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Samba Paulistano

9 de março de 2011, nº 9, ano III

QUEM PRECISA DE CINCO ALEGORIAS PARA VENCER O CARNAVAL?
Por Ronaldo Figueira

Passado o carnaval, a impressão deixada é que foi algo muito melhor que em 2010. Esse ano tivemos novamente bons enredos, bons sambas e desfiles divertidos.

Nem tudo aconteceu como o previsto. Esse ano os desfiles foram mais tarde, época em que chove ainda mais do que em fevereiro. Embora não tenha chovido em nenhum desfile, as alegorias em geral estavam com um péssimo acabamento, 90% por culpa da chuva. Carros rasgados, desbotados, molhado, sujos, quebrando, não entrando na pista, plumas murchando nas fantasias causa da garoa e componente de comissão de frente escorregando.

Irei fazer um breve comentário sobre os quesitos que mais chamam a atenção do público, destacando que me agradou, ou não.

Comissão de Frente

Um quesito que costumava ser bastante simples, com grupos andando e rodopiando, melhorou absurdamente esse ano. A Mocidade fez um espetáculo com as letras que se moviam sozinhas. A Tom Maior fez uma abertura de desfile magnífica, colocando uma comissão teatralizada e um tripé muito bem feito, sintetizando boa parte do primeiro setor. O Vai-Vai fez uma encenação de arrepiar, mostrando o homenageado de seu enredo ainda criança se decidindo entre a música e o futebol. Como todos descobriram hoje na apuração, a música venceu!

Os destaques negativos ficam por conta da Rosas de Ouro, que nos brindou com o momento mais nonsense do carnaval; e a queda do componente da Tom Maior, devido à chuva.

Evolução

Comentar esse quesito é complicado. Como estamos fixos em um setor, observamos a escola somente de um lado e durante certo período. Problemas posteriores como correria e buracos são dificilmente percebidos se não acontecem na nossa frente. Porém, nem só técnica significa o quesito. Algumas escolas mostraram que estavam com o samba na alma e no pé, desfilando sambisticamente, sem parada militar. Minha querida Nenê deu um verdadeiro show, dividindo com Vai-vai o meu premio de melhor evolução do ano! A Mocidade (aquela da receita) também passou muitíssimo bem, mostrando que vinha com tudo pra ser campeã.

Destaque negativo: a inconstância da Águia de Ouro e a sonolência da Vila Maria, se agradaram os jurados é outra história, eu julgo emoção e sentimentos. E a Rosas de Ouro correu tanto que nem precisou do tripé da comissão de frente pra sair voando...

O que me deixou mais triste foi o desastre com a grande Unidos do Peruche, que desfilou faltando algumas alegorias, provocando uma enorme confusão na direção de harmonia da escola, prejudicando totalmente a evolução. Presenciamos, assim, componentes vindo e vindo numa sequência trágica de abertura e fechamento do portão do início do desfile.

Harmonia

Foi muito difícil ouvir uma escola de samba cantando seu hino esse ano. Algumas explodiam no refrão, outras cantavam a primeira parte, outras passaram mudas. Algumas baterias ajudaram para a fragilidade do quesito. Shows de emoção e garra eu pude ver na minha Nenê, que cantava aquele samba anti-Nenê como se fosse seu melhor hino. O Vai-Vai, com aquela singela obra, verteu lágrimas dos olhos desse romântico colunista que ainda acredita que nosso carnaval tem salvação. Não poderia deixar de citar a Mocidade, que deu uma aula de técnica e garra para qualquer um poder seguir!

Enredo

Um quesito que costuma ser bastante dinâmico por aqui, saiu do limbo criativo do ano passado. Vimos um enredo contando a história de uma cidade que saiu do desenvolvimento CEP de sempre, a influências culturais nordestinas no estado de São Paulo, os teatros municipais do Amazonas e São Paulo. Saímos da linha de desenvolvimento mais tradicional e histórica e entramos em enredos mais abstratos, como a ilusão e as ideias geniais da história.

