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Sambas da década de 60 (até 1967) Aqui serão analisados os sambas datados entre 1961 e 1967, último ano em que os sambas-enredo não foram divulgados em LP, fato que passaria a ocorrer tradicionalmente a partir do ano seguinte. Se você conhece sambas antigos e quer comentá-los, escreva um texto sobre cada um e envie para sambariobr@yahoo.com.br , que iremos publicá-lo neste espaço. RECORDAÇÕES
DO RIO ANTIGO (Mangueira - 1961) - "Rio, cidade tradicional / Teu
panorama é deslumbrante / É uma tela divinal!" Vamos
falar sério: qual carioca não se comove ao pelo menos ao ler
estes versos. O samba campeão da Mangueira de 1961 é um dos
melhores de todos os tempos e, na minha opnião, possui o refrão
mais emocionante de todos os tempos ("Glória a Estácio
de Sá / Fundador desta cidade tão formosa / O meu Rio de
Janeiro / Cidade maravilhosa!"). A letra é de deixar
qualquer bamba de queixo caído e as rimas são fantásticas! A
melodia é complexadamente extraordinária, com o poder de
envolver a alma de qualquer um que o escute diante das
tradições da cidade do Rio de Janeiro. Também possui um
belíssimo refrão central, mostrando que realmente é difícil
uma cidade moderna como o Rio voltar às tradições. Se o
problema já era exaltado em 1961, imagine hoje! O Rio de Janeiro
era cidade dos boêmios, da alegria, do luxo e da ostentação.
Com o passar do tempo, a própria busca pela modernidade afetava
as grandes metrópoles do mundo, incluindo o Rio de Janeiro. Um
bom exemplo desta ocorrêcia é o fim da saudosa Praça Onze, que
mesmo com autoridades altamente ligadas ao carnaval (como o
prefeito Pedro Ernesto e o delegado Dulcídio Gonçalves), foi
destruída quase por completo para a construção da avenida
Presidente Vargas. Pode parecer até um simples fato, porém a
modernidade consome cada vez mais a tradição e este samba narra
tudo isso maravilhosamente bem. Hoje, os chafarizes, as igrejas,
os bondes, os coretos, os cinemas, os palácios, etc. estão
aprodrecendo e sendo demolidos para a construção de edifícios
novos, feitos por gente sem coração, alegando visar o
progresso. O progresso, na verdade, é ver um país crescer, não
porque possui altos investimentos, mas sim por ser um lugar que
sabe valorizar a sua cultura, o seu povo! Isso desperta em um
saudosista como eu uma tristeza profunda de ver minha cidade
perder suas origens pelo tempo. Voltando ao assunto do samba, pra
mim, é o melhor samba dos anos 60 (melhor até que o de 1967) e
o terceiro melhor samba da história da Mangueira (perdendo
somente para os de 1999 e de 1988). É um verdadeiro primor! O
samba já foi regravado pelo grupo "Originais do
samba", no disco "Clima Total", de 1979; por
Jurandir, no CD da Mangueira da Coletânea Sony de 1993 e no
disco "Raízes da Mangueira", de 1973 e também foi
levado novamente para avenida pela escola-mirim Mangueira do
Amanhã em 2005. Porém, quem realmente imortalizou esta obra foi
ninguém mais que o maior intérprete de todos os tempos, Mestre
Jamelão. Ele o gravou no LP de 1962, "Desfiles das campeãs
- Jamelão e as escolas de samba"; no de 1975,
"Sambas-enredo - Sucessos antológicos" e no de 1984,
"Mangueira, a super campeã". A faixa do álbum de 1975
se faz presente na coletânea "A voz do samba" (1997) e
é a versão disponível para download aqui no SAMBARIO. O que
destingüi esta gravação das outras é jeito que é cantado,
pois esta versão é bem mais pesada que as outras. Vale a pena
baixá-lo! NOTA
DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba VIDA E OBRA DE
ALEIJADINHO (Salgueiro
- 1961) – É obra de Bala,
autor de quase uma dezena de sambas da escola, incluindo Bahia de
Todos os Deuses e Traças e Troços. O samba tem uma letra
típica dos sambas da época, exaltando o personagem do enredo e
sua importância histórica dentro da cultura brasileira, dizendo
como sua figura projetou a imagem do Brasil no conceito
internacional, e etc. Enfim, não é uma letra muito inspirada,
utilizando todos os lugares-comuns dos sambas da época.
