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Coluna do Rixxa Jr.

CARNAVAL DE SUL A NORTE - ANÁLISE DOS SAMBAS DE PORTO ALEGRE E MANAUS

5 de março de 2011, nº 28, ano VIII

PORTO ALEGRE


O ano de 2011 promete ser o mais carioca da história do carnaval de Porto Alegre. No CD oficial de sambas enredo, cinco das 12 escolas têm a participação de cariocas, seja na confecção ou na interpretação dos sambas. O “riodejaneiramento” infestou as agremiações porto-alegrenses e abrange ainda carnavalescos, enredistas e até diretores de desfile. Basta lembrar que este será o quarto carnaval consecutivo em que a comissão julgadora é composta por nomes vindos da Cidade Maravilhosa. Porto Alegre definitivamente “riodejaneirou”. E a tendência é piorar.

GRAVAÇÃO DO CD: Tecnicamente, as faixas estão bem gravadas. As baterias estão um pouco mais pesadas do que nos anos anteriores, graças ao incremento das marcações. Em todas as faixas, ainda se nota a presença dos desnecessários alusivos, o que só serve para encher lingüiça e tornar a faixa ainda mais extensa. Os instrumentos de cordas geralmente prejudicados em discos de carnaval, estão em um bom volume, podendo se escutar com nitidez os cavacos os violões de 6 e 7 cordas. Quase não se percebe o uso de teclados. O coral é enxuto, mas eficiente. Os músicos elaboram introduções que têm a ver com o tema proposto pela escola. Este ano, completa uma década que o disco oficial não tem encarte com letras. E acho que já está na hora de haver inovação. Quem sabe para 2012 um CD + DVD, como acontece com o disco da Superliga de São Paulo? Esses exemplos que vêm de fora é que me servem. NOTA 8,5

IMPERATRIZ DONA LEOPOLDINA – O CD abre com o hino da campeã de 2010, num samba animado e de bom ritmo, que fala sobre a cidade de Foz do Iguaçu. A Imperatriz prossegue com sambas com levada carioca, um estilo já tradicional e sedimentado pela escola há alguns anos. O refrão do meio (Deságua, ô, deságua / Que a força desta queda lava a alma...) é um dos melhores do ano, muito rico melodicamente, e visa facilitar o canto do componente. O intérprete Renan Ludwig, egresso da Restinga, estréia na Imperatriz e cada vez mais se afirma como um dos principais cantores de samba do carnaval de Porto Alegre. O clichê da hora foi a utilização da palavra “comunidade”. NOTA 9,5

ESTADO MAIOR DA RESTINGA – A tricolor da zona sul ficou mordida com o injusto vice-campeonato obtido no ano passado e resolveu investir pesado para abocanhar o carnaval de 2011. A Tinga escolheu um tema forte, sobre a África do Sul, calcado na figura do líder Nelson Mandela e respondeu à saída do puxador Renan com a contratação do talentoso Wander Pires, que, em parceria com o carioca André Diniz (da ala de compositores da Unidos de Vila Isabel, do RJ), compôs o samba deste ano. O samba, aliás, é bem a cara de Diniz e lembra algumas obras que ele produziu para a Vila de Noel e de Martinho: é um samba moderno, técnico e razoavelmente bem feito. Não é nenhuma obra-prima, mas deve funcionar no desfile, apesar de alguns clichês técnicos: refrão do meio com chamada e resposta (Bate no couro do atabaque... feiticeiro / Traz alegria pra todos... povo guerreiro), e o refrão principal entrando em tom maior e mudando, no meio, para menor, fórmulas utilizadas com exaustão no Grupo Especial do RJ, sem falar nas palavras-chave indispensáveis quando se apresenta um enredo sobre África: cobiça, opressor, invasor. Em relação a Wander Pires, o cara canta muito, mas ele está “mais-Wander-Pires-do-que-nunca”, e comparece com todos os exageros que já lhe são característicos. Na faixa da Tinga lá estão os vibratos, as notas alongadas, os contracantos e uma certa afetação vocal, que não o desmerece, mas já o caricaturiza. NOTA 9,2

