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DEZ ENREDOS QUE PODERIAM VIRAR ROTEIROS DE DRAMATURGIA No próximo dia
12 de junho, estréia na TV Globo a minissérie A Pedra do
Reino. A história, com cinco capítulos, é baseada no
romance homônimo do escritor paraibano Ariano Suassuna, que
comemora 80 anos em 2007. No entanto, o público do carnaval já
é familiarizado com a obra – lançada em 1971 – em
virtude de ter sido levada para a Marquês de Sapucaí, no
carnaval de 2002 pelo Império Serrano. Naquele ano, a verde e
branco da Serrinha desfilou com o enredo “O Imperador da
Pedra do Reino”. O carnaval tem
se mostrado um celeiro fértil para boas histórias que poderiam
ser aproveitadas para o cinema ou teledramaturgia. As sinopses de
enredo são verdadeiros argumentos para roteiros de filmes,
novelas ou minisséries. E o carnaval acaba cumprindo seu dever
social, o de entreter, informar e levar um pouco de cultura
brasileira para os brasileiros, que acabam desconhecendo o valor
deste patrimônio. Várias
histórias foram apresentadas primeiro no carnaval e depois foram
reproduzidas na telinha ou na telona: Quilombo dos Palmares,
Chica da Silva, Chico Rei, Dona Beja, Juscelino Kubitschek e
Chiquinha Gonzaga são alguns exemplos. A saga dos operários que
construíram uma estrada de ferrovia em plena selva amazônica
foi mostrada pela Acadêmicos do Grande Rio em 1997, no enredo
“Madeira-Mamoré, a volta dos que não foram”, tendo
como base o livro Mad Maria (escrito por Marcio Souza em
1980) e levado à televisão em 2005. O Top 10
Sambario está de volta e lista dez enredos que poderiam se
tornar belos argumentos para o cinema e a televisão. 10º
lugar: Viva o povo brasileiro (Império da Tijuca/1987) Tudo que vamos
contar Argumento:
Da obra do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, o romance –
com mais de 700 páginas e lançado em 1984 – se passa na
Ilha de Itaparica e percorre quatro séculos da história do
país. Apresenta histórias inspiradas nas raízes do povo
brasileiro, tendo como personagens negros e índios, portugueses
e holandeses. Porém o livro não se trata de uma exaltação à
história brasileira e sim uma recontagem crítico-satírica da
mesma, denunciando a devassidão presente no processo de
formação do povo brasileiro. O livro narra paralelamente a
história da família do Barão de Pirapuama que por sua vez
mistura-se com os Ferreira-Dutton, de Amleto Henrique. Mostra
como Maria Dafé quis melhorar a vida do povo. Ela acordou para
seu povo, quando teve sua mãe morta, com mais de vinte
punhaladas, na sua frente. A irmandade de qual ela pertencia e
muitos outros sofridos brasileiros pertenciam sem saber que
pertenciam, diziam que fora criada por três negros numa casa de
farinha na ilha de Itaparica. A decadência de um país é
totalmente descrita e ridicularizada no livro. Homens, como
Bonifácio Odulfo, que achavam que caixeiros, açougueiros,
sapateiros, ferreiros, e muitos outros profissionais que exerciam
seu trabalho para viver, não poderiam ser chamados de povo, era
repudiado pelo próprio irmão Patrício Macário; um deserdado
de sua família que fora para o Exército para tomar jeito,
também resolve ver o mundo de outra forma, após conhecer Maria
Dafé; dizendo que “ele e sua corja é que eram estrangeiros
europeus, que cá não viviam, que tinham vergonha de falar até
a própria língua, estes sim, não eram o povo brasileiro”. Direção,
