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O QUE O CARNAVAL DE SÃO PAULO IRÁ LEVAR DO ANHEMBI EM 2020
por Bruno Malta
Com
o fim dos desfiles, é hora do nosso, já tradicional,
balanço geral de como foi o ano no Anhembi e suas já
conhecidas surpresas. Pelo terceiro ano em quatro, a campeã
é inédita, mas, dessa vez, sem pontuação
máxima. Além do ineditismo da vencedora, o ano tem como
destaques, o “renascimento” da Mocidade Alegre, o Barroca
Zona Sul se mantendo na elite após retornar ao Especial, os
acessos de Vai-Vai e Acadêmicos do Tucuruvi ao Grupo Especial em
2021 e o inédito rebaixamento da Nenê de Vila Matilde ao
Grupo de Acesso II. Sem mais delongas, é hora de relembrar as
apresentações do Carnaval de São Paulo.
Carnaval
2020 marca mais uma conquista inédita: Águia de Ouro foi
a campeã pela primeira vez. (Foto: Adriano Moraes/Recordar
É Viver)
Mais uma
vez, o pré-Carnaval foi resumido na pergunta: Quem seria capaz de superar a
atual campeã Mancha Verde? A alviverde, após o lindo desfile campeão em 2019,
teria como enredo um versículo bíblico que serviria como proposta para mostrar
como o homem poderia construir um mundo melhor. A vice-campeã e sempre favorita
Dragões da Real falaria sobre o Riso, a Roseira, após o terceiro lugar, decidiu
pela a relação do homem com a modernidade como tema, já a Vila Maria apostaria
em mais um enredo sobre um país, sendo a China a escolhida. Seguindo a linha da
escola do Jardim Japão, a Império de Casa Verde faria uma homenagem ao Líbano. Outros temas
eram a sabedoria e sua influência para o bem e para o mal no Águia de Ouro, a
cidade de Atibaia no Tatuapé, as Yabás e sua importância para um mundo melhor
da Mocidade Alegre, os grandes amores nos Gaviões da Fiel, os ritmos e a
louvação ao samba da X-9 Paulistana, a história de Dom Sebastião do Colorado do
Brás e uma exaltação aos feitos dos principais negros da história da Tom Maior.
Por fim, Pérola Negra e Barroca Zona Sul que contariam na avenida os ciganos e
Tereza de Benguela, respectivamente. Os desfiles de sexta-feira Abrindo os
desfiles de Sexta-feira, o Barroca Zona Sul voltava a elite após quinze
anos de afastamento. Da escola que se apresentou em 2005 para a que retornou a elite em 2020, muita coisa mudou, mas o
Barroquinha, símbolo e mascote, ficou firme e forte e foi o destaque da
abertura. A passagem da verde e rosa foi bem simpática e, de certo modo, criou
algum favoritismo para a permanência. O início foi oscilante. Se a comissão de
frente não chamou a atenção positiva e contou com problemas de acabamento no
tripé, o espetacular casal foi um dos grandes destaques. Lenita Magrini, após
um ano de afastamento, brilhou no Anhembi e se recuperou da estreia turbulenta
pela Independente em 2018 se provando como uma das mais talentosas da nova
geração. Já a evolução começou bem correta, mas piorou após o recuo da bateria.
Por vezes, o andamento se acelerou e em outras vezes, ficou completamente
parada. Era um problema. Nos quesitos musicais, a harmonia ficou devendo. A primeira metade foi bastante correta e empolgante, fazendo, inclusive, a arquibancada se levantar em alguns momentos. Só que na segunda metade, o canto caiu bastante e muitas alas passaram quase em silêncio ou cantando apenas o refrão. A bateria também não fez uma apresentação perfeita, especialmente após a entrada no recuo, onde levou alguns minutos até o acerto total, prejudicando a unidade da apresentação. Já o rendimento do samba foi satisfatório, mesmo com uma queda no fim. Casal do Barroca Zona Sul foi um destaque da apresentação. (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Os quesitos
plásticos foram a grande surpresa. As alegorias, relativamente grandiosas, eram
bem acabadas e tiveram um bom efeito na avenida. O destaque principal fica para
o carro abre-alas que era interessante. As fantasias, por outro lado, apesar de
bem acabadas poderiam ter sido mais inspiradas ou criativas. Por vezes, dava a
sensação de repetição de formas e cores. O enredo, apesar disso, foi bem
desenvolvido e passou a mensagem com correção. Nesse cenário, apesar de ter
todas as outras escolas pra passar e alguns erros graves como em comissão de
frente e harmonia, o Barroca terminou a apresentação credenciado a permanecer
no Grupo Especial, o que já seria um feito e tanto. Segunda
escola a se apresentar, a Tom Maior fez um desfile irregular, mas que reafirmou sua cara no Anhembi. Logo no início, a
comissão de frente proporcionou bons momentos, mas falhou por não conseguir
transmitir, claramente, sua mensagem, além disso, houve pedaços de algumas
fantasias que caíram no chão, logo após o recuo da bateria. Já o casal mostrou
que a experiência e a categoria seguem em dia, mas a falta de mais gingado e
velocidade nos movimentos, prejudica a unidade da apresentação. Em evolução,
existiram alguns descompassos que a leveza do desfile compensou. Com isso,
mesmo com pequenos problemas, houve uma demonstração de que a escola está mesmo
renovada em sua comunidade. Nos quesitos
plásticos, o carnavalesco André Marins reforçou, mais uma vez, que é muito
talentoso. O carro abre-alas é, em minha opinião, um dos mais bonitos do ano e
impactou de cara. Algumas fantasias e o quarto carro, certamente, não eram do
mesmo nível de outros momentos da escola nos quesitos plásticos, mas, no
conjunto, a apresentação foi bastante correta e de nível positivo. O ponto
negativo é que o enredo poderia ter sido mais bem desenvolvido, especialmente
na conexão de setores. Se com um enredo muito mais “complicado” em 2019, o
desenvolvimento foi surpreendente é positivo, o mesmo não pode ser dito sobre
2020. Fantástico
abre-alas foi o ponto alto da apresentação da Tom Maior
(Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Nos quesitos
musicais, a bateria de Mestre Carlão teve uma apresentação segura e sustentou
com categoria o samba da escola que teve um ótimo início e caiu a medida do
andamento da escola. No tocante ao canto da escola, senti uma comunidade que,
dessa vez, foi irregular. Algumas alas cantavam com alegria e muita
competência. Outras alas, no entanto, cantavam de maneira mais tímida, sem
tanto entusiasmo ou cantando apenas os refrães. Pensando no geral, a Tom Maior
não conseguiu ser a escola surpreendente de 2018 e 2019, mas terminou segura
que demonstrou potencial de ter sua importância para o grupo. Lutando pelo inédito título, a Dragões da Real entrou no Anhembi como grande favorita ao campeonato e o clima era diferente dos últimos anos em todos os sentidos. Para começar, a torcida da escola deu as caras em ótimo número, contrastando com os últimos anos onde quase não se via torcida da Tricolor. Outro ponto era o samba que, apesar de limitado, era muito animado e teve uma resposta positiva da comunidade e do público. A comissão de frente se recuperou de um desempenho complicado em 2019 e passou a mensagem com correção. Apesar disso, senti falta de uma qualidade maior na coreografia e, até, nas fantasias dos integrantes. O casal, mais uma vez, fez uma segura apresentação com destaque maior para porta-bandeira Evelyn que, apesar de jovem, mostrou que está definitivamente pronta. Em Evolução, os componentes começaram com um andamento muito veloz e chegaram a assustar por isso. No fim, houve uma desacelerada no passo, causando uma irregularidade no quesito. Última
alegoria da Dragões da Real fechou um desfile alegre e bastante
competitivo (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Nos quesitos
musicais, a harmonia, como de costume, foi em alto nível e comprovou muito do
amor dos componentes pelo samba que foi satisfatoriamente cantado na pista,
apesar de seus evidentes problemas técnicos. A Ritmo que Incendeia, bateria da
escola, começou rendendo, mas a cada paradinha, alguns instrumentos sobravam e
o conjunto se prejudicava. Além disso, senti que pelo andamento da escola, o
início acabou sendo mais rápido que no fim, o que também causou problemas no
ponto de sustentação. Na parte plástica, o enredo foi desenvolvido com correção
e contou com várias sacadas inteligentes, como o “ataque de risos” representado
pelo ótimo carro abre-alas. Falando em alegorias, o conjunto poderia ter sido
melhor, especialmente por conta do carro do Chaplin, mas nada que desabonasse a
escola. Em fantasias, tudo foi bem realizado e bem acabado, mesmo que faltasse
um brilho especial. O fim da
apresentação foi marcado pela confusão monumental que foi a retirada dos carros
da dispersão. Por conta de um problema com um poste da Avenida Olavo Fontoura,
algumas alegorias tiveram problemas para sair do sambódromo e tudo isso atrasou
a entrada da Mancha Verde em mais de uma hora. De qualquer forma e com a
negativa da Liga/SP em punir o problema, a Tricolor terminou sua passagem pela
pista credenciada, mais uma vez, para a briga pelo título. Após um
atraso gigantesco e de um início com o Anhembi com parte das luzes apagadas, a
atual campeã Mancha Verde fez uma passagem bastante irregular pela pista do sambódromo. O enredo que partiu do
versículo bíblico para mostrar que o homem poderia ser o responsável por um
mundo melhor, não aconteceu na pista e nem foi, dessa vez, retratado com
qualidade nos quesitos plásticos. Por vezes, existia dificuldade para entender
o que cada carro e cada ala tinha como significado. Ademais, os carros,
especialmente o segundo, tiveram alguns problemas de acabamento, especialmente
nas laterais, o que é algo extremamente surpreendente pensando que o
carnavalesco era o consagradíssimo Jorge Freitas. O
casal da Mancha Verde foi um dos destaques do ano na
apresentação da escola. (Foto: Adriano Moraes/Recordar
É Viver)
Nos quesitos
musicais, o samba, apesar de bastante criticado no pré-Carnaval, rendeu muito
bem na pista sendo cantado com garra e amor pelos componentes. Inclusive, um
dos destaques da alviverde no desfile foi o quesito harmonia que, finalmente,
se igualou a concorrentes como Dragões e Tatuapé, e foi firme e forte do começo
ao fim. Sob a nova direção de Guma Sena, a Puro Balanço teve um desempenho de
alto nível e mostrou que a mudança fez muito bem para a entidade. Nos quesitos
de dança, a comissão de frente, assim como o enredo, não se mostrou clara na
pista e não impressionou. Em casal, Marcelo e Adriana foram muito bem, tendo,
inclusive, o melhor ano da dupla na pista. Ela, muito mais rápida que em outros
anos, arriscou giros mais ousados e brilhou. Ele, mais convencional, fez uma
apresentação segura e correta. Em evolução, alguns pequenos descompassos,
especialmente para a entrada da bateria no recuo, mas nada problemático. A
apresentação, no conjunto, foi grandiosa e luxuosa e com alguns ótimos momentos
como em harmonia, bateria e casal, mas pensando que dez escolas passariam pela
pista e a Dragões, escola anterior, tinha ido melhor, era seguro dizer que a
briga pelo título parecia longe do povo alviverde. Quinta a
passar pelo Anhembi, o Acadêmicos do Tatuapé fez, mais uma vez, uma apresentação competitiva e capaz de brigar pelo título. No que toca a parte
plástica, o trabalho do Wagner Santos é bastante competente. Mesmo com falhas
de acabamento em alegorias — certamente ocasionadas pelas fortes chuvas na
semana do desfile — os carros
tinham bom efeito e contavam, com extrema correção, o enredo. Enredo que,
aliás, foi bem desenvolvido, apesar das limitações. Senti, no entanto, uma
repetição exagerada entre os setores um e três em termos de ideias e concepções
plásticas. Quinta alegoria que fechou um desfile competente do Tatuapé (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Na parte
musical, talvez a melhor exibição da Qualidade Especial, bateria da escola,
desde 2014. Segura e ousada em paradinhas, sustentou com muita competência o já
conhecido ótimo canto da comunidade da Zona Leste. Harmonia, como já dito, foi
um ponto forte da apresentação e reforçou o quão forte é o Tatuapé no quesito.
