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PARADOXO Paradoxal.
É assim que devo retratar o resultado da avaliação do júri em relação às
Baterias no Carnaval 2009. Óbvio. É assim que devo retratar o desempenho de cada bateria em 2009. É, mais um Carnaval se passou. E espero que com ele passem as lembranças o mais
rápido possível. É chato admitir, mas estou começando a concordar com o Pamplona que o Carnaval morreu e foi sepultado. Até no ritmo isso é observado. Meu deus, a única Bateria que obteve nota 40 tocou tudo menos samba. Lamentável se não fosse esperado. Cadê o samba? O que é o samba?
O samba pode não parecer, mas deve ser um ritmo cadenciado. O samba acelerado
não precisa de cavaco, violão, canto, pois não é samba. É um frevo marcado
misturado com marchinha, que a cada dia que passa irrita mais o verdadeiro
sambista. Há uma diferença entre quem gosta de Carnaval e quem gosta de Samba.
É aí que eu me encaixo. No Carnaval 2009, reparei que as Baterias estão cada vez menos cadenciadas. Até a Grande Rio, meu Deus! Até a Grande Rio aumentou seu andamento. “Onde a zorra vai parar?”. Prefiro nem especular.
Vamos às avaliações das Baterias? Antes de mais nada, o Ministério do Bom Senso
adverte os torcedores sambeiros para sequer ler as avaliações, pois não estou
nem um pouco a fim de ficar recebendo e-mail de torcedores cegos que não gostam
de ver a verdade. Adoro debates, trocas de argumentos quando os mesmos têm
fundamentos. Portanto, leia se você tem a capacidade de ser imparcial. E antes
que comecem a chegar os e-mails perguntando quem sou eu no mundo do samba,
consulte, por exemplo, Mestre Odilon, e veja se ele não concorda com tudo que
diz sobre essa descaracterização e aceleração do Samba-enredo. Bom, vamos ao
Grupo Especial: IMPÉRIO
SERRANO: Não há dúvidas que o Império é a Sinfônica do Samba. É a melhor
bateria do Carnaval, porém também acelerou seu andamento nesse ano. Mas
felizmente isso não tirou o ritmo e a cadência de sua bateria. As bossas
incrivelmente se encaixaram ao samba, o que fez da bateria uma base rítmica
perfeita para o belíssimo samba-enredo. O Império teve o melhor Bloco Musical
dos últimos 12 anos. ACADÊMICOS
DO GRANDE RIO: Mestre Odilon é um dos poucos que merecem o título de MESTRE
mesmo. Há Mestres de Baterias e Diretores de Bateria. Faça sua própria
conclusão de quem é quem. A Bateria da Grande Rio mostra claramente a
competência de seus ritmistas aprendizes de Mestre Odilon. Afinação boa,
desenhos rítmicos perfeitos, tudo alinhado, cadenciado, mostrando que a Grande
Rio sabe fazer samba. A bateria acelerou 2 bpm em relação ao ano anterior. A
justificativa de Mestre Odilon é que foi um pedido do próprio Carro de Som para
adaptação de Wantuir, que estava acostumado ao andamento da Bateria “Pura
Cadência” (?) da Unidos da Tijuca, sua Escola anterior. UNIDOS
DE VILA ISABEL: Dói muito ter de lamentar pela Vila Isabel. A bateria apresenta
um andamento muito acelerado. Dá uma saudade de 1997, o amanhecer sob um
desfile mediano, um samba morno, mas uma bateria onde parecia ouvir cada caixa
de guerra tocar. Mas a Vila Isabel não tem uma bateria ruim. Longe disso.