Em alguns momentos houve um excesso de criatividade tão grande que eu não consegui acompanhar: bombeiros próximos à Tiranossauros Rex, seleção brasileira no Teatro Amazonas, e um tobogã inflável no mesmo carro que uma esfinge egípcia (num enredo sobre Dubai).

Além disso, a concepção de algumas fantasias não me agradou: fantasia é, entre outras coisas, um elemento estético que comunica a ideia do enredo de forma não-verbal. Mas vimos alas que só representavam o enredo por conta de coisas escritas nelas, como Sal ou Lei.

Também foram prejudicadas a Unidos do Peruche, com dois carros a menos, e a Mocidade Alegre, com um carro a menos.

Alegorias

Acabamento nunca foi o forte de São Paulo. Carros cobertos com pano são a solução criativa mais comum para a falta de dinheiro das escolas daqui (que ainda assim são mais ricas que as de qualquer lugar do país, tirando o Rio de Janeiro). Mas sempre cumpriram o seu objetivo de coadjuvantes de luxo na festa do samba. Esse ano, porém, choveu. Muito.

Houveram erros generalizados. Coisas rasgando, descolando, caindo, desbotando. Uma tristeza só ver as grandes escolas paulistanas assim.

Mas também houveram erros não relacionados à chuva: carros com concepção-padrão de bonecão gigante com composições laterais e destaque central, carros com essa concepção e bonecão de pano. Isso foi visto na maior parte das escolas. A homenagem à seu Nenê foi assim, um dos carros da Gaviões foi assim e, inclusive, o pano gigante esbarrava nas composições, passando à frente e atrás delas repetidamente, conforme o movimento do boneco.

Minha querida Nenê desfilou com peças de revestimento menores que os buracos que devia tampar. Que eu saiba, chuva descola mas não encolhe!

Rosas de Ouro foi dejavu total. Pegou todos os carros do ano passado, empobreceu e desfilou de novo. Gaviões usou materiais muito estranhos em suas alegorias, dando um efeito péssimo. O extremo foi o tobogã de plástico, sem qualquer adaptação, jogado em um dos carros.

Destaques positivos para Tom Maior, pequena, bem concebida e bem acabada. Tucuruvi, simples, bonita e sem erros graves de acabamento. E Mocidade Alegre, a única arrebatadora no quesito que, infelizmente, desfilou com um carro a menos.

Lista com os meus destaques, por ordem de desfile:

CONJUNTO DE FANTASIAS
- Acadêmicos do Tucuruvi
- Vai-Vai
- Pérola Negra
- Nenê de Vila Matilde
- Mocidade Alegre
- Império de Casa Verde

CONJUNTO DE ALEGORIAS
- Acadêmicos do Tucuruvi
- Vai-Vai
- Tom Maior

BATERIA
- Tom Maior
- Acadêmicos do Tucuruvi
- Mocidade Alegre

SAMBA-ENREDO
- Mancha Verde
- Rosas de Ouro
- Vai-Vai

HARMONIA
- Vai-Vai
- Nenê de Vila Matilde
- Mocidade Alegre

MESTRE-SALA E PORTA BANDEIRA
- Pérola Negra
- Nenê de Vila Matilde
- Mocidade Alegre

COMISSÃO DE FRENTE
- Tom Maior
- Vai-Vai
- Mocidade Alegre

ENREDO
- Tom Maior
- Vai-Vai
- Unidos de Vila Maria

Troféu Pomba do Rosas
Como todo carnaval, algumas coisas marcam por serem... diferentes. Por isso, criei o "Troféu Pomba do Rosas", para destacar os momentos em que você, vendo o desfile, se pergunta se o que está acontecendo realmente está acontecendo. Lista de “curiosidades”:

 

­ Peruche de novo – Unidos do Peruche. A Peruche desfilou, abriu buraco e foi aquela coisa triste que todos viram. Depois, as últimas alas passaram correndo pelo começo da pista em direção à escola, que já estava no setor B. Metade da ala correndo e depois a outra metade. Depois de fecharem os portões pra fim de desfile, ainda passou mais uma ala. Fecharam os portões de novo e passou um carro, uns 4 ou 5 componentes e uma baiana perