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Coluna do Rixxa Jr

SAMBAS DE SUL A NORTE (PORTO ALEGRE E MANAUS)

7 de fevereiro de 2013, nº 30, ano XIX

Porto Alegre 

CD: A produção do CD se esmerou em fazer um produto melhor do que vinha sendo feito nos anos anteriores. As baterias foram gravadas com um ritmo bem próximo do que vai ser apresentado na avenida, com bossas interessantes e paradinhas que só dão um molho especial, sem acrobacias mirabolantes. A voz dos intérpretes poderia estar com mais destaque e em primeiro plano, ao menos, na primeira passada do samba. Em algumas faixas, a voz do cantor está “soterrada” pelo coral de apoio. Também há um exagero na quantidade de cacos e gritos de empolgação. Pelo segundo ano consecutivo, o disco volta a ter o encarte com as letras dos sambas, o que facilita bastante o acompanhamento dos hinos pelos foliões. E acho que já está na hora de haver inovação. Ainda sonho em ver em Porto Alegre um “kit carnaval”, como ocorre em São Paulo, que inclui CD + DVD + encarte com as letras dos sambas + uma revista com as fichas técnicas das escolas e os resumos dos temas enredos. O destaque negativo vai para a comercialização tardia do disco, que passou a acontecer no dia 3 de janeiro, pouco mais de um mês antes dos desfiles. O detalhe é que os sambas começaram a ser gravados em meados de agosto do ano passado. NOTA 8,5 

ESTADO MAIOR DA RESTINGA – Apesar da introdução ser meio chata, o samba da Tinga mostra que a participação do carioca André Diniz como compositor vem fazendo muito bem à tricolor da zona sul. O samba é bonito, apesar de manter ainda com alguns clichês técnicos (refrão do meio começando em tom maior e mudando, no meio, para menor) e refrão principal genérico, que pode ser usado em qualquer tema. O enredo é sobre a superação, assunto semelhante levado à Sapucaí no ano passado pela Acadêmicos do Grande Rio. O samba faz menção ao maestro João Carlos Martins, que foi tema da Vai-Vai em 2011, e que havia confirmado presença também no desfile da Restinga deste ano (um acorde dissonante do destino me tocou / um piano com saudade da sua mão / linda melodia que compõe o lutador / na batuta do maestro rege a superação). E Wander Pires prossegue com suas afetações vocais, com todos os exageros que já lhe são característicos e o caricaturizam, dando seu show de vibratos, notas alongadas e contracantos. O cara é um virtuoso no canto, mas escutar tudo isso ao longo de toda faixa acaba aborrecendo o ouvinte. NOTA 9,3. 

IMPERADORES DO SAMBA – O tema da vermelho e branco será falar sobre a história da maquiagem e, ao meu ver, junto com o da Praiana, é o mais criativo do Grupo Especial. Já o samba peca, por faltar um pouco de lirismo e poesia na letra – e o enredo era bem propício a isso. À primeira audição, a melodia causa estranheza, por não ser exatamente um hino com a cara da Imperadores. Os compositores se preocuparam mais em apresentar uma letra descritiva e fazer refrões oba-oba. A melhor parte são os últimos versos, a partir da estrofe “Vem ver a Imperadores do Samba / Aqui encena o ato principal”. NOTA 8. 

IMPÉRIO DA ZONA NORTE – Mesmo que os dirigentes neguem, o tema da Império ZN é praticamente o mesmo que os Imperadores apresentaram em 2009 em virtude do centenário do Internacional. Desta vez, a escola da Avenida Sertório escolheu como fio condutor as conquistas do clube e homenageia as gestões dos ex-presidentes Fernando Carvalho e Vitório Píffero. Não achei o samba grande coisa na época da disputa, mas o hino ganhou sustância depois da interpretação vigorosa dada por Sandro Ferraz. Destaque para o refrão central e seus contracantos (Salve o Clube do Povo (Colorado) / Com a camisa vermelho (rubro amor) / A união que construiu / O Gigante da Beira do Rio (orgulho do Brasil), que deverá ser cantado a plenos pulmões pelos colorados. A apresentação da Império marca o primeiro ato do Grenal carnavalesco que a escola vai travar com a Vila Isabel de Viamão. NOTA 8,5. 

