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Coluna do Rixxa Jr.

DEZ GRANDES JUNÇÕES DE SAMBA-ENREDO DA HISTÓRIA

O Top 10 Sambario elege as 10 maiores junções de samba na modesta opinião deste escriba.

A junção (ou fusão) de samba-enredo foi um expediente criado, abusado e consagrado pelo sr. Luis Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, na Acadêmicos do Salgueiro, na década de 70. A partir de mais uma inovação do Salgueiro, surgiu uma polêmica no mundo do samba. Juntar ou não juntar? Era esta a questão. E, para fazer uma junção, é preciso ter um conhecimento musical considerável, pois uma parte melódica de um samba tem que casar harmonicamente com a outra, para não haver desequilíbrio.

Abaixo, uma relação pessoal de 10 das mais bem sucedidas fusões de sambas de carnaval:

10º) 1997 - "A coroa do perdão na terra de Oyó" (Império da Tijuca. Ala dos Compositores);

Um belo samba afro foi levado à Sapucaí pela Império da Tijuca, no Grupo A em 1997. Bela melodia, letra descritiva e vibração necessária foram os ingredientes para uma obra digna da história da escola do Morro da Formiga. Não tenho maiores detalhes sobre como foi a sistemática usada pela Império da Tijuca até chegar a esta obra. Teria sido cada compositor ter colaborado com uma parte ou o samba final foi o resultado de vários outros? O importante é que o samba de 1997 emociona até hoje.

TRECHO MARCANTE DO SAMBA:

Epeu ê babá
Salve os Orixás
É o verde esperança
Com o branco que é a paz

9º) 1994 - "Passarinho, passarola. Quero ver voar" (Tradição. 3 sambas e 7 autores: Jajá Maravilha, Aniceto, Tonho, Sandro Maneca, Jurandir da Tradição, Jorge Makumba e Lourenço);

O samba mais popular da escola do Campinho no Grupo Especial e o que lhe rendeu um 6º lugar, a melhor classificação do Condor no carnaval.

TRECHO MARCANTE DO SAMBA:

Será verdade? (ô será, será...)
Ícaro marcou bobeira
Viajando para o Sol
Com um par de asas de cera

8º) 1995 - "O Rei e os três espantos de Debret" (Viradouro. 3 sambas e 10 autores: José Antonio, Gonzaga, Olivério, Rico Medeiros, Wilsinho, Fabrino, Portugal, Bernardo, Gilberto e João Sergio);

O que aconteceria se o pintor Debret voltasse à Terra e ao Brasil no final do século 20? Este tema, apropriado para o delírio de Joãosinho Trinta, rendeu um samba interessante do ponto de vista melódico e aproveitou carona do título do tetracampeonato da Seleção.

TRECHO MARCANTE DO SAMBA:

Iluminado parti
No céu fui descansar
Tempos depois em Paris renasci
Um triste espanto me fez lamentar
Notícias más, de homens maus
Perturbando a paz, criando o caos

7º) 1988 - "O templo do absurdo" (Unidos da Tijuca. 2 sambas e 6 autores: Beto do Pandeiro, Nego, Vaguinho, Monteiro, Ivar Silva e Carlos do Pagode).

Para falar das conversas de bar, a Unidos da Tijuca preferiu um samba leve, bem humorado e com tiradas bem cariocas. O Brasil vivia a ressaca do Plano Cruzado e a caça aos servidores públicos de salários milionários (marajás). Isso se refletiu também no carnaval. O resultado foi um samba alegre, necessário para uma escola que iria abrir a primeira noite dos desfiles na Sapucaí.

TRECHO MARCANTE DO SAMBA:

Ai, quem me dera se eu fosse um marajá (obá)
Ganhasse a vida sem precisar trabalhar
Mas acontece que é só a minoria
Que desfruta a mordomia
Nessa tal democracia
Apertaram o gatilho num salário baleado
Outra piada depois desse tal Cruzado

6º) 1993 - "Dessa fruta eu como até o caroço" (Mangueira. 3 sambas e 8 autores: Dirceu da Mangueira, Eraldo Caê, Verinha, Prêto, Fernando de Lima, Ney Mattos, Bira do Ponto e Gusttavo).

Uma decisão surpreendente a Mangueira ter anunciado uma junção de samba-enredo para o carnaval de 93. Para falar da fruta que originou o nome da escola, a Estação Primeira escolheu uma obra diferente do que costumava apresentar ao longo de sua história. O samba apresenta três momentos distintos, deixando flagrante que a obra resultava de um quebra-cabeças musical. Entre os compositores, estava o jovem Gusttavo, que, mais tarde, se tornaria heptacampeão nas disputas da Viradouro.

TRECHO MARCANTE DO SAMBA:

E hoje linda... Te vejo mais bela
Nessa passarela
Você explode coração
Mangueira, estou tão feliz
É verde e rosa, é verde e rosa minha emoção!

5º) 1989 - "Templo negro em tempo de consciência negra" (Salgueiro. 2 sambas e 5 autores: Alaor, Helinho, Arizão, Demá Chagas e Rubinho do Afro).

Para comprovar que era "apenas uma escola diferente", como prega o seu slogan, a vermelho e branco decidiu falar da negritude um ano depois das comemorações do centenário da abolição da escravatura. Com isso, o Salgueiro - pioneiro nos temas que exaltam a cultura negra no carnaval - mostrava que não falava de temas afro somente em comemorações especiais. A obra de 1989 é um senhor samba-enredo, que rendeu muito bem na Sapucaí. Um estilo de samba que há muito tempo (põe muito tempo nisso!) o Salgueiro não repete na avenida.

