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Coluna do Rixxa Jr

DEZ HOMENAGENS A PERSONALIDADES VIVAS NO CARNAVAL

31 de dezembro de 2010, nº 26, ano VI

Sei que amanhã
Quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora. 

Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga,
Para aliviar meus ais.
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais
 

Quando eu me chamar saudade, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito

Há muito tempo o carnaval presta homenagens a ídolos da música, astros e estrelas da televisão e personagens dos mais variados setores da sociedade brasileira. Mas o expediente de reverenciá-las em vida é relativamente recente. Até a década de 1980, as escolas preferiam celebrar personalidades já falecidas e eram raros os homenageados em vida. Mais raros ainda eram os que recebiam a láurea e participavam do desfile. O marco desta mudança aconteceu em 1984, ano da inauguração do sambódromo. A partir daquele ano, os tributos a personalidades vivas pelas escolas de samba passaram a ganhar força e se tornou modismo nas duas décadas seguintes. Algumas exaltações realmente se justificavam e eram condizentes. Outras, no entanto, se mostravam duvidosas. Houve até suspeitas de homenageados que “compravam” o enredo junto às escolas.

Em 2010, a Beija-Flor de Nilópolis reascende as homenagens a ídolos vivos brasileiros, destacando os 50 anos de carreira de Roberto Carlos (que, aliás, já fora enredo pela Unidos de Cabuçu, em 1987). Partindo deste mote, o Top 10 Sambario relembra dez grandes homenagens de personalidades que receberam as “flores em vida” (expressão contida na música “Quando eu me chamar saudade”, de Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho – outro que será homenageado no sambódromo) na Marquês da Sapucaí nas últimas quatro décadas e que marcaram o carnaval carioca. Sim, porque depois que todos nós nos chamarmos saudades, queremos preces, nada mais. Confira.

10º lugar: ELIZETH CARDOSO, a Mulata Maior - Unidos de Lucas (1974) / MÃE MENININHA DO GANTOIS – Mocidade Independente de Padre Miguel (1976)

Na década de 1970 não era moda prestar tributos a personalidades vivas no carnaval. Era senso comum de que dava azar, que apenas se homenageava quem já tinha morrido. Duas escolas ousaram ir contra essa máxima e prestaram justa reverência a duas grandes damas brasileiras, cada uma no seu ramo de atuação. A Unidos de Lucas celebrou sua madrinha, a diva da MPB Elizeth Cardoso com o enredo “Mulata Maior”. A homenagem rendeu à escola o vice-campeonato no Grupo 2 no carnaval de 1974 e rendeu uma vaga para o Grupo Especial no ano seguinte. Já a Mocidade Independente de Padre Miguel trouxe axés da Bahia e levou para a passarela do samba Mãe Menininha do Gantois. Com um desfile suntuoso, de autoria de Arlindo Rodrigues, e um samba legendário composto por Tôco, a agremiação obteve o terceiro lugar, embora empatada com os mesmos 116 pontos conquistados pela Mangueira.

As homenageadas:


Elizeth Cardoso

Conhecida como A Divina, Elizeth Cardoso (1920 - 1990) foi uma das mais talentosas cantoras brasileiras de todos os tempos. Extremamente refinada, além do choro, Elizeth consagrou-se como uma das grandes intérpretes do gênero samba-canção. Foi também precursora da bossa nova, quando, em 1958, gravou o antológico LP “Canção do amor demais”, com composições de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Portelense, a cantora foi convidada pela direção da Unidos de Lucas em 1968 para ser madrinha do Galo de Ouro da Leopoldina. O padrinho seria Vinícius de Moraes. Entretanto, diz a lenda que no dia do batizado o Poetinha tomou um porre dionisíaco e não compareceu na quadra da escola. Elizeth, então, batizou Lucas sozinha e a partir daí passou a desfilar na agremiação.


