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Coluna do Rixxa Jr.

FOLIA NO HORÁRIO NOBRE - JUNÇÃO DE CARNAVAL E NOVELA DÁ SAMBA!
Top 10 Sambario com obras da teledramaturgia onde o carnaval aparece em destaque

21 de janeiro de 2015, nº 31, ano XXI

Novela e carnaval são duas paixões nacionais. Aguinaldo Silva, o autor de “Império”, a atual trama das 21 horas também vai usar a folia de 2015 na sua história. O protagonista, o comendador José Alfredo (Alexandre Nero), será enredo da fictícia escola de samba União de Santa Teresa, entidade presidida por Antoninho (Roberto Bonfim). O tema escolhido foi “Homem de preto em terra de brilhantes”, com direito a concurso nacional de samba enredo. Inspirado nisso, resolvi elaborar um Top 10 Sambario com obras da teledramaturgia brasileira onde o carnaval aparece em horário nobre (novelas e/ou seriados). Essa junção há muito tempo vem dando samba. Divirtam-se!

10º lugar: CASO VERDADE – CARNAVAL - EM CIMA DA HORA (1976)

O Caso Verdade era uma mistura de documentário e ficção. Em 1976, o programa teve três episódios, exibidos na Quarta Nobre. Este episódio foi levado ao ar em 10 de março de 1976, sendo escrito por Paulo Pontes e Armando Costa, com direção de Gonzaga Blota e Fernando Peixoto. Ambientado na escola de samba Em Cima da Hora, abordou o drama das pequenas agremiações envolvidas em crises financeiras e que lutavam para permanecer no primeiro grupo, além da presença cada vez maior da classe média alta nos desfiles e ensaios.

O programa reuniu depoimentos de diretores, passistas e cantores envolvidos na produção do desfile. Na parte ficcional, foi abordada a luta de uma passista para desfilar por sua escola de samba no domingo de Carnaval. As gravações foram realizadas na sede da Em Cima da Hora, no subúrbio de Cavalcante, no Rio de Janeiro; no Country Club; e em boates na Zona Sul da cidade. Também foram utilizadas imagens gravadas durante o desfile da ECDH (que apresentou o legendário samba “Os Sertões”) na avenida e momentos da apuração dos resultados de 1976.

A equipe deste Caso Verdade contou com a colaboração dos jornalistas José Carlos Rêgo e Sérgio Cabral, que participaram de um debate dentro do programa, mostrando as influências da classe média e a diferença de seu modo de dançar e se comportar em relação aos sambistas. O episódio contou com as participações de Adalberto Silva, Esmeralda Barros, e das socialites Myriam Skowronski e Teresa Souza Campos.

O desfile da Em Cima da Hora em 1976 foi retratado no Caso Especial

9º lugar: O CLONE (2001)

A novelista Gloria Perez aproveitou o carnaval carioca para explorar o estranhamento do núcleo árabe da novela da novela frente aos costumes e hábitos brasileiros. Numa sequência divertida, a família de Mohamed (personagem de Antônio Calloni) assiste – horrorizada – a um desfile de escola de samba, que tinha a presença de alguns personagens, como o passista Miro (Raul Gazola) e a rainha da bateria Deusa (Adriana Lessa).

Os personagens, como a Nazira (Eliane Giardini), desfilavam na escola de samba Acadêmicos do Grande Rio. A novela teve passagens gravadas durante o desfile oficial da Marquês de Sapucaí.




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A atriz Eliane Giardini, desfilando na Sapucaí, interpretava a personagem Nazira

8º lugar: PÁGINAS DA VIDA (2006)


Na novela de Manoel Carlos, a empregada Dorinha (interpretada por Quitéria Chagas) era rainha da bateria do Império Serrano na história e na vida real. Em determinado capítulo da trama, a personagem entrava em trabalho de parto durante o desfile da escola da Serrinha. O diretor Jayme Monjardim gravou cenas da atriz na Sapucaí para usá-las na novela.
 