UNIÃO DA VILA DO IAPI – A escola cujo símbolo é a locomotiva vem falar de uma das paixões do brasileiro: a cerveja. Sob os auspícios da Oktoberfest, a escola promete apresentar mais um carnaval competitivo, pronto para disputar o título. No entanto, ao contrário dos anos anteriores, quando escolheu sambas classudos, com apelo popular e extremamente bem construídos, o samba deste ano tem melodia genérica, que pode resvalar para o marcheamento. O intérprete Kauby demonstra uma certa dificuldade de encontrar a maneira adequada para levar esse tipo de samba. A composição lembra algumas obras apresentadas pela Mocidade Independente de Padre Miguel e União da Ilha do Governador na Sapucaí ao longo da década passada. A letra tem algumas rimas pobres (vida/colorida, Blumenau/tradicional, chegou/amor, viajei/tornei). O refrão principal, como é arrasta-povo, deve ter um bom efeito na avenida. NOTA 8,5

EMBAIXADORES DO RITMO – A Embaixadores do Ritmo quer aproveitar a boa onda obtida com a conquista do até certo ponto surpreendente quarto lugar do ano passado. Em 2011, a ex-bordô e branco (agora vermelho e branco) vai falar sobre São Jorge, um dos santos mais populares da Igreja Católica, sincretizado com Ogum, nas religiões de matriz africana. Não é um tema novo em Porto Alegre. Em 1998, a Diplomatas de Alvorada levou a vida de São Jorge para a passarela do samba. A composição tem uma levada que lembra bastante os sambas das escolas paulistanas, principalmente no refrão do meio. Pelo segundo ano consecutivo, o microfone 1 ficará a cargo de Paulinho Mocidade. O cantor carioca, pelo jeito, se adaptou bem ao carnaval de POA. Farelo, o segundo puxador e prata da casa da Embaixadores, aparece solo (timidamente) em quatro versos na segunda passada do samba. NOTA 9

IMPERADORES DO SAMBA – A escolha do tema dos Imperadores gerou uma certa frustração entre seus torcedores. Nada contra a cidade de Santa Maria, mas a verdade é que o enredo realmente não entusiasmou o a torcida do “mar vermelho e branco”. O samba é burocrático, sem muito espaço para brilhos poéticos ou lirismos. O refrão principal é forte, pena que o restante da letra não acompanha a vibração. Pelo título, esperava-se que fosse algo épico, uma “história contada pelos personagens Imembuí e Morotin”, mas a letra se limitou a ser um resumo da descrição da sinopse, falando sobre pontos turísticos, times de futebol da cidade, etc. NOTA 8

IMPÉRIO DA ZONA NORTE – Os acordes do “vira” e da “Casa Portuguesa” na introdução anunciam: mais um país será louvado no Complexo Cultural do Porto Seco. A Império da Zona Norte vai exaltar Portugal em seu tema enredo. O samba tem uma construção melódica interessante, percorrendo os tons menores e maiores ao longo da letra, sem parecer pretensioso ou enfadonho. A estrofe Vem Zé Pereira, na marcação / Vamos unir nossas bandeiras / Terra mãe gentil / Verde e amarelo é o coração do meu Brasil é destaque no samba. Outra excelente condução de Sandro Ferraz, ao meu ver, o atual intérprete número 1 de Porto Alegre. NOTA 9,3

UNIDOS DE VILA ISABEL – Alquimia, química e desenvolvimento sustentável são o mote do tema da Vila Isabel. O enredo sobre o Pólo Petroquímico da cidade de Triunfo gerou um samba até certo ponto interessante. A levada é boa, e a condução do intérprete Aryzinho é correta. É um samba que irá render muito mais no desfile. Nos ensaios, a bateria faz excelentes bossas, na medida certa, e que não estão presentes na gravação do CD. E mais uma vez aparece a desgastada palavra “comunidade” em um samba enredo. NOTA 8,7.

BAMBAS DA ORGIA – Os Bambas apresentam um tema forte e que é bem a cara da escola: a história do carnaval de rua de Porto Alegre. O enredo tem tudo para ser uma sensação nos desfiles do Porto Seco. O samba é vibrante e valente, apesar de alguns clichês manjados na letra, como os versos “vou sacudir esta cidade”, “sou Bambas e ninguém vai me derrubar”, ou “abram alas, deixem minha águia passar”. No final da segunda parte e antes de retornar ao refrão principal há uns cinco compassos sem voz, que, na gravação, foram preenchidos por uma escala no cavaquinho. O intérprete Zinho Melodia faz bonito em sua estréia como microfone principal da escola azul e branca, esbanjando bom humor em seus cacos. NOTA 9

