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SAMBAS DE SUL A NORTE (PORTO ALEGRE E MANAUS) 7 de fevereiro de 2013, nº 30, ano XIXPorto
Alegre CD: A
produção do CD se esmerou em fazer um
produto melhor do que vinha sendo feito nos anos anteriores. As
baterias foram
gravadas com um ritmo bem próximo do que vai ser apresentado na
avenida, com
bossas interessantes e paradinhas que só dão um molho
especial, sem acrobacias
mirabolantes. A voz dos intérpretes poderia estar com mais
destaque e em
primeiro plano, ao menos, na primeira passada do samba. Em algumas
faixas, a
voz do cantor está “soterrada” pelo coral de apoio.
Também há um exagero na
quantidade de cacos e gritos de empolgação. Pelo segundo
ano consecutivo, o
disco volta a ter o encarte com as letras dos sambas, o que facilita
bastante o
acompanhamento dos hinos pelos foliões. E acho que já
está na hora de haver
inovação. Ainda sonho em ver ESTADO
MAIOR DA RESTINGA – Apesar da
introdução ser meio chata, o samba da Tinga mostra que a
participação do
carioca André Diniz como compositor vem fazendo muito bem
à tricolor da zona
sul. O samba é bonito, apesar de manter ainda com alguns
clichês técnicos (refrão
do meio começando em tom maior e mudando, no meio, para menor) e
refrão
principal genérico, que pode ser usado em qualquer tema. O
enredo é sobre a
superação, assunto semelhante levado à
Sapucaí no ano passado pela Acadêmicos
do Grande Rio. O samba faz menção ao maestro João
Carlos Martins, que foi tema
da Vai-Vai em 2011, e que havia confirmado presença
também no desfile da
Restinga deste ano (um acorde dissonante
do destino me tocou / um piano com saudade da sua mão / linda
melodia que
compõe o lutador / na batuta do maestro rege a
superação). E Wander Pires
prossegue com suas afetações vocais, com todos os
exageros que já lhe são
característicos e o caricaturizam, dando seu show de vibratos,
notas alongadas
e contracantos. O cara é um virtuoso no canto, mas escutar tudo
isso ao longo
de toda faixa acaba aborrecendo o ouvinte. NOTA 9,3. IMPERADORES
DO SAMBA – O tema da vermelho e
branco será falar sobre a história da maquiagem e, ao meu
ver, junto com o da
Praiana, é o mais criativo do Grupo Especial. Já o samba
peca, por faltar um
pouco de lirismo e poesia na letra – e o enredo era bem
propício a isso. À
primeira audição, a melodia causa estranheza, por
não ser exatamente um hino
com a cara da Imperadores. Os compositores se preocuparam mais em
apresentar
uma letra descritiva e fazer refrões oba-oba. A melhor parte
são os últimos versos,
a partir da estrofe “Vem ver a
Imperadores do Samba / Aqui encena o ato principal”. NOTA 8. IMPÉRIO
DA ZONA NORTE – Mesmo que os
dirigentes neguem, o tema da Império ZN é praticamente o
mesmo que os
Imperadores apresentaram em 2009 em virtude do centenário do
Internacional.
Desta vez, a escola da Avenida Sertório escolheu como fio
condutor as
conquistas do clube e homenageia as gestões dos ex-presidentes
Fernando Carvalho
e Vitório Píffero. Não achei o samba grande coisa
na época da disputa, mas o hino
ganhou sustância depois da interpretação vigorosa
dada por Sandro Ferraz.