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Quitéria interpretava uma empregada que era rainha de bateria

7º lugar: FELICIDADE (1991/92) / BRAVA GENTE (2001)

Mais uma novela escrita por Manoel Carlos que sempre que pode inclui o carnaval nos entremeios das suas tramas. Aqui, o autor adaptou o conto “A morte da porta-estandarte”, de Aníbal Machado – que foi enredo da Imperatriz Leopoldinense em 1975.

Na novela, a porta-bandeira Tuquinha Batista, vivida pela atriz Maria Ceiça, é assassinada a facadas pelo próprio diretor da escola de samba (vivido por Maurício Gonçalves), que acreditava que ela o traía com o mestre-sala. A cena foi gravada durante um ensaio na quadra da Estácio de Sá. Em 2001, a mesma história foi apresentada no episódio “História de Carnaval” da série ”Brava Gente”, com Juliana Paes e Norton Nascimento.



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Maria Ceiça interpretou a porta-bandeira assassinada em plena quadra

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Norton Nascimento e Juliana Paes estrelaram a adaptação do conto “A morte da porta-estandarte” em Brava Gente

6º lugar: DUAS CARAS (2008)

Aguinaldo Silva é outro que se apropria bastante do Carnaval para rechear suas tramas. Em “Duas Caras”, a fictícia escola de samba que desfilou na Sapucaí foi a Nascidos da Portelinha, da comunidade cujo líder era Juvenal Antena (Antônio Fagundes). A carnavalesca da ficção era Dália (Leona Cavalli) e a rainha da bateria, Gislaine (Juliana Alves).

O desfile da novela foi gravado durante a apresentação da Portela no carnaval de 2008. Muitos personagens da novela desfilaram na azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira.

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Antônio Fagundes e seu Juvenal Antena no desfile da Portela em 2008

5º lugar: PAI HERÓI (1979)

No último capítulo da novela, escrita pela saudosa Janete Clair, alguns personagens da trama tiveram seus desfechos em pleno carnaval. O mês não era fevereiro, pois a novela terminou em agosto daquele ano, mas a produção da Globo encenou uma festa profana para o vilão Baldaracci (Paulo Autran) fugir de helicóptero vestido de Pierrô, podendo assim, escapar da prisão para surpresa do telespectador.

Já Ana Preta, proprietária da gafieira Flor de Lis (vivida pela atriz Glória Menezes), terminava solitária, sem o amor de André (Tony Ramos) e desfilando pela escola de samba Beija-Flor de Nilópolis em plena Sapucaí, durante o carnaval, no ano do enredo “O paraíso da loucura”. O sambista e intérprete Carlão Elegante (que fora puxador de samba da Unidos de Lucas) foi coadjuvante destacado na trama, interpretando Teodoro, misto de cantor e segurança da gafieira de Ana Preta.

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O personagem de Glória Menezes como destaque da Beija-Flor, no último capítulo da novela “Pai Herói”

4º lugar: SENHORA DO DESTINO (2005)

Foi uma novela que deu um grande destaque ao carnaval, através da fictícia escola de samba carioca Unidos de Vila São Miguel, pertencente ao bicheiro Geovani Improtta (“felomenal” criação de José Wilker, segundo um dos famosos bordões do personagem), que fez uma homenagem à nordestina Maria do Carmo (Susana Vieira) em um dos enredos da escola. Aguinaldo Silva fez questão de mostrar os preparativos para o desfile da agremiação durante vários capítulos da novela até levá-la a sambar na Sapucaí, através da ficção em pleno fevereiro de 2005, ano que a novela ainda estava sendo exibida.

O desfile da Unidos de Vila São Miguel contou com diversos personagens da novela. A fictícia escola de samba teve direito a samba enredo composto pelos autores carnavalescos Mingau, Mauricio Maia e Djalma Falcão, da Acadêmicos do Grande Rio, escola que também serviu de cenário para as gravações do desfile da Vila São Miguel. A entidade tinha Regininha (Maria Maya) como rainha da bateria, Crescilda (Gottscha) como puxadora de samba e Nalva (Tânia Khalil), Jennifer (Bárbara Borges) e Daniele (Ludmila Dayer) como destaques. O personagem Jacques, vivido pelo ator Flávio Migliaccio, também caiu na folia, desfilando vestido de mulher no bloco das piranhas.