Mãe Menininha do Gantois

Maria Escolástica da Conceição Nazaré (1894 - 1986), conhecida como Mãe Menininha do Gantois, foi uma iyálorixá (mãe-de-santo, sacerdotisa do candomblé), e talvez a maior de todas as mães-de-santo brasileiras. Era filha de Oxum e foi apelidada Menininha talvez por seu aspecto franzino. Foi iniciada no culto dos orixás de Keto aos 8 anos, e assumiu o Terreiro do Gantois, em Salvador, aos 28 anos. Mãe Menininha abriu as portas de seu terreiro aos brancos e católicos e modernizou o candomblé sem permitir que a religião se transformasse num espetáculo para turistas. Nunca deixou de assistir à missa e até convenceu os bispos da Bahia a permitir a entrada nas igrejas de mulheres, inclusive ela, vestidas com as roupas tradicionais do candomblé. Em 1972, Dorival Caymmi compôs, em sua homenagem, a “Oração de Mãe Menininha” (a estrela mais linda, hein / Tá no Gantois). Além da Mocidade, em 1976, Mãe Menininha também foi citada dez anos depois, no samba enredo em que a Mangueira homenageou Caymmi.

9º lugar: O bem amado PAULO GRACINDO – Unidos da Ponte (1988)

Sob a gerência de Edson Tessier, a Unidos da Ponte desfilou pela sexta vez no Grupo Especial em 1988 e fez uma homenagem ao ator carioca Paulo Gracindo. Pela Sapucaí, desfilaram dezenas de artistas, principalmente da Rede Globo, mas também do teatro e até ex-colegas da Rádio Nacional. As alegorias retratavam os tipos que Gracindão interpretou e que figuram na memória afetiva das pessoas: Alberto Limonta (O Direito de Nascer), Primo Pobre (Balança mas não cai), Tucão (Bandeira 2) e Vovô Pepê (Mandala), entre outros. O próprio homenageado esteve na passarela, no carro que encerrou o desfile caracterizado de Odorico Paraguassu, seu personagem na novela O Bem Amado. Ao seu lado, desfilou também o escritor Dias Gomes, criador da obra. Quase todo o elenco das duas versões da novela, exibida pela TV Globo em 1973 e 1984 participou do desfile. O belíssimo samba, de autoria de Ambrósio e Mazinho Branco, foi um dos mais cantados naquele ano. A passagem da Ponte emocionou os presentes no sambódromo.

O homenageado


Paulo Gracindo

Nascido Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo (1911 - 1995), Paulo Gracindo atuou nas maiores companhias teatrais dos anos 30 e 40. Ator e radialista, apresentava programas na Rádio Nacional, e foi o protagonista do estrondoso sucesso da radionovela O Direito de Nascer, na qual interpretou o papel de Alberto Limonta; além de humorísticos, como o Balança mas Não Cai, com o quadro do Primo Pobre e Primo Rico, interpretado junto com Brandão Filho. Na TV fez personagens inesquecíveis, como Tucão da novela Bandeira 2; Coronel Ramiro Bastos, em Gabriela; João Maciel, de O Casarão, e o padre Hipólito, de Roque Santeiro. Mas o papel mais marcante de Gracindão foi o prefeito Odorico Paraguaçu, de O Bem Amado, de Dias Gomes (1973; 1980-1984).

8º lugar: BETINHO, Verás que um filho teu não foge à luta – Império Serrano (1996)