Entretanto, o samba ganha força na singeleza da melodia, com um
belíssimo “ôôô” e um majestoso “lá
láiá”. Mesmo se o samba fosse só esse “ôôô”
e esse “lá laia” seria uma delícia. Embalou um dos
mais memoráveis desfiles salgueirenses, vice-campeão de 1961,
que chamou muito atenção pela representação alegórica dos
doze profetas, SECA NO NORDESTE (Tupy de Brás de Pina -1961) - A Tupy de Brás de Pina, nascida em 1951, tinha caído em 1960 do Grupo I para o Grupo II, e resolveu apostar num enredo dramático, contando o sofrimento do agricultor diante do clima da região semi-árida brasileira. Com o desfile, a Tupy conquistou o vice e voltou ao grupo principal. Entretanto, eu faço uma pergunta para quem conhece este samba: você sabe qual foi a escola campeã do Acesso em 1961? Esta é uma pergunta que, provavelmente, nem o mais doido amante da história do carnaval sabe. Se o Acesso, em pleno 2005, já é um tanto obscuro para a maior parte da população, que não vive o dia-a-dia das escolas de samba, imagine esta situação em 1961... Entretanto, "Seca no Nordeste" é um samba-enredo razoavelmente conhecido. Só este fato já mostra a força desta obra, em minha opinião, um dos cinco melhores sambas-enredo de todos os tempos. A gravação que tirou "Seca do Nordeste" do esquecimento foi feita por Jamelão, em disco de 1962. Este LP, raríssimo por sinal, trazia seis sambas de quadra e seis sambas de enredo das escolas campeãs e vices do Grupo I, II e III. Só por curiosidade, o disco trazia também o fantástico "Rio Antigo", da Mangueira de 1961, que foi reeditado pela escola mirim Mangueira do Amanhã, em 2005. Entretanto, o destaque do disco é, sem sombra de dúvidas, "Seca no Nordeste". Na gravação de Jamelão, o samba, com andamento lento e bateria pesada, que casa com perfeição com a letra e a melodia da composição, começa sendo cantado pelas pastoras, que descrevem o cenário desértico e devastador da seca: "Sol escaldante, terra poeirenta / Dias e dias, meses e meses sem chover / E o pobre lavrador / Com a ferramenta rude / Dá forte no solo duro / Em cada pancada parece gemer...". Depois, entra Jamelão, triunfal, trazendo a angústia do lavrador. Basta ler os versos para se ter noção da beleza desta letra, que consegue passar sentimento como poucos sambas-enredo da história: "No auge do desespero / Uns se revoltam contra Deus / Outros rezam com fervor / Nosso gado está sedento, meu Senhor / Nos livrai dessa desgraça...". A partir daí, começa a redenção: "O céu escurece / As nuvens parecem / Grandes rolos de fumaça / Chove no coração do Brasil!". Diante da chuva, o samba descreve a emoção do agricultor, de forma poética - em minha opinião, os mais lindos versos da história do samba enredo, principalmente quando chama os pingos de chuva de "lágrimas do céu", que se unem às lágrimas do lavrador, cujas súplicas foram atendidas. O samba termina com um "ôôôô" dramático, apoteótico, hipnótico, fechando de forma sublime um dos grandes momentos fonográficos da história do Carnaval Carioca. O samba teve outras versões, uma excelente com Clara Nunes, no disco "Clara Clarice Clara" de 1972. Fagner também a gravou no seu disco de 1995. Outra versão fácil de ser encontrada é a de Mestre Marçal, no disco "Sambas Enredos de Todos os Tempos", mas que não é muito feliz. A versão de Jamelão não é impossível de ser encontrada, mas é bem difícil. Infelizmente, o samba não foi relacionado nos CD's da caixa "A voz do Samba", de Jamelão, que no primeiro CD trouxe inúmeros sambas enredos cantados pelo mestre. Além do disco original, de 1962, a faixa pode ser encontrada em LP na coletânea, "Os Melhores Sambas Enredos de Todos os Tempos, Vol. 01", da gravadora K-Tel, que é encontrável em sebos e em sites de leilão virtual. Vale a pena procurar. Respondendo a pergunta formulada no início do comentário, a escola campeã do acesso em 1961 foi a Unidos do Cabuçu. NOTA DO SAMBA: 10 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba LEILÃO DE ESCRAVOS (Unidos da Tijuca - 1961) - Lá pro
longínquo ano de DIA DO FICO (Beija-Flor de Nilópolis - 1962) - A
agremiação de Nilópolis, quando o assunto é samba-enredo,
começou a dar as suas caras aí. "Dia do Fico" é um
samba muito animado, de letra bem-feita e melodia exuberante.
Para ser mais sincero, a melodia e a letra não de perfeito
encaixe, num casamento impressionante. É uma obra feita pelo
inigualável Cabana, um dos maiores compositores de sambas-enredo
de todos os tempos. Cabana foi o responsável por ter inscrito a
Beija-Flor entre as grandes escolas de samba cariocas, competindo
com agremiações como Mangueira, Portela, Império Serrano,
Salgueiro, Unidos da Tijuca, entre outras. É obvio que a Beija
não começou entre as grandes e era apenas uma típica escola
ioiô (a que vive subindo e descendo de grupo). Somente subiu
"pra ficar" em 1973, onde está até hoje, sendo uma
das maiores escolas de samba do carnaval carioca. Vale a pena
lembrar que a Beija-Flor foi vice-campeã do Grupo 2 em 1962 (o
primeiro lugar ficou com a Unidos do Bangu, agremiação que
enrolou a bandeira em 1998) e sumiu para desfilar entre as
grandes em 1963. O refrão "Como é para o bem de todos/E
felicidade geral da nação/Digo ao povo que fico/Isso aconteceu"
é adorável. Seu canto é muito ligeiro, o que o torna melhor
ainda, apesar de dificultar um pouco o canto do intérprete. É
exatamente o mesmo caso do refrão "No Rio colorido pelo
Sol/As morenas na praia/Que gingam no samba/E no meu futebol"
do samba do "Domingo" (União da Ilha-1977). Se fosse
cantado mais lentamente, é obvio que se arrastaria. Também amo
o trecho "Foi uma data de glória/Exuberante em nossa
história/Esta marcante vitória deste povo varonil". O
começo do samba é muito bom, uma verdadeira exaltação a data
do Dia do Fico (9 de janeiro), apesar d'eu discordar
completamente do trecho "Data que o brasileiro jamais
esqueceu". Pago um milhão de reais para aquele que vier
pra mim e confirmar que nunca na vida esqueceu do Dia do Fico!!!