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José Wilker na pele do impagável patrono carnavalesco Giovani Improtta

3º lugar: PARTIDO ALTO (1984)

Acadêmicos do Encantado era a escola de samba da novela “Partido Alto”, escrita por Aguinaldo Silva e Glória Perez em 1984. Um estupendo Raul Cortez viveu o bicheiro Célio Cruz, chefão da comunidade, dono da fictícia agremiação carnavalesca e amante da passista Jussara, personagem de Betty Faria que fez grande sucesso, tanto que acabou recebendo convite para posar nua na Playboy de outubro naquele mesmo ano. A polêmica já estava estabelecida antes mesmo da novela começar, quando notou-se a incrível semelhança entre Cortez e o bicheiro Aniz Abrahão David, patrono da Beija-Flor de Nilópolis.

Outro destaque da novela foi o então jovem José Mayer interpretando Piscina, um compositor de samba-enredo que sonhava ver uma música sua no carnaval, e que se apaixona por Jussara, gerando ciúmes em Cruz. No dia em que a carnavalesca da escola, Maria Augusta Rodrigues (a própria, vivendo ela mesma), responsável pelo enredo “E agora José? – Uma homenagem a Carlos Drummond de Andrade” entregou a sinopse, Piscina convidou para dividir parceria no samba enredo nada mais, nada menos do que Dona Ivone Lara e Jorge Aragão (ambos autores do tema de abertura, “Enredo do meu samba”, na voz de Sandra de Sá, ainda chamada de Sandra Sá). Coincidentemente, a Estação Primeira de Mangueira falou sobre Carlos Drummond de Andrade no carnaval de 1987 e a Tupy de Brás de Pina intitulou seu tema de 1988 também de “E agora, José?”, só que o Zé da vez era Sarney, então presidente da República.

No capítulo final, a Acadêmicos do Encantado desfila na avenida em busca da vaga para o Primeiro Grupo, tendo Jussara como grande destaque, ao som do samba-enredo de autoria de Piscina, Dona Ivone e Aragão, e na voz de Neguinho da Beija-Flor. Um luxo só! Mas Piscina acaba assassinado por capangas de Célio Cruz em pleno desfile, e Jussara assistia a tudo do alto de um carro alegórico sem nada poder fazer.

Para a gravação deste desfile, a produção da novela interrompeu o trânsito da Avenida Rio Branco e organizou um desfile de carnaval, com a participação de mil passistas de seis escolas de samba. Cerca de vinte mil pessoas assistiram à gravação, que durou 12 horas.

Vídeo 1 – Célio Cruz participa aos componentes a escolha do samba-enredo


Vídeo 2 – Piscina é morto em pleno desfile



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Raul Cortez (ao telefone) vivendo o bicheiro Célio Cruz – papel livremente inspirado em Anísio Abraão David – e Milton Gonçalves, que interpretava o capanga Reginaldo

2º lugar – CASO ESPECIAL OTELO DE OLIVEIRA 

No carnaval de 1983, a Paraíso do Tuiuti apresentava na Sapucaí pelo antigo Grupo 1-B o enredo “Vamos falar de amor”, de autoria da carnavalesca Maria Augusta. Com um samba leve, faceiro e romântico, a escola encantou a passarela e acabou virando pano de fundo para um Caso Especial da TV Globo. Em março de 1983, a emissora exibiu “Otelo de Oliveira”, inspirado na tragédia Otelo, de Willian Shakespeare, e que se passava dentro da quadra da Tuiuti.

