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Coluna "Quesito Bateria"

"E POR FALAR EM SAUDADE..."
por Bruno Guedes

Ao ter uma conversa com um amigo de Recife, o Matheus, que desfilou pela primeira vez na vida esse ano, nos veio à cabeça uma questão interessante: o modernismo nas baterias. Mais que isso, quais instrumentos desapareceram das baterias por causa da evolução das escolas de samba? Fiquei pensando um pouco e resolvi não só falar, como perguntar aos próprios mestres sobre o desaparecimento de alguns deles.

Há uma tendência em todas as escolas de samba, que é a diminuição no número de ritmistas nas baterias. Com tal medida, segundo os próprios mestres, eles teriam em mãos um grupo mais coeso e ensaiado. Nessa diminuição, alguns naipes de instrumentos têm seus ritmistas cortados em maior número, como tamborins e chocalhos (Por ser agudíssimos e de grande contingente). Porém o que observei na conversa com alguns mestres foi que, para o crescimento das baterias (e aí se vão anos e anos), houve a retirada de instrumentos tradicionais como pandeiro, reco-reco, cuícas, taróis e outros, para o aumento de instrumentos já existentes como caixa, tamborim, repique, chocalhos e até surdos de terceira. Isso tem explicação, as escolas de samba cresceram, a Avenida cresceu, o espetáculo cresceu. As baterias precisavam acompanhar o ritmo (Com trocadilho) e também cresceram, deixando de lado alguns instrumentos que não somam tanto, no âmbito sonoro, quanto os demais.

Mestre Marcão do Salgueiro citou alguns “desaparecidos”, como o reco-reco e prato. Segundo o mesmo disse, eram muito presentes nas décadas passadas, mas que hoje em dia não tem tanta contribuição sonora quando colocado com os outros. Assim, dão espaços para outros com maior ressonância. Mestre Zumbi, da Caprichosos de Pilares, também lembrou do reco-reco e dos pandeiros, símbolo maior do sambista. Ressaltou que hoje em dia há necessidade da manutenção da cadência e por isso a introdução de outros instrumentos com maior sonoridade, como por exemplo, caixa e/ou tamborim. Pra finalizar, ainda tocou num importante ponto, que foi na identidade das baterias. Com o desaparecimento dos instrumentos típicos de uma ou outra escola, desapareceram também as identidades das mesmas. (PS: Ainda falando sobre o pandeiro, há um ponto interessante. Eu sinceramente, só me lembro de ter visto apenas uma vez um naipe de pandeiros desde que passei a acompanhar carnaval, em 1995. Foi no Império Serrano, no ano de 2003. E somente.).

Mas não foi só no Rio de Janeiro que ocorreram desaparecimentos de instrumentos. Mestre Juca da Águia de Ouro, que tem uma das melhores baterias do Brasil, lembrou das frigideiras e dos agogôs de duas bocas. Com o agudo som produzido por eles, a bateria ganhava um swing, “um molho” diferenciado e dava identidade às baterias. E atualmente poucas escolas utilizam-se deles, como a própria escola da Pompéia, que resgatou em 2008 as frigideiras e a Beija Flor de Nilópolis, no Rio. A Mangueira ainda faz uso dos agogôs de duas bocas, mas em menor quantidade que nas décadas passadas. Mestre Juca ainda lembrou outro instrumento que era utilizado em SP e entrou em desuso, que são os tamancos. O acessório consistia em duas pequenas madeiras que batidas umas nas outras, formavam uma espécie de marcação. Mestre Moleza, da Mancha Verde, um jovem ainda, também se preocupa com outro instrumento que tem toda uma “mística” e segue a tendência da diminuição nas baterias, que é a cuíca. Para ele, há necessidades de professores e ritmistas aptos para tocá-la.

Enfim, fico na torcida para que os mestres de bateria comecem a ver com outros olhos a reintrodução desses instrumentos que desapareceram das baterias. Até porque foi com reco-reco, pandeiro, tamborim e lindas baianas que o samba ficou assim...

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Foi com agrado que recebi alguns elogios e críticas sobre estréia da coluna, na edição anterior. Dicas e até algumas sugestões que vou aos poucos ordenando na coluna, foram muito úteis para mim. Fiquei feliz com sugestões de pautas e assuntos a serem levantados. Aguardo mais algumas.

Vale lembrar que, a minha análise sobre as baterias não foi em cima de nota ou do que disseram no dia do desfile, foi em cima do que eu vi. Contaram-me casos que ocorreram, mas que não percebi na hora da apresentação. Por essa razão que são quatro jurados distribuídos pela Sapucaí: para o que viu o erro em outra parte do desfile, punir.

Até a próxima!

Ewerton Fintelmann
etho_vp@globo.com

Bruno Guedes
bruno_guedes1986@yahoo.com.br