A trilha-sonora não era das mais marcantes, mas foi muito melhor do que se
imaginava. A obra passou muito bem graças a excepcional interpretação do carro
de som liderado por Celsinho Mody que, novamente, se mostrou como um dos
melhores do nosso Carnaval. Já nos
quesitos de dança, a comissão de frente, novamente clássica, não conseguiu o
efeito planejado, especialmente pela falta de um melhor acabamento nas
fantasias dos integrantes, o que prejudicou o grupo. O casal Diego e Jussara
foi muito bem e bailou com segurança tendo uma grande atuação pela primeira vez
na carreira, o que fez muito bem para a escola. Em evolução, houve um leve
descompasso do meio para o fim, mas nada que atrapalhasse o todo e prováveis
notas 10 no quesito. No conjunto, o Tatuapé pelos problemas plásticos e pelo
samba, poderia não conquistar o campeonato, mas fez um desfile que,
discretamente, colocou as credenciais da azul e branco na briga por mais um
título. A Império
de Casa Verde foi a sexta escola a se apresentar na primeira noite e foi a principal prejudicada pelo atraso. Contando
com carros recheados de efeitos de iluminação, o Tigre entrou com o dia
totalmente claro e viu muito do charme preparado ir embora ainda no começo do
desfile. As alegorias da Império foram consideradas bem bonitas na
concentração, mas não aconteceram na pista, talvez — certamente,
creio eu — pela falta
da noite. O carro abre-alas é um dos
grandes exemplos de como a luz do dia tirou muito de seu efeito. Apesar disso,
não existiu o mesmo cuidado das
alegorias no quesito fantasias. Em alguns momentos, houve quedas de pedaços
pela pista e soluções, mais uma vez, óbvias por parte do carnavalesco Flávio
Campello. Em enredo, o artista conseguiu um resultado melhor que seus últimos
três carnavais, mas ainda, sim, abaixo do esperado. Muito sobre o Líbano foi
contado com alguns clichês apenas pensando na fácil leitura. Nos quesitos
de dança, a Império, certamente, teve um destaque absoluto. Em 2020, no Grupo
Especial, não existiu nenhum casal melhor que Rodrigo Antonio e Jéssica Gioz.
De indumentária belíssima, a dupla brilhou, mesmo com uma leve garoa que caía
durante a dança, e se afirmou com o desmanche do histórico casal da Mocidade
Alegre e sem Pingo e Paulinha, do Vai-Vai, no grupo, como o principal casal da
cidade. A comissão de frente liderada por André Almeida foi muito bem e
conseguiu, mesmo com clichês, um ótimo efeito. Em evolução, após a passagem do
segundo carro, houve um descompasso persistente, mas em meio a evoluções tão
problemáticas, não é algo que tenha atrapalhado o conjunto. Casal da Império foi o principal destaque do quesito no desfiles de 2020 (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Já nos
quesitos musicais, senti a Império ainda abaixo das melhores comunidades da
cidade em termos de canto. Houve, sim, uma evolução em relação a 2019, mas
perto do que a escola já foi entre 2016 e 2018, o canto foi tímido. Em
samba-enredo, a apresentação magnífica de Carlos Júnior minimizou muitos dos
problemas melódicos e de letra da composição. Já no quesito bateria, a
Barcelona do Samba teve, mais uma vez, um seguro desempenho, só tendo um
prejuízo leve causado pelo som na entrada do recuo, o que causou, por alguns
segundos, problemas no quesito. Por conta dos momentos irregulares em vários
quesitos e pela falta de impacto no visual, a Império parecia completamente
fora do páreo da briga pelo título, mas um retorno no desfile das campeãs não
parecia descartado, dependendo do que viria na sequência. Fechando o
primeiro dia de desfiles, a X-9 Paulistana fez uma apresentação complicadíssima e se credenciou, pelo terceiro ano seguido, a briga
contra o rebaixamento. Já sabendo que entraria pela manhã, a Xis apostou num
conjunto plástico bastante colorido e recheado de elementos de fácil
compreensão, o ponto problemático é que existia muitos, eu diria até que
incontáveis, problemas de acabamento. Além disso, o segundo carro que
representava a Festa do Divino era acoplado, originalmente, mas se soltou e
causaria problemas de punição para a escola. As fantasias eram simplórias,
algumas, por exemplo, só tinham costeiros e, por vezes, alguns pedaços caíram
pelo chão, o que também causaria perda de ponto. No enredo, pela simplicidade e
pela fácil leitura, mesmo com um fio condutor que não ficou tão claro, o
resultado foi satisfatório. Carro
abre-alas da X-9 Paulistana. Desfile da escola foi problemático
em vários quesitos (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Os quesitos
musicais tiveram um belo desempenho da bateria Pulsação Nota 1000 que não foi
acompanhado pelo canto da escola. Praticamente todas as alas tinham vários
integrantes sem o canto afiado ou canto timidamente, o que não trazia
empolgação, principalmente por estar fechando a primeira noite. O samba, por
conta das escolhas da ala musical, teve um rendimento tímido e quase não
brilhou, perdendo muito das variações melódicas que chamavam a atenção no
lançamento da composição. Mas eram nos quesitos de dança que a coisa complicava
bastante para a escola da Parada Inglesa. A comissão
de frente, mais uma vez liderada por Yaskara Manzini, não teve bom efeito e em
alguns momentos, se mostrou desentrosada, especialmente na apresentação frente
ao júri próximo ao setor H. O casal Marquinhos e Beatriz, montado às vésperas
do Carnaval após o incidente com a porta-bandeira Lyssandra, não conseguiu um
grande entrosamento e errou também. A porta-bandeira, inclusive, parecia muito
nervosa em alguns momentos, chegando a andar rapidamente entre as cabines com
cara de insatisfação. Já em evolução, a X-9 teve problemas em todos os setores.
Buracos, andamento irregular e o problema do desacoplamento da alegoria
culminaram numa passagem trágica do quesito. Por conta dos inúmeros problemas e
do desempenho ruim em praticamente todos os quesitos, a rubro-verde terminou o
desfile como uma seríssima candidata ao descenso. Os desfiles de sábado O Pérola Negra começou os trabalhos no Sábado e fez um desfile bastante complicado em vários quesitos e saiu da pista, como candidata séria ao rebaixamento. A Joia Rara contou, mais uma vez, com um trabalho de capricho e cuidado do bom carnavalesco Anselmo Brito, mas sentiu falta de um algo a mais que se espera de uma escola do Grupo Especial. O enredo foi desenvolvido com correção e passou a mensagem com clareza, mesmo com pontos a serem questionados em alguns setores. Gostei também das fantasias que mesmo com os problemas ocasionados pelas enchentes foram coloridas e com um tapete bem bonito de se ver. O problema é que por conta de serem bem trabalhadas, muitas delas deixaram pedaços na pista, especialmente no segundo e no quarto setor. As alegorias eram enxutas, mas bem pensadas. Havia bom gosto e, de certo modo, criatividade ali, mas faltou dinheiro para uma execução mais luxuosa. Casal
do Pérola foi um dos destaques de uma apresentação
bastante irregular (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Na parte
musical, a comunidade, mais uma vez, falhou feio no canto. Pouca gente passou
mais sem cantar nesse ano que o Pérola Negra. Praticamente, todas as alas
tiveram algum problema no canto ou um canto que não existiu em trecho nenhum.