elenco e trilha sonora: O romance poderia se tornar uma
minissérie com um cunho bem humorado e sarcástico, ao estilo O
Quinto dos Infernos. A direção e o roteiro poderiam ficar a
cargo da dobradinha Guel Arraes/Jorge Furtado (Caramuru, a
Invenção do Brasil e Lisbela e o Prisioneiro). No
elenco: Juliana Paes (Maria Dafé), Daniel de Oliveira (Patrício
Macário), Henri Castelli (Bonifácio Odulfo) e Edson Celulari
(Barão de Pirapuama) poderiam fazer bonito. Na trilha sonora,
nomes da música urbana baiana: Moraes Moreira, Pepeu Gomes, A
Cor do Som, Novos Baianos, Tom Zé, Raul Seixas. 9º
lugar: Nos confins de Vila Monte (União da Ilha do
Governador/1975) Numa união de sangue Argumento:
No cinema brasileiro, os filmes sobre o cangaço foram o nosso
faroeste (chamado por alguns intelectuais de bang-bang
sertanejo). Confesso a vocês que não sei de qual obra
literária (romance ou literatura de cordel) se originou o enredo
“Nos confins de Vila Monte”, apresentado pela União da
Ilha do Governador. Mas apenas lendo a letra do belo samba
enredo, dá para ter uma bela idéia da história. A trama
mistura cangaço, fanatismo religioso, seca, paisagens áridas,
caatinga nordestina, sol escaldante e tudo mais, além de um
romance proibido. Pelo jeito, a Nhá Branca deveria ser uma
mulher da sociedade, casada com o temível Coronel Tunico, o
mandachuva do lugar. E o jovem Bento Lampejo deve ter se
envolvido com a mulher do coronel, que não deve ter ficado
satisfeito com a situação e foi o responsável por Bento ter se
tornado cangaceiro. Tudo isso, num ambiente destacando o folclore
nordestino: bumba-meu-boi, maracatu e os cangaceiros cantando
“olê, muié rendera olê muié rendá...”. Direção,
elenco e trilha sonora: Sob o formato de uma
minissérie, Aguinaldo Silva poderia ser o autor desta trama,
graças à sua experiência com temas nordestinos (Lampião e
Maria Bonita e Padre Cícero). Na direção, Paulo
Afonso Grisoli (Lampião e Maria Bonita, Tenda dos
Milagres) ou Luiz Fernando Carvalho (A Pedra do Reino,
Hoje é dia de Maria). No elenco, a presença de nomes
como Débora Fallabella (Nhá Branca), Wagner Moura (Bento
Lampejo) e Osmar Prado (Coroné Tunico) abrilhantariam a obra. A
trilha sonora poderia ser composta por nomes nordestinos, como:
Alceu Valença, Zé Ramalho, Naná Vasconcellos, Mestre
Ambrósio, Cascabulho, Cordel do Fogo Encantado e a turma do
Mangue Beat (Chico Science, Mundo Livre S/A e Otto). 8º
lugar: Um mouro no quilombo (Tuiuti/2001) No mar Argumento:
O enredo da Tuiuti de 2001 foi baseado no romance “A
incrível e fascinante história do capitão mouro”, de
Georges Bourdoukan. O livro narra a saga do muçulmano
Saifudin, construtor das fortificações do Quilombo dos
Palmares, e de seu amigo, o judeu Ben Suleiman: do senhor de
engenho Epaminondas conde e de seu amor pelo escravo Gaspar: de
Zumbi e de uma de suas mulheres, a branca Maria Paim, tendo por
cenário a Capitania de Pernambuco, a Inquisição, a revolta dos
escravos e a epidemia do mal-de-bicho. Transcrevem-se diários de
bordo dos navios negreiros: explica-se o significado da letra F e
da cruz, gravadas com ferro em brasa na testa e no peito dos
escravos: cita-se a semelhança entre o cruzado Pedro Eremita e o
bandeirante Domingos Jorge Velho e a predileção de ambos por
carne humana. Direção,
elenco e trilha sonora: A trama renderia um belo filme.