Também acho que Cabana ficou enchendo muita lingüiça na parte
"Data bonita e palavras bem ditas/Que todo o povo
aplaudiu". Sei que é um enredo muito difícil de um
compositor trabalhar, mas aí já em fricotada! Apesar de tudo,
é um samba-enredo belíssimo e merece respeito. Foi gravado por
Martinho da Vila em seu célebre LP de 1980, "Sambas
Enredo". Fora incluído também no vinil "História do
grêmio recreativo escola de samba Beija-Flor de
Nilópolis", feito em comemoração ao campeonato de 1976,
contendo outros sambas-enredo como "Peri e Ceci",
"Brasil no ano 2000" e claro, "Sonhar com rei dá
leão". Na Coletânea Sony, constou na voz do mestre
Neguinho, minha versão preferida. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Gabriel
Carin). Clique aqui para ver a letra do
samba CHICA
DA SILVA (Salgueiro - 1963) - A obra não é um
samba-lençol autêntico. Mesmo assim é um samba brilhante.
Levantou o primeiro campeonato sozinho da escola, trazendo
inovações, como uma ala inteira dançando minueto (uma dança
da época de Chica). Quanto à letra, nota-se que Noel Rosa de
Oliveira e Anescar Rodrigues preocuparam-se mais em ilustrar a
personagem do que dizer profundamente como Chica vivia. Porém,
isto não é defeito em samba algum. Pensando bem, às vezes, é
até uma qualidade. O autor preferiu compactar a obra em poucos
versos do que ficar enrolando e todos nós sabemos que quem gosta
de detalhes é Roberto Carlos. Mas nada contra aos clássicos
"Chico Rei", "História do Carnaval Carioca"
e "História da Liberdade no Brasil". Estou só citando
o que ele fez. No geral, é uma obra bastante fácil de ser
cantada, apesar de alguns versos complicadinhos na segunda parte,
como "Importante, majestosa e invejada" e "Um
vasto lago e uma belíssima galera", pois soam bem
complexos aos meu ouvidos. Gosto muito do início "Apesar/De
não possuir grande beleza/Chica da Silva/Surgiu no seio/Da mais
alta nobreza", demonstrando o amor que João Fernandes
tinha pela negra. Sobre a melodia, muito bonita mesmo e até um
pouco aceleradinha. O trecho "E a mulata que era
escrava/Sentiu forte transformação/Trocando o gemido da
senzala/Pela fidalguia do salão/Com a influência e o poder do
seu amor/Que superou/A barreira da cor/Francisca da Silva/Do
cativeiro zombou ô-ô-ô-ô-ô" tem uma força e tanta!
Ou seja, coisa que só gênio consegue fazer. Samba muito bom,
porém possui algumas pequenas falhas aqui e ali, mas nada que
venha a tirar a glória de um sambão desses. Não me admira o
campeonato, mas não é o melhor samba do ano. A então
minúscula e emergente Beija-Flor de Nilópolis trouxe a
obra-de-arte "Peri e Ceci" de grande mestre Cabana. O
samba salgueirense foi gravado inúmeras vezes: pelo próprio
Noel Rosa de Oliveira, na coletânea Marcus Pereira,
"História das escolas de samba" (1974); por Martinho
da Vila, no LP "Festa da Raça" (1988); pelo próprio
Anescar do Salgueiro, membro do Grupo Cinco Crioulos, no LP
"Samba... No Duro" (1967); por Zezé Motta, no CD da
Coletânea Sony. Outra gravação interessante é a de ninguém
menos que a de Erasmo Carlos, um dos reis da Jovem Guarda, para o
raríssimo LP de 1971 "Os maiores sambas-enredo de todos os
tempos". Mas a melhor interpretação de "Chica da
Silva", pra mim, é a de Mestre Marçal no disco
"Sambas-enredo de todos os tempos" de 1993. NOTA DO
SAMBA: 9,6 (Gabriel Carin). PERI E CECI (Beija-Flor de Nilópolis - 1963) - A diretoria da Beija-Flor decidiu apostar num enredo simples e criativo para tentar se manter no Grupo 1, já que subira no ano anterior. Trata-se da mais famosa obra literária de José de Alencar: "Peri e Ceci", um clássico da literatura brasileira. O livro, sobre o amor do índio Peri com a branca Ceci, proporcionou o melhor samba-enredo de Cabana para a Beija-Flor. Realmente é uma obra fora-de-série de letra majestosa e melodia muito emocionante. As rimas são magníficas, como, por exemplo, "apresentar/Alencar", "fabulosa/amorosas", "Peri/existir/Ceci" ou "preocupação/proteção/salvação". Cabana enriquece muito este samba-enredo com suas notáveis sacadas inteligentes. Durante toda obra, ele demonstra claramente ser uma pessoa inteligente, com capacidade de fazer grandes sambas sem ficar horas "queimando a mufa". Faz versos muito complexos com a maior facilidade do mundo. Está duvidando? Só leia: "Viemos apresentar/De José de Alencar/Esta obra-prima e fabulosa/Com cenas heróicas e amorosas/De um índio guarani/Peri que só pensava em existir/Vivendo para Ceci/Filha de Dom Antonio de Marins, o seu senhor/E para provar seu grande amor/Sua religião e