ACADÊMICOS DE GRAVATAÍ – Ao prestar uma homenagem a dois cinqüentenários, o do bloco carnavalesco Cacique de Ramos e da própria Acadêmicos de Gravataí, a onça negra acabou por ter um dos melhores sambas de 2011. Meu samba é gostoso / dá água na boca, diz a letra do samba. A melodia é bem construída e a bateria dá um show de suingue. O puxador Rudi defende o samba com competência. Na primeira parte, a escola homenageia o bloco carnavalesco Cacique de Ramos, que tem as mesmas cores da escola de Gravataí (preto, vermelho e branco). Na segunda parte do samba, a escola relembra alguns de seus principais carnavais. NOTA 9,8

IMPÉRIO DO SOL – A escola de São Leopoldo vai de enredo-homenagem em busca da permanência na elite do carnaval de POA. Para isso, recorreu à vida de uma mulher guerreira: a porta-estandarte Onira Pereira. A letra relembra a origem hebraica do estandarte, e narra a trajetória carnavalesca da homenageada desde a época dos Bambas da Orgia e dos desfiles na Marquês da Sapucaí, destacando também o seguimento do legado carnavalesco na família e seu trabalho junto à Udesca. O samba, apesar de bonito, tem uma linha melódica um pouco triste, o que pode afetar um pouco na animação do componente e no andamento do desfile. O canário da Império do Sol, Joel Alves, solta o gogó com correção. NOTA 8,5

PRAIANA – A verde e rosa vai levar para o Porto Seco um tema ousado: a história dos ciganos. Ousado porque a história deste povo nômade é muito rica e sua reprodução no carnaval nunca vem ausente de polêmica: quem não se lembra do desfile da Unidos do Viradouro em 1992, quando incendiou uma alegoria simbolizando uma geleira? O samba descreve bem as características do povo rom. No entanto, os dois refrões carecem de um pouco mais de vibração nos dois refrões. Ótima condução do intérprete Alexandre Belo, que estréia na Praiana. NOTA 8

SAMBA PURO – A exemplo da Império do Sol, a entidade do morro da Maria da Conceição também presta uma homenagem a outra mulher guerreira gaúcha: Rozeli da Silva, a ex-gari que se tornou líder comunitária e presidente do Centro Infantil Renascer da Esperança. O samba relembra as origens de Rozeli, “com uma infância simples e sofrida”, criada no morro da Conceição e na Restinga, até o reconhecimento com o trabalho social na Renascer. O samba é muito bonito, bem construído e possui uma variação melódica muito interessante na passagem do primeiro refrão para o verso Estruturando a nossa juventude / com determinação o seu projeto evoluiu. Paulinho Durão está muito à vontade na condução deste, que é um dos bons sambas da safra deste ano. NOTA 9,3

MANAUS



Gravação do CD – A cada ano que passa eu me torno cada vez mais fã do carnaval de Manaus. A qualidade dos sambas das escolas da cidade fica acima da média do que se escuta no restante do país. Em alguns momentos, são superiores aos próprios sambas do todo-poderoso carnaval do Rio de janeiro, que – convenhamos – há muito tempo deixou de ser soberano no gênero, sucumbindo à nefasta padronização dos sambas de desfile. Outra coisa que eu admiro é a preocupação e o zelo que as escolas tratam os temas envolvendo a Amazônia, a ecologia, as belezas naturais da região e as peculiaridades das cidades do interior do Amazonas. Além da qualidade na composição musical, a qualidade prossegue na gravação do CD oficial. Os cuidados com os arranjos, a participação de músicos profissionais de base junto com os ritmistas das baterias, o apuro técnico de áudio conferem à produção um trabalho bem acabado. Porém, como nem tudo pode ser perfeito e nem tudo pode ser bacana, o CD demora a ser lançado e vendido. Enquanto os sambas são definidos pelas escolas nos meses de setembro e outubro, a bolacha a laser geralmente é posta à venda às vésperas do desfile. Em 2011, o disco passou a ser comercializado na segunda quinzena de janeiro. É pouco tempo para os amantes do carnaval aprenderem a música, compreender o enredo e ir para a avenida sabendo as histórias que cada escola vai apresentar. O CD traz os sambas das oito escolas do Grupo Especial (pela ordem: Vitória Régia, Reino Unido da Liberdade, A Grande Família, Sem Compromisso, Mocidade Independente de Aparecida, Unidos da Alvorada, Balaku Blaku e Mocidade Independente do Coroado). Após a gravação do CD ficou definido que as escolas Mocidade Independente de Presidente Vargas e Andanças de Ciganos também desfilariam, somando, então dez agremiações na elite do carnaval.