Por pouco o Império Serrano não fora rebaixado para o Grupo 1-B em 1995. A verde e branco contratou os carnavalescos Ernesto Nascimento e Actir Gonçalves para desenvolverem o carnaval do ano seguinte. A dupla propôs o sociólogo e defensor das causas populares Herbert de Souza, o Betinho, como enredo da escola, retomando uma antiga tradição imperiana de enredos populares e culturais. Betinho concordou em ser o tema da escola, mas solicitou que a abordagem fosse menos pela sua vida e mais pelo trabalho desenvolvido pelo seu projeto Ação da Cidadania, no que foi atendido. O enredo abordaria as lutas populares brasileiras, a luta contra a fome e buscaria dar um grito de alerta contra a miséria e pela cidadania. A escola da Serrinha foi a segunda a desfilar na noite de 19 de fevereiro e logo cativou os espectadores na Marquês de Sapucaí. À medida que as alas passavam, o clima de emoção e a garra de seus componentes contagiavam os público e faziam o sambódromo cantar. Frágil e debilitado pela doença, e ao mesmo tempo forte, Betinho surgiu no último carro da escola, vestido de branco e provocando uma onda de emoção na avenida. Foi um desfile de superação, porque o Império não tinha recursos para um desfile luxuoso e montou o carnaval com dificuldades. Para se ter uma idéia, Jorginho do Império cantou o samba na Sapucaí de graça. Heroicamente, a Serrinha obteve o sexto lugar. Foi a melhor colocação do Império Serrano no Grupo Especial desde então.

O homenageado


Herbert de Sousa

O sociólogo Herbert José de Sousa (1935 - 1997) concebeu e dedicou-se ao movimento de inclusão social chamado “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida”. Betinho tinha uma história de luta contra o regime militar (ele era o irmão do Henfil citado na letra da música “O bêbado e a equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, gravada por Elis Regina) e, posteriormente, pela qualidade dos bancos de sangue nacionais. Ele e seus dois irmãos, o cartunista Henfil e o músico Chico Mário, eram hemofílicos e haviam contraído o vírus da Aids em transfusões de sangue sem o necessário controle de qualidade. O objetivo da Ação da Cidadania era combater a fome das camadas mais pobres e desenvolver ações de capacitação e de geração de emprego e renda. Ativista dos direitos humanos, Betinho também liderou a campanha chamada “Natal sem Fome”, que consistia em arrecadar doações para que todas as famílias brasileiras tivessem o que comer na noite de Natal. Mesmo doente, Herbert fazia questão de liderar este processo, com a frase: “quem tem fome tem pressa”.

7º andar: SÍLVIO SANTOS, Hoje é domingo, é alegria. Vamos sorrir e cantar! – Tradição (2001)

Após levar as modelos Luma de Oliveira e Suzana Tiazinha Alves – esta última então no auge da carreira – como rainhas de bateria, respectivamente nos anos de 1998 e 1999, o presidente da GRES Tradição, Nésio Nascimento, desferiu mais um golpe de mestre em sua conhecida habilidade em atrair as atenções do público para sua escola. A ousadia do dirigente para o carnaval de 2001 foi levar para o sambódromo um enredo que homenageasse o apresentador de TV e empresário Sílvio Santos. Foi o ano em que a escola mais atraiu a atenção do grande público para si. Silvio desfilou como destaque num carro alegórico com um traje todo prateado. Além do Homem do Baú, a Tradição também levou para o desfile celebridades do SBT, como, por exemplo, o locutor Lombardi (que deu o grito de guerra), a apresentadora Hebe Camargo e o elenco de humoristas do programa A Praça é Nossa. No período pré-carnavalesco, a TV Globo não contemplava a exibição do samba da Tradição em horário nobre. Entretanto, o samba assinado por Lourenço e Adalto Magalha era executado constantemente durante os intervalos da programação do SBT nos meses anteriores ao carnaval. Na hora do desfile, o povo já conhecia muito bem a letra, o que certamente ajudou bastante a Tradição. O oitavo lugar foi a segunda melhor colocação da escola no Grupo Especial.

O homenageado


Silvio Santos

Senor Abravanel (1930) é um administrador de empresas, apresentador de televisão e empresário brasileiro. É dono do Grupo Silvio Santos (que inclui vários negócios como o Baú da Felicidade, Jequiti Cosméticos, Banco Panamericano) e do Sistema Brasileiro de Televisão. Como apresentador do duradouro Programa Silvio Santos, um dos programas mais antigos da televisão brasileira, tornou-se um dos mais consagrados e queridos ícones da televisão e do público brasileiro, sendo considerado um dos maiores empreendedores e comunicadores da história da televisão no país.