Destaque para o refrão central e seus contracantos (Salve
o Clube do Povo (Colorado) / Com a camisa vermelho (rubro amor) /
A união que construiu / O Gigante da Beira do Rio (orgulho do
Brasil), que
deverá ser cantado a plenos pulmões pelos colorados. A
apresentação da Império
marca o primeiro ato do Grenal carnavalesco que a escola vai travar com
a Vila
Isabel de Viamão. NOTA 8,5. IMPERATRIZ
DONA LEOPOLDINA – A escola vai cantar
as lendas e mistérios do Rio São Francisco. Um dos
compositores, o carioca Emerson
Dias, é intérprete da Grande Rio e no carnaval passado
foi também voz da
Leopoldina, UNIDOS
DE VILA ISABEL – A simpática
agremiação da Santa Isabel, em Viamão, vai abordar
todas as moradas pelas quais
o Grêmio passou, desde o que hoje é o Parque Farroupilha
até a Arena. É
estranho, após 20 anos, escutar uma voz diferente da de Aryzinho
ao puxar a
Vila. O substituto, Alexandre Belo, encarou o desafio com a tradicional
competência. A letra tenta mesclar um certo lirismo com os
clichês da linguagem
do futebol. A melodia é bem trabalhada, mas falta
explosão principalmente nos
refrões. Perigo de arrastamento no desfile após a euforia
das três sirenes. É o
segundo ato do Grenal que Vila e Império vão travar no
Complexo do Porto Seco. NOTA
8,5 UNIÃO
DA VILA DO IAPI – Uma homenagem a
Cabo Verde, país insular lusófono localizado no litoral
da África Ocidental,
por uma escola do bairro Sarandi é de causar uma certa
estranheza. De
semelhantes, Cabo Verde e a União da Vila do IAPI, têm as
mesmas cores nas
bandeiras (azul, vermelho e branco). A melodia do samba é
valente (em alguns
momentos lembra o samba da Beija Flor deste ano, sobre o cavalo
mangalarga). Os
compositores preferiram uma letra genérica e interpretativa, ou
seja, não é
através do samba que se sabe o que a escola pretende mostrar em
seu desfile. O
intérprete Renan Ludwig vem se afirmando como o melhor da sua
geração. NOTA 9. BAMBAS
DA ORGIA – A Bambas da Orgia possui,
ao meu ver, o melhor samba do carnaval de 2013 e desde já
é candidato a entrar
no rol dos sambas imortais. O refrão principal é
melodicamente muito bonito,
com a garra necessária para que o componente entre emocionado e
disposto na
passarela. Última escola a escolher seu hino, a azul e branco
vai falar sobre
seu símbolo, a águia majestosa e altaneira. Na segunda
parte, o cantor Fabio
Ananias, que faz sua estréia na escola, canta em um tom um pouco
baixo, o que
pode dificultar um pouco o canto do componente, mas não
compromete o todo da
obra. NOTA 9,8. ACADÊMICOS
DE GRAVATAÍ – A onça negra
resolveu olhar para sua própria cidade e vai ter a tarefa de
contar a história
de Gravataí, que, em 2013, completará 250 anos. “De
Aldeia dos Anjos a
Gravataí: Um poema de amor no coração da
onça negra” tem cara de samba
padronizado, desses que se escuta toda hora (e passa batido) nas
escolas do
Grupo de Acesso do Rio de Janeiro. Não por acaso, dois dos
autores são
cariocas, nomes freqüentes nos chamados
“escritórios” de samba enredo no
carnaval carioca. O refrão central é valente, assim como
o último verso “Minha Gravataí,
como é bom te ver sorrir”. De resto, uma obra mediana,
abaixo do que a escola
vinha apresentando nos anos anteriores. NOTA 7,5. EMBAIXADORES
DO RITMO – Mais uma escola que
resolve novamente homenagear um município. Desta vez a
Embaixadores (que no
final do carnaval do ano passado ameaçou não participar
do desfile deste ano) vai
levar Alegrete para a passarela. A faixa é uma das melhores
produzidas no CD. A
gravação começa um pouco estranha aos
padrões carnavalescos, com o músico
nativista Neto Fagundes cantando os primeiros versos do “Canto
alegretense” ao
som de gaita e bombo leguero. O samba tenta dar uma levada diferente,
com
várias citações de músicas nativistas, como
o próprio “Canto...” e “Origens”,
ambas de autoria da Família Fagundes, cujos membros são
conhecidos pela
tradição das raízes gaudérias. Os
compositores tiveram a boa intenção de criar
uma melodia diferenciada, mas pecaram por tornar o samba
“cerebral” demais e
com pouca empolgação, além da obra ter alguns
trechos com notas desnecessariamente
alongadas. Às vezes, menos é mais. NOTA 8,4 ACADEMIA
DE SAMBA PRAIANA – Assim como os
Imperadores têm um tema diferente e criativo, a Praiana
também possui um enredo
que tem tudo para ser a sensação do carnaval, em termos
de ineditismo. A verde
e rosa vai abordar a luta contra as drogas, principalmente o crack. Os
compositores foram muito felizes em abordar um tema tão delicado
com um samba
animado, de muito alto astral e de forma poética. E (milagre TRIBO OS
GUAIANAZES – O hino dos Guaianazes
fala sobre os grandes caciques das nações
indígenas do Xingu. Apesar de bonito,
a melodia é triste e dolente.
Manaus CD:
Recebi os áudios oficiais das oito escolas
do Grupo Especial de Manaus do meu amigo amazonense Janner Alves. Pelas
informações
que eu tive, ao contrário de anos anteriores, não houve
uma gravadora
produzindo o CD. A gravação oficial ficaria a
critério e a cargo de cada
escola, de forma independente. Se isso realmente ocorreu, sorte nossa.