· os áudios das 8 faixas do CD me foram enviadas pelo amigo Janner Alves. As demais, pelo também amigo e pesquisador Daniel Sales.

Link Grupo Especial Manaus:

http://www.4shared.com/dir/clhk9PVE/Sambas_de_2011.html

VITÓRIA RÉGIA – Um ótimo samba para abrir o CD e digno de uma escola que defende o título. A Vitória Régia, atual campeã do carnaval de Manaus, comparece com um samba leve, comunicativo, fácil de cantar e com uma estrutura melódica caprichada. Entre os autores, está Mingau da Grande Rio. Com o enredo “A Praça 14 canta e encanta em verde e rosa, a história do Teatro Amazonas”, a escola apresenta a trajetória de um dos principais patrimônios públicos do Estado do Amazonas. A história está bem contada e bem cantada. Um samba digno de uma campeã. Teatral, clássica e popular do povo e da capital amazonense. NOTA: 9,3

REINO UNIDO DA LIBERDADE – A atual vice-campeã do carnaval de Manaus presta uma homenagem às mulheres e sua contribuição no mercado de trabalho, na arte e na conjuntura social. A verde e branca do bairro Morro da Liberdade escolheu um samba mais pesado, em tom menor, mas não menos valente. Excelente potencial vocal do intérprete Wilsinho de Cima. NOTA 8,7

A GRANDE FAMÍLIA – Sambaço da gigante da zona leste! O samba d’A Grande Família sobre navegações traz novamente a assinatura de Kleber Paiva entre a parceria dos compositores, com um hino que retoma os melhores momentos da escola vividos durante os anos 2000. Kléber, aliás, volta a comandar o microfone número 1 da vermelho e branco do bairro São José. O samba é um dos melhores do carnaval 2011. A melodia é criativa, oscila tons maiores e menores com muita inteligência e mantém o samba “pra cima”, fornecendo a empolgação necessária para o componente. O único senão é a repetição de alguns fonemas no refrão do meio, o que acaba empobrecendo a letra (De nau cruzou e aqui chegou o navegador / João fugiu, veio ao Brasil, se fez imperador / Portos abriu, comércio a mil, avanço brasileiro / E nas águas da Amazônia, Mauá foi o pioneiro). Apesar disso, o galo com certeza irá incomodar. NOTA 9,5

SEM COMPROMISSO – A amarelo e preto retorna mais uma vez compromissada (desculpem o trocadilho) com a educação, assim como fez com a UEA, em 2005. Desta vez, a escola dos tucanos exalta a história de vida e trabalho da professora Martha de Aguiar Falcão, que recebeu, pela Sem Compromisso, a alcunha de “guerreira amazônida”. O samba ganhou uma gravação bem cadenciada, lembrando o ritmo dos sambas enredo do Rio de Janeiro da década de 1970. A letra destaca, na figura de Martha, a força da mulher amazonense, a floresta tropical e ao nosso planeta que tanto pede socorro. A segura condução vocal é muito bem feita pelo barítono da selva, Agnaldo do Samba. NOTA 9

APARECIDA – A campeoníssima Pareca está com sede de vitórias e promete quebrar o jejum de dois anos sem títulos. Para isso, vai fazer um apanhado geral das manifestações artísticas a partir do Renascimento até desembocar na cultura amazônica e suas vertentes com o enredo “Um facho de luz – um renascer na floresta”. O samba é bom e seguramente vai emocionar os componentes e seus torcedores no trecho Aparecida é expressão do samba / Magia com um toque divinal / Reduto de artistas, celeiro de bambas / Cultura que hoje encanta o carnaval / Que faz esse povo, chorar, sorrir / Avisa lá que a Mocidade vem aí. NOTA 9

ALVORADA – “Da palha ao ouro, Alvorada meu tesouro”. A Unidos de Alvorada vai homenagear seu próprio bairro, conhecido nos primórdios como “Cidade das Palhas”, pela precariedade de suas construções, até os dias atuais, onde há intenso comércio na área de construção e salões de beleza. A letra do samba diz que “a arena da Amazônia vem aí fazendo o mundo se admirar”. Arena da Amazônia é o nome do estádio que vai sediar jogos da Copa do Mundo de 2014. Será que o colosso será erguido no bairro da Alvorada? Interpretação magistral de Auzier, uma das melhores vozes do carnaval baré. NOTA 8,8