IMPERATRIZ DONA LEOPOLDINA – A escola vai cantar as lendas e mistérios do Rio São Francisco. Um dos compositores, o carioca Emerson Dias, é intérprete da Grande Rio e no carnaval passado foi também voz da Leopoldina, em Porto Alegre. A melodia do samba é bonita e funcional, com alguns excessos de mudança de tom de maior para menor, mas não compromete. NOTA 9

UNIDOS DE VILA ISABEL – A simpática agremiação da Santa Isabel, em Viamão, vai abordar todas as moradas pelas quais o Grêmio passou, desde o que hoje é o Parque Farroupilha até a Arena. É estranho, após 20 anos, escutar uma voz diferente da de Aryzinho ao puxar a Vila. O substituto, Alexandre Belo, encarou o desafio com a tradicional competência. A letra tenta mesclar um certo lirismo com os clichês da linguagem do futebol. A melodia é bem trabalhada, mas falta explosão principalmente nos refrões. Perigo de arrastamento no desfile após a euforia das três sirenes. É o segundo ato do Grenal que Vila e Império vão travar no Complexo do Porto Seco. NOTA 8,5 

UNIÃO DA VILA DO IAPI – Uma homenagem a Cabo Verde, país insular lusófono localizado no litoral da África Ocidental, por uma escola do bairro Sarandi é de causar uma certa estranheza. De semelhantes, Cabo Verde e a União da Vila do IAPI, têm as mesmas cores nas bandeiras (azul, vermelho e branco). A melodia do samba é valente (em alguns momentos lembra o samba da Beija Flor deste ano, sobre o cavalo mangalarga). Os compositores preferiram uma letra genérica e interpretativa, ou seja, não é através do samba que se sabe o que a escola pretende mostrar em seu desfile. O intérprete Renan Ludwig vem se afirmando como o melhor da sua geração. NOTA 9. 

BAMBAS DA ORGIA – A Bambas da Orgia possui, ao meu ver, o melhor samba do carnaval de 2013 e desde já é candidato a entrar no rol dos sambas imortais. O refrão principal é melodicamente muito bonito, com a garra necessária para que o componente entre emocionado e disposto na passarela. Última escola a escolher seu hino, a azul e branco vai falar sobre seu símbolo, a águia majestosa e altaneira. Na segunda parte, o cantor Fabio Ananias, que faz sua estréia na escola, canta em um tom um pouco baixo, o que pode dificultar um pouco o canto do componente, mas não compromete o todo da obra. NOTA 9,8. 

ACADÊMICOS DE GRAVATAÍ – A onça negra resolveu olhar para sua própria cidade e vai ter a tarefa de contar a história de Gravataí, que, em 2013, completará 250 anos. “De Aldeia dos Anjos a Gravataí: Um poema de amor no coração da onça negra” tem cara de samba padronizado, desses que se escuta toda hora (e passa batido) nas escolas do Grupo de Acesso do Rio de Janeiro. Não por acaso, dois dos autores são cariocas, nomes freqüentes nos chamados “escritórios” de samba enredo no carnaval carioca. O refrão central é valente, assim como o último verso “Minha Gravataí, como é bom te ver sorrir”. De resto, uma obra mediana, abaixo do que a escola vinha apresentando nos anos anteriores. NOTA 7,5. 