sua tribo/Até a própria mãe/Peri abandonou". Entendeu o que eu digo? Para completar, as variações melódicas são perfeitas, combinando maravilhosamente bem com a bela letra. O samba também possui os tradicionais "laiá, laiá, laiá", comuns nos anos 60. Não é a toa que sem querer digo às vezes que este é o melhor samba da escola, esquecendo-me dos maravilhosos "A criação do mundo na tradição nagô" (1978) e "Araxá, lugar alto onde primeiro se avista o sol" (1999). Enfim, é uma obra-prima do carnaval, o segundo melhor samba da escola e um dos dez melhores da Era pré-Sambódromo. Está presente no LP "História do grêmio recreativo escola de samba Beija-Flor de Nilópolis", assim como outros sambas-enredo antigos da escola. Também integra o CD da Coletânea Sony (1993), ficando mais divinal ainda na voz do mestre Neguinho da Beija-Flor e sendo a melhor faixa do disco. NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba AS TRÊS CAPITAIS (Imperatriz Leopoldinense - 1963) - Fundada
em 1959 por Amaury Jório e contando com alguns dissidentes da
extinta agremiação Recreio de Ramos - entre eles Villa
Lobos, Pixinguinha, Heitor dos Prazeres e por aí vai - a
Imperatriz Leopoldinense já disputara seu primeiro carnaval em
1960, no Grupo de Acesso 3. No ano seguinte, com o enredo "Riquezas e
Maravilhas do Brasil", a escola deixava para todo o sempre o Terceiro
Grupo, faturando o seu primeiro campeonato e consequentemente o
ingresso para o Grupo 2. Em 1963, a agremiação
Leopoldinense apresentou o enredo "As Três Capitais" de autoria
do já presidente/carnavalesco Amaury Jório junto com
Maurício Silva. O tema é de facil
assimilação e conta a história das três
capitais (Salvador e Rio de Janeiro as antigas. Brasília a nova
capital), dando à escola o terceiro lugar no Grupo 2. Com
relação ao bom samba composto por Bidi, é bem
animadinho, contendo uma letra bastante didática e descritiva,
aliada a uma melodia valente e bem gostosa. E é claro!!!
Não poderia faltar o manjadíssimo "lalaía" tanto no início como no final da obra - grande
clichê da época. Na minha visão, a parte do samba que mais me agrada é a
estrofe final da segunda parte "Brasília no planalto de Goías/suprema
capital das capitais" que logo é incrementada pelo mini-refrão
"Monumento sublime da arqitetura nacional/colossal".
Esse verso não chega a ser um trava-lingua mais que é
complicado de cantarolar devido ao seu andamento bastante
acelerado. Martinho da Vila, que em 1963 ainda desfilava pela
antiga Aprendizes da Boca do Mato, deve ter gostado muito do samba
gresilense, tanto que o incluiu no album "Sambas de Enredo de Todos os
Tempos". "As Três Capitais" tambem está presente na
Coletânea Sony, e quem interpreta é Preto Jóia. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Luiz Carlos Rosa). Clique
aqui para ver a letra do samba CHICO REI (Salgueiro - 1964) - Mais um samba-lençol que não nos deixa mentir. Conta muito bem a história da vida de Chico Rei, desde seu reinado na África, passando pelo seu período de escravo, até a sua vida já alforriadas. A história de Chico Rei realmente é muito interessante. Só pra constar, eu conhecia o samba salgueirense de 1986, "Tem que tirar da cabeça aquilo não se tem no bolso", que é uma homenagem ao ex-carnavalesco Fernando Pamplona, antes deste de 1964. Aí não entendia porque que na parte que citava esta obra ("Já bebi, sambei com Chico Rei/Ouro nos cabelos") falava de "ouro nos cabelos". Precisei conhecer a obra para entender e achei bem inteligente a idéia dos escravos de esconder o pó de ouro nos próprios cabelos e depois mergulhá-los numa pia para retirar o minério. E você pode perceber que o compositor se preocupa mais em contar a "época feliz" da vida dele, e não a sua trajetória torturante de escravo. Conclui-se então que o samba é uma bibliografia do Chico Rei. Quanto à melodia com certeza é uma das mais emocionantes da história da vermelho-e-branco. Com certeza, a dolência esplêndida da parte "Ô-ô-ô-ô, adeus, Baobá, ô-ô/Ô-ô-ô-ô-ô, adeus, meu Bengo, eu já vou" é o encorporamento do lamento dos escravos no porão do navio negreiro. Não é a toa que o meu colega e webmaster do SAMBARIO, Marco Maciel, considera este um dos melhores sambas-enredo de todos os tempos (eu concordo com ele!). Parabéns para Geraldo Babão e Djalma Sabiá, dois compositores geniais que se uniram e nos proporcionaram essa obra belíssima da Academia! Uma gravação que realmente merece respeito é a da Coletânea Sony por Zequinha do Salgueiro. Mas nada se iguala a candência magistral de Martinho da Vila (dizem que o cantor considera este o melhor samba da história), que cantou esse samba de maneira inesquecível nos discos "Sambas Enredo" (1980) e "Canta canta minha gente" (1989). NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba AQUARELA