A escola azul e amarela entrava em rede nacional nos lares dos brasileiros. Roberto Bonfim fazia a personagem-título, um consagrado diretor de bateria, negro e favelado, que conhece e se apaixona pela doce, ingênua, adolescente (e branca) Dê/Desdêmona, filha do todo-poderoso presidente da escola, interpretada por Júlia Lemmertz, com 20 aninhos recém-feitos. Milton Gonçalves viveu o fofoqueiro e inescrupuloso Iago, diretor-auxiliar de Otelo, que almejava chegar ao posto de comandante dos ritmistas a qualquer custo, nem que seja puxando tapetes. Os atores que participaram da trama desfilaram na Tuiuti e as imagens do desfile encerraram o episódio.

Vídeo 1: Chamada Caso Especial Otelo de Oliveira


Vídeo 2: Cenas do desfile da Paraíso do Tuiuti 1983



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Frame da chamada do episódio Otelo de Oliveira, com Roberto Bonfim


1º lugar – BANDEIRA 2 (1972)

A novela que deu o primeiro passo na parceria carnaval e teledramaturgia foi “Bandeira 2”, de Dias Gomes. A rivalidade pelo controle do jogo do bicho na zona norte carioca era o tema principal da história, ainda exibida em preto e branco. O subúrbio de Ramos, onde morava o protagonista, o bicheiro Artur do Amor Divino, o Tucão (Paulo Gracindo), era o cenário principal. O contraventor era figura querida de toda a comunidade e presidente de honra da escola de samba da novela (a Imperatriz Leopoldinense). Seu oponente e inimigo declarado era o também bicheiro Jovelino Sabonete (Felipe Carone). Ambos disputavam o amor da taxista Noeli (Marília Pêra), porta-bandeira da escola, mas quem a conquista é Zelito (José Wilker), filho de Tucão. Os dois bicheiros são ainda surpreendidos pelo romance entre seus filhos, Thaís (Elizangela) e Márcio (Stepan Nercessian), dando o clima “Romeu e Julieta” à trama.

No final da novela, Tucão é assassinado e morre na quadra da Imperatriz. Na cena do enterro, Quidoca (Milton Moraes), o braço direito do bicheiro, ajuda a carregar o caixão, vestido exatamente como Tucão e assumindo o papel de seu herdeiro. Como na ditadura militar contraventor não podia ficar impune em novela, Dias Gomes teve que “matar” Tucão. Durante a gravação do enterro do personagem, cerca de três mil pessoas compareceram ao cemitério, comovidas com um boato de que Paulo Gracindo teria realmente morrido. A comoção foi tanta que, no dia seguinte, um jornal carioca da esquerda radical, Luta Democrática, estampou em letras garrafais a manchete: Morreu Tucão!

Todas as escolas de samba do Rio de Janeiro se candidataram para participar de Bandeira 2. A escolhida foi a Imperatriz Leopoldinense, na época apenas uma pequena escola sediada em Ramos, onde se passava a trama. A Imperatriz se tornou, com os anos, uma das grandes agremiações do carnaval carioca. O ator Paulo Gracindo ganhou a admiração dos contraventores do jogo do bicho. Reza a lenda que os banqueiros compraram 120 entradas para assistir a uma peça sua porque foram informados de que a frequência do público era baixa. No dia seguinte ao último capítulo da novela, em que foi exibido o enterro de Tucão, deu macaco no jogo do bicho. Por coincidência, o número sorteado foi o mesmo da sepultura do personagem.

A trilha sonora original da novela incluía “Martim Cererê”, o samba-enredo composto por Zé Catimba e Gibi, para a Imperatriz, para o carnaval de 1972. Zé Catimba foi interpretado na novela por Grande Otelo. No disco, o samba foi gravado pelo próprio Catimba, junto com a banda Brasil Ritmo.

Vídeo Bandeira 2



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A logo de Bandeira 2

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José Wilker (esq.) e Paulo Gracindo interpretaram pai e filho


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Grande Othelo (na foto com Jacyra Silva) interpretou o sambista Zé Catimba, compositor e autor de Martim Cererê, tema de abertura da novela e samba-enredo da Imperatriz em 1972

Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)

rixxajr@yahoo.com.br