6º lugar: DERCY GONÇALVES – Bravo, bravíssimo - O retrato de um povo. Unidos do Viradouro (1991)

Eram pouco mais das 18h e com o sol a pino quando a multicampeã do carnaval de Niterói Unidos do Viradouro adentrou na Marques de Sapucaí, pela primeira vez no Grupo Especial do Rio de Janeiro. E, para ajudar na estréia, nada melhor do que recorrer a uma veterana estrela dos palcos, do teatro, do cinema e da televisão. Dercy Gonçalves era a homenageada no enredo “Bravo, bravíssimo – Dercy, o retrato de um povo”, desenvolvido pelos carnavalescos Max Lopes e Mauro Quintaes. A escola já tinha pinta de veterana entre as grandes e se mostrava disposta a brigar pelas primeiras posições. No alto do carro abre-alas, que era todo branco, prata e rosa, estava a homenageada, que desfilou com os seios nus e com uma bengala, pois ela havia sofrido um acidente meses antes do carnaval. A vida de Dercy estava toda representada em forma de fantasias e alegorias, desde sua infância pobre em Madalena (RJ) até seus grandes sucessos no teatro e no cinema. O belíssimo samba, muito bem levado por Quinzinho, ajudou na empolgação dos componentes e do público. A ala das crianças foi contemplada com o Estandarte de Ouro da categoria: veio vestida de perereca, fazendo referência ao sucesso de Dercy: “Perereca da Vizinha”.

A homenageada


Dercy Gonçalves

Dolores Gonçalves Costa (1907 - 2008), foi uma atriz brasileira, oriunda do teatro de revista, notória por suas participações na produção cinematográfica brasileira das décadas de 1950 e 1960. Também atuou em telenovelas e em programas humorísticos na televisão. Celebrada por suas entrevistas irreverentes, bom humor e emprego constante de palavras de baixo calão, Dercy foi uma das maiores expoentes do teatro de improviso no Brasil e um dos maiores mitos da dramaturgia brasileira.

5º lugar: BETH CARVALHO, a Enamorada do Samba – Unidos do Cabuçu (1984)

O grupo 1-B (formado por 12 escolas) foi a primeira categoria a desfilar no recém inaugurado sambódromo do Rio de Janeiro, na noite do dia 2 de março de 1984. A sexta entidade foi a Unidos do Cabuçu, que apresentou o enredo “Beth Carvalho, a enamorada do samba”, do carnavalesco Sidelson. A escola, então presidida pela jornalista Therezinha Monte, apresentou um desfile impecável, sob o ponto de vista técnico. O samba foi composto por um verdadeiro dream team: Edmundo Souto, Paulinho Tapajós (dois dos três autores de Andança – o outro é Danilo Caymmi – , música interpretada por Beth e que conquistou o 3º lugar na fase nacional do III Festival Internacional da Canção em 1968), Luiz Carlos da Vila (frequentador do Cacique de Ramos e compositor revelado por Beth nos seus LPs de 1980 e 1983) e Ibá Nunes, tradicional sambista da ala de compositores da Cabuçu. A letra é bem típica do formato clássico de enredo-homenagem: menciona o local onde a personalidade nasceu (bairro da Gamboa, no Rio), time pelo qual torce (Botafogo), a escola de samba do coração (Mangueira), os compositores que gravou (Nelson Cavaquinho, Cartola, entre outros), as músicas consagradas por ela (Virada, As rosas não falam, Vou festejar, etc), da família (a filha Luana), etc. No carnaval de 1984, Beth foi uma verdadeira pé-quente: das três escolas em que desfilou, as três ganharam títulos: com a Cabuçu (onde foi enredo) a cantora conquistou o campeonato do grupo 1-B; com a Portela (onde participou do desfile em que sua amiga Clara Nunes era uma das homenageadas), ganhou o desfile de domingo de carnaval; e com a verde e rosa (sua escola do coração), venceu o desfile de segunda-feira e arrebatou o supercampeonato daquele ano.