Walter Lima Jr (Chico Rei, A Ostra e o Vento) ou
Andrucha Waddington (Eu, Tu, Eles) ou Breno Silveira (Os
2 Filhos de Francisco) estariam ótimos à frente da
direção. No elenco, nomes como Marcos Palmeira (Saifudin), Dan
Stulbach (Ben Suleiman), José Wilker (Epaminondas), Sérgio
Menezes (escravo Gaspar), Mauricio Gonçalves (Zumbi), Patrícia
Pillar (Maria Paim) seriam boas sugestões. Uma trilha sonora aos
cuidados de um Naná Vasconcellos mereceria destaque. 7º
lugar: Dom Obá II – Rei dos esfarrapados, príncipe da
ralé (Mangueira/2000) Freqüentei
o Palácio Imperial Argumento:
Para ir para a Guerra do Paraguai (1864-1870), o Imperador D.
Pedro II criou os batalhões de Voluntários da Pátria. A guerra
significou para os negros escravos a oportunidade da liberdade;
para os negros libertos, a chance de ascensão e reconhecimento
social, mesmo que para tanto tivessem que arriscar suas vidas. A
lei previa que escravos fossem à guerra em lugar dos seus
senhores, em troca de liberdade. Para cada soldado branco iam
quarenta e cinco soldados negros, muitos mestres de Capoeira da
Bahia e de Pernada Carioca. Em Lençóis, no sertão da Bahia,
também foi formado um batalhão de voluntários. E lá estava,
à frente, o negro Cândido da Fonseca Galvão, que se auto
titulava Dom Obá II (rei, em iorubá). Destacou-se antes e
durante a guerra, se tornando sargento e logo depois alferes. Ao
voltar da guerra – vitorioso e ferido em combate passou pela
Bahia e voltou para o Rio, onde passou a viver depois de
conquistar todas as honrarias de herói de guerra junto ao
Imperador D.Pedro II. Nesta
época já estavam no Rio os negros baianos que migraram da Bahia
em razão da decadência da lavoura de cana-de-açúcar. Muitos
ficaram pelo Rio, entre eles, a baiana Tia Ciata, e se instalaram
nos bairros da Saúde, Santo Cristo e Gamboa, que eram a parte
mais pobre da cidade, chamada de África Pequena, em razão da
maioria negra de seus moradores (onde nasceram Paulo da Portela,
Heitor dos Prazeres, João da Baiana e Donga). Dom Obá
II era filho de africano escravo liberto e neto de um rei
iorubá. Alto, forte, eloqüente e ousado, escrevia e se
comunicava com desenvoltura. Nas audiências públicas do
Imperador na Quinta da Boa Vista, usava seu traje impecável de
gala do exército brasileiro, com espada e tudo. Durante a semana
desfilava pela África Pequena e pela cidade, de fraque, cartola
e luvas brancas. Conseguia espaço nos jornais, impressionava sua
corte que nele via um príncipe; o reverenciava como a um rei,
beijando-lhe as mãos em razão de seu “sangue azul
africano”, seus feitos de guerra, sua altivez, suas
relações com o Imperador e, sobretudo, sua liderança, sempre
em defesa das populações negras oprimidas, jogadas às ruas sem
qualquer qualificação profissional, descalças, sem proteção,
sem trabalho digno, sem saúde e sem auto-estima. Direção,
elenco e trilha sonora: Para dirigir o filme, uma boa pedida
poderia ser o incensado Fernando Meirelles (Cidade de Deus).
