Otimista com a volta do Ruffin à Tom Maior e vendo o anúncio de um enredo político, como o vi desenvolver em 2007, relembrei os tempos não muito passados de uma escola com enredos esquerdistas, como propriamente é 2007, contando a histórias das lutas trabalhistas.

Mas, vendo a sinopse, percebi que o enredo agora tem outra cara. Não, a criatividade que sempre admirei nos enredos do Marco Aurélio Ruffin ainda está lá, em trechos e abordagens diferentes pra aquilo que outras pessoas de imaginação mais limitada, como eu, nunca pensariam em seguir. A introdução e o primeiro parágrafo da descrição do primeiro setor, que mostram a ideia central do enredo, chegando num avassalador, "dinheiro não se come".

O enredo também mantém a estrutura inequívoca e a abordagem lógica e compreensível, que fazem ser acessível um desfile como o do complexo tema de 2009. Mas, como pessoa que admirava a Tom Maior não só pelos enredos estruturados e criativos, sinto falta de, imaginando o desfile, pensar num último carro com trabalhadores carregando enormes bandeiras vermelhas. Sinto falta dos enredos que absolutamente justificavam a associação com a CUT.

A sinopse me pareceu meio "lavada", de uma política politicamente correta, daquelas que você vê no Jornal Hoje depois do quadro das flores da estação. Continua sendo um enredo bom, mas a mim não pega! Quando li a sinopse, pensei não estar lendo um enredo da Tom Maior, mas aqueles ao estilo portelense dos últimos anos, que defendem uma forma interessante (por falta de outra palavra) de inclusão social entregando louros para os atuais governantes da cidade (não é o caso da Tom Maior essa parte).

Para fechar o assunto dos enredos, a Unidos de Vila Maria, ultima escola a divulgar o seu, o fez de maneira inédita na história do carnaval de São Paulo, utilizando as mídias digitais e as redes sociais para tal fim. No sábado (9), o presidente Sérgio Ferreira por volta das 15h00 entrou on-line e discursou para sua comunidade e internautas gerais. Particularmente, gostei muito da iniciativa (ou curti, se formos utilizar a linguagem do Facebook), a Vila Maria buscou a forma mais eficiente na atualidade de se aproximar do público.

Depois de homenagear o Teatro Amazonas e obter a terceira colocação no ultimo carnaval, para 2012, a escola contratou o experiente Chico Spinosa e o intérprete Nego (que estréia no carnaval de São Paulo). O enredo, anunciado de forma tão criativa, é intitulado A força infinita da criação, Vila Maria feita a mão e pretende mostrar as criações da humanidade ao longo da história realizadas com o auxilio das mãos. A uma primeira vista parece uma mistura de artesanato com mãos, ambos já tratados no carnaval de São Paulo. Segundo o presidente, a escola optou por um enredo autoral contra duas propostas de enredos patrocinados. A única coisa que me incomodou nesse anúncio foi a frase que li em algumas notícias de que a escola contaria “A história da humanidade, da criação do mundo à internet” quando sabemos que contar a história da humanidade em vinte e cinco alas e cinco alegorias seja um tanto impossível. No mais é um enredo muito agradável e deve surtir um bom desfile, dada a posição que a escola conseguiu no sorteio. A propósito esse é o meu próximo assunto.

Nesta segunda (11), a Liga realizou o sorteio da ordem de desfiles para o carnaval de 2012. Modificaram o globo contendo as bolinhas para impossibilitar que o presidente da escola visse qual bolinha poderia sair. Em meio a dificuldades de conexão e banda (inclusive sofridas por mim) os sites especializados SASP e Carnaval Paulista transmitiram ao vivo com áudio o sorteio, mais uma inovação e ato de avanço para o nosso carnaval na área de visibilidade. Os destaques negativos ficaram por conta do atraso de mais de duas horas para o início do sorteio, acompanhado de uma pausa para o jantar dos dirigentes.

Na tabela a seguir, faço uma comparação entre as ordens do próximo carnaval e dos carnavais anteriores:

Vemos que, pela terceira vez seguida a Mocidade é a terceira escola de sábado; é, junto com a Pérola a única escola que, desde 2007 pelo menos, não desfilou nenhuma vez na sexta-feira. Mudanças radicais são vistas na posição do Império − definida já pela classificação no resultado de 2011 −, e da X-9, sendo as duas únicas que trocaram de noite, indo para a sexta-feira. A Mancha fecha os desfiles de sexta e a Tom Maior os da sábado. A primeira, com uma grande torcida, deve segurar seu público no Anhembi até o raiar do dia. Já a Tom Maior pode ser a grande prejudicada desse sorteio, porém conheço a garra da comunidade vermelho e amarelo e acredito que farão bonito mesmo com as arquibancadas mais vazias e o dia já claro.

Gaviões e Dragões, desfilando na mesma noite, tem posições de desfiles bastante afastadas. Pouco previsível, não? Resta-nos agora saber se a medida de “segurança” tomada no desfile das campeãs de impedir cidadãos de se locomover e optar livremente pelo setor no qual querem assistir os desfiles será mantida.

Escolas que, por um motivo ou por outro, acho que tiveram sorte nas posições: Vai-Vai – que pôde escolher a ordem de desfile −, Tucuruvi, Mocidade e Gaviões.

Na tabela, é notável também a presença de um curioso desenho de uma tartaruga cor-de-rosa em meio ao mar azul, com a areia cinza à sua direita. Seria uma mensagem dos céus?

Por fim, gostaria de comentar a safra de sambas da Mocidade Alegre que iniciou suas eliminatórias neste domingo. Além do samba da parceria do grande compositor Panda − enviado a mim por e-mail, obrigado pela lembrança −, que é de grande qualidade e segue o seu estilo consagrado de composição, destaco outros quatro sambas que me chamaram bastante atenção: De Xangô e parceria, Igor Leal (atual campeão) e parceria, Victor Gabriel e parceria e Biro e parceria. Cada um tem sua especificidade e me agradou em um aspecto, mas se eu tivesse que escolher um, a escolha ficaria entre Panda e De Xangô. No mais, com essas cinco opções, a Mocidade tem a oportunidade de levar uma bela obra afro para a avenida em 2012.

Axé a todos!