Beth Carvalho

A homenageada

A carreira de Elizabeth Santos Leal de Carvalho (1946) teve origem na bossa nova. Morou em vários bairros do Rio de Janeiro e seu pai a levava com regularidade aos ensaios das escolas de samba e rodas de samba. É mangueirense desde a adolescência. No final da década de 1960, houve o boom dos festivais e Beth participou de quase todos. No Festival Internacional da Canção (3º FIC) de 1968, conquistou o terceiro lugar com “Andança” e ficou conhecida em todo o país. Em mais de 40 anos de carreira, a cantora gravou 31 discos, dois DVDs, conquistou seis prêmios Sharp, 17 discos de ouro, nove de platina, um DVD de platina, centenas de troféus e premiações diversas. Ao ser campeã com a Unidos do Cabuçu em 1984, Beth considerou esta como a maior de todas as homenagens já recebida: “Não existe no mundo, nada mais emocionante do que ser enredo de uma escola de samba. É a maior consagração que um artista pode ter”, declarou a sambista.

4º lugar: JORGE AMADO, Axé Brasil – Império Serrano (1989)

O desafio da tradicionalíssima Império Serrano era enorme. Além de ter a responsabilidade de encerrar o segundo dia de desfiles do Grupo Especial de 1989, após a passagem de 17 escolas, precisava também manter o público interessado e empolgado após a revolucionária apresentação proposta pela Beija-Flor em “Ratos e urubus, larguem minha fantasia”. Mas o Menino de 47 não se fez de rogado. Naquela manhã de terça-feira, apresentou o enredo “Jorge Amado, Axé Brasil”, do carnavalesco Oswaldo Jardim, em que exaltava o escritor baiano através de seus principais personagens, que eram os grandes convidados para a comemoração em homenagem ao autor. E estavam todos lá: os capitães de areia, Gabriela, os coronéis das terras do sem fim, Tereza Batista, Quincas Berro D’Água, os pastores da noite, Tieta do Agreste, Dona Flor, etc. Jorge Amado desfilou no último carro, ao lado da esposa Zélia Gattai, e vários amigos e artistas.

O homenageado


Jorge Amado

Jorge Amado (1912 - 2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira. Verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos, cuja adaptação para o cinema foi recordista de público no Brasil por 34 anos levando mais 10 milhões de espectadores aos cinemas brasileiros, até ser ultrapassado em 2010 por Tropa de Elite 2. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos. Além de ter sido adaptada inúmeras vezes para cinema, teatro e televisão, a obra literária de Jorge Amado foi tema de escolas de samba por todo o Brasil. Alguns exemplos: “Dona Flor e seus dois maridos” (Lins Imperial/1975), “Capitães de Asfalto” (baseado no romance Capitães de Areia, São Clemente/1987), “Tenda dos Milagres” (Lins Imperial/1987), “Amado Jorge Amante” (as mulheres na obra de Jorge Amado, Independentes do Cordovil/1987) e “Gabriela, Cravo e Canela” (Unidos de São Carlos/1969).

3º lugar: CLEMENTINA DE JESUS, GRANDE OTELO, LUANA DE NOAILLES, PELÉ E PINAH, A grande constelação das estrelas negras – Beija-Flor (1983)

Em 1983, no último carnaval antes da construção do sambódromo.

O enredo “A grande constelação das estrelas negras”, do carnavalesco Joãozinho Trinta, fazia uma bela homenagem a vários negros brasileiros ilustres. Os quase 3 mil componentes a Deusa da Passarela estavam mordidos com a injusta sexta colocação do ano anterior e nem se importaram em entrar na Sapucaí pouco depois das 11 horas da manhã sob um sol escaldante e um calor de quase 40 graus. A Beija-Flor estava bem típica: carros gigantes, fantasias luxuosas e visual impressionante, acrescidos de um enredo popular e de fácil assimilação. As estrelas negras citadas no enredo desfilaram. Clementina de Jesus foi a primeira, sentada numa espécie de trono no alto de um carro alegórico. Afinal, ela era conhecida como Mãe Quelé. Na seqüência, vieram a ex-modelo baiana  radicada na França condessa Luana de Noailles, o “homem-show” Grande Otelo e a “cinderela negra” Pinah, que se consagrou como destaque e cria da própria escola, além de ter se tornado mundialmente conhecida ao sambar junto com o Príncipe Charles, quando este visitou o Brasil pela primeira vez, em 1978. O desfile terminou com uma homenagem a Pelé, único ausente no desfile.

Os homenageados


Clementina de Jesus

Antes de ser descoberta pelo produtor e compositor Hermínio Belo de Carvalho, Clementina de Jesus da Silva (1901 - 1987) trabalhou por mais de 20 anos como doméstica. Estreou como cantora no show Rosa de Ouro, em 1963. Dona de um timbre de voz inconfundível, seu repertório era composto por sambas, corimás, jongos, cantos de trabalho e canções de cunho religioso, recuperando assim a memória da conexão afro-brasileira. Mangueirense, Clementina, também conhecida como Quelé, era considerada a Rainha do Partido Alto. Mesmo tendo iniciado tardiamente sua vida artística e com uma curta carreira, é sem dúvida uma das mais importantes artistas brasileiras.


Luana de Noailles

Raimunda Nonata do Sacramento (1949) nasceu no bairro do Curuzu e foi criada no bairro da Liberdade, em Salvador. Negra e de infância pobre, mas com um porte altivo de princesa, foi descoberta aos 16 anos. Logo em seguida tornou-se modelo da indústria têxtil Rhodia e adotou o nome artístico de Luana. Na década de 70, embarcou para Itália e França e passou a trabalhar para as mais importantes grifes do mundo, como Paco Rabanne, Yves Saint Laurent e Christian Dior. Casou-se com o conde francês Gilles de Noailles, tornando-se a Condessa de Noailles. Luana já tinha sido enfocada na coluna nº 12, intitulada Grandes Perácios da Folia.


Grande Otelo

Sebastião Bernardes de Souza Prata (1915 - 1993) foi um grande artista de cassinos cariocas e do chamado teatro de revista. Grande Otelo atuou em diversos filmes brasileiros de sucesso, entre os quais as famosas chanchadas nos anos 1940/50, que estrelou em parceria com o cômico Oscarito. Na televisão, era contratado da TV Globo, onde atuou em diversas telenovelas e em programas humorísticos, como a Escolinha do Professor Raimundo. Juntamente com Herivelto Martins compuseram o samba “Praça Onze”. Uma curiosidade carnavalesca: três anos após a homenagem da Beija-Flor, Otelo foi enredo da Estácio de Sá. A escola, a segunda a desfilar na noite de domingo de carnaval, precedeu a Unidos da Ponte, que abriu o desfile do Grupo Especial, exaltando seu parceiro Herivelto.


Pinah

Em 1978, a então passista e destaque da Beija-Flor Maria da Penha Ferreira (1960), ficou mundialmente conhecida por ter dançado com o Príncipe Charles, no Palácio da Cidade, na zona Sul do Rio de Janeiro, quando o herdeiro do trono britânico fez sua primeira visita ao Brasil. A partir daí, a vida de Pinah mudou radicalmente. Juntamente com Joãosinho Trinta, Neguinho, Anísio e Laíla, a mulata passou a ser uma das personalidades da emergente escola nilopolitana. Como sempre aparecia com a cabeça raspada, Pinah passou a ser uma das marcas visuais do carnaval carioca e passou a ser chamada de Cinderela Negra. Segundo ela, o sucesso praticamente a obrigou a mudar o rumo de sua vida. A sambista largou a carreira de dançarina e de passista para se tornar empresária. Hoje, Pinah possui uma loja de artigos usados por escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo, está casada, tem uma filha e abandonou os desfiles de carnaval, os quais só assiste pela televisão.