Elenco: Lázaro Ramos seria um ótimo Dom Obá quando jovem e
durante a Guerra do Paraguai. Milton Gonçalves poderia
representar o protagonista na maturidade. Neusa Borges, pelo seu
currículo carnavalesco, daria dignidade à Tia Ciata. E quem
sabe Jô Soares como D.Pedro II? A trilha sonora poderia ficar a
cargo do pessoal do “gueto”: MV Bill, Marcelo D2, Seu
Jorge e Bezerra da Silva. 6º
lugar: Se a lua contasse... (Império da Tijuca/1985) “Mulher”,
“rosa de maio” Argumento:
É impressionante que a vida de Custódio Mesquita (1910-1945)
ainda não tenha sido explorada artisticamente. O músico foi um
dos primeiros compositores brasileiros a conseguir a proeza de
aproximar o formalismo do clássico com o gosto popular. Segundo
relatos, Custódio era bem-nascido, alto, bonito, olhar cálido,
vestuário impecável e movimentos bem cuidados - um verdadeiro
dândi. Trajava-se quase sempre com elegantes ternos brancos de
linho, olhos e cabelos castanhos, cuidadosamente despenteados,
para ganhar ares de poeta romântico. Onde quer que estivesse, o
destaque era sempre ele. Apesar de ter nascido numa família
rica, cedo a boemia o atraiu para o gosto popular, entre eles, o
samba. Ao todo, escreveu cento e onze canções, muitas delas
lembradas ainda hoje. Foi autor de teatro, galã compulsório,
ator, regente, exímio pianista, diretor artístico de gravadora
e artista de rádio. Músico e compositor, ele viveu a fase
áurea da MPB e concebeu uma obra que corre por fora das
canções de figuras de proa da Velha Guarda, como Ary Barroso,
Noel Rosa ou Lamartine Babo. Compositor,
surgiu em 1934, com a marcha “Se a lua contasse”,
gravada por Aurora Miranda, irmã de Carmen. Custódio, aliás,
também acompanhou a Pequena Notável em suas apresentações.
Viciado por trabalho (música) durante o dia, Custódio era um
boêmio. Portanto, não trabalhava à noite. Passava o tempo nas
mesas de bar da Lapa ou no Nice. Custódio saía à tardinha e
só voltava para casa de manhã. Levava uma vida desregrada,
alimentava-se mal, e nunca chegava em casa antes das 6 da manhã.
Após sua morte, seus amigos descobriram que o compositor era
epiléptico, mas tinha medo de contar, porque a doença poderia
segregá-lo. Tomava uma pílula misteriosa (talvez Luminal), para
evitar crises da doença, fato que criou o boato de que ele
usasse drogas. Mesquita
chegou a escrever músicas nos espaços em branco de um jornal
velho, pois não lhe davam papel para escrever, temendo que se
esgotasse compondo. Sua derradeira composição, registrada e
gravada, foi feita para um espetáculo do teatro de revista. O
título era “Despedida”. Custódio faleceu de repente,
no dia 13 de março de 1945, com apenas 34 anos. Causa mortis:
insuficiência hepática. Direção,
elenco e trilha sonora: Cairia bem como uma minissérie. A
trajetória do músico seria uma viagem ao Rio Antigo, nas quatro
primeiras décadas do século 5º
lugar: Salamaleikum – a epopéia dos insubmissos Malês (Unidos
da Tijuca/1984) Encontrei
personagens realistas Argumento:
A princesa negra Luiza Mahin foi liberta da escravidão
em 1812. Ela pertencia à nação nagô-jejê, da Tribo de Mahi,
de religião muçulmana, africanos conhecidos como Malês. Todas
as revoltas e levantes escravos que abalaram a Bahia nas
primeiras décadas do século XIX foram articulados por ela, em
sua casa, que se tornou quartel-general destes levantes. Luiza
era quituteira e passava mensagens escritas em árabe para outros
rebeldes, através de meninos que fingiam comprar produtos em seu
tabuleiro de vendas e levarem os bilhetes aos outros
articuladores. Foi uma das articuladoras da Revolta dos Malês em
1835. Ficou conhecida pela valentia e insubmissão. Foi
articuladora também da Sabinada em 1837-38. Descoberta, passou a
ser perseguida, e conseguiu fugir para o Rio de Janeiro onde foi
encontrada, presa e degredada para a Angola, na África. No
entanto, nenhum documento foi encontrado em Angola, comprovando
seu degredo. Acredita-se que ela tenha fugido e instalado-se no
Maranhão, onde ajudou a desenvolver o tambor de crioula. Luiza Mahim
deixou um filho – o escritor e líder abolicionista Luiz
Gama –, fruto da união com um português, que mais tarde
