Coluna do Rixxa Jr.
GRUPO
A APRESENTA BONS SAMBAS, MAS JÁ TEVE MELHOR FASE...
Após os comentários do Grupo
Especial, vou falar um pouquinho agora do Grupo A. Os sambas são
bons, no entanto, quem acompanha esta categoria há mais tempo,
sabe que de um tempo para cá, os sambas do Acesso estão cada
vez mais parecidos com os do Especial, perdendo um pouco a
ousadia, o arrojo, o lirismo e a riqueza melódica, se tornando
mais comerciais. É a profissionalização também chegando nas
categorias de base. Assim como no Grupo Especial, os comentários
dos sambas do Acesso A se referem à questão musical.
ROCINHA
A Rocinha tem um trunfo poderosíssimo em suas mãos. Um sambão.
Valente, empolgante, com uma melodia rica e uma poesia esplêndida.
Letra descritiva que é possível se visualizar o desfile. O tema
aborda de uma maneira inovadora o universo infantil. A estrofe
"cruzar o céu e conversar/ com as estrelas no infinito/
Pequeno Príncipe a buscar/ no dom da vida um mundo mais bonito"
traz uma das mais belas frases musicais do carnaval 2007. E o
verso "são os pequenos a razão da fantasia"
fecha muito bem a letra deste belo samba lembrando que "criança
necessita de atenção". Parabéns, Rocinha.
Comparação com 2006: Superior. Não que o
"Felicidade não tem preço" não seja bom. É. Mas
este "Gigante mundo dos pequenos" é mais rico
melodicamente, além de ser uma composição inspirada. É do
mesmo nível do igualmente belo "Um mundo sem
fronteiras" (2005).
Comparação com
Rocinha: Junto com os sambas de 2005 e 2006 poderiam
fechar uma bela trilogia. No entanto, o melhor samba da borboleta
verde e azul ainda é "Pra não dizer que não falei em
flores" (1992).
ARRANCO
O Arranco escolheu um tema lírico e que traz possibilidades
muito boas em termos de fantasias e alegorias, já que reúne as
estações do ano, música e pintura. E o samba é de muito bom
gosto. Ritmo gostoso, poesia rica e uma melodia clássica de
samba enredo. As quatro estações já renderam ótimos sambas na
Mangueira (1955) e Em Cima da Hora (1979).
Comparação com 2006: "Sinfonia brasileira
das quatro estações" é muito bonito, mas está um patamar
abaixo de "Gueledés", que arrebatou todos os prêmios
referentes ao Grupo A do ano passado, devolveu ao falcão do
Engenho de Dentro a fama de produzir ótimas obras e já está
entre os sambas antológicos do carnaval carioca.
Comparação com Arranco: Este samba não faz
feio, se comparado com os belos sambas que a escola apresentou
entre os anos 70 até meados dos 90.
UNIÃO
DA
ILHA
Um enredo da União da Ilha do Governador falando sobre a
cerveja, a princípio, parecia um deja-vu da própria escola que,
em carnavais anteriores, já tinha tomado outros porres, como o
"de felicidade" (em Festa Profana, 1989) ou pedindo que
"não a socorresse" (De bar em bar, Didi, um poeta,
1991). Entretanto, Mauricio Maia e os demais compositores
vencedores de "Ripa na tulipa" preferiram não fazer
apologia da bebedeira e maneiraram nos verbos trocando a
beberagem por termos mais amenos como "saborear",
"beber com prazer", insinuando que a cerveja
"alimenta o corpo" e que tem poderes religiosos. O
samba é bom: animado, ótimo para brincar, jeitão de samba de
bloco meio marcheado, comunicativo e com uma letra que retrata
bem o enredo proposto.
Comparação com 2006: Superior. "As Minas
Del Rey São João" foi um bom samba, resultado de uma junção
de duas obras. O escolhido para este ano foi o mais adequado.
Comparação com União da Ilha: É um samba
"bem Ilha", que vai na linha dos que o Franco fazia nos
anos 80 e 90. "Ripa na tulipa", junto com "A União
faz a força com muita energia" (2001) e
"Corcovado" (2005), forma os três bons sambas da
tricolor insulana nesta primeira década do século 21.
RENASCER
DE JACAREPAGUÁ
Além da Beija Flor, o incensado Cláudio Russo conquistou também
o direito da Renascer desfilar com uma obra sua. O samba é muito
bem construído, moldado no formato ideal para o carnaval atual.
A obra tem um trecho já-vi-esse-filme: o refrão do meio "olha
a onda, olha a onda/ eu tô na gandaia/ olha a barra da saia,
baiana a girar/ em qualquer choupana/ alegria emana Jacarepaguá"
guarda alguma semelhança com "a mensagem de paz Grande
Rio nos traz/ a verdade da vida, o prazer de viver/ alimentar o
corpo e a alma faz bem, meu bem querer". Apesar do
trecho parecido, o samba é forte e valente. Deverá ser responsável
por um desfile esforçado pela escola.
Comparação com 2006: Equivale. Até por ser do
mesmo compositor, "Fábrica dos sonhos" mantém a
qualidade exibida no carnaval anterior.
Comparação com
Renascer: Desde que estreou no Grupo A, em 2005, a
Renascer vem apresentando sambas numa qualidade crescente.
SÃO CLEMENTE
Após ter se firmado como uma escola especializada em enredos satíricos
e de forte crítica social durante os anos 80 até meados da década
de 90, a São Clemente agora vem com um enredo politicamente
correto. "Barrados no baile" tem uma temática parecida
com a que o Império Serrano escolheu, que será apresentar os
excluídos e as minorias, sejam elas sociais, étnicas, de gênero,
etc. O samba se presta para o enredo escolhido e até que é bem
animado. Porém, sinto uma falta danada daquela São Clemente das
críticas contundentes. Não sei porque todo este esforço da
escola da Zona Sul em querer se transformar numa escola de samba
comum.