BALAKU BLAKU – A simpática Balaku Blaku vem com um tema pretensioso. “Do divino ao profano, do natural ao artificial, na vida e na morte. A força mais poderosa do Universo: luz”. A ideia é mostrar os diversos significados da luz, como a luz da fé, do sol, luzes que refletem, das estrelas, da lua, e ainda a luz do conhecimento. Na gravação, o samba da vermelho e branco ganhou um embalo irresistível. Uma batida cadenciada, muito gostosa de ouvir e de sambar, e uma interpretação correta de Fabinho Castro. Um dos melhores momentos do CD. NOTA 9,5

COROADO – A Mocidade Independente do Coroado pretende mostrar na passarela do samba um tema épico: a saga da folia manauara. A história tem início nos longínquos tempos dos primeiros bailes de salão no século 19, passando por bandas, blocos de rua, agremiações já extintas chegando até o atual desfile das escolas de samba no sambódromo de Manaus. E para um tema deste porte, a verde e amarelo escolheu um samba maravilhoso e inspirado. Destaque para os versos Nunca desisti, nada me desanimou / Bato no peito e digo agora quem eu sou, que seguramente vão causar arrepio nos seus componentes e torcedores. A bateria antecipa na gravação o show que deverá apresentar na avenida. Destaque para o trecho do “dois pra lá e dois pra cá” (numa referência ao Carnaboi e ao boi-bumbá, que também serão mostrados no desfile). O intérprete Marcelo Buiú (ex-Reino Unido, Acadêmicos da Cidade Alta e Balaku Blaku) tem uma voz muito agradável e estreia em grande estilo na Coroado. NOTA 9,7

PRESIDENTE VARGAS – Em 2010, por determinação judicial, após conflitos com a Associação das Agremiações de Escola de Samba de Manaus (AGEESMA), a Presidente Vargas não desfilou. Em função disso, a agremiação levará para a avenida este ano o mesmo samba que teria sido apresentado no ano passado, sobre o cinquentenário da fundação de Brasília. O samba tem uma levada bem carioca e lembra o estilo das composições feitas no Rio de Janeiro na década de 1980. A gravação demo interpretada por Nelson Pilão (também do RJ) reforça esta característica. A escola da Matinha será a segunda a desfilar no sábado. NOTA 8,5

ANDANÇAS DE CIGANOS – Apesar do ritmo um pouco acelerado na gravação, o samba da Andanças de Ciganos é bem gostoso de escutar e de cantar. Um dos autores do samba, o músico Júnior Rodrigues, compositor que já teve músicas gravadas por Alcione. Mais uma vez a cidade de Manacapuru – com suas lendas e cultura, representada pela dança das cirandas – será retratada no sambódromo de Manaus. O refrão principal é um dos melhores do carnaval. O intérprete é Wandinho da Mocidade (ex-Coroado). A escola vai abrir os desfiles do carnaval 2011 no dia 5 de março às 17h20(!!!). NOTA 9

Outras escolas:

ACADÊMICOS DO RIO NEGRO – A Acadêmicos do Rio Negro é uma escola de samba ligada ao Atlético Rio Negro Clube por ter sido fundada como batucada composta por torcedores do clube em 1972. A escola, que não desfilava desde 1983, foi reativada oficialmente em janeiro de 2011, na casa de um dos líderes da torcida do galo alvinegro, como é conhecido. O enredo para 2011 é “A volta do Rio Negro”. O samba é muito animado, que ressalta a ressurreição da escola. O refrão principal (vai, meu Rio Negro, vai / este é o galo time da minha paixão...) lembra um pouco a melodia do samba do Salgueiro de 1994. A interpretação é do paulista  Boca Nervosa, sambista que já foi puxador da Camisa Verde e Branco e lançou um LP na década de 1980, na época da explosão do pagode estilo “fundo de quintal”. Quem tem mais de 30 anos seguramente se lembra da música “Nego véio” (Nego véio que foi que te deu  / nego véio que foi que te deu / Me deu vontade de tomar de comer biscoito / de nove tira um / fica oito) A Acadêmicos vai disputar o Terceiro Grupo do carnaval de Manaus. NOTA 9

