PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

Coluna do Rixxa Jr.

DEZ DOS MAIORES AFRO-SAMBAS DE TODOS OS TEMPOS

Todos nós sabemos que o carnaval de rua tem uma origem popular. Os negros, principalmente, exerceram grande influência no desenho desta festa. As escolas de samba, em sua gênese, eram verdadeiros quilombos. Não por acaso, suas tradições, seus hábitos, costumes e modo de vida foram (e ainda são, mesmo com a cada vez mais agressiva mercantilização do espetáculo) muito retratados no carnaval. E religiosidade afro-brasileira sempre foi um tema recorrente e esteve muito presente nos desfiles de carnaval do Rio de Janeiro e na vida dos sambistas e carnavalescos. Data de fundação de uma escola de samba, as cores da bandeira, a batida da bateria e até o nome da agremiação podem estar ligados ou sofrer influência das religiões de matriz africana. Não por acaso, milhares de enredos já foram desenvolvidos na passarela do samba apresentando lendas, fatos e personagens ligados ao candomblé, à umbanda e ao misticismo que veio da África. Não por acaso, esse tema produziu uma infindável coleção de belíssimos sambas enredo. Aliás, é consenso de que dificilmente um enredo que fale da religiosidade afro-brasileira não gere um bom samba enredo.

E o Sambario arrisca listar dez desses sambas produzidos no universo religioso do carnaval. É pouco? É, sim. Concordo. Mas é uma apenas uma amostragem da dimensão que isso possa sugerir. Mas para listar esta dezena de belas obras, usei alguns critérios, tais como qualidade musical inquestionável da obra, representatividade histórica do samba tanto para a escola quanto para o carnaval e hinos que explicitassem a forte devoção religiosa às divindades (orixás), ou seja, só entrou samba “carregado”.

Portanto, se você for de santo, for de rodar ou de bater tambor, pise forte no terreiro e devagar para não cair. Com vocês, 10 dos maiores afro-sambas já levados para a avenida:

10º) Boi da Ilha do Governador (2001)“Orun-Ayê” (Aloísio Villar, Clodoaldo Silva, Paulo Travassos e Silvana da Ilha)

Na virada dos anos 1900/2000, predominavam, no carnaval, a exaltação a estados e municípios, com as escolas recorrendo a governos e empresas em busca de patrocínios para financiar seus enredos. No entanto, em 2001, no primeiro carnaval do terceiro milênio, surge um lindo samba-afro, com toques renovadores, mas obediente à tradição. Descrevendo a representação do mundo, para os nagôs, na união do mundo espiritual com o mundo material na busca da paz, “Orun-Ayê” é um libelo pela paz que causou sensação na opinião pública e chamou atenção para a até então pouco conhecida Boi da Ilha do Governador. O samba foi considerado um dos mais bonitos do ano e conquistou, com justiça, o Prêmio estandarte de Ouro. Um dos autores, o jovem Aloísio Villar, é um dos mais talentosos compositores da chamada “nova geração”.

Vem do Orun
A ordem do divino criador
Para ser criada a terra
E viver em paz sem guerra
 

* * * * * * * * * *

9º) União da Ilha do Governador (1998) – “Fatumbi, a Ilha de todos os santos” (Almir da Ilha, Márcio André e Maurício 100)

A missão da União da Ilha em 1998 era homenagear o fotógrafo e etnólogo franco-brasileiro Pierre “Fatumbi” Verger (1902-1996). A trajetória do homenageado – importante pesquisador do candomblé e babalaô (sacerdote yorubá) – requeria um samba de excelência. E a disputa na Ilha foi intensa, com obras de elevada qualidade musical. No fim, a parceria formada por Maurício Maia (ex-Maurício 100), Almir da Ilha e Márcio André, foi responsável por um belo samba que levantou a Marquês de Sapucaí, embalado pela potente voz de Rixxa. A Ilha viveu momentos de apreensão poucas semanas antes do desfile. Um incêndio no barracão da escola fez com que a agremiação insulana fizesse um supermutirão para recuperar a tempo as alegorias e fantasias perdidas no sinistro. A Ilha já tinha desfilado com um tema afro antes em 1974, quando desfilava pelo antigo Grupo 2: “Lendas e festas das yabás”, samba de Aroldo Melodia e Leôncio, no único campeonato conquistado até hoje pela tricolor.

E na vinda vem os Orixás
Pra surgir nossos terreiros
Na cultura Yorubá Nagô, ô ô
Se entrega por inteiro
E se sagrou babalaô
Homem branco feiticeiro
 

* * * * * * *

8 – Unidos da Tijuca (1976) – “No mundo encantado dos deuses afro-brasileiros” (Mílton de Luna, Selym do Leme e Si Menor)

Muitos compositores, ao elaborarem um samba afro, já decretam que a melodia deve ter uma tonalidade menor, o que torna o samba mais denso, “sério”, num tom de lamento, o que, supostamente, o tornaria mais “bonito”. No entanto, esta pérola da Unidos da Tijuca mostra justamente o contrário. As divindades do panteão africano são elencadas num sambão cheio de alegria e alto astral. A letra já avisa que os orixás serão cantados e apresentados “com luxo e fantasia”. E seguem os moradores do “mundo encantado”: Ogum, Oxossi, Xangô, Oxumaré, Iansã, Oxum, Iemanjá, Oxalá, e o samba chega ao ápice com a saudação a Exú (“Inaina emojbá”) no refrão, dizendo que este “pula na ponta do pé”. Ao final, há uma referência à gargalhada (quá-quá-quá) do “rei das trevas”, que “chegou”.  Na gravação, que pode ser conferida no LP original da Top Tape do então Segundo Grupo (o atual Acesso A), a bateria surra o couro dos tambores com muita ginga e suingue. Se fosse reeditado, o samba com certeza, daria um sacode na gélida e turística Marquês de Sapucaí. No ano anterior, a escola do Morro do Borel já havia conquistado o Estandarte de Ouro de Samba do Grupo 2, com outro afro-samba, o lindíssimo “Magia africana no Brasil”, de Jorge Machado.

Salve Ogum vencedor
E o rei do Kêto
Oxóssi caçador
Xangô, Oxumaré
Iansã, Oxum, minha mãe de fé
Iemanjá rainha do mar
E o poderoso Pai Oxalá
Inaina emojbá
 

* * * * * * * * * * * * *

7º) Unidos da Ponte (1984) – “Oferendas” (Jorginho)

Nos quase 15 anos que freqüentou o Grupo Especial, a Unidos da Ponte não errava na escolha de seu hino. Foi uma fase inspiradíssima de sambas enredo, nas décadas de 80 e 90. Em seu segundo carnaval na elite do carnaval carioca e no ano da inauguração do sambódromo, a escola do bairro de São Mateus em São João do Meriti, apresentou “Oferendas”. A letra do samba apresenta, de forma bem didática, as oferendas (comidas e presentes) que os devotos prestam a seus orixás. Tema semelhante a este fora apresentado antes pela Independentes do Cordovil, com “Manjares do céu e da terra”, em 1974. A melodia, sinuosa, que permeia tons maiores e menores, de autoria do compositor Jorginho, foi construída com inteligência, para facilitar o canto dos componentes da escola. Antes de “Oferendas”, a Ponte já tinha flertado com um tema afro em 1978, ao apresentar o excelente “A festa de Obaluajé”. 

Pra Exu e Pomba-Gira
Tem marafo e dendê
Muitas flores e pipocas
Para Obaluaê
A Oxumaré
Creme de arroz e milho
Pra Iansã, o acarajé
Pai Oxalá, nosso canto de fé

* * * * * * * * *

6º) Em Cima da Hora (1974 e reedição em 2006) – “A festa dos deuses afro-brasileiros” (Baianinho)

Um samba dolente, carregado de sentimento. Um canto de lamento que os escravos entoavam a seus deuses no tempo do cativeiro. Esta pérola de Baianinho é um dos mais bonitos sambas de todos os tempos. O valor histórico do samba é tão significativo que integra o disco A história do negro no Brasil através do samba enredo – disco este que deveria ser distribuídos nas escolas de todo país, como material didático. Após o desfile de 1976, no qual desfilou com o legendário samba “Os Sertões”, a escola começou uma trajetória de queda forçada por desrespeito aos fundadores e tradicionais sambistas. Endividada, sem apoio, sem componentes de raiz e enganada por cartolas gatunos, a Em Cima da Hora amargou o rebaixamento até cair para o Grupo D, a quinta divisão do carnaval carioca, na condição mais baixa da sua história. Naquele ano, como uma espécie de renascimento, a entidade resolveu reeditar o enredo antigo de 1974, e novamente sagrou-se campeã.

Arêrê caô meu pai arêrê
E Nas noites de magia
Pretos velhos festejavam
O grande mestre Oxalá
E a rainha Iemanjá
 

* * * * * * * * * *

5º) Acadêmicos do Grande Rio (1994) – “Os santos que a África não viu” (Helinho 107, Mais Velho, Marquinhos, Rocco Filho, Roxidiê e Pipoca)

Junto com os sambas da Santa Cruz e da Cabuçu, este sambão da Grande Rio forma a trinca dos mais “carregados” desta lista dos afro-sambas. E um hino deste quilate só poderia mesmo ter vindo de Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense conhecido pelo grande número de terreiros existentes e terra do mitológico babalorixá Joãozinho da Goméia. O tema da tricolor da Baixada em 1994, “Os santos que a África não viu” abordava a umbanda, religião genuinamente brasileira, que possui um pouco de catolicismo, espiritismo, pajelança e culto aos orixás. O narrador do samba (Quem sou eu/ quem sou eu?/ tenho o corpo fechado/ Rei na noite sou mais eu) é “Seu” Zé Pelintra, uma entidade muito popular na umbanda e no catimbó nordestino, um espírito desencarnado a muitas décadas que teve a missão no mundo espiritual de trabalhar para a caridade e o progresso da humanidade. No Rio, Seu Zé é cultuado como Exu e, por vezes, representado como o estereótipo do malandro brasileiro, boêmio, brincalhão e mestre de capoeira. Dois anos antes, a Grande Rio já havia encantado a Sapucaí com “Águas claras para um rei negro”, um dos melhores sambas da história do Acesso, que misturava a temática afro-religiosa com a esperança de um Brasil melhor.

Viu no culto de malê (malê, malê)
Preto velho catimbó (catimbó)
De um povo morenado
Conheceu caboclo bravo
Fascinado por Tupã
Yara no rio, sereia no mar
É Janaína que seduz com seu cantar

* * * * * * * * *

4º) Acadêmicos de Santa Cruz (1984) – “Acima da coroa de um rei, só Deus” (Enoque, Netinho, Thiago e Henri)

No ano em que comemorava seus 25 anos sua fundação, a Acadêmicos de Santa Cruz apareceu com um samba simplesmente arrebatador. A verde e branco da zona oeste armou terreiros e gongás para mostrar toda a magia e beleza da religião de matriz africana. O samba é daqueles que não se faz mais: melodia criativa, elaborada e que possibilita o canto com fluência por parte do componente. A letra apresenta todo o panteão dos orixás, com suas características e suas energias. O refrão de cabeça (Ko si oba kan ofi Olorun) tem uma explicação: é o título do enredo, no idioma original, de uma frase em iorubá. Ou seja, “acima da coroa de um rei, só Deus”. Alguns pesquisadores defendem que a frase apareceu como inscrição em algumas casas em Salvador, na Bahia, na terceira década do século 19, durante a Revolta dos Malês – uma rebelião de caráter racial promovida por negros muçulmanos, contra a escravidão e a imposição da religião católica. A escola de Santa Cruz tornaria a apresentar um novo afro-samba onze anos depois, com “Deuses e costumes nas terras de Santa Cruz”, que, aliás, conquistou o Estandarte de Ouro em 1995.  

Hoje o meu terreiro é na avenida
No asfalto vou armar o meu gongá
Com danças, fetiches e magias
Que o meu povo contagia
E lindos cantos aos orixás

* * * * * * * * * * *

3º) Unidos do Cabuçu (1983) – “A visita de Ony de Ifé ao Obá de Oyó” (Grajaú e Jacob)

Eis o samba mais carregado da lista. Numa primeira audição, quem não é iniciado por não entender nada do que fala a letra, já que o samba é praticamente cantado em outro idioma. Mas passado o susto inicial, trata-se de uma bela história com início, meio e fim (um enredo completo, dramático, na verdadeira acepção da palavra). O samba possui um balanço incrível, com variações rítmicas bem elaboradas e refrões que, se o samba tivesse uma boa divulgação no período pré-carnavalesco, poderiam ser o que se convencionou chamar de refrões arrasta-povo.

Para começar, vamos destrinchar o título: “ony” é o chefe supremo, o pontífice da cidade de Ifé (no centro-oeste da atual Nigéria), um dos reinos do Império Iorubá. E “obá” é o rei de Oyó (região no sudoeste da Nigéria). Ou seja, o samba fala da história da visita de Oxalufã (Oxalá velho) ao reino de seu filho, Xangô.

Segundo os mitos, Oxalufã, durante a viagem, graças a uma artimanha de Exu (Tem maldade nos caminhos de Exu/ na floresta oi), foi erroneamente confundido com um ladrão de cavalos, teve suas pernas quebradas e permaneceu injustamente preso durante sete anos no reino do filho (o cavalo de Kaô, Kaô/ motivou a prisão do nosso pai Oxalá, Oxalá), sem que este soubesse do fato. Grandes calamidades ocorreram em todo o reino devido a essa injustiça (E o Orun desabou/ a miséria imperou/ no Ayê de Kaô) e quando Xangô finalmente descobriu o que havia acontecido com o próprio pai (Nanã Buruquê/ reconheceu o seu amor/) resgatou-o da prisão (a paz voltou ao reino de Xangô), mandou que o limpassem, o lavassem (Oxalá quer água/ em troca da humilhação) e dessem vestimentas condizentes à grandiosidade de Oxalufã (Ofereceu o trono/ em troca do perdão), além de ordenar que fossem organizadas grandes festas em todo o reino, em sua homenagem (Ofilalaê, hoje é festa pra você/ Oyá, Oxum, Obá dançam alegremente para Oxalá/ no cortejo ao som do alabê/ a corte de Oyó oferecendo presentes e flores). A festividade conhecida hoje como Águas de Oxalá remonta a esse acontecimento.

*No Ayê, no Ayê
No Ayê babá (oba oba)
O filho de Olurum
De Olurum não atendeu Ifá

* Interpretação livre:

Na terra
Na terra, meu Pai
O filho de Olorun
(Olorun = Deus Pai Criador do céu, plano espiritual – Orun – e da terra, plano material – Ayê. Oxalá é um dos dois filhos de Olorun, o outro é Obatalá)
Não se preveniu quanto ao destino (Ifá = Deus da adivinhação e da sabedoria que orienta aqueles que o consultam. Segundo os mitos, Ifá teria aconselhado a Oxalá que não visitasse seu filho Xangô, porque poderia ter problemas, mas Oxalá não obedeceu a recomendação).

* * * * * * * * * * * * *

2º) Império da Tijuca (1971) – “Misticismos da África ao Brasil” (Marinho da Muda, João Galvão e Wilmar Costa)

Este samba rendeu muita popularidade à Império da Tijuca. Graças à sua genial construção melódica e descrição perfeita do enredo, o samba caiu nas graças da opinião pública e ajudou à escola do Morro da Formiga a conquistar um honroso oitavo lugar e permanecer no Grupo Especial em 1971. Em seguida, a música foi regravada por Clara Nunes e Martinho da Vila. A letra começa descrevendo o cenário em que os escravos vindos d’África praticavam sua ritualística (Lua alta, sons constantes/ ressoam os atabaques/ lembrando a África distante) e depois, inspirados nos cânticos religiosos, os refrões dão o tom respeitoso e ao mesmo tempo festivo do enredo, afinal, é carnaval e tempo de folia (lá na mata tem mironga/ eu quero ver/ lá na mata tem um côco/ este côco tem dendê) ou então: tem areia, ô, tem areia/ tem areia no fundo do mar, tem areia. Este samba maravilhoso tem a assinatura de Marinho da Muda, autor de mais de 15 sambas pela Império da Tijuca que, mesmo vencendo as disputas tantas vezes, era do tipo de compositor que variava seu estilo apresentava um samba diferente ao do ano anterior. A Imperinho voltaria a desenvolver temas sobre a religiosidade com “As três mulheres do Rei” (1979, com outro samba antológico de Marinho da Muda), “Santos e pecados” (1983) e “A coroa do perdão na terra de Oyó” (1997).

Eu venho de Angola
Sou rei da magia
Minha terra é muito longe
Meu gongá é na Bahia

* * * * * * *

1º) Acadêmicos do Salgueiro (1978) – “Do Yorubá à luz, a aurora dos deuses” (Renato de Verdade)

A meu ver, um samba perfeito. O tema, foi escolhido pelo Salgueiro após a divulgação do enredo da Beija-Flor. Na época, o carnavalesco Fernando Pamplona, responsável pelo carnaval do Sal, afirmou que era possível, sim, duas escolas apresentarem dois carnavais de uma maneira completamente diferentes tendo como base o mesmo enredo. Então, enquanto Joãosinho Trinta preparava “A criação do mundo na tradição nagô”, o Salgueiro contaria exatamente a mesma história, com “Do Yorubá à luz, a aurora dos deuses”. A escola de Nilópolis foi campeã, mas o Salgueiro (que chegou em sexto) deixou, como legado, um dos melhores sambas da década de 70 e de sua história. Não por acaso, a escola conquistou o Estandarte de Ouro de samba enredo naquele ano. O samba começa em tom menor reverenciando o Criador Olorum por criar o céu e a terra. Em seguida, o samba narra como surgiram os orixás que “reinam e pregam a paz e o amor”. Quando o samba passa a descrever a chegada da religião africana no Brasil, junto com o desembarque dos escravos, o samba sobe de tom, tornando-se mais leve, com a melodia mais “ensolarada” e emocionante, até desembocar no refrão, o único do samba em que reverencia as mães-de-santo baianas (Mãe Senhora, Menininha do Gantois, Olga de Alaketo), guardiãs da cultura ancestrais. O Salgueiro sempre foi pródigo em temas abordando a negritude e suas crenças. Em 2007, retornou a esta linha, com o excelente “Candaces”.

Saruê! Baiana, iorubana
Da saia amarrada co’a “paia” da cana
 

Curiosidades: 

  • A Mangueira, considerada uma das mais populares escolas do Brasil, nunca apresentou um enredo de temática religiosa afro de fato. Há apenas algumas menções em outros temas, como foi o caso de “Mangueira em tempo de folclore” (A congada, o boi-bumbá/ ô, meu santo, saravá), “As mil e uma noites cariocas” (Elá, elá, ô nana/ elá, elá, ori-rá/ os negros batucando na senzala/ em louvor a Oxalá) e “Dom Obá II – Rei dos esfarrapados, príncipe do povo” (Sou guerreiro de Oyó/ filho dos orixás).
  • A Portela também fez poucas referências à religiosidade de matriz africana em seus carnavais. Em 1972, a azul e branco de Madureira desfilou com “Ilu-Ayê, terra da vida”. Doze anos depois, com “Contos de areia”, voltou a um tema afro ao homenagear três de seus ícones históricos, “sincretizando-os” (por suas características pessoais) com os orixás: Paulo da Portela (Oranyan), Clara Nunes (Yansã) e Natal (Oxossi). 
  • O Império Serrano, terra fértil em ritmos de origem negra, como o caxambu e o famoso jongo da Serrinha, também apenas tangenciou o assunto em seus carnavais. Em 1976, enumerou as sereias rainhas do mar no refrão (Oguntê, Marabô/ Caiala e Sobá/ Oloxum, Inaê/ Janaína e Iemanjá). Em 1989, com “Jorge Amado – Axé Brasil” homenageou o escritor baiano com saudações africanas no refrão do samba enredo (Ekchêupa ba ba/ ekchêupa ba ba/ Axé Brasil/ Pai Amado saravá, saravá). No entanto, um dos sambas mais bonitos da história da Serrinha, “Glórias e graças da Bahia” (1966), e que tem um lindo trecho sobre a religião africana, foi composto pelo evangélico Silas de Oliveira. Versos de deixar muito compositor catulado com dor de cotovelo: (Yaô yaô yaô/ Gegê nagô, gegê nagô/ Saravá, saravá/ Yerê, yerê de abê ocutá/ Em louvor à rainha do mar/ Iemanjá, Iemanjá). 
  • Alguns outros afro-sambas igualmente magníficos que precisam ser citados e que só não entraram porque a lista se limitava a apenas dez: “Mar baiano em noite de gala” (Unidos de Lucas 1976); “A criação do mundo na tradição nagô” (Beija-Flor, 1978); “Tradição de uma raça” (Arranco 1987); “Ave Bahia, cheia de graça” (Acadêmicos do Cubango 1988); “Do fogo às águas, recriando a Terra” (Cubango 1993); “A Saga de Agotime, Maria Mineira Naê” (Beija-Flor 2001); “Agudás” (Unidos da Tijuca 2003); “O fruto da África de todos os deuses no Brasil de fé. Candomblé...” (Cubango 2005); “Gueledés” (Arranco 2006); “Candaces” (2007). 
  • Sambas afro antológicos da Acadêmicos da Cubango, como “Afoxé”, “Fruto do amor proibido” ou “Porque Oxalá usa Ekodidé” só não entraram na lista porque são do tempo em que a escola desfilava em Niterói. 

************* 

Não poderia deixar passar em branco. O Sambario completou quatro anos no mês de maio. É com alegria e orgulho que eu parabenizo nosso coordenador, Marco Maciel, pela garra, dedicação e carinho que mantém este site no ar há tanto tempo. Eu, que passei a integrar a equipe desde o praticamente o início do projeto, vi o Sambario ainda nenê e, hoje, o site já tem quase a idade de uma criança que vai para o jardim de infância. Parabéns à família Sambario. Tanto aos que fazem quanto aos que nos lêem e participam!