BRASILEIRA (Império Serrano - 1964) - Aquarela Brasileira inaugura uma das
mais impressionantes seqüências de vitórias em eliminatórias
na história das escolas de samba - mais do que vencer todas as
disputas de samba enredo do Império Serrano de 1964 à 1969,
Silas de Oliveira estabeleceu um nível de qualidade sem
precedentes na história do gênero. Basta dizer que dos seis
sambas que venceu no período, três disputam o título de melhor
samba-enredo da história (Aquarela Brasileira, Os Cinco Bailes
da História do Rio e Heróis da Liberdade). Aquarela Brasileira,
fruto de um enredo inspirado na música "Aquarela do
Brasil", de Ary Barroso, talvez seja o maior exemplo da
genialidade do compositor. É um samba de letra extensa, de
variações melódicas complexas, de letra rebuscada... e, mesmo
assim, é quase tão popular quanto à canção de Ary Barroso,
tendo um número incontável de regravações por sambistas e
mestres da música popular brasileira. O grande trunfo do samba
é o esquema melódico, que eu comparo com a do
"Bolero" de Ravel e explico o motivo: o
"Bolero", uma das composições de música clássica
mais conhecidas do mundo, é o chamado crescendo, ou seja, é uma
progressão, indo de uma oitava baixa para oitavas cada vez
altas, mantendo basicamente o mesmo tema melódico. Tem ainda uma
peculiaridade - a cada vez que o tema vai se repetindo, outros
instrumentos da orquestra vão sendo somados até que, ao final
dos cerca de vinte minutos da peça, a música, que começou
quase que saída do nada, ao som de apenas um instrumento, está
violentíssima, explosiva, sensual. Tudo é preparado para o
clímax, que é justamente este momento, quando toda orquestra
toca ao mesmo tempo. Com "Aquarela Brasileira", a coisa
acontece mais ou menos da mesma forma. Note como a melodia
começa num tom bem baixo e vai subindo, evoluindo, até explodir
no "lá lá lá lá ia" que é a marca registrada do
samba. A grande diferença é que a melodia de Silas de Oliveira
vai variando, mesmo que dentro do tema proposto, enquanto o
"Bolero" é a repetição do tema melódico em
crescendo. Não é à toa que o samba tem presença garantida em
qualquer lista de melhores sambas da história, sendo considerado
o melhor por grande parte dos críticos. É um samba
irresistível, espetacular, poético. "Os Sertões"
talvez seja mais perfeito do ponto de vista técnico, mas este
samba tem uma magia que o torna incomparável. Como já foi dito,
o samba recebeu inúmeras regravações, e uma das melhores é a
de Martinho da Vila, no disco "Maravilha de Cenário",
de 1975. Emílio Santiago, Jorge Aragão e Elza Soares também
já gravaram este samba. Aquarela Brasileira foi reeditado em
2004, pelo próprio Império Serrano, sendo talvez o último
momento em que o público foi abaixo na Sapucaí num desfile de
Grupo Especial. É um samba difícil de cantar e foi
magnificamente levado por Nego, que recebeu o Estandarte de Ouro
de melhor intérprete. Sabe qual é a nota? NOTA DO SAMBA: 10
(João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba HISTÓRIA DO CARNAVAL CARIOCA (Salgueiro -
1965) - "Recordando a história do carnaval/Sob o comando do Rei
Momo/Abrimos o desfile tradicional". Outro clássico
salgueirense de tirar leite de pedra. Em 1965, o desfile das
escolas de samba foi monotemático, cujo tema era o quarto
centenário da fundação do Rio de Janeiro e todas as
agremiações fizeram enredos sobre este evento. Fernando
Pamplona decidiu criar um enredo sobre a história do carnaval na
cidade, baseado no livro da pesquisadora Eneida de Moraes. Quanto
ao samba, o resultado foi extraordinário. Geraldo Babão e
Valdelino Rosa se inspiraram demais ao fazer esse maravilhoso
samba-lençol. A melodia é super emocionante, respeitosa e até
um pouco animadinha. Da primeira parte até ao refrão central
vemos uma linha melódica igual. Depois do refrão, a melodia
fica um pouco mais lenta e menos animadinha (menos parecida com a
primeira parte). Destaque para o trecho "Ranchos, blocos
de sujos e sociedades/Alegres foliões, aqui relembrados/E o Zé
Pereira/Pioneiro da folia no passado/Corso, tradições
antigas/Moças e rapazes/Em carros decorados".
Magnífico!!! Porém, é na letra que toda atenção está
voltada. Apesar de ser imensa, conta esplendidamente bem o
enredo. Diria que o samba é a própria sinopse do enredo.