Pelé

Edison Arantes do Nascimento (1940) é o maior jogador da história do futebol. Pelé recebeu o título de Atleta do Século de todos os esportes em 1981, eleito pelo jornal francês L'Equipe. No fim de 1999, o Comitê Olímpico Internacional, após uma votação internacional entre todos os Comitês Olímpicos Nacionais associados, também elegeu Pelé o “Atleta do Século”. A FIFA também o elegeu, em 2000, numa votação feita por renomados ex-atletas e ex-treinadores como o Jogador de Futebol do Século XX. Apesar de ser enaltecido inúmeras vezes no carnaval, o Rei do Futebol jamais saiu em uma escola de samba. “No dia que eu aceitar o convite de uma, terei que aceitar o convite de todas”, justifica Pelé. 

2º lugar: JOÃOSINHO TRINTA, Sonhar com rei dá João – União da Ilha do Governador (1990)

A União da Ilha já tinha provocado grande impacto com “Festa Profana” (1989) e conquistado um inédito e histórico terceiro lugar. No mesmo ano, a revolução estética provocada por Joãosinho Trinta reforçou e amplificou a admiração que tinha entre seus colegas carnavalescos. E foi esse o desafio que o praticamente desconhecido Ney Ayan levou em consideração ao propor o enredo da Ilha para o carnaval de 1990: prosseguir a boa onda insulana com a apresentação quase perfeita de “Festa profana” e fazer um desfile sob a inspiração de Joãosinho. “Sonhar com rei dá João” tinha como proposta retratar os dois campeonatos consecutivos conquistados pelo artista maranhense no Salgueiro (1974-75), o primeiro tricampeonato da Beija-Flor (1976-77-78) e encerrar apoteoticamente relembrando o espantoso “Ratos e urubus...” do ano anterior. Para tal ousadia, a União da Ilha não poupou esforços e duplicou o investimento dispensado em 1989. Luxo e requinte estavam presentes em todas as alas da escola e setores do desfile. O samba foi novamente de autoria da dupla Bujão e J. Brito, tendo outra vez como ghost writter o compositor Franco. Na condução do carro de som, a animação de Quinho. O próprio João Trinta desfilou, rodeado por mendigos, no carro que encerrou o desfile e que o coroava como “rei do paetê e do miserê”.

O homenageado


Joãosinho Trinta

Considerado o maior carnavalesco de nossa história, o artista plástico João Clemente Jorge Trinta (1933) é também uma figura única da cultura popular brasileira, se portando como um filósofo e crítico da sociedade brasileira. “O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual”, teria declarado em uma entrevista, no final da década de 1970. Nascido numa família pobre de São Luís do Maranhão, Joãosinho mudou-se para o Rio de Janeiro, para estudar dança clássica no Teatro Municipal. Chegou à então capital federal exatamente em um sábado de carnaval. Em 45 anos de trabalho dedicados à folia, comandou o carnaval do Salgueiro, Beija-Flor, Império da Tijuca, Rocinha, Peruche (São Paulo), Viradouro, Grande Rio e Vila Isabel. Problemas de saúde em função de uma isquemia sofrida em 1996 e dois AVCs em 2004 provocaram seu afastamento definitivo do carnaval. Além da homenagem da União da Ilha, Joãosinho Trinta também teve sua vida e obra exaltada pela Acadêmicos da Rocinha (2004).