EMBAIXADORES DO RITMO – Mais uma escola que resolve novamente homenagear um município. Desta vez a Embaixadores (que no final do carnaval do ano passado ameaçou não participar do desfile deste ano) vai levar Alegrete para a passarela. A faixa é uma das melhores produzidas no CD. A gravação começa um pouco estranha aos padrões carnavalescos, com o músico nativista Neto Fagundes cantando os primeiros versos do “Canto alegretense” ao som de gaita e bombo leguero. O samba tenta dar uma levada diferente, com várias citações de músicas nativistas, como o próprio “Canto...” e “Origens”, ambas de autoria da Família Fagundes, cujos membros são conhecidos pela tradição das raízes gaudérias. Os compositores tiveram a boa intenção de criar uma melodia diferenciada, mas pecaram por tornar o samba “cerebral” demais e com pouca empolgação, além da obra ter alguns trechos com notas desnecessariamente alongadas. Às vezes, menos é mais. NOTA 8,4 

ACADEMIA DE SAMBA PRAIANA – Assim como os Imperadores têm um tema diferente e criativo, a Praiana também possui um enredo que tem tudo para ser a sensação do carnaval, em termos de ineditismo. A verde e rosa vai abordar a luta contra as drogas, principalmente o crack. Os compositores foram muito felizes em abordar um tema tão delicado com um samba animado, de muito alto astral e de forma poética. E (milagre em Porto Alegre!) é o único samba do Grupo Especial que não menciona a escola na letra e que não possui um refrão genérico que fale em “comunidade”. A interpretação do carioca Tinga é correta. O engraçado é que esse é um cantor que é muito melhor nas gravações do que na avenida, onde se preocupa mais em gritar e abusar de gritos supostamente de empolgação, que se tornam de irritação. NOTA 9,5. 

TRIBO OS GUAIANAZES – O hino dos Guaianazes fala sobre os grandes caciques das nações indígenas do Xingu. Apesar de bonito, a melodia é triste e dolente. 


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Manaus

CD: Recebi os áudios oficiais das oito escolas do Grupo Especial de Manaus do meu amigo amazonense Janner Alves. Pelas informações que eu tive, ao contrário de anos anteriores, não houve uma gravadora produzindo o CD. A gravação oficial ficaria a critério e a cargo de cada escola, de forma independente. Se isso realmente ocorreu, sorte nossa. Escutando os sambas de forma geral, nota-se que nenhuma gravação destoa das outras, com destaque para as baterias e as vozes, em primeiro plano. Os instrumentos de base também foram privilegiados, principalmente o cavaquinho. Este ano não houve um abuso do uso de teclados e sintetizadores. A safra é boa, melhor do que a do ano passado, com destaque para os sambas da Balaku Blaku, Unidos da Alvorada e da Mocidade Independente Presidente Vargas. Os comentários vão pela ordem de classificação do carnaval de 2012. 

01. Reino Unido da Liberdade – A bicampeã do carnaval manauara vai em busca do tri com o enredo “O livro – Porque no Morro o samba é lê ler'. A letra fala da história do livro, desde sua criação até os dias de hoje, com toda a tecnologia e os novos meios de leitura. O samba obedece os padrões atuais do carnaval. Letra descritiva, melodia pesada, com mudanças de tom e um refrão que conclama o componente e o torcedor na arquibancada a cantar o samba a plenos pulmões. O hino é funcional, não compromete e não tem pretensão em ser obra-prima. NOTA 8,5 

02. Aparecida – A voz que conduz “Nhamundá – Uma viagem pelo rio das Ykamiabas” na gravação oficial é conhecida: é do carioca Luizinho Andanças, atual intérprete da Mocidade Independente de Padre Miguel. A Pareca vai apresentar um enredo épico e vai contar a história da expedição de Francisco Orellana na Amazônia. A letra traz alguns termos já consagrados neste tipo de tema: “invasor”, “colonização”, “cobiça” “índias guerreiras”, “paraíso de encantos”. NOTA 9 

03. Balaku Blaku – Mais um carioca puxando uma escola de Manaus. Léo Bessa, um dos tenores do Salgueiro vai conduzir o hino da Balaku-Blaku para 2013. A escola fala sobre a história do dinheiro. O samba tem variações melódicas e interessantes e é tão simpático quanto a própria escola. NOTA 9,5. 