Escutando os sambas de forma geral, nota-se que nenhuma
gravação destoa das
outras, com destaque para as baterias e as vozes, em primeiro plano. Os
instrumentos de base também foram privilegiados, principalmente
o cavaquinho.
Este ano não houve um abuso do uso de teclados e sintetizadores.
A safra é boa,
melhor do que a do ano passado, com destaque para os sambas da Balaku
Blaku,
Unidos da Alvorada e da Mocidade Independente Presidente Vargas. Os
comentários
vão pela ordem de classificação do carnaval de
2012. 01.
Reino Unido da Liberdade – A bicampeã
do carnaval manauara vai em busca do tri com o enredo “O livro
– Porque no
Morro o samba é lê ler'. A letra fala da história
do livro, desde sua criação
até os dias de hoje, com toda a tecnologia e os novos meios de
leitura. O samba
obedece os padrões atuais do carnaval. Letra descritiva, melodia
pesada, com
mudanças de tom e um refrão que conclama o componente e o
torcedor na
arquibancada a cantar o samba a plenos pulmões. O hino é
funcional, não compromete
e não tem pretensão em ser obra-prima. NOTA 8,5 02.
Aparecida – A voz que conduz “Nhamundá
– Uma viagem pelo rio das Ykamiabas” na
gravação oficial é conhecida: é do
carioca Luizinho Andanças, atual intérprete da Mocidade
Independente de Padre
Miguel. A Pareca vai apresentar um enredo épico e vai contar a
história da
expedição de Francisco Orellana na Amazônia. A
letra traz alguns termos já
consagrados neste tipo de tema: “invasor”,
“colonização”, “cobiça”
“índias
guerreiras”, “paraíso de encantos”. NOTA 9 03.
Balaku Blaku – Mais um carioca puxando
uma escola de Manaus. Léo Bessa, um dos tenores do Salgueiro vai
conduzir o
hino da Balaku-Blaku para 04.
Grande Família – A escola do bairro São
José, na zona leste (cujo símbolo é o Galo), vai
levar à Avenida do Samba um
samba enredo em homenagem ao jornalista amazonense Waisser Botelho. A
Grande
Família deverá falar sobre problemas da capital, como o
transporte público e a
falta d'água. Mas como nem só de problemas vive o
manauaras, os pontos
positivos sobre a cidade não serão esquecidos, com
destaque para as pessoas de
Manaus. A gravação oficial ficou um pouco acelerada e a
excelente bateria da
escola acabou “marcheando” o samba, ainda mais pelo
refrão principal que é bem
marchinha carnavalesca mesmo, começar pelos versos de duplo
sentido: “Meta a boca! Meta a boca! / O Povo
não se
cala / E agora meta a boca”. Mais uma voz do Salgueiro
aparece no carnaval
de Manaus. Agora é Quinho que divide os vocais com ...NOTA 9,3 05. Sem
Compromisso - A Sem Compromisso vai
cantar sobre a exuberância das águas do Amazonas no
desfile de carnaval de
2013. Com o samba enredo, a escola amarela e preta vai fazer uma viagem
começando pela época da borracha até os dias
atuais. O samba é classudo,
funcional e defendido de forma sempre magistral com Agnaldo do Samba, o
barítono da selva. NOTA 9 06.
Vitória Régia – A Vitória Régia
resolveu reunir duas paixões brasileiras: samba e futebol. Com o
enredo “Centenário
do Nacional: verde e rosa no carnaval”, o grêmio do bairro
Praça 14 de Janeiro,
Zona Sul da capital, vai homenagear o centenário do Nacional. O
time já foi
campeão amazonense 41 vezes e também é do bairro
Praça 14 de Janeiro, mesma
região da escola. O samba é pesadão, com longa
letra, primeira e segunda partes
em tonalidade menor, refrão do meio em maior e refrão
principal com clichês de
chamada e resposta que conclama o componente/torcedor. Algumas partes
da letra
são cantadas mais rápida, com a letra saindo da
métrica da melodia (É a torcida mais forte,
representante do
Norte / Com as cores da paixão). NOTA 8 07.
Unidos do Alvorada - Pra fazer bonito
no desfile de 08.
Presidente Vargas – A campeã do Grupo
de Acesso A do ano passado escolheu fazer uma homenagem ao
centenário do Atlético
Rio Negro Clube, que será comemorado em Rixxa Jr. |
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