TRECHO MARCANTE DO SAMBA:

Ô Zaziê, ô Zaziá
Ô Zaziê, Maiongolê, Marangolá
Ô Zaziê, ô Zaziá
Salgueiro é Maiongolê, Marangolá

4º) 1993 - "No mundo da lua" (Grande Rio. 3 sambas e 10 autores: Nêgo, Jacy Inspiração, Mais Velho, G. Martins, Dicró, Juarez Dy Calvoza, Adão Conceição, Carlinhos P2, Rocco Filho e Ronaldo).

Este é o samba mais popular da história da Acadêmicos do Grande Rio. Após a estréia e o conseqüente rebaixamento no Grupo Especial, em 1991, a escola de Duque de Caxias retornou à elite em 1993 e, de lá pra cá, não caiu mais. O samba tem uma letra extensa, mas não impediu que o público e a escola lembrem desta obra até hoje. "No mundo da lua" é mais uma fusão coordenada por Laíla, na época diretor de carnaval da Grande Rio.

TRECHO MARCANTE DO SAMBA:

Ô luar, ô luar (ô luar)
Vem pratear a nossa rua
A semente da fartura semear
Virar o mundo de bumbum pra lua

3º) 2005 - "Sete povos na fé e na dor... Sete Missões de amor" (Beija Flor. 2 sambas e 12 autores: JC Coelho, Ribeirinho, Adilson China, Serginho Sumaré, Domingos PS, R. Alves, Sidney de Pilares, Zequinha do Cavaco, Jorginho Moreira, Wanderley Novidade, Walnei Rocha e Paulinho Rocha).

Para falar da cultura do Rio Grande do Sul, a comissão de carnaval coordenada por Laíla escolheu dois sambas de melodias parecidas, mas com dois momentos bem distintos. O resultado foi considerado excelente e obteve à Beija-Flor o segundo tricampeonato de sua história. Até agora, este samba foi a única fusão que conquistou o Estandarte de Ouro de melhor samba-enredo do Grupo Especial.

TRECHO MARCANTE DO SAMBA:

Oh Pai, olhai por nós!
Ouvi a voz desse missioneiro
O vento cortando os pampas
Bordando a esperança
Nesse rincão brasileiro

2º) 1981 - "O que dá pra rir, dá pra chorar" (Unidos da Tijuca. 3 sambas e 7 autores: Celso Trindade, Nêga, Azeitona, Ronaldo, Ivar, Buquinha e Edmundo Araújo Santos).

Após 22 anos de ausência no Grupo Especial, a Unidos da Tijuca reforçou o time para abrir o desfile da elite do carnaval do Rio de Janeiro. Para dirigir a harmonia da escola, foi contratado Laíla (ex-Salgueiro e Beija-Flor). A disputa para o enredo que contava a saga do caboclo Mitavaí foi acirrada, com três sambas na final. "Lailamente" ficou definido que haveria a junção dos finalistas. O samba embalou a Sapucaí e garantiu a permanência da escola do Borel entre as grandes.

TRECHO MARCANTE DO SAMBA:

Maldito bicho, se me ouviu
Se não gostou do meu samba
Vai pra longe do Brasil

1º) 1975 - "Os segredos das minas do Rei Salomão" (Salgueiro. 2 sambas e 4 autores: Dauro, Zé Pinto, Nininha e Mário Pedra).

A vermelho e branco estava em plena efervescência da escolha do hino para o enredo "O segredo das minas do Rei Salomão", de 1975. A disputa estava acirrada, com dois sambas que dividiam as opiniões na quadra. No dia da final, Laíla - que, na época, era diretor de carnaval e de harmonia do Salgueiro - anunciou uma decisão que surpreenderia o mundo do carnaval: juntar os dois finalistas, separando as duas partes "fortes" de cada samba e produzindo uma obra só. A fusão resultou num belo samba que ajudou o Salgueiro a conquistar o bicampeonato.

TRECHO MARCANTE DO SAMBA:

A rainha de Sabá apareceu
Num cortejo que jamais se viu igual
Com negrinhos que ao rei ofereceu
De olhos verdes, um presente original
Presença feita de mistério
Com fascínio e sortilégio
E da Fenícia veio o rei Iran
Em galeras alcança as terras das amazonas
Que sensação, que esplendor
A natureza em flor

OUTRAS JUNÇÕES FAMOSAS:

Acadêmicos do Salgueiro - "Em busca do ouro" (1988) e "Microcosmos - o que os olhos não vêem, o coração sente" (2006)
Unidos da Tijuca - "De Portugal à Bienal no país do Carnaval" (1989) e "E o Borel descobriu, navegar é preciso" (1990)
Tradição - "Gira roda, roda gira" (1995)
Vizinha Faladeira - "Nem tudo o que reluz é ouro" (2002)
Acadêmicos do Grande Rio - "Alimentar o corpo e a alma faz bem" (2005)
Acadêmicos de Santa Cruz - "Rio - Conquistas e Glórias de uma Cidade de Histórias" (2005)

CURIOSIDADE:

Algumas escolas resistem em relação às junções. Não verifiquei nenhuma na Portela, Mocidade, Imperatriz, Vila Isabel e Império Serrano.

DESCULPEM MINHA IGNORÂNCIA:

Fiquei sabendo recentemente que o samba "Criação do mundo na tradição nagô" (Beija-Flor/1978) teria sido uma junção com os sambas de Neguinho da Beija-Flor, Mazinho e Gilson. Como isso, pra mim, era novidade e não obtive a devida confirmação, não incluí essa obra que mereceria estar presente em qualquer antologia que se diga séria.

NO PRÓXIMO TOP 10 SAMBARIO, os dez títulos de temas-enredo mais instigantes do carnaval.

Rixxa Jr.

rixxajr@yahoo.com.br