Nem o bom samba resistiu a uma escola tão apática e caiu drasticamente de
desempenho ao longo da apresentação. Já a bateria, comandada pelo ótimo mestre
Fernando Neninho foi o ponto de maior qualidade na apresentação, sustentando
com muita categoria e brilhando com várias bossas e intervenções de alto nível. Por fim, nos
quesitos de dança, o casal competente formado por Arthur e Eliana fez uma
apresentação bastante segura. Eliana, inclusive, foi uma das melhores
porta-bandeiras do ano com um bailado marcante e característico pela sua
altura. Já a Comissão de Frente, apesar de simpática, errou na execução da
coreografia e também não disse, exatamente, a que veio, apenas passando pela
pista. Tudo isso, no entanto, ficou pequeno perto dos inúmeros problemas de
evolução. Com muitos buracos e uma enorme correria após a passagem do quarto
carro, o desempenho no quesito foi desastroso, prejudicando bastante o
conjunto. Diante dos problemas e das limitações financeiras, o Pérola saiu da
pista se credenciando ao favoritismo na briga contra a queda. Buscando a
afirmação definitiva no grupo, o Colorado do Brás foi à segunda escola a
desfilar no Sábado e conseguiu, de certo modo, uma notável evolução em relação a
2019. O desfile sobre Dom Sebastião foi simpático, mesmo em meio a uma plástica
bastante questionável. As alegorias eram grandiosas, mas sentiam muita falta de
uma melhor escolha de cores e formas. Por vezes, faltou bom gosto, no principal
sentido da palavra. Em fantasias, a escola passou bem simplória e evitando
problemas de peças caindo e, nesse sentido, foi feliz. Achei que poderia ter
tido um cuidado maior na construção das vestimentas, mas tudo passou como
entrou. Já em enredo, a ideia foi passada com correção, mas com pontos bastante
curiosos como o último carro que tinha o grande homenageado de óculos escuros
numa cadeira de praia. Insólito. Nos quesitos
de dança, a evolução da escola foi correta e tiveram, apenas, leves
descompassos em alguns setores, principalmente na entrada da bateria no recuo,
o que, em minha visão, não chegaria a prejudicar o quesito, principalmente
pensando em outras agremiações e na comparação com o Pérola que acabara de
passar. Já a Comissão de Frente, ao contrário do ano anterior, não conseguiu o
mesmo impacto e foi apenas correta. O casal Ruhanan e Ana Paula foi muito bem,
com destaque para a vestimenta que era belíssima. Ruhanan, inclusive, foi um
destaque do ano entre os mestres-salas, o que mostra a evolução dele ao longo
dos anos. De
linda indumentária, o casal do Colorado foi um ponto positivo da
correta apresentação da escola (Foto: Adriano
Moraes/Recordar É Viver)
Já os
quesitos musicais foram bem ruins. O samba, apesar de uma segura interpretação
de Chitão Martins, não era dos mais inspirados e não rendeu na pista, apesar da
animação da arquibancada durante a passagem da escola. Em harmonia, apesar de
uma imensa evolução se comparada ao ano anterior, muitos integrantes ainda
passaram sem cantar o samba ou cantando apenas trechos como os dois refrães e o
fim da segunda estrofe. Em bateria, a Ritmo Responsa também melhorou, mas ainda
não brilhou. Segura e correta, a apresentação era interessante até as
paradinhas que não foram boas e ainda comprometeram o desempenho ao longo na
parada no recuo, já que até o acerto total, alguns bons minutos se passaram.
Pelo conjunto da obra e pelos desfiles de outras escolas, o Colorado não
parecia correr muitos riscos de rebaixamento e poderia comemorar a nítida
evolução construída. Lutando pelo
título que não chega desde 2003, os Gaviões da Fiel pisaram no Anhembi prometendo arrebatamento e um show de Paulo Barros,
carnavalesco consagrado no Rio e estreando em São Paulo, e cumpriram, de certo
modo, com o combinado. Nos quesitos de dança, Paulo tentou criar uma comissão
de frente impactante, alá Segredo (Unidos da Tijuca 2010), e conseguiria, se
falhas não existissem. O problema é que elas aconteceram. Pensada para pegar
fogo, as fantasias, por várias vezes, não acendiam e quando acendia, era apenas
em alguns integrantes. Uma decepção. No casal, a estreante Gabi Mondjian não
conseguiu ser a mesma porta-bandeira dos ensaios. Nervosa, ela errou em frente
à cabine do setor H e não conseguiu fazer uma grande apresentação ao lado do
mestre-sala Wagner. Em evolução, os Gaviões repetiram a empolgação do ano
anterior, mas foram mais comedidos e não tiveram grandes percalços, exceto em
pequenos momentos, onde leves claros eram perceptíveis. Nos quesitos
musicais, o samba, limitado tecnicamente, não conseguiu o arrebatamento da
fantástica reedição, mas rendeu bem e foi, por vezes, bem cantado — inclusive
pela arquibancada que sempre joga junto com a escola. Já a harmonia não foi perfeita. Por vezes, a
escola só berrava o refrão e cantava de maneira mais tímida o restante do samba. Em outros
momentos, só os dois refrães eram bem cantados. Foi oscilante. Em bateria, não
há ressalvas. Mestre Ciro Castilho resgatou completamente a bateria Ritimão e a
transformou, com sobras, numa das melhores da cidade e tendo, outra vez mais,
um desempenho de alto nível. O
último carro dos Gaviões da Fiel fechou um desfile que
entregou uma plástica de altíssimo nível. (Foto:
Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Por fim, nos
quesitos plásticos, aí sim, um show de Paulo Barros e Paulo Menezes. As
alegorias dos Gaviões foram as mais inspiradas do ano — atrás apenas da Mocidade Alegre — e conseguiram grandes efeitos no
público do Anhembi. O último carro que falava sobre o amor dos apaixonados pelo Corinthians e
pelos Gaviões foi um dos mais legais do ano
e conseguiu unir beleza e a criatividade já conhecida da dupla. As fantasias
eram lindas e bem acabadas. O problema é que a escola teve inúmeras peças
despencando pela pista, além de costeiros quebrados em várias alas, o que ocasionaria
perda de pontos preciosos pensando na briga pelo título. Já o enredo, outrora
criticado, foi de fácil leitura e com os setores bem pensados. Não existia uma
história com um fio condutor, mas a retratação dos amores foi bem planejada e
de bom resultado na pista. Pelo conjunto da obra, os Gaviões não terminavam o
desfile como grandes favoritos ao campeonato como em 2019, mas se colocava,
junto de Dragões e Tatuapé, com credenciais interessantes na briga pelo título. Prometendo
renascer na pista do Anhembi e mordida após o pior resultado de sua história, a
Mocidade Alegre fez uma apresentação arrebatadora e lavou a alma de sua comunidade, de sua torcida e do
sambista em geral. O enredo “Do canto das Yabás Renasce Uma Nova Morada”
mostrou que a escola gosta de enredo afro e se sente bem assim. Com um
desenvolvimento primoroso, Édson Pereira e Márcio Gonçalves só precisavam
entregar uma plástica competitiva para cumprirem seu papel. Entregaram mais.
