucesso de um samba em um carnaval influencia outros em anos posteriores? A má qualidade do CD, muito mal produzido? Talvez um pouco de tudo isso.

O que fazer então para que o gênero samba-enredo reencontre novamente o sucesso de outrora? Muitos dizem que isso é impossível, que é um gênero musical ultrapassado, o que discordo veementemente. É claro que não será de uma hora para outra que o samba resgatará o sucesso de outrora, será um processo lento, mas, acredito, muito eficaz. Quem sabe o passado (tão glorioso) não tem algo para nos ensinar? Se a intenção for novamente fazer os sambas serem cantados, no carnaval e, quem sabe, durante muitos anos, perdendo o caráter descartável que possuem hoje, poderemos pegar um exemplo do samba-enredo de maior sucesso da história, "Festa para um Rei Negro (Pega no Ganzê)"? Um samba curtinho, de versos fáceis, mas nem por isso vulgares e de uma melodia envolvente. O oposto do que é feito hoje em dia, com seus sambas quilométricos, de versos confusos e pobres melodicamente, assemelhando-se muitas vezes a outros ritmos que não samba. Malandramente, esse estilo foi seguido no ano posterior pela campeã Império Serrano com seu "Alô, alô, taí Carmem Miranda", pela Imperatriz Leopoldinense com seu "Martim Cererê" (grande sucesso por ter sido incluído na trilha sonora da novela "Bandeira Dois", e pelo próprio Salgueiro com seu "Mangueira, minha Querida Madrinha (Tengo Tengo)".

Outra possibilidade seria a volta da poesia, do capricho nas composições e, claro, tudo isso em um ritmo bem cadenciado, e não acelerado. Sendo assim, poderíamos manter os sambas extensos de hoje, já que seria um prazer cantá-los. "Chico Rei" e "Casa Grande e Senzala" são exemplos de sambas muito extensos, mas que de maneira nenhuma deixamos de cantar verso por verso e, se preciso fosse, cantaríamos novamente. Dentre as duas opções, fico com a primeira. Prefiro que os sambas sejam bem mais curtos, mas nem por isso marcheados, de belos versos, uma rica poesia e, principalmente, que tenham uma boa cadência. A qualidade da melodia é imprescindível para o sucesso do samba. Ninguém cantará um samba em que parece que está sendo rodado a 78 rpm. É preciso que se entenda o que está sendo cantado. A harmonia que se adeque ao samba e não o inverso. Um tema simples é quase sempre um bom caminho para o sucesso. A União da Ilha provou com enredos como "Domingo", "O Amanhã", "O Que Será", "Bom Bonito e Barato" e, principalmente, "É Hoje", que a simplicidade, combinada com compositores inspirados, podem gerar excelentes sambas-enredo. "É Hoje" e "O Amanhã" foram regravados por vários cantores de sucesso e, até hoje, fazem sucesso.

Hoje as escolas convivem com o famigerado "patrocínio", que as obriga a levarem para a avenida temas toscos e pobres e que, na maioria das vezes, nada têm de carnavalescos. Mesmo assim, é possível se fazer um bom samba com enredos "desse tipo". Se até mesmo um jingle, quando bom, é cantado pela população, por que não um bom samba-jingle? Infelizmente, hoje em dia o jabá (dinheiro pago pelas gravadoras às rádios para que executem algumas músicas) faz parte do cenário musical. As rádios não têm compromisso algum com a qualidade das músicas executadas (literalmente) e, sim, com o jabá das gravadoras. Se for preciso pagar, que paguem. Se "axé music", funk e até calipso tocam nas rádios, por que não samba-enredo? Dessa forma, apresentei algumas sugestões para o "resgate" do samba-enredo. É claro que não sou o dono da verdade e quem tiver novas idéias que as apresente.

Mestre Sambinha
jrenatoramos@yahoo.com.br