Conheço alguns diretores e ritmistas de lá, são muito competentes, mas na minha
visão falta coordenação. Culpa do Mestre Mug? Talvez. Não o conheço, não
conheço sua visão sobre a bateria e não posso ir além disso. Mas parece que
falta um “gás” para a bateria acertar e emplacar. Em janeiro visitei a quadra
da Unidos de Vila Isabel. Comentei com um amigo que desfila lá que a bateria da
Vila se arrisca muito no que diz respeito a convenções e bossas. Há uma que
pode ser conferida na segunda passada da cabeça do samba no CD. Não foi
executada no desfile. Eu a ouvia no ensaio e pensava: “isso não vai dar
certo!”. Tem de ter muita precisão na execução, e eu sei que junta o fator fantasia
(que atrapalha muito na maioria das vezes), ritmista nervoso, o êxtase do
desfile... ou seja, tem tudo pra dar errado. Essa não foi executada, mas outras
foram, mas não foram menos arriscadas que essa. Como era de se esperar,
embolou. Não farei prognósticos, mas faço um desafio: esperem a Vila nos
próximos anos. Sei que tem uma galera nova entrando por lá. Esse espírito de
renovação fará muito bem à Orquestra do Bairro de Noel. Sobre a sua atuação no
desfile de 2009, destaco o naipe de tamborins, que com a nova direção,
tornou-se um dos melhores do Rio de Janeiro. MOCIDADE
INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL: É um caso parecido com o da Vila. Porém, cada
caso é um caso e semelhanças não tornam os casos rigorosamente iguais. A
bateria da Mocidade Independente vem melhorando desde 2006, que sinceramente
pra mim foi o fundo do poço. Ruim? Não, diria regular. Mas regular para a
bateria da Mocidade Independente é um padrão inaceitável. A Bateria tem
ritmistas sensacionais e uma coordenação de dar inveja. O que falta, então? Na
minha humilde opinião, falta renovação. Há anos que digo que o desenho
tradicional das caixas-de-guerra não consegue ser sustentado até o fim do
desfile. É cansativo. Antigamente o andamento era outro, mais cadenciado. Hoje
as baterias correm demais, e isso levou a bateria da Mocidade ao problema. O
desenho das caixas é único, a Mocidade criou há tempos, virou tradição. O
problema é que os outros setores evoluíram, e as caixas perderam sua
sustentação. O que fazer? Voltar atrás com o andamento ou mudar as caixas? Nem
preciso dizer minha opinião... BEIJA-FLOR
DE NILÓPOLIS: Bateria sensacional. Tem tudo e mostra tudo. Mestre Paulinho
encontrou a fórmula para fazer da sua bateria única, marcada e cadenciada.
Porém, um infeliz fez o favor de estragar no júri, assim como no Império
Serrano, Grande Rio e Imperatriz. Esse infeliz devia ir ouvir outra coisa.
Blues, Reggae, mas de samba-enredo esse não entende nada. UNIDOS
DA TIJUCA: É, é notável que a Bateria da Tijuca vem mudando muito após a saída
de Mestre Celinho. Porém, Mestre Casagrande ainda não conseguiu colocar a
bateria do seu jeito. Ainda tem o que trabalhar. Destaco o naipe de tamborins,
na minha opinião o melhor do Rio de Janeiro. UNIDOS
DO PORTO DA PEDRA: A Bateria passa por um processo de total renovação. O
resultado em 2009 foi bom, após todas as confusões do ano anterior. São
ritmistas capazes com diretores dispostos a trabalhar. Ainda tem o que melhorar
na precisão na execução do ritmo, mas é questão de tempo. ACADÊMICOS
DO SALGUEIRO: Confesso que ri com a nota quebrada da bateria do Salgueiro.
