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Sambas da década de 50 Aqui serão analisados os sambas datados entre 1951 e 1960. Se você conhece sambas antigos e quer comentá-los, escreva um texto sobre cada um e envie para sambariobr@yahoo.com.br , que iremos publicá-lo neste espaço. 61
ANOS DE REPÚBLICA (Império Serrano - 1951) - Vamos voltar no tempo, mas precisamente
ao longínquo ano de 1951, quando a Império Serrano apresentou o
enredo "61 Anos de República'', e consequentemente
conquistou o tetracampeonato (no desfile oficial). A verde e
branco de Magno e Madureira, fundada no ano de 1947, em menos de
quatro anos de vida arrebatou surpreedentes quatro campeonatos,
algo raro de acontecer. E o tema de 1951 foi inspirado nas
eleições presidenciais de 1950. Getúlio Vargas (PTB) acabou
vencendo seu adversário Eduardo Gomes (UDN) por 48 contra 29%
dos votos válidos e voltou a governar o Brasil, até o seu
suicídio em agosto de 1954. Enquanto Getúlio era aclamado pelo
povo, Silas de Oliveira começava a entrar para a história do
carnaval interplanetário. Junto com seu inseparável parceiro de
samba, Mano Décio da Viola, construíram de forma brilhante um
dos cinco melhores sambas-enredos de todos os tempos - na minha
visão. Reza a lenda que faltavam poucos dias pro carnaval quando
um diretor da Império entregou-lhes um livro de História do
Brasil e mandou-lhes resumir os 61 anos de República Federativa
do Brasil. Com toda simplicidade do mundo, Silas pegou o livro,
chamou o Mano Décio pro canto da casa e em pouco tempo o sambão
já estava pronto. No final das contas todos gostaram. E eu
pergunto: quem não iria gostar desta obra-prima??? A letra
retrata com toda imponência a história política do nosso
país. Silas inovaria ao colocar a interjeição "zum-zum-zum"
num samba-enredo. Acho que, se for para citar a parte que mais
gosto, seria uma verdadeira hipocrisia deixar de fora um único
verso desta monumental obra. Destaco o samba TODO do começo até
o fim. Conta tudo e mais um pouco do tema, diferentemente dos
sambas atuais. Imagine o mesmo tema nas mãos de alguns
compositores "amadores" que simplesmente das duas uma:
ou fariam aquele resuminho básico de sinopse ou fariam um
sambinha que fala, fala, fala, e não diz nada. Mas o que me
deixou com o queixo lá no chão é sem duvida a melodia.
Maravilhosamente esplêndida!!! Suas variações, suas notas...
é uma verdadeira PEDRADA SONORA!!! Versos melodicamente
espetaculares como "...sem causa perca/era
eleito/Deodoro da Fonseca/cujo governo foi bem audaz/entergou a
Floriano Peixoto/e este a Prudente de Morais/apesar de
tudo/terminou com a Guerra de Canudos" e tambem "...eleito
pela soberania do povo/sua vitória imponente e
altaneira/marcará por certo um capitulo novo/na história da
Republica Brasileira". Esse segundo verso exaltando a
vitória de Getúlio deve ter o deixado com lágrimas nos olhos.
Se em "Heróis da Liberdade" de 1969, Silas chegou
perto da "perfeição divina" (diz com toda razão o
colunista João Marcos em seu comentário), o mesmo pode se dizer
com o samba de 1951. A diferença é que os sambas têm o tema
completamente distinto. E voltando a falar de Getúlio, Silas foi
um assumido ''getulista'', pois o homenageou em sambas e até em
peça teatral. Em 1968 participou da peça "Dr. Getúlio,
sua vida e glória'' de Ferreira Gullar e Dias Gomes. De quebra
ainda fez um samba ''Legado de Getúlio Vargas'' (em parceria com
Walter Rosa). A regravação mais perfeita do sambão "61
Anos de República" está na coleção "História do
Samba", pois a interpretação do saudoso Abílio Martins é
sem dúvida magistral. A gravação original está
disponibilizada no site oficial da Império Serrano. NOTA DO SAMBA: 10
(Luiz Carlos Rosa).
Clique aqui
para ver a letra do samba ROMARIA À BAHIA (Salgueiro - 1954) - É fascinante e gratificante poder comentar aqui no SAMBARIO o primeiro samba enredo da gloriosa história do Salgueiro. Mas antes de analisá-lo, vamos voltar ao tempo, mais precisamente no longinquo ano de 1953. Os sambistas do Morro do Salgueiro, em várias reuniões, tentaram unir as três escolas de samba da comunidade: a Azul e Branco, Depois Eu Digo e Unidos do Salgueiro. Segundo os sambistas da região, o número exagerado de agremiações no morro enfraquecia o carnaval das mesmas e criava uma desnecessária rivalidade a ponto de dividir a comunidade. De tanto insistirem, os representantes conseguiram a adesão das escolas Depois Eu Digo e Azul e Branco. Já a Unidos do Salgueiro, capitaneada na época pelo lengendário Casemiro Calça Larga, não concordou com a idéia da fusão - na verdade, alguns sambistas deixaram a escola em 1957 pra embarcar na Academia - e, talvez por obra do destino, acabou enrolando a bandeira em 1960, curiosamente no ano do primeiro título salgueirense. Mesmo assim, em 5 de março de 1953, nascia o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Em 1954, no ano de estréia, a nova agremiação surpreendeu a todos ao chegar na terceira posição, à frente da Portela que naturalmente ficou em quarto lugar. É evidente que a fusão das escolas do morro acabou gerando relevantes recursos. Tanto que o Salgueiro desfilou com pompas de escola grande, tamanha a riqueza de fantasias e adereços meramente desenvolvidos pelo carnavalesco Hildebrando Moura. Mas o fator importantíssimo e que ajudou e muito na projeção do Salgueiro foi sem dúvida o seu excelente samba-enredo. "Romaria à Bahia" é uma obra linda, linda, linda, da cabeça aos pés!!! O sambão que exalta não só o Estado da Bahia mas a Festa do Senhor do Bonfim tem a letra bem construída, e que, dificilmente encontra rebuscamentos idiotas à fim de iludir a mente do sambista. Na gravação original, o samba começa com uma leve batucada até a entrada do já manjado ''Láláiá" que tambem está presente no meio da obra. O grande destaque da primeira parte é o bélissimo verso " Carnaval, fantasia / lindas festas, de romaria / apresentamos o que acontece na Bahia". Logo entra o "Lalaiá" central que é bastante envolvente. A segunda parte revela o que a Bahia tem de bom, como o samba, o acarajé e o candomblé. Aí vem um refrãozinho bacana "Bahia, Bahia / orgulho desta nossa melodia". Na terceira parte, a melodia se sobressai a partir do verso "até hoje na Bahia" que serve de ponte para o extraordinário trecho "Por isso / em nosso enredo de carnaval / prestamos esta homenagem / a terra santa de São Salvador". O refrão final "Vejam nossas baianas cantam assim: / salve a Bahia / e o Senhor do Bonfim" tambem é melodicamente belíssimo. Vale ressaltar a sensacional interpretação das pastoras do Salgueiro que entoam a obra como se fossem sereias. "Romaria à Bahia" e todas as outras obras da história salgueirense você encontra no site da escola. NOTA DO SAMBA: 10 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do samba NAVIO
NEGREIRO (Salgueiro - 1957) - "Ô-ô-ô-ô-ô/No
navio negreiro/O negro veio pro cativeiro!". Um dos
melhores sambas dos anos 50 e um dos melhores da história do
Salgueiro. A obra é um primor jamais visto no carmval carioca
há décadas. Tem uma melodia pra lá de envolvente e a letra
narra muitíssimo bem o sofrimento dos escravos na viagem dá
África ao Brasil. E isso 107 anos depois do fim do tráfico
negreiro no Brasil. Mas parece mesmo que o samba foi feito
naquela época! Destaque para a parte "O navio onde os
negros/Amontoados e acorrentados/Em cativeiro no porão da
embarcação/Com a alma em farrapo de tanto mau-trato/Vinham para
a escravidão". Parece até que Djalma Sabiá e Armando
Régis eram escravos negros que fizeram a torturante travessia
intercontinental para serem cativos aqui. Castro Alves também
aparece bem na obra. Só conheço três sambas-enredo desse ano,
esse, o da Portela e o do Império (do mestre Silas de Oliveira).
Se houvesse a premiação do "Estandarte de Ouro" na
época, ele estaria numa disputa acirradíssima com a
azul-e-branco, mas levaria. E isso deveria ser muito para uma
escola que ainda era um pouco obscurecida em comparação as
demais. Salgueiro beliscava boas colocações, mas ainda não
tinha grande espaço no carnaval. Em NEGRO
NA SENZALA (Unidos da Tijuca - 1958) - Taí outro enredo sobre a escravidão,
que era muito comum na época. Esses enredos fúnebres, exaltando
somente o sofrimento sem fim dos escravos, duraram nas escolas de
samba até o Salgueiro começar a explorar o lado
"feliz" da vida dos negros. Ao falar de Zumbi dos
Palmares, Chica da Silva, Chico Rei e Valongo, a
vermelho-e-branco começou a passar um espírito sentimental
muito mais otimista aos sambistas. Voltando a VIAGEM PITORESCA E HISTÓRICA AO BRASIL (Salgueiro - 1959) – Desde sua primeira apresentação no carnaval carioca, o Salgueiro vinha fazendo belos desfiles no primeiro grupo das escolas de samba e conseguindo conquistar o coração do público carnavalesco. Entretanto, a escola da Tijuca não aumentava seu diferencial dentre as demais agremiações, pois o Salgueiro, com exceção a um 3º lugar ganho em seu primeiro desfile, não conseguia ultrapassar uma repetitiva 4ª colocação. Seu grande momento somente viria em 1959, quando presidente Nelson de Andrade convenceu um casal de cenógrafos e figurinistas a aceitarem o desafio de confeccionar o próximo carnaval da escola. Tratava-se da dupla Dirceu e Marie Louise Nery, que, apesar de serem artistas de formação acadêmica, traziam na bagagem um importante conhecimento sobre cultura popular. De imediato, o casal tomou medidas drásticas na estrutura do desfile do Salgueiro e a principal delas foi em relação a escolha do tema apresentado, chutando as temáticas de capa-e-espada (sobre governantes e militares) para escanteio e abordando um revolucionário enredo sobre Debret, ou seja, sobre um artista. Outra revolução ficou por conta do substituição completa dos desengonçados carros alegóricos por leves adereços de mão e de cabeça, que representavam inúmeras cenas presentes nas telas do pintor. Todos essas mudanças despontaram magicamente na avenida, levando o Salgueiro a realizar um desfile histórico, que fez a escola abocanchar um inédito vice-campeonato. Além da presença do casal Dirceu e Marie Louise Nery, o Salgueiro também contou com outro grande fator: o belíssimo samba-enredo de Djamal Sabiá e Duduca, muito elogiado, inclusive, pelo próprio Fernando Pamplona. A letra trata de um enredo abstrato de forma poética, como se fosse um verdadeiro relicário. Embora a letra utilize vários termos muito comuns nos sambas-enredo da época, a obra não é, em momento algum, pobre em conteúdo, pois, mesmo sendo extremamente emocional, ela não inciste em apelar para rebuscados clichês que normalmente tentavam dar a falsa impressão de poesia. A melodia é riquíssima em variações e, mesmo sendo pesada, consegue ser suave suficiente para encantar qualquer sambista. Ela começa devagar e vai crescendo até despontar no delicioso refrão central "Foi na verdade um grande artista/Primaz documentarista/Do Brasil colonial/Tendo alcançado a galeria imortal", que também possui as mesma nota melódica dos "lá-lá-lás" principais. Enfim, "Viagem pitoresca e histórica ao Brasil" é um samba típico dos anos 50, mas ainda sim é destaque absoluto na história salgueirense e com certeza ajudou a enriquecer mais ainda o desfile magistral da escola. Uma obra-de-arte, rica em letra e melodia, além de ser uma homenagem honesta e verdadeira a Debret! Fez falta na Coletânea Sony, tal como outras dezenas de hinos dessa escola que possui um acervo musical tão grande. Pelo que eu sei, o samba de 1959 nunca fora gravado em nenhum disco ou coletânea. Somente pude conhecê-lo graças ao belíssimo trabalho que o departamento cultural do Salgueiro vem fazendo, colocando a disposição dos internautas não só sambas-enredo antigos como também fotos e vídeos de outros carnavais no site da agremiação. NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba MACHADO
DE ASSIS (Aprendizes da Boca do Mato - 1959) - A extinta
agremiação da região do Lins, Méier e adjacentes foi fundada
no início dos anos 50. Em QUILOMBO DOS
PALMARES (Salgueiro - 1960) -
Um dos melhores sambas-enredo dos anos 60 e com certeza, o melhor
do ano. A agremiação havia ficado em 3º lugar, com a Portela
em primeiro e a verde-rosa |
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