Comparação com 2006: Equivale. A meu ver,
"De Gonzagão a Gonzaguinha" não era nenhuma obra-prima,
mas serviu ao tema proposto.
Comparação com São Clemente: Está há
anos-luz de achados como "Quem casa quer casa" (1985),
"Muita saúva e pouca saúde" (1986), "Capitães
de Asfalto" (1987), "Quem avisa amigo é" (1988),
"E o samba sambou" (1990), "E o salário, ó"
(1992). Saudades dos enredos irreverentes de Carlinhos D'Andrade
e Roberto Costa.
IMPÉRIO
DA TIJUCA
A Império da Tijuca levará um desafio para a avenida. Falar
sobre a história do cavaleiro Jorge, que virou santo no
Catolicismo e seu sincretismo com o orixá Ogum, nas religiões
de matriz africana, sem ferir as suscetibilidades da Igreja Católica,
que proíbe o uso de símbolos sacros no carnaval. Um enredo
religioso, que fala de fé, possibilita a criação de bons
sambas. "O Intrépido Santo Guerreiro" é um samba
muito bem construído. Bola, o autor que assina sozinho a obra,
é um dos compositores do elogiado e premiado samba "Gueledés",
do Arranco.
Comparação com 2006: Este ano, a Império da
Tijuca reeditou "Tijuca, cantos, encantos e recantos",
levado à Sapucaí originalmente em 1986 e considerado um dos
mais bonitos da trajetória da escola.
Comparação com Império da Tijuca: Fazia
bastante tempo que a verde e branco do Morro da Formiga não
apresentava um samba tão bom. "O Intrépido Santo Guerreiro"
vem somar qualidade à carteira de lindas obras que a Imperinho
possui, sendo que várias são de autoria do mitológico
compositor Marinho da Muda.
SANTA
CRUZ
Quando desfila pelo Grupo A, a Santa Cruz é sempre candidata a
vencer a categoria. Uma escola muito bem estruturada, que conta
com a força da comunidade da zona oeste, além de ser uma
agremiação tradicional no carnaval carioca. Mesmo quando não
desponta como favorita, acaba bicando as primeiras posições.
"O tempo que o tempo tem" apresenta as características
do compositor Fernando de Lima: refrões com chamada-e-resposta,
uma segunda parte que cai para menor e volta para uma estrofe
mais melodiosa. No entanto, o samba deste ano parece menos
inspirado do que os dos carnavais anteriores.
Comparação com 2006: Inferior. "Um Sonho
Chamado França" era melodicamente melhor construído. O de
2007 é mais burocrático.
Comparação com Santa Cruz: Eu sou admirador
dos sambas compostos pelo mangueirense Fernando de Lima. No
entanto, esta é uma obra menor na trajetória regular deste
competente compositor que, desde 2002, vem assinando os sambas
que a escola desfila na passarela.
CUBANGO
E não é que Paracambi deu samba? Apesar de pouco atraente, o
enredo resultou num samba valente, que precisará ajudar a simpática
verde e branco do Morro do Abacaxi a fazer um bom carnaval. A
melodia tem umas passagens complexas, principalmente a segunda
parte, que deverá exigir bastante do canto do intérprete e dos
componentes da escola.
Comparação com 2006: Inferior. Não que
"Na magia da escrita, a viagem do saber" seja antológico,
mas a melodia é envolvente e mais vibrante.
Comparação com Cubango: A escola de Niterói
tem obras belíssimas em sua história, principalmente os sambas
da época em que desfilava na Amaral Ferrador. No entanto, a
Cubango carece de bons sambas desde que passou a se apresentar na
Marquês da Sapucaí. "Paracambi" é inferior a
"Ave Bahia, cheia de graça" (1988), "África,
paraíso exuberante" (2002) e a "Candomblé"
(2005).
TRADIÇÃO
Depois de reeditar enredos por dois carnavais, pela primeira vez,
a Tradição repetirá um samba seu. "Passarinho, passarola,
quero ver voar" foi o samba que a escola conseguiu a melhor
colocação de sua história no Grupo Especial: um sexto lugar
que lhe valeu o retorno no Sábado das Campeãs, em 1994. Por ser
relativamente recente e fácil de cantar, o samba irá ajudar
bastante a escola de Campinho no desfile. É o samba mais popular
da agremiação, apesar de ser o melhor, ficando um pouco aquém
das obras compostas pela dupla João Nogueira-Paulo César
Pinheiro na fase inicial da Tradição (1985-1989).
CAPRICHOSOS
A exemplo da União da Ilha e da São Clemente, a Caprichosos de
Pilares ficou marcada por desfiles leves e irreverentes e já faz
um bom tempo que se afastou desta característica. "Com todo
o gás, a Caprichosos acende a chama do carnaval" resultou
num samba que deverá servir ao tema proposto.
Comparação com 2006: Equivalem em ser sambas
menores na trajetória da escola. "O Espírito Santo
caprichou" não estava com esta bola toda.
Comparação com Caprichosos: Há muito tempo a
Caprichosos está devendo um samba que honre a sua história. E,
infelizmente, não será desta vez. Chega a ser risível comparar
um samba destes com pérolas do carnaval como "Moça bonita
não paga" (1982), "A nobreza do riso visita Chico Rei
num palco nem sempre iluminado" (1984), "E por falar em
saudade" (1985), "Brazil com Z não seremos mais"
(1986), "Eu prometo" (1987) ou "Negra origem,
negro Pelé, negra Bené" (1998).
Rixxa Jr.
rixxajr@yahoo.com.br