Bem mais. Com o conjunto alegórico mais impressionante de sua história, a
Morada passou muito bem visualmente. As alegorias eram lindíssimas. É difícil
escolher o carro mais bonito do desfile, mas o carro da Iemanjá, que era o
segundo, é dono de uma imagem eterna para a rubro-verde. Em fantasias, a
escola, mais uma vez, brilhou. Com um belíssimo conjunto e com uma divisão
cromática arrebatadora, nada, no que era relacionado a plástica, esteve abaixo
do incrível. Segundo
carro era o mais bonito do ano em São Paulo. Mocidade terminou o
desfile como favorita (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Na parte
musical, o melhor samba do ano foi interpretado com brilhantismo por Igor
Sorriso e o carro de som. Afastando-se dos problemas dos ensaios, o canto da
comunidade acompanhou o impacto visual. Com muita força, a escola parecia se
livrar de um fantasma a cada passada do verso “Nossa Morada Renascerá”. Era
como se o componente tivesse passando uma borracha definitiva dos problemas de
2017 e, especialmente, 2019. A Ritmo Puro não teve a mais inspirada de suas
apresentações, mas passou razoavelmente bem. Sem grandes ousadias no andamento,
a bateria com correção os paradões sem atrapalhar, de maneira alguma, o conjunto
da obra do desfile. Já nos
quesitos de dança, mais uma vez, um desempenho bem satisfatório. A Comissão de
Frente, liderada por Jhean Alex e Renan Rodrigues, foi a mais brilhante do ano
e conseguiu traduzir todo o início do enredo com perfeição. O casal de mestre-sala
e porta-bandeira formado pelo estreante Uilian e a consagrada Karina teve um
bom desempenho mesmo sem brilhar. Cumprindo o regulamento, a dupla era mais um
quesito campeão num desfile que tiveram vários assim. Já a evolução, por conta
do canto empolgado, teve pequenos percalços, especialmente em algumas invasões
de alas e a uma leve demora na entrada da bateria no recuo. De qualquer forma,
os problemas de 2019 no quesito, nem de longe, perturbaram a escola do Limão.
Com um conjunto impactante e vários quesitos de escola campeã, a Mocidade ainda
levantou o público em inúmeros momentos e deixou a pista como a maior favorita
ao campeonato. Um desfile que fez a Morada, de fato, ressurgir. Quinta
escola a desfilar, o Águia de Ouro sonhava com o primeiro título e
contava com a chegada de Sidnei França, carnavalesco consagrado na Mocidade
Alegre, para conquistar o título. O desfile do povo da Pompeia foi bem diferente do que estávamos acostumados nos
anos recentes. Solta, a escola cantou, como de costume, forte do início ao fim
e mesmo com um samba que esteve longe de ser brilhante, a escola teve nos
quesitos musicais muito de sua força. A bateria de Mestre Juca ousou e
conquistou a arquibancada, que mesmo cansado de vibrar muito com Gaviões e
Mocidade, também jogou junto com o Águia. Em relação à harmonia, como já
mencionado, a escola cantou forte e sem cair em nenhum momento da apresentação.
O samba, mesmo com os problemas técnicos, passou bem, muito pela ótima
interpretação do trio de cantores (Tinga, Douglinhas e Darlan) e pelo canto
firme dos componentes. Nos quesitos
plásticos, senti a escola com alguns problemas em fantasias. Existiram peças
que caíram — poucas, bom
frisar — e alguns
costeiros quebrados ao longo da passagem. Já as alegorias, essas sim, tinham
graves problemas de acabamento, principalmente no terceiro e quinto carros e no
tripé trazido pela escola no meio de uma ala. Já em enredo, a grata surpresa.
Sidnei França é um especialista do quesito e mostrou que os prognósticos
estavam errados. Desenvolveu uma mensagem com muita correção e apresentou com
clareza tudo que queria. O quarto carro que mencionava Paulo Freire é uma das
mais agradáveis surpresas do Carnaval. Quarto
carro do Águia de Ouro foi um destaque de um conjunto
alegórico criativo e problemático (Foto: Adriano
Moraes/Recordar É Viver)
Nos quesitos
de dança, a Comissão de Frente comandada por Anderson Rodrigues foi
interessante, especialmente na coreografia, mas seu elemento estava muito mal
acabado e com falhas aparentes. Além disso, houve um descompasso já no fim da
apresentação para a cabine do júri do setor H que era passível de penalidade. O
casal João Carlos e Ana Reis foi muito bem e mostrou os motivos que os
credenciam sempre a serem citados entre os melhores do quesito na cidade. A
evolução teve dois graves descompassos — um em frente ao terceiro carro e
outro na frente do abre-alas — que poderia prejudicar, mas foi constante e com uma
desenvoltura que não era comum na escola. Pelo conjunto, o Águia parecia mais
credenciado ao desfile das campeãs do que ao inédito título, mas foi uma
apresentação agradável que reforçava como a escola e o seu carnavalesco tem
enorme potencial. Tentando
manter a evolução com base no resultado do ano anterior, a Unidos de Vila
Maria foi à sexta escola a desfilar no Sábado com o enredo sobre a China. Em termos visuais, a apresentação
da Vila Mais Famosa foi bastante complicada. Não que faltasse acabamento ou
grandiosidade nas alegorias, mas faltou o resto todo. Faltava bom gosto, faltou
uma escolha de cores melhor, faltou uma concepção mais inspirada…, em resumo,
faltou bastante coisa. Nas fantasias, as concepções foram menos “ousadas”, o
que garantiu um efeito ligeiramente melhor, mas em termos de bom gosto, nada
parecia fluir no aspecto visual. Nem mesmo o enredo, repleto de obviedades, era
dos mais bem desenvolvidos. Senti a ausência de um algo além, de algum ponto
que fugisse da obviedade. Não rolou. Nos quesitos
musicais, apesar de um esforço sobrenatural da ótima bateria de Mestre Moleza e
do intérprete Wander Pires, o samba não conseguiu render. A comunidade cantou,
timidamente é verdade, o samba, mas em nenhum momento houve qualquer interação
feliz entre escola, público e a obra, o que transformou a apresentação numa
arrastada passagem. Portanto, como já dito, a Cadência da Vila foi o destaque
no módulo musical e garantiu mais um ano entre as melhores da cidade. Já a
Harmonia, essa sim, poderia ter sido melhor, mas foi o suficiente para ficar a
frente de escolas como Pérola, X-9, Colorado e Barroca. Segunda
alegoria da Vila Maria: Escola não foi bem nos quesitos
plásticos. (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Já nos
quesitos de dança, a evolução da escola, mais uma vez, foi uma das melhores do
ano. Foi constante e quase sem deixar espaçamentos. Claro que, em alguns
momentos, existiram problemas de andamento, mas nada grave ou problemático. A comissão
de frente, apesar de ótima indumentária, não foi das mais inspiradas e também
não conseguiu demonstrar exatamente o que queria contar, sem a ajuda de um
roteiro. Por fim, o estreante casal Bruno e Tatiana não foi dos mais inspirados
do ano. Ele, apesar do inegável talento, parecia muito apressado nos
movimentos, enquanto ela, pelo peso da fantasia, parecia mais lenta. Foi uma
apresentação que poderia ter sido melhor. No conjunto, a Vila Maria, novamente,
fez um desfile para a parte final da tabela, mas foi bastante correta nos
quesitos Harmonia e Evolução e, por conta disso, poderia, quem sabe,
surpreender na apuração. Para fechar
os desfiles do Grupo Especial, o Rosas de Ouro. A azul e rosa fechou o Grupo Especial com muita alegria e superou até mesmo os problemas de
acabamento que eram visíveis. Nos quesitos plásticos, a Roseira teve problemas.
As fantasias eram bem pensadas em sua maioria e contavam, com correção, o
enredo da escola. Apesar disso, houve, como em muitos desfiles, problemas de
peças caindo e alguns costeiros que ficaram pelo caminho. O fantasia do segundo
mestre-sala é um exemplo mais notório. As alegorias, por outro lado, foram os
pontos de maior problema. Por vezes, foi nítido ver carros com acabamento
problemático, especialmente nos segundo e quarto carros. Em relação ao enredo,
o desenvolvimento foi interessante e mostrou com clareza, a mensagem da relação
do homem com a modernidade. O
simpático robô da Roseira apareceu na Comissão de
Frente; Desfile foi bem agradável e fechou bem o Carnaval de
São Paulo (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Nos quesitos
de dança, também existiram oscilações. Se a Comissão de Frente foi bem
idealizada e criativa, pecando apenas no acabamento do elemento alegórico e das
indumentárias, a evolução era problemática desde o início. Mesmo bem solta e
empolgada pelo ótimo samba, a comunidade errou bastante no quesito e teve graves
problemas, principalmente, após a entrada da bateria no recuo. Em frente aos
terceiro e quarto carros, clarões apareceram e fatalmente poderiam prejudicar
as notas na apuração. Já o casal de mestre-sala e porta-bandeira foi muito bem,
com destaque para Isabel Casagrande que, mais uma vez, fez uma apresentação de
muita elegância e graciosidade. Nos quesitos
musicais, o grande destaque da escola. Com um canto impressionantemente forte,
a comunidade mostrou que se entregou ao lindo samba que cantou com extrema
competência o enredo. Por vezes, era até natural ver uma empolgação tão grande
que alguns componentes pulavam durante a apresentação. A trilha, como já era
esperado, foi muito bem cantada e executada, deixando a pista como um das três
melhores em termos de rendimento. Tudo isso foi sustentado por uma bateria de
ótima noite. Com instrumentos muito bem afinados e naipes claros, os comandados
de mestre Rafa deram um show e reafirmaram a evolução do quesito nos últimos
anos. Por conta da irregularidade plástica, nem mesmo um show do chão de uma
das mais tradicionais agremiações de São Paulo colocaria a Roseira na briga
pelo título, mas foi um desfile muito gostoso de assistir e fechou com
competência o Carnaval de São Paulo em 2020. Grupo de
Acesso O nível do
Grupo de Acesso prometia bastante apenas pela presença de Vai-Vai,
principalmente, e Acadêmicos do Tucuruvi no grupo e conseguiu entregar. Com,
pelo menos, quatro bons desfiles, o conjunto foi bastante satisfatório. Nem
mesmo a não presença da Independente no julgamento atrapalhou a competitividade
do grupo. Ao fim dos desfiles, Vai-Vai, Tucuruvi, Mocidade Unida da Mooca e
Estrela do Terceiro Milênio dividiam o favoritismo dos especialistas. A Independente
Tricolor foi a primeira escola a desfilar. Sem participar da disputa, a escola passou apenas com um carro pela
pista do Anhembi e várias fantasias que faziam alusão ao incêndio ocorrido em
seu barracão no mês de Outubro. Foi um momento marcante para os presentes. Segunda a
adentrar a pista, a Estrela do Terceiro Milênio subiu o sarrafo e mostrou credenciais interessantes na briga pelo acesso. Com
um bom conjunto visual e um enredo de fácil leitura, a coruja competiu bem no
seu retorno ao grupo. Faltaram quesitos de chão e samba para que o desfile
fosse ainda melhor, mas, de qualquer forma, estava no páreo. A Nenê de
Vila Matilde foi a terceira a desfilar e fez um dos mais tristes desfiles de toda a sua história. Com um
conjunto plástico bem ruim e de pouco impacto, nem mesmo o forte chão resistiu.
