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Sambas da década de 30

Sambas da década de 30

Aqui serão analisados os sambas-enredo datados entre 1932 (primeiro ano dos desfiles das escolas) e 1940. Se você conhece sambas antigos e quer comentá-los, escreva um texto sobre cada um e envie para sambariobr@yahoo.com.br , que iremos publicá-lo neste espaço.

HOMENAGEM (Mangueira - 1933) - Em 1933, o desfile das escolas de samba era algo recém-criado e as escolas possuiam somente pouco mais de 90 componentes cada, o que era algo incomparável ao esplendor dos ranchos, corsos, grandes sociedades e clubes carnavalescos. Naquela época, o gênero samba-enredo não existia e dois ou três sambas de quadra mais tocados pela escola eram levados para a avenida. A Mangueira sagrou-se campeã com o enredo "Segunda-feira no Bomfim da Bahia" e um dos sambas apresentados era chamado "Homenagem", de Carlos Cachaça. Havia outro samba cantado também (um de Cartola), mas este não ganhou tanta fama. "Homenagem" é uma obra incrível, feita só para emocionar e uma dos primeiros sambas. Do ponto de vista técnico, é basicamente um poema. Qualquer um que somente o leia, sentirá o real poder daquela letra fantástica. O belo refrão é cantado duas vezes, algo comum em sambas antigos. As rimas são de causar inveja aos poetas atuais. Nota-se que trechos como "Evocaram esses vultos / Prestando-lhes cultos / Sorrindo a cantar" ou "E se estes versos rudes / Que nascem e que morrem / No cimo do outeiro" são coisas que a gente não vê em sambas-enredo à milhões de anos! Pegamos um popularesco samba atual como o da Caprichosos de 2006. Compare o refrão "Recorda Castro Alves, Olavo Bilac e Gonçalves Dias/ E outros imortais que glorificaram nossa poesia / Quando eles escreveram, matizando amores / Poemas cantaram! / Talvez nunca pensaram / Em ouvir os seus nomes / Num samba algum dia" com "Espírito Santo caprichou / É chocolate na avenida / Numa serenata, Pilares canta / Feliz da vida". O samba de Pilares não chega nem aos pés de Carlos Cachaça! A obra segue uma linha melódica única, com variações iguais em muitas partes dele. Chega até ser um pouco pesada, comparado aos futuros sucessos da dupla. Creio que se fosse uma escultura, seira "David" de Michelangelo ou se fosse um monumento, seria as pirâmides do Egito. Simplesmente maravilhoso! Não me adimira nada a escola ter sido campeã! Ah, e o samba me parece que só foi gravado uma única vez, na coletânea "História das escolas de samba" (1974), no álbum da Mangueira. Esta é a versão que tenho comigo e o próprio Carlos Cachaça é quem o canta. NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

NATUREZA BELA (Unidos da Tijuca - 1936) - "Natureza bela do meu Brasil/Queira ouvir esta canção febril/Sem você, não tenho/As noites de luar pra cantar/Uma linda canção ao nosso Brasil!". Que honra comentar pioneiramente no Sambario um dos sambas mais desconhecidos da história! No longínquo ano de 1936, a minha amada Unidos da Tijuca causou um impacto marcante no carnaval carioca. A escola trouxe pela primeira vez carros alegóricos que ilustravam o enredo. Antes, as singelas alegorias enalteciam coisas que não tinham nada a ver com o tema apresentado pelas agremiações. A Tijuca fez essa inovação e virou notícia nos jornais. Além disso, o título de campeã de 1936 iria para a escola que tivesse a melhor harmonia. A Unidos da Tijuca já estava com a faca e o queijo na mão. Daí, a evolução da escola na passarela foi tão, mas tão perfeita, que a escola levantou pela única vez o caneco com o enredo "Sonhos delirantes". Todo tijucano de coração lembra desse campeonato com o maior orgulho do mundo. O samba cantado na avenida não era um legítimo samba-enredo, pois não explorava o tema em nada. Mas os pesquisadores cismam em afirmar que este foi o "primeiro samba-enredo gravado em disco", pelo cantor Gilberto Alves. E é verdade, apesar de não ser um "samba-enredo verdadeiro". Portanto, os bambas ainda podem dizer que o primeiro "samba-enredo real" a ser gravado é "Exaltação a Tiradentes" (1949) do Império Serrano, gravado pelo cantor Roberto Silva em 1955. Voltando a falar de "Natureza bela", é uma obra-prima competente, que soa bem no ouvido de qualquer sambista e tem uma melodia leve como uma pluma. O samba ainda contém pérolas como "É um sambista apaixonado/Quem lhe pede, natureza/As noites de luar/Que vive bem perto de você/Mas sem lhe ver" e "E o meu pinho gemendo/Vem minha saudade matar...". A melodia é perfeita, de entrosamento magistral com a letra. Incrível! Fantástico! Extraordinário (como diria a Portela)! Existem duas versões desse samba: a de 1948 e a de 1960, ambas feitas pelo boêmio de voz grave, Gilberto Alves. A que eu possuo é a de 1960. "Natureza bela" não fica com cara nenhuma de um samba que ao menos fora tocado no carnaval. Ele fica com um ar miraculoso de samba-canção, típico estilo da época. O cantor é acompanhado de uma orquestra de sopro, com trompete, tuba, trombone e tudo que tenha direito, apesar de na terceira passada ouvirmos o som de um singelo agogô na parte "E o meu pinho gemendo/Vem minha saudade matar...". NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

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