vende o próprio filho com 10 anos para pagar uma dívida de
jogo. Luiz Gama foi recusado em uma fazenda em Campinas por ser
baiano e os baianos tinham fama de rebeldes ele é arrematado por
uma fazenda em Lorena (SP). O menino cresceu e sete anos mais
tarde foi alfabetizado por um hóspede da fazenda, aprendeu a ler
e escrever. Com os documentos que provam sua alforria, fugiu para
um quilombo no interior de São Paulo e tornou-se poeta
abolicionista e um importante jornalista. Autodidata, Gama cursa
Direito conseguindo através da maçonaria autorização para
advogar e consegue libertar 500 escravos. Direção,
elenco e trilha sonora: Para a direção, um nome como
Joel Zito Araújo (As filhas do vento, A negação do
Brasil) daria ares épicos para a produção. No elenco,
Isabel Fillards poderia representar muito bem Luiza Mahim. Rocco
Pitanga viveria seu filho, Luiz Gama (já adulto). Marcus Viana (Pantanal,
Ana Raio e Zé Trovão e O Clone), destacado nome
da “new age brasileira” e que trabalhou com Joel Zito
em As filhas do vento assinaria a trilha sonora. 4º
lugar: O mestiço predestinado (Independente de Cordovil/1975) Tocar
o cravo na corte Argumento:
O padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) teve sua
existência marcada por uma série de contradições. Era padre,
mas teve seis filhos; tinha sangue negro, mas obteve destaque em
uma sociedade escravocrata. Foi mencionado no “The New Grove
Dictionary of Music and Musicians”, espécie de Bíblia da
música, como “o compositor brasileiro mais importante de
sua época.” A obra do padre-mestre, como era conhecido, é
eminentemente sacra, embora inclua peças para teclado, aberturas
orquestrais e uma ópera. Mestiço (filho de pai português com
mãe negra), José Maurício já dava aulas de música aos 12
anos. Virtuose do teclado e regente, o mulato foi perseguido pelo
estigma de sua cor. Quando a Corte portuguesa se muda para o
Brasil, em 1808, e D.João VI (ainda príncipe regente) quer
fazê-lo seu mestre-de-capela, os lusitanos se opõem, alegando
seu “defeito físico” (a cor da pele). Isso não impede
que fique com o cargo. José Maurício vira amigo do rei e passa
a gozar de grande prestígio. Suas obras sofrem influência
italiana (Jommelli, Cimarosa e Rossini). A obra do padre mestiço
também sofre influência de Mozart e Haydn. Com o regresso de
D.João VI a Portugal, as artes sofrem recesso no Brasil e
músicos e instrumentistas passam a viver situação de penúria,
a partir da Independência. José Maurício passa a cozinhar,
lavar, engomar, costurar e fabricar sapatos. Com a saúde
debilitada, morre em 1830. Direção,
elenco e trilha sonora: A trama poderia virar um belo e
dramático filme. Para dirigir, quem sabe um nome da nova
geração de cineastas, como Jéferson De, diretor do
curta-metragem Distraída para a Morte e um dos criadores
do movimento conhecido como Dogma Feijoada? Alexandre Moreno
(Kikito de melhor ator no Festival de Gramado de 2002 pelo filme Uma
onda no ar) seria um nome forte para viver o padre José
Maurício. Para falar de boa música, com toques barrocos, Wagner
Tiso seria uma excelente opção. 3º
lugar: Tereza de Benguela, uma rainha negra no Pantanal
(Viradouro/94) No seio de Mato Grosso Argumento:
Século Direção,
elenco e trilha sonora: O experiente Ruy Guerra (Os
cafajestes, Ópera do Malandro, Kuarup) ou
Walter Salles Jr (Central do Brasil, Abril Despedaçado)
poderiam fazer uma bela e engajada obra para contar a saga de
Tereza de Benguela. No papel-título, a atriz e escritora Elisa
Lucinda emprestaria muita dignidade como protagonista. Na trilha
sonora, participação de Milton Nascimento e Djavan, que
desfilaram na Viradouro em 1994. Músicos pantaneiros como Almir
Satter, Helena Meirelles e Renato Teixeira, além da cantora
mato-grossense Vanessa da Mata também dariam valiosas
contribuições. 2º
lugar: A saga de Agotime – Maria Mineira Naê (Beija
Flor/2001) Mas isolada no reino um
dia Argumento:
Os terreiros de mina mais antigos de São Luís foram fundados
por africanas que vieram para o Brasil como escravas, é o caso
da Casa das Minas (Jêje-Daomé), consagrada ao vodum Zomadonu.
No Palácio Dãxome, no Daomé (atual Benin), reinava Angololo. O
rei tinha como segunda esposa a Rainha Agotime e dois filhos:
Adandoza, do primeiro casamento e Guezo, nascido de Agotime. No
ato de sua morte, Angololo elegeu seu segundo filho para
sucedê-lo ao trono. O direito de seu primogênito foi
desconsiderado por uma previsão de Fá, o senhor do destino.
Adandoza assume o trono do rei após sua morte como tutor de
Guezo, e o povo se tornou vitima de um governo tirânico e cruel.
Agotime era conhecida em seu reino pelas histórias que contava
sobre seus ancestrais e sobre o culto dos reis mortos e guardava
o segredos e conhecimentos religiosos. O novo rei tratou de
mantê-la isolada acusando-a de feitiçaria e não hesitou em
vendê-la como escrava. À beira de um rio, encontrou um pássaro
que mergulhava várias vezes. Ele apresentou-se como Zomadonu,
rei dos Texossus, que ultrajado pela negativa de Adandoza em
estabelecer o culto a seu povo, designou Agotime a encontrar um
caminho para conduzi-los a um novo mundo onde seriam cultuados de
igual maneira os Texossus, seus irmãos e primos, reis do Clã
Real do Daomé. Assim o culto Xelegbatá renasceria. Num grande
porto de venda de escravos, Agotime é jogada nos porões imundos
de um navio negreiro e trazida para o Brasil. O sofrimento
físico da rainha, traída e humilhada era uma realidade menor
pois o seu espírito continuava liberto. A rainha atravessa o mar
e nasce a ligação África-Brasil. Agotime
chega ao novo continente um corpo escravo mas um espírito livre,
pronto a cumprir a sua saga e fazer ouvir daqui o som dos
tambores jêjes. Seu primeiro destino foi Itaparica, na Bahia.
Vinda de uma região onde poucos escravos se destinavam ao
Brasil, Agotime se depara com muitos irmãos de cor, mas não de
credo. No seu encontro com os nagôs teve o seu primeiro contato
com os orixás e, através deles, a rainha escrava teve
conhecimento de seu povo. Por eles soube que sua gente era
chamada negros-minas e que tinham sido levados para São Luis do
Maranhão. Contaram que não tinham local para celebrar o seu
culto, pois esperavam um sinal de seus ancestrais. Agotime logo
entendeu por quem esperavam. A rainha trabalhou então dez longos
anos, conseguiu guardar um pouco de seu trabalho nas minas e
comprou sua liberdade, prosseguindo sua viagem em busca do seu
senhor e de sua gente. Chegou no Maranhão, terra das festas dos
povos do culto mina-jêje. É no Maranhão que Agotime, a
escrava, volta a ser rainha. Sob orientação de seu vodum, funda
a “Casa das Minas de São Luis do Maranhão”. Após a
fundação, Agotime recebeu o nome de “Maria”; da
região da costa da mina, na África, herdou “Mineira”;
e, de seu vodum, “Naê”. Passou então, a rainha, a
chamar-se Maria Mineira Naê. Direção,
elenco e trilha sonora: A sagrada epopéia de Agotime em
película, com certeza, teria que ser uma megaprodução, com
possíveis locações na África, Rio, Bahia e Maranhão.