1º lugar: Yes, nós temos BRAGUINHA – Estação Primeira de Mangueira (1984)

O tributo que a Estação Primeira de Mangueira prestou ao compositor João de Barro foi um dos momentos mais emocionantes e marcantes da história do carnaval. Até a década de 1980, as escolas preferiam celebrar personalidades já falecidas e eram raros os homenageados em vida. Com cerca de 3,8 mil componentes, divididos em 43 alas, a escola apresentou “Yes, nós temos Braguinha”, de Max Lopes, em três quadros: Bela Época, Festa Junina e o Carnaval. O estupendo samba, de autoria de Jurandir, Hélio Turco, Comprido, Arroz e Jajá, na voz de Jamelão, embalou a verde e rosa e empolgou o público do princípio ao fim. Braguinha estava presente no desfile, no alto do carro abre-alas, que era composto por uma árvore e um banco de praça cenográficos. Na Praça da Apoteose, em vez de dispersar, a Mangueira retornou pela passarela e fez o caminho de volta, oferecendo mais um desfile ao público, que se misturou à escola.

O homenageado


Braguinha

A musicografia completa do compositor carioca Carlos Alberto Ferreira Braga (1907 - 2006), inclusive com versões e músicas infantis, passa dos 420 títulos, uma das maiores e de mais sucessos da música popular brasileira. Mas Braguinha ficou famoso em função de suas marchas de carnaval. Músicas como “Pirata da Perna de Pau”, “Chiquita Bacana”, “Touradas de Madri”, “Balancê”, “As Pastorinhas”, “A turma do Funil”, “Carinhoso” (feito em parceria com Pixinguinha) e muitas outras pertencem ao imaginário musical dos brasileiros. O apelido, João de Barro, se deve ao fato de que Braguinha estudava Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, quando ingressou no Bando Os Tangarás, ao lado de Noel Rosa, e resolveu adotar o pseudônimo de um pássaro arquiteto, porque o pai não gostava de ver o nome da família circulando no ambiente da música popular, mal visto na época.

Outras personalidades que receberam homenagem em vida. Alguns desses, estiveram presente nos desfiles:

- Roberto Carlos (Cabuçu/1987)
- Os Trapalhões (Cabuçu/1988)
- Milton Nascimento (Cabuçu/1989)
- Adolpho Bloch (Cabuçu/1991)
- Xuxa (Cabuçu/1992 e Caprichosos/2004)
- Mauricio de Sousa (Cabuçu/1993)
- Daniel Azulay (Jacarezinho/2002)
- Ronaldo “Fenômeno” Nazário (Tradição/2003)
- Fernando Pamplona (Salgueiro/1986)
- Dorival Caymmi (Mangueira/1986)
- Carlos Drummond de Andrade (Mangueira/1987)
- Tom Jobim (Mangueira/1992)
- Doces Bárbaros: Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia (Mangueira/1994)
- Chico Buarque (Mangueira/1998)
- Trinca de Reis: Walter Pinto, Carlos Machado e Chico Recarey (Mangueira/1989)
- Chacrinha (Império Serrano/1987)
- Bibi Ferreira (Viradouro/2003)
- Bidu Sayão (Beija-Flor/1995)
- Molejo (Império da Tijuca/1999)
- Nilton Santos (Vila Isabel/2002)
- Zezé Motta (Arrastão de Cascadura/1989)
- Irmãs Batista (Lucas/1989)
- Alcione (Ponte/1994)
- Maria Clara Machado (Jacarezinho/1992 e 2008, União da Ilha/2003 e Porto da Pedra/2010)
- Moreira da Silva (Em Cima da Hora/1987)
- Elymar Santos (Em Cima da Hora/1991 e Império da Tijuca/1998)
- Elba Ramalho (Vizinha Faladeira/1996)
- Sérgio Cabral (ECDH/1997)
- Neguinho da Beija-Flor (Cordovil/1992)
- Anthony Garotinho (Cordovil/1994)
- Sandra de Sá (Cordovil/1995)
- Beto Carrero (Lins Imperial/1993 e Império Serrano/1997).

Rixxa Jr.