04. Grande Família – A escola do bairro São José, na zona leste (cujo símbolo é o Galo), vai levar à Avenida do Samba um samba enredo em homenagem ao jornalista amazonense Waisser Botelho. A Grande Família deverá falar sobre problemas da capital, como o transporte público e a falta d'água. Mas como nem só de problemas vive o manauaras, os pontos positivos sobre a cidade não serão esquecidos, com destaque para as pessoas de Manaus. A gravação oficial ficou um pouco acelerada e a excelente bateria da escola acabou “marcheando” o samba, ainda mais pelo refrão principal que é bem marchinha carnavalesca mesmo, começar pelos versos de duplo sentido: “Meta a boca! Meta a boca! / O Povo não se cala / E agora meta a boca”. Mais uma voz do Salgueiro aparece no carnaval de Manaus. Agora é Quinho que divide os vocais com ...NOTA 9,3 

05. Sem Compromisso - A Sem Compromisso vai cantar sobre a exuberância das águas do Amazonas no desfile de carnaval de 2013. Com o samba enredo, a escola amarela e preta vai fazer uma viagem começando pela época da borracha até os dias atuais. O samba é classudo, funcional e defendido de forma sempre magistral com Agnaldo do Samba, o barítono da selva. NOTA 9 

06. Vitória Régia – A Vitória Régia resolveu reunir duas paixões brasileiras: samba e futebol. Com o enredo “Centenário do Nacional: verde e rosa no carnaval”, o grêmio do bairro Praça 14 de Janeiro, Zona Sul da capital, vai homenagear o centenário do Nacional. O time já foi campeão amazonense 41 vezes e também é do bairro Praça 14 de Janeiro, mesma região da escola. O samba é pesadão, com longa letra, primeira e segunda partes em tonalidade menor, refrão do meio em maior e refrão principal com clichês de chamada e resposta que conclama o componente/torcedor. Algumas partes da letra são cantadas mais rápida, com a letra saindo da métrica da melodia (É a torcida mais forte, representante do Norte / Com as cores da paixão). NOTA 8 

07. Unidos do Alvorada - Pra fazer bonito no desfile de 2013, a escola azul e branco resolveu falar sobre a beleza. A escola retratará o Jardim do Éden, as civilizações antigas, e falará também da beleza dos cinco continentes e até da beleza interior. Eu considero este um dos dois melhores sambas da safra 2013 do Grupo Especial de Manaus – o outro seria o da Presidente Vargas. Com lirismo e poesia, a letra descreve bem a proposta do enredo e o ritmo é envolvente, não deixando a peteca cair em momento nenhum. Arrisco dizer que já está no rol dos sambas épicos da Alvorada. NOTA 9,7 

08. Presidente Vargas – A campeã do Grupo de Acesso A do ano passado escolheu fazer uma homenagem ao centenário do Atlético Rio Negro Clube, que será comemorado em 2013. A Matinha vai levar um sambão para a passarela. O hino da escola azul, amarelo e branco é superior ao da coirmã Vitória Régia, que também fala sobre futebol e homenageia o rival Nacional. A melodia é criativa e envolvente. A letra é simples e de fácil assimilação, o que deve facilitar os componentes durante o desfile. Na gravação, quem conduz o samba é o jovem Evandro Malandro, igualmente carioca (o quarto da lista), que iniciou como intérprete no carnaval virtual, foi apoio de Luizinho Andanças na Porto da Pedra, e hoje canta na Bambas da Alegria (Uruguaiana), e na Imperador do Ipiranga (São Paulo). Seus trejeitos de voz lembram os de Anderson Paz, que defendeu escolas como São Clemente, Rocinha, Estácio de Sá e Paraíso do Tuiuti, e que abandonou o mundo do samba para se converter à religião evangélica e seguir carreira como cantor gospel. NOTA 9,8