Acostumado a retratar o povo negro na tela grande, Cacá Diegues
(Chica da Silva, Quilombo e Orfeu) seria o
nome mais apropriado para filmar a saga. Zezé Motta (uma das
atrizes-fetiches de Cacá) viveria com crédito Maria Mineira
Naê na maturidade. A talentosa Taís Araújo poderia se dar bem
no papel da jovem Agotime. O tirânico Adandoza, primogênito do
rei do Daomé, poderia estar na pele de Norton Nascimento. O
ministro Gilberto Gil, que tem formidáveis canções de caráter
afro em sua carreira, poderia assumir a direção musical.
Artistas maranhenses, como Alcione e Zeca Baleiro também poderia
contribuir com prestígio à trilha sonora do filme. 1º
lugar: Deixa Falar (Unidos de São Carlos/1980) É o samba, Iaiá Argumento:
Provavelmente o projeto “Deixa Falar” seria o
mais complexo e difícil de ser realizado. Reproduzir no cinema
ou numa minissérie o ambiente do Rio de Janeiro das primeiras
duas décadas do século 20 e contar a história da primeira
escola de samba – a Deixa Falar foi fundada em 12 de agosto
de 1928, com as cores vermelha e branca, e desfilou entre 1929 e
1931 – é um projeto ousado e de muita responsabilidade. O filme (ou a
minissérie) seria uma espécie de continuação natural da
história de Dom Obá II, que desemboca na comunidade negra que
formou os primeiros movimentos do samba no Rio de Janeiro. A
trama enfocaria os bairros do Estácio de Sá –
indiscutivelmente o berço do samba carioca – e a
malandragem do príncipio do século 20 na Praça Onze, no Mangue
(Zona), e a passagem de todos os grandes sambistas que, na
época, surgiram no Rio – da Mangueira à Portela. Os
personagens destacariam as figuras de Mano Edgar, Bucy Moreira,
Alcebíades Barcelos (Bide), e seu irmão Rubens, Armando
Marçal, Ismael Silva, Baiaco e Heitor dos Prazeres. Enfim, focar
a Deixa Falar seria falar do nascimento do desfile das escolas de
samba e a gênese do atual carnaval. Direção,
elenco e trilha sonora: Para contar a história, caso
chegasse ao cinema, Paulo César Saraceni estaria bem cotado, em
função de sua proximidade com filmes de carnaval (Natal da
Portela, Amor Carnaval e Sonhos, Bahia de Todos os
Sambas e Banda de Ipanema, Folia de Albino). Para dar
um caráter mais hollywoodiano (glamouroso, no entanto, menos
real), as opções seriam os cineastas da família Barreto:
Fábio (Jacobina, O Quatrilho) ou Bruno (Bossa
Nova, Dona Flor e seus Dois Maridos). Interessante
também seria perceber como um argentino de nascimento e
naturalizado brasileiro, Hector Babenco (Lucio Flavio, Pixote,
Carandiru), retratraria a trama. Caso a trama fosse
produzida para a televisão, Aguinaldo Silva, acostumado com
temas negros e carnavalescos (Caso Especial Otelo de Oliveira,
Tenda dos Milagres, Partido Alto), seria o nome
mais indicado. A escalação do elenco é um caso à parte. A
seleção para viver os baluartes do samba teria que ser bem
especial. A trilha sonora poderia ficar a cargo das velhas
guardas das escolas de samba, principalmente Estácio, Mangueira,
Portela, Salgueiro e Império Serrano. Rixxa Jr. |
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