Link: http://www.4shared.com/audio/b5rTIaZa/Rio_Negro_2011.html


IMPÉRIO DA KAMÉLIA – O Império da Kamelia é um escola do grupo de acesso A de Manaus. O enredo “Do arco-da-velha, coisa que o vento levou” vai retratar de forma leve e alegre os hábitos e costumes da cidade de Manaus que, em funão dos novos tempos, acabaram caindo em desuso. A ideia é muito legal e promete encher a passarela de saudosismo. O samba é correto e descritivo. Notei que o intérprete Nego Léo canta o samba com uma certa dificuldade de encontrar o tom certo. NOTA 9

Link: http://www.4shared.com/audio/-t5TQiZc/02_Faixa_2.html

BEIJA-FLOR DO NORTE – A simpática Beija-Flor do Norte homenageia o intérprete de samba Moysés de Oliveira, um dos mais experientes sambistas de Manaus. O samba é típico dos enredos-homenagem, tratando da trajetória carnavalesca de Moysés e alguns aspectos de sua vida profissional. NOTA: 8,7

Link: http://www.4shared.com/audio/9r5S0-sL/01_Beija_Flor_do_Norte_2011.html

DRAGÕES DO IMPÉRIO – A Dragões do Império também está na luta pela disputa do título do Acesso. O tema escolhido para 2011 fala sobre o arco-íris, tema que já foi tema de Imperatriz Leopoldinense (1979) e Jacarezinho (1994). O samba é de autoria do experiente Mestre Zé Carlos, e  tem força, uma melodia inteligente e é gostoso de ser cantado. A letra aborda a questão religiosa do arco-íris e o fato de ser o símbolo da diversidade sexual. NOTA 9,3.

Link: http://www.4shared.com/audio/sJddpDim/Dragoes_do_Imperio_2011_Arco_i.html

MOCIDADE DA RAIZ – O legal no carnaval de Manaus é que as escolas de samba de lá apresentam temas que são praticamente desconhecidos do restante do país. Eu nunca antes tinha ouvido falar na cidade de São Gabriel da Cachoeira. A partir do tema da Mocidade da Raiz fiquei sabendo que a cidade se localiza “no alto do Rio Negro”, é um ponto estratégico militar, tem uma serra chamada Bela Adormecida, é onde está localizado o Pico da Neblina, possui um evento cultural chamado Festribal e que a maior parte de seus habitantes é constituída por várias etnias, como Arapaço, Baniwa, Barasana, Tukano, Baré. Com tanto didatismo, fica fácil de se tornar íntimo de São Gabriel da Cachoeira. Essa facilidade é proporcionada pela escola cujo símbolo é uma coruja, a Mocidade da Raiz, com seu excelente samba enredo. NOTA: 9,5.

Link: http://www.4shared.com/audio/WrbqCSB_/Mocidade_da_Raiz_2011.html

MENINOS LEVADOS – A Meninos Levados já esteve na elite do carnaval de Manaus. E a escola escolheu uma lenda indígena: “Da lenda ao Tuchaua, o guaraná da nossa terra”. O samba é correto e explana bem o tema. NOTA 8,5.

link: http://www.4shared.com/audio/7fjG4VF2/Meninos_Levados_2011.html

MOCIDADE DE IPIXUNA – Mais uma cidade do interior amazonense será homenageada no carnaval baré. Desta vez, será a vez do município de Anamã. O samba é descritivo e narra as características da cidade de Ananã. Quem defendeu na gravação foi o barítono da floresta, Agnaldo do Samba. NOTA 9.

http://www.4shared.com/audio/gTruaWC4/Ipixuna_2011.html

DEIXA FALAR (Pará) – O pesquisador e amigo amazonense Daniel Sales me enviou um samba da Deixa Falar, uma escola de Belém do Pará. Estou compartilhando com os amigos o samba que foi levado à avenida em 2010. Fazendo uma rápida pesquisa na internet, descobri que o enredo “Ópera de São João, pássaros de cordão”, é a recriação de um tema já desenvolvido no carnaval de 1996, incluindo a campanha pela reconstrução e tombamento do Teatro São Cristóvão, localizado na capital paraense e as homenagens aos pássaros juninos. O samba, de autoria de Bosco Guimarães e mostra um apuro musical muito qualificado. A letra é um pouco extensa, mas o samba em nenhum momento perde o pique. A voz do intérprete é muito parecida com a do carioca Davi do Pandeiro (tem até o caco arrebeeeeeentaaaaa!). A Deixa Falar de Belém do Pará foi uma grata surpresa. Para quem ainda acha que o carnaval de escolas de samba se resume a Rio e São Paulo está tremendamente enganado.

link: http://www.4shared.com/audio/Y4R4b0L4/Deixa_Falar_Para.html