Assim, não é que eu não goste da Bateria do Salgueiro. É que algo me diz que o
jurado tirou pontos da bateria pelo excesso de bossas apresentadas durante o
desfile. Bossas são complementos, o que vale mais é o ritmo. E foram poucas as
passadas sem bossa que o Salgueiro fez. Acho que foram umas dez bossas ouvidas
durante o desfile. É louvável que Mestre Marcão tenha conseguido ensaiar essas
dez e levar ao desfile. É realmente difícil. O problema é saber a hora de
executá-las... IMPERATRIZ
LEOPOLDINENSE: Fico espantado do quanto a Bateria da Imperatriz cresceu após a
ascensão de Mestre Marcone. Após a saída de Mestre Beto em 2005, Mestre Jorjão
ficou por lá durante dois anos. Parecia um casamento infeliz. Mestre Jorjão é
fantástico, os ritmistas da Imperatriz também, mas parece que algo ali não
casou. Mas com Mestre Marcone a coisa é diferente... muito diferente e
positiva. Fico espantado com a precisão na execução do desenho do surdo de
terceira. No trecho do samba onde diz “tem batuque de tantã”, o surdo de
terceira imitava o som do tantã, com criatividade e perfeição. No júri da
LIESA, o 9,9 foi difícil engolir, assim como no Império Serrano. PORTELA:
A bateria da Portela vem crescendo a cada ano e tem tudo para tornar-se uma das
potências da percussão carnavalesca. Tem, na minha opinião, um naipe de
tamborim de dar inveja, uma direção competente e acima de tudo, a sabedoria do
que é o samba. Na Avaliação do desfile de 2009, notei apenas uma mudança no
andamento da bateria após a saída do segundo recuo, nada que tirasse o brilho
da sua apresentação. Bossas executadas com perfeição, bem ensaiadas. Um
conjunto de uma bateria que é uma bateria. ESTAÇÃO
PRIMEIRA DE MANGUEIRA: As notas quebradas no júri da LIESA provaram que o que o
jurado quer ver na bateria da Mangueira não é bossa. Mestre Taranta é um dos
Diretores que são contra a execução de muitas bossas que tornam a bateria,
segundo ele, “pitoresca”. Porém, a Bateria da Mangueira executou bossas e não levou
o dez. Na minha opinião, a Mangueira possui o mesmo problema já de muitos anos:
sustentação das caixas de guerra. E só... está quase lá... bem quase... UNIDOS
DO VIRADOURO: Viradouro foi o tipo de desfile que eu adoraria ver com os
ouvidos abafados por um fone de um aparelho de áudio ouvindo a faixa no CD.
Sinceramente é algo que irrita ver que a Bateria da Viradouro toca tudo menos
samba e ainda é considerada a melhor por muitos. Quando Pamplona diz que samba
é 135 bpm, chamam de esclerosado, maluco, mas é verdade. Passou de 152, é
frevo, ciranda, menos samba. E é isso que me incomoda seriamente na Bateria da
Viradouro, e digo mais: irrita, pois eu me sinto em Salvador, vendo um trio
elétrico passar tocando micareta. Eu gosto de samba-enredo. SAMBA... A bateria
da Viradouro é capaz, tem ritmistas competentes, mas é, na minha opinião, o
momento Bob´s do desfile pelo fato de possuir esse andamento aceleradíssimo. E
o pior de tudo: na execução das bossas, o andamento cai absurdamente. Aí penso
eu que vai estabilizar... que maravilha! Não, doce ilusão. Na retomada, a
bateria volta ainda mais acelerada. E digo logo: desnecessária a inserção de
atabaques na bateria. O samba tem origens africanas, pode ter vindo a partir
dos atabaques. Mas samba-enredo bate-se com surdos, caixas-de-guerra, repique,
tamborim, chocalho e cuíca. Qualquer molho adicional é desnecessário. É válido,
mas desnecessário. Infelizmente, pelo segundo ano, a bateria da Viradouro leva
meu Troféu Abacaxi. Foi de estragar meu humor no fim de Grupo Especial. Espero
que, com a saída do Ciça, esse quadro mude, ou então torcerei pra Viradouro ser
a última a desfilar de novo... eu peço axé... e mais samba, muito samba. Enfim, amigos, a tristeza não vai embora por um fim de um carnaval deprimente. Não são saudades não. É decepção por ter esperado um espetáculo e ouvir altos e baixos... mais baixos que altos. Principalmente após uma apuração absurda e sem nexo algum. Eu não tenho idéia do que sairá das justificativas dos jurados, mas sei que será mais uma decepção. Lendo a Coluna de João Marcos há um ano atrás, onde ele falava sobre os sambas de Florianópolis - e falava bem -, por sinal, tive a curiosidade de ouvir os sambas. Pois bem, mas o assunto aqui é ritmo... é justamente aí que vou dar a dica. Essa semana estive vendo alguns vídeos do Carnaval de Florianópolis, e gostaria de falar especialmente da Unidos da Coloninha. Embora os vídeos sejam gravados de forma precária, é perceptível o andamento de característica de samba de fato. A cadência, o toque de cada instrumento... Vou “vasculhar” o mundo virtual em busca do áudio ao vivo... cadência no ano de 2009 é algo para se colecionar. Contraditório que Floripa faz samba e o Eixo Rio-São Paulo desaprende... Há anos tenho ouvido falar de uma “Escola” que ensina instrumentos de percussão utilizado nas Escolas de Samba. Há tempos procurei me informar para colocar numa coluna aqui para vocês, porém soube que a Escola cobra mensalidade, o que na minha opinião é um absurdo! Quem faz samba faz samba porque gosta. Aí você argumenta: “Ah, mas tem escola que ensina a tocar violão, cavaco, charango, teclado e cobra por isso.”. É totalmente diferente. É gente graduada, é um emprego, são professores que estudaram para isso. Eu calo a minha boca se um desses “professores” que pensam que são a sensação tem alguma formação acadêmica para cobrar essas aulas. Percussão é diferente de instrumentos de corda, sopro e afins. Para Percussão você não precisa saber toda a teoria musical. Escalas, tons, timbres. Você só precisa ter ritmo e entender o compasso... isso quem nasce com o samba nas veias entende. Quem não tem, aprende rápido. É aí que está toda a diferença. É paradoxal que você pague 50, 100 reais pra aprender a tocar um simples repique ou um tamborim. E é mais incrível ainda como fazem uma “tempestade” para ensinar um tamborim carreteiro, por exemplo. Claro, quanto mais tempo “enrolado”, mais dinheiro vem... normal. E os aspirantes, com vontade de aprender, pagam. Eu entendo... já tive essa sede de saber como funciona uma bateria de escola de samba. E hoje, toco todos os instrumentos de uma bateria, mas nunca paguei um centavo para aprender. Claro que exige mais dedicação, mas é totalmente viável. Mas para facilitar isso, pensei em uma solução para tirar o povo da arquibancada e trazer para dentro das baterias. E como consequência, tirar os morcegos (ritmistas que não sabem tocar e praticamente fazem figuração dentro da bateria. Parece impossível, mas há muitos). Conversando com um amigo, estamos montando uma Oficina de Percussão, com o simples objetivo de trocar conhecimento. Quem não sabe tocar nada vai entender passo a passo, quem entende se aprimora, quem sabe tudo auxilia quem está aprendendo. E o que ganhamos com isso? Simples, semeamos o samba num país onde a música está sucateada. O trabalho será totalmente gratuito. Esse amigo meu, era Diretor do Naipe de Tamborins da Mocidade de Vicente de Carvalho, Escola do Grupo Rio de Janeiro I (Antigo Grupo B) do Rio de Janeiro. Para 2010, ele deixará o Naipe de Tamborim para formar um Naipe de Frigideiras. Ele pediu para eu me responsabilizar pelo Naipe de Tamborim da Escola em 2010. Mas eu conheço como funciona a maioria das Baterias do Grupo Rio de Janeiro I. Já aconteceu várias vezes de alguém me oferecer fantasia de bateria no dia do próprio desfile. Eu não quero assumir a Direção de um naipe para fazer isso e colocar “qualquer um” pra tocar, a escola perder ponto e eu levar a fama de incompetente. Então, impus a condição de criar uma Oficina de Percussão e trabalhar os alunos para desfilarem, não pegar qualquer um lá na hora e formar o naipe. A Oficina deverá acontecer na Quadra da Mocidade de Vicente de Carvalho mesmo. É um benefício para quem aprende e para a Escola, que certamente vai ganhar ritmistas competentes. O projeto está em fase de construção e deverá ter início no fim do primeiro semestre do ano. Se você tem interesse em participar e contribuir será um grande prazer, basta entrar em contato por e-mail. Precisamos organizar desde já, para que o Projeto saia do papel. O sambista quer samba, o sambeiro quer dinheiro.
E nós... só queremos mostrar que fazemos samba também. Um abraço a todos! Ewerton Fintelmann Bruno Guedes |
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