Começa lembrando o carnaval antigo do tempo das grandes
sociedades, corsos, ranchos e blocos de sujos. Também exalta
muito bem os antigos costumes e brincadeiras dos foliões
cariocas. Segue-se a parte que fala do surgimento do samba e das
tradições da Praça Onze ("A inesquecível Praça
Onze/Sempre foi reduto de bamba/Glória e consagração/Da
primeira escola de samba/Os imortais compositores/Revivemos seus
talentos, seus valores"). Mas algo que me chama mais
atenção neste samba é a citação do baile de gala do Teatro
Municipal. Achei essa inclusão algo interessantíssimo! Com
certeza deve-se ao próprio carnavalesco, que era bailarino do
Teatro Municipal. Outro fator que me chama muita atenção foi a
presença do saudoso refrão de Chiquinha Gonzaga ("Ó
abre alas, que eu quero passar/Eu sou da Lira, não posso
negar/Rosa de Ouro é quem vai ganhar"). Enfim, é um
clássico do Salgueiro e dos anos 60. O samba foi gravado pelo
próprio Geraldo Babão novamente na coletânea "História
das escolas de samba" de 1974, da gravadora Marcus Pereira.
Na minha opinião, essa gravação é bastante infeliz. Uma boa
gravação dele é a da Coletânea Sony, na qual o Conjunto Nosso
Samba fez um extraordinário "dueto" com o coro
feminino "As Gatas". Apesar de eu achar as vozinhas das
Gatas um pouco definhadas, tenho que admitir que a gravação é
excelente e teve um belíssimo resultado. NOTA DO SAMBA: 10
(Gabriel Carin). CINCO
BAILES TRADICIONAIS NA HISTÓRIA DO RIO (Império Serrano
- 1965) - Depois de
fazer um samba tão genial quanto "Aquarela
Brasileira", nenhum compositor conseguiria manter o nível.
Silas de Oliveira, no entanto, é o grande mestre do gênero.
"Os Cinco Bailes da História do Rio" tem como ponto
alto as inúmeras variações melódicas que se interligam, como
se o samba tivesse várias partes distintas, dando à obra um
caráter épico. A melodia é doce, um pouco diferente dos sambas
do compositor. É muito provável que a culpa disso seja de sua
parceira, Dona Ivone Lara, a primeira mulher a assinar um
samba-enredo. O samba embalou o vice-campeonato do Império e,
apesar de não ser tão popular quanto "Aquarela
Brasileira" e "Heróis da Liberdade", é
considerado, por muitos, um dos grandes sambas da história, uma
obra-prima de valor indiscutível. Eu vejo uma forte inspiração
desta obra no samba "O amanhã", da União da Ilha de
1978, um dos mais conhecidos da história, onde vários trechos
têm basicamente a mesma linha melódica. Gravações deste samba
são relativamente comuns e fáceis de acha, sendo que eu destaco
duas - a da própria Dona Ivone Lara, no disco "Sorriso
Negro", de 1981, e a de Roberto Ribeiro, no disco
"Molejo", de 1975. Neguinho da Beija Flor também já
cantou o samba, no seu disco "Felicidade", de 1990.
Outra gravação popular é a de Martinho da Vila, no disco
"Sambas Enredo", de 1980. NOTA DO SAMBA: 10 (João Marcos). Clique aqui
para ver a letra do samba EXALTAÇÃO À VILLA-LOBOS (Mangueira - 1966) - 1966 não foi um dos melhores anos para escolas de samba. As chuvas varriam a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro em plena temporada carnavalesca. Talvez o fato mais marcante deste acontecimento foi a destruição completa do barracão da pequena Império da Tijuca, e portanto, das singelas fantasias e alegorias. Porém, entre as lágrimas do céu e as lágrimas dos homens, reinava a luta contínua de três escolas pela hegemonia no carnaval carioca: Portela, Império Serrano e Mangueira. O público esquentava a disbuta, com objetivo de abafar as calmidades e fazer a voz do samba falar mais alto. Quando os envolopes foram abertos, viu-se que enredo baiano ainda dava azar (o Império ficou em terceiro lugar) e que a garra da Portela consagrava seu 18º título à Oswaldo Cruz. Todavia, ainda houve a simpatia de uma escola que naquele ano não teve uma obra-prima antológica, como o Império e a Portela. Mas sim, um samba pouquíssimo conhecido, porém belíssimo. Enfim, esse blá-blá-blá todo é para elogiar a extraordinária obra da Mangueira. "Exaltação à Villa-Lobos" é um samba valente, que conta o enredo de forma simples porém inteligente e que marcou a tragetória da escola nos anos 60. A Mangueira perdeu para a Portela apenas por um ponto. A obra foi feita por Cláudio e pelo magnífico Jurandir. Tem momentos muitos fortes para o coração de um bamba, como o refrão central (pra mim, melhor parte do samba) "Ô ô ô / O samba vibrou / Com as glórias que Villa-Lobos alcançou / E as platéias do mundo inteiro / Deslumbrou!". Outras partes que se destacam no samba é a introdução "Relembrando / As sublimes melodias / Que o poeta escrevia / Em lindas canções divinais" e o trecho "A alma sonora e vibrante da terra frebil / O grito da dança nascido na selva de nosso Brasil", entre outras. A única queda notável no nível da música é apenas o verso "A história e glória de nosso sertão" do segundo refrão, que não combina muito com a melodia do resto do samba. Depois desse erro, nada mais grave. O samba é uma homenagem forte a um dos maiores músicos da história brasileira, que é Villa-Lobos. Tem um valor lírico que faria qualquer compositor erudito cair no samba da verde-rosa e dar glórias aos céus pela existência de um compositor como esse carioca, modernista, intelectual e poeta foi. Esse samba de 1966 somente foi gravado uma vez em toda a história da música popular brasileira. Foi no álbum "Raízes da Mangueira" de 1973, relançado novamente em CD pela gravadora Copacabana em 1998. O disco também possui sambas-enredo memoráveis, como "Primavera" (1955), "O grande presidente" (1956) e "Rio Antigo" (1961). A faixa está a disposição de todos aqui no SAMBARIO e um detalhe: o gênio e autor do samba, Jurandir da Mangueira, é quem canta. A baixa popularidade do samba não justifica tanto a sua ausência na Coletânea Sony de 1993, já que tantas obras da verde-rosa só foram colocadas por causa de regravações (creio que se não fossem regravados anteriormente, cairíam no ostracismo). NOTA DO SAMBA: 9,6 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba O MUNDO ENCANTADO DE MONTEIRO LOBATO (Mangueira - 1967) - Graças a uma gravação da cantora Eliana Pittman, este se tornou o primeiro samba-enredo a fazer sucesso no Brasil. Esta obra-prima de Hélio Turco e companhia, que ajudou a Mangueira a ganhar o carnaval de 1967, é apontado por muitos como o melhor samba da história mangueirense (embora eu prefira "Cem Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão", de 1988) e um dos melhores de todos os tempos. Se você for perceber a letra, pode captar inúmeras expressões já vistas em outros sambas posteriores. Podemos considerar, portanto, que a letra do hino mangueirense de 1967 até hoje inspira muitos sambas de enredo. Embora simples, ela é requintada de muita poesia. A melodia é inquestionável. Lirismo e pureza acentuam seu estilo clássico, em tom menor, comum em obras dos anos 60. O refrão central "Sublime relicário de criança/Que ainda guardo como herança/No meu coração" é primoroso. Após Eliana Pittman, "Monteiro Lobato" já foi regravado inúmeras vezes. As duas versões mais conhecidas são as realizadas em 1993 por Beth Carvalho para o disco mangueirense da Coletânea Sony e por Mestre Marçal para o LP "Sambas-Enredo de Todos os Tempos" (a minha gravação favorita). NOTA DO SAMBA: 9,7 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba SÃO PAULO, CHAPADÃO DA GLÓRIA (Império Serrano - 1967) - Prosseguindo com seus enredos geográficos, o Império conta mais uma vez com Silas de Oliveira compondo o samba da escola. Este talvez seja o menos conhecido dos sambas da era de ouro da Serrinha. Apesar disto, é fantástico. Os versos iniciais são alguns dos mais poéticos da história do gênero samba-enredo e possuem uma melodia ousada e bastante diferente. Duvida? Leia: "Madrugada triste de garoa, na serra a brisa entoa / No momento o meu pensamento voa / Minha voz se embarga, mas não me calo / Com lápis e pincel / Risquei nesse painel / A singela homenagem a... São Paulo". A "madrugada triste" refere-se à música "Triste Madrugada" do conjunto "Demônios da Garoa". Infelizmente, o resto do samba não consegue manter o nível dessa primeira parte. A letra, muito bem construída, é um pouco mais previsível do que se espera de uma letra de Silas de Oliveira. O restante da melodia é competente, mas não tem a beleza transcendental que se desenhava nos primeiros acordes do samba. Apesar da beleza inegável da composição, a escola pela primeira vez em anos não tinha o melhor samba - a Mangueira apresentava o fantástico "Mundo Encantado de Monteiro Lobato", que se tornou um sucesso nacional e acabou levando as gravadoras a se interessarem em gravar os sambas enredo de cada ano, tradição iniciada em 1968. O Império, com o segundo melhor samba do ano, conquistou o vice-campeonato. A melhor gravação deste samba é de Dona Ivone Lara, no álbum "Sorriso de Criança", de 1979. NOTA DO SAMBA: 9,8 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba HISTÓRIA DA LIBERDADE NO BRASIL (Salgueiro - 1967) - "Quem por acaso folhear a História do Brasil/Verá um povo cheio de esperança/Desde criança/Lutando para ser livre e varonil!". Essa introdução é realmente um primor, anunciando que lá vem outra obra-prima do carnaval salgueirense. É um belissímo samba-lençol que conta bem o tema (novidade...). Porém, creio que se o Salgueiro levasse esse enredo uns dois anos mais tarde, a ditadura, com certeza, iria intervir. Mas, como isso não aconteceu, a escola pôde cantar esse belo sem nenhum problema. A letra é muito bonita e, assim como todo bom samba-lençol, faz questão de lembrar cada detalhe do enredo, desde Amadeu Ribeira a Deodoro da Fonseca. Sou fã da parte que fala da Revolta dos Alfaiates ("Na Bahia, são os alfaiates/Escrevem com destemor/Com sangue, suor e dor/A mensagem que encerra o destino/De um bom menino"). Acho que esse samba conta praticamente todas tentativas, bem-sucedidas ou não, de conseguir a liberdade no nosso país! Digo praticamente, pois é um pouco estranho a obra parar de contar a "História da liberdade no Brasil" na parte da proclamação da República, já que houve muitas rebeliões libertacionais depois de 1889, como, por exemplo, a Guerra de Canudos, Revolta da Vacina ou a da Chibata. Aurinho da Ilha (na época, Aurinho Cruz) mantém a cadência de sempre em seus sambas-enredo, seja na União da Ilha, seja no Salgueiro. A letra pode ser incrível, mas o ponto forte da obra é, na verdade, a melodia. Realmente, muito cadenciada e pra lá de envolvente. A única coisa que eu não gostei muito na obra é o chatíssimo início da segunda parte, depois do refrão central, visto que soa muito mal aos ouvidos. Ou seja, o pequeno trecho "Frei Caneca/Mais um bravo que partiu/Em seguida, veio o sete de abril" não combina nada com a leve melodia que o antecipava. Fora isto, nada mais. É uma obra-de-arte maravilhosa, mas que, no geral, não chega nem aos pés do samba do ano seguinte. Em 1968, o Salgueiro trouxe o fantástico "Dona Beija, feiticeira de Araxá" do próprio Aurinho da Ilha (um sucesso na voz de Jamelão, versão disponível para download aqui no SAMBARIO), que é, na minha singela opinião, o melhor samba da história da escola. O samba de 1967 pode ser encontrado no popular disco de Martinho da Vila de 1977, "Rosa do Povo". Porém considero esta gravação muito chata e artificial. Prefiro muito mais a de Sombrinha para a Coletânea Sony (1993), bem mais cadenciada. Sombrinha é um excelente cantor de samba-enredo. Só pra constar: Aurinho foi parceiro do grande Didi na União da Ilha e é um dos compositores do samba "Domingo" (1977), o melhor samba da história da Tricolor. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba FESTAS TRADICIONAIS DO RIO DE JANEIRO (Unidos de Lucas - 1967) - Recentemente, a Velha Guarda da Unidos de Lucas fora convidada a participar do quadro "Microfone de Ouro" do programa de rádio "Domingo de Bamba" (atual "Cidade do Samba") apresentado por João Estevam (como compositor ganhou sambas da Imperatriz em 1995 e 1999). Além de contar belas histórias da Galo de Ouro da Leopoldina, os convidados ilustres cantarolaram sambões inesquecívéis como "Sublime Pergaminho" de 1968 , "Lua Viajante" de 1982, entre outros. Mas o que chamou minha atenção e com certeza dos sambistas que ouviram o quadro do programa, a ponto de eu comentar aqui no SAMBARIO, é um samba-enredo que a Velha Guarda de Lucas cantou do carnaval de 1967, que é desconhecido de muita gente. Trata-se do primeiro samba-enredo da Unidos de Lucas, pois a escola é resultado da fusão entre Aprendizes de Lucas e Unidos da Capela (esta campeã do Grupo Especial de 1960 juntamente com Império, Portela, Salgueiro e Mangueira) ocorrida em 1966. Para o carnaval de 1967, o carnavalesco Clóvis Bornay (veja na seção Carnavalescos) apresentou o enredo "Festas Tradicionais do Rio de Janeiro", tema que fala sobre os festejos mais relevantes da história do Rio. Com um desfile competente, a escola acabou ficando na 5ª colocação e brigou pelo titúlo de "quinta força" do grupo de elite ao lado da Vila Isabel. O samba do compositor Ladyr Goulart possui letra bem extensa com nada mais nada menos que 41 VERSOS. Era de praxe até o final dos anos 60 a estrutura do samba ser composta por versos bem longos, a ponto de o chamarem de samba-lençol. Mesmo assim, a linguagem da obra não compromete, pois conta o enredo com total fidelidade. A parte mais interessante do samba é a estrofe "e entre relíquias e glórias desta época/não podemos deixar de exaltar/um dos mais lindos pregões de rua tão popular/sorvete iaiá é de coco da Bahia". Não sei se originalmente o verso do "sorvete" é o refrão do meio, pois a Velha Guarda o cantou por duas vezes e não cantarolaram a segunda parte do samba. Outro destaque do samba fica por conta do refrão de cabeça "Bulaiê, bulaiê bulaiô/aira iê Xangô/aira iê ôô/agulêlê, agulêlê/gulê olorum/axá norogô" de melodia envolvente e cativante. É um samba que, se não está na minha lista particular dos cinco melhores da escola, abriu o caminho para que o Galo de Ouro tornasse uma das melhores fábricas de sambas-enredos do nosso carnaval. Tanto que, no ano seguinte, a própria escola apresenteria o seu melhor samba: "Sublime Pergaminho". Voltando a falar do samba de 1967, eu o tinha gravado numa velha fita cassete que era de um antigo cantor de pagode dos anos 80. Como não tinha comprado uma nova e o programa "Domingo de Bamba" estava no ar, tive que pegar esta fita mesmo para poder gravar o quadro. Gravei por cima das faixas (hehehehe, que maldade!!!). Mas infelizmente, como castigo, de tanto colocar no "play" e no "rec", a fita acabou estragando dentro do meu rádio gravador. Uma pena!!! Ainda bem que não me esqueci da melodia do samba. Será que alguém, além de mim, conseguiu gravar este raríssimo samba??? NOTA DO SAMBA: 9,5 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do samba |
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