Por vezes, foi possível ver um canto mais tímido dos componentes. Além dos
problemas plásticos, os quesitos comissão de frente e casal também não eram dos
melhores. Era candidata a cair. A Leandro
de Itaquera foi a escola seguinte na pista do Anhembi e, ao lado da Nenê, foi mais uma a se credenciar
pela briga contra o rebaixamento ao Acesso II. Com um visual problemático, nem
mesmo o belíssimo samba se salvou. Além disso, quesitos como mestre-sala e
porta-bandeira e bateria também não tiveram um grande desempenho. No conjunto
da obra, foi melhor que a Nenê, mas o rebaixamento não estava descartado. Lutando para
confirmar o favoritismo do pré-Carnaval, a Mocidade Unida da Mooca fez
um belo desfile plasticamente, mas escorregou nos quesitos de chão. Com uma harmonia
tímida e uma evolução problemática, a rubro-verde se prejudicou na briga por
uma vaga no Grupo Especial. Nem mesmo o ótimo enredo e samba credenciava
totalmente a escola. No conjunto, poderia subir, mas teria que secar as
principais concorrentes que não tinham desfilado. O
lindo abre-alas do Tucuruvi mostrou que a escola estava pronta para
voltar para o grupo de elite. (Foto: Adriano Moraes/Recordar É
Viver)
O Acadêmicos
do Tucuruvi, mais ou menos como o Águia de Ouro em 2018, fez um desfile de Grupo Especial no Acesso. Pontuando claramente que é um desfile
menor, a escola teve vários quesitos de alto nível. Alegorias e fantasias eram
grandiosas e bem acabadas. Ademais, os desempenhos de evolução e bateria também
foram ótimos. Se ninguém se consolidava como favorita a vaga no Especial até
então, o Zaca o fez. Homenageando
Carlinhos Brown, o Camisa Verde e Branco fez um ótimo desfile nos quesitos de chão, mas sentiu falta de uma plástica melhor para
brigar pelo retorno a elite. Os quesitos de Comissão de Frente e casal também
poderiam ter sido melhores, o que contrastou com uma ótima bateria e uma harmonia
de altíssimo nível. No geral, o Trevo ficava a principio, apenas no meio da
tabela. O
ótimo casal de mestre-sala e porta-bandeira do Vai-Vai mostrou
que a escola possuía quesitos do nível exigido pelo Grupo
Especial. (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Falando de
seus noventa anos e fechando os desfiles, o Vai-Vai fez uma apresentação problemática em alegorias que foi compensada por um sacode daqueles que
o Acesso nunca viu. Do primeiro ao último minuto, a Saracura levantou o público
com uma apresentação muito forte nos quesitos de pista. Casal, Harmonia,
Evolução e bateria se apresentaram em nível de Grupo Especial. Era bastante
candidata ao acesso. Com as
apresentações encerradas, o favoritismo era dividido entre Tucuruvi, Vai-Vai,
Mooca e Milênio. Existia, em minha visão, uma ligeira diferença
entre as duas primeiras em relação às duas últimas, mas tudo parecia bem
equilibrado, até pelos erros de todas em algum quesito. O rebaixamento, no
entanto, parecia destinado para Nenê ou Leandro, com favoritismo para a escola
da Vila Matilde. A Independente não seria julgada e o Camisa parecia seguro no
meio da tabela. Mais uma vez, a apuração confirmou as expectativas, mas com
algumas surpresas. O Vai-Vai e o Tucuruvi retornaram ao Grupo Especial com
pontuação máxima, o que causou desconforto de muitos com algumas notas — especialmente
as de alegoria da Saracura — e foram seguidas por Estrela do Terceiro Milênio, Mocidade Unida da Mooca, Camisa Verde e Branco e Leandro de
Itaquera. A sétima e última posição ficou com a Nenê de Vila Matilde que, pela
primeira vez em sua história, foi rebaixada ao Grupo de Acesso II (terceira
divisão do Carnaval Paulistano) atingindo o ápice da maior crise de sua
história. Falando em
Grupo de Acesso II, o grupo ficou marcado pelas punições de Peruche e Imperador
que foram alijadas, de antemão, da briga pelo retorno ao Acesso I. Sem elas
pelo caminho, a briga ficou entre Morro de Casa Verde, Camisa 12 e Dom Bosco de
Itaquera. Numa apuração equilibrada, a verde e rosa da Casa Verde conseguiu o
retorno ao Acesso I onde não desfila desde 2016. Nesse grupo, o rebaixamento
ficou por conta da Flor de Vila Dalila que dará lugar ao Brinco da Marquesa,
campeã do Grupo Especial de Bairros organizado pela UESP, na passarela do
Anhembi em 2021. Repercussão
e Apuração do Grupo Especial A apuração Ao fim da
maratona de desfiles, era praticamente unânime, o favoritismo da Mocidade
Alegre ao título. A escola do bairro do Limão venceu o tradicional
troféu Nota 10, de melhor escola, entregue pelo Diário de São
Paulo. No prêmio entregue pela SASP, a escola não venceu como melhor escola,
mas venceu em três categorias (samba, alegorias e intérprete). Já no Estrela do
Carnaval, do site Carnavalesco, os prêmios foram para samba-enredo e comissão
de frente. As principais ameaças ao título da Morada eram os Gaviões da Fiel,
vencedores do prêmio de melhor escola na
SASP, a Dragões da Real e o Acadêmicos do
Tatuapé. Correndo muito por fora, apareciam o Águia de Ouro com seu
desfile técnico e a Mancha Verde, premiada
pelo site Carnavalesco, com seu
luxo imponente. Abre-alas
da Mocidade Alegre; Escola terminou como favorita da crítica
especializada (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
A apuração,
no entanto, já começou esquisita. Alegando quebra de decoro, um jurado do
quesito Alegoria foi desconsiderado do julgamento antes mesmo da abertura das
notas, ainda na tradicional reunião do sorteio dos quesitos, realizada na
segunda-feira de Carnaval na sede da Liga. Além disso, a X-9 Paulistana, pelo
desacoplamento de seu carro, perderia 0,5. A Dragões da Real, como já tinha
sido dito pelo presidente da Liga ainda durante o desfile de sexta-feira, não
levou nenhuma punição pelos problemas causados na dispersão e o consequente
atraso para as demais apresentações de sexta. Na leitura de notas, ainda no primeiro quesito, algumas surpresas. Ao contrário dos últimos
dois anos, apenas três escolas (Águia, Mancha e Tatuapé) passaram ilesas e
garantiram a pontuação máxima. Nos três quesitos seguintes (Comissão de Frente,
Samba-Enredo e Harmonia), o equilíbrio se mantinha com apenas o Tatuapé
passando com pontuação máxima, seguida, com apenas 0,1 de vantagem, por Dragões
da Real, Mocidade Alegre, Rosas de Ouro, Vila Maria, Mancha Verde, Barroca Zona
Sul e Águia de Ouro. No quinto
quesito, Evolução, algumas ligeiras mudanças. O Tatuapé, novamente, seguia com
a pontuação máxima, mas as perseguidoras mais próximas passaram a ser Rosas de
Ouro e Vila Maria, com Águia de Ouro e Mocidade Alegre logo atrás, no
desempate, todas com apenas 0,1 a menos que a líder. A Dragões da Real e a
Mancha Verde ficaram a 0,2 em sexto e sétimo lugares, ao fim desse quesito. O
quesito mestre-sala e porta-bandeira provocou a penúltima reviravolta da
apuração. Seguia a liderança do Tatuapé, mas apenas com Águia de Ouro e
Mocidade Alegre a 0,1 e Dragões da Real e Mancha Verde a 0,2. Rosas de Ouro e
Vila Maria perderam um décimo cada e se afastaram do pelotão inicial. Além da
briga pelo título acirrada, chamava a atenção o fato dos Gaviões da Fiel,
cotados por público e crítica a briga pelo título, estarem, ate então, na zona
do rebaixamento. No sétimo
quesito enredo, tudo se manteve como estava no quesito anterior na parte de
cima e de baixo da tabela. A liderança, com pontuação máxima, seguia com o
Tatuapé, Águia e Mocidade estavam a 0,1 e Mancha e Dragões a 0,2. Nas últimas
posições, os Gaviões da Fiel e o Pérola Negra começavam a se aproximar do
rebaixamento. Só que o oitavo quesito e a falta do descarte mudou tudo. O
quesito alegoria simplesmente bagunçou a apuração. A liderança saiu das mãos do
Tatuapé e foi parar no Águia de Ouro, o segundo lugar passou a ser da Mancha
Verde com 0,1 de diferença. Também 0,1 atrás, a Mocidade Alegre estava empatada
com a ex-líder Tatuapé. O quinto lugar era da Dragões da Real que era seguida
de perto por Roseira e Vila Maria. Na briga contra o rebaixamento, os Gaviões
conseguiram pontos fundamentais e saíram da zona de descenso. Em seu lugar,
ficou a X-9 que se uniu ao Pérola no fim do oitavo quesito. O último
quesito ratificou o inédito título do Águia de Ouro que terminou com 269,9. Em
segundo lugar veio a Mancha Verde que terminou com 269,8. Na sequência vieram
Mocidade Alegre, Acadêmicos do Tatuapé, Unidos de Vila Maria, Dragões da Real,
Rosas de Ouro, Tom Maior, Império de Casa Verde, Barroca Zona Sul, Gaviões da
Fiel, Colorado do Brás e as rebaixadas X-9 Paulistana e Pérola Negra. A nota
curiosa é que a X-9 Paulistana, caso não tivesse perdido 0,5 antes da apuração,
terminaria a apuração em décimo primeiro lugar, na frente dos Gaviões da Fiel
e, por tabela, rebaixando o Colorado do Brás. Inédito
título do Águia de Ouro premia, mais uma vez, o
não-erro e o pragmatismo. (Foto: Adriano Moraes/Recordar
É Viver)
A apuração
equilibrada não afastou a sensação de pouca credibilidade do resultado oficial.
Por mais que existissem bons quesitos e boas coisas no desfile da campeã Águia
de Ouro, seu título foi construído pelo não julgamento de samba-enredo que
tirou qualquer chance da Mocidade Alegre construir uma vantagem segura que lhe
desse o título, mesmo com alguns percalços. Além disso, a pontuação da X-9
Paulistana que, de longe, fez o pior desfile ser idêntica a dos Gaviões da Fiel
é outra demonstração de como a Liga encara quem ousa ou tenta o diferente na terra
do pragmatismo. E assim, desse jeito, vamos destruindo os sopros de
criatividade restantes no sambódromo do Anhembi. Repercussão Mais uma
vez, a sensação de equilíbrio foi preponderante ao fim da apuração. O inédito
título do Águia de Ouro causa, outra vez, a sensação de que a vez é das escolas
que se prepararam para a conquista. A escola da Pompeia, dona da maior quadra
da cidade e de uma comunidade apaixonada, já merecia conquistar o título, mas a
pergunta que fica é: Deveria ser nesse ano? Isso vai mudar o Águia para o
futuro? O que isso reflete no Carnaval de São Paulo? A primeira
pergunta tem uma óbvia resposta e ela é negativa. É ruim para o Carnaval de São
Paulo e para o próprio Águia vencer nesse ano. Não pelo título em si, ele é
maravilhoso e, repito, premia uma comunidade merecedora que é apaixonada pela
escola e faz, sem nenhuma dúvida, o verso “nada se compara a esse amor” valer
em qualquer apresentação que faça. O problema é que o Carnaval 2020 não fica
marcado como o Carnaval do Águia. O Carnaval 2020 fica marcado pela impactante
estreia de Paulo Barros no Anhembi e o renascimento e a reconexão da Mocidade
Alegre com os desfiles que entram pra sua história. Só por isso, não é bom, por
mais que o sabor da conquista esteja doce e seja eterno. A conquista do Águia
terá, eternamente, a marca que sua conquista não representa o que foi o ano em
São Paulo. Título
do Águia pode reforçar precedente perigoso para o
Carnaval do Anhembi (Foto: Adriano Moraes/Recordar É Viver)
Mesmo assim,
é muito importante que esse título possa mudar o perfil da comunidade da
campeã. Nesse ano, estive em treze das catorze quadras do Grupo Especial e nada
me assustou mais que o povo da Pompeia. Reitero que o amor deles pelo pavilhão
é impressionante e é lindo de ver, mas a escola não sorri. Os componentes,
simplesmente, pareciam estar ali desesperados pelo título e fazendo qualquer
coisa para que ele viesse. Penso que Carnaval é estar feliz realizado e, acima
de tudo, se sentindo bem por estar dentro dele. Tudo isso, infelizmente, eu não
senti no ensaio que fui à linda quadra da Pompeia e ao longo dos últimos anos.
Que o título mude isso. É fundamental! Por fim,
temo que o campeonato da azul e branco reforce a síndrome que parece se
alastrar no Carnaval de São Paulo onde a pasta bem-feita e ensaio a exaustão
signifique merecimento em resultado. São Paulo, ali na década de 90 e na metade
dos anos 2000, chegou a ter ótimas safras de samba-enredo e enredo pela imensa
criatividade que era impregnada no Carnaval. O próprio Águia de Ouro, por
exemplo, fez um desfile inesquecível em 2007 sobre os artesões onde, apesar dos
problemas plásticos, o samba e o desempenho da bateria ficaram para a história
da escola. O quarto lugar foi muito comemorado não apenas pela posição, mas
pela valorização de um grande desfile. Fica o meu questionamento: Esqueça as
posições finais. Será que o Carnaval 2020, do jeito que foi, orgulha mais o
componente da Pompeia que o Carnaval de 2007? Tenho a nítida impressão que não
e isso, pra mim, só reforça o quanto um resultado como o desse ano pode ser
perigoso e trazer, ainda mais, tempos sombrios para quem ama escola de samba e
ama o Anhembi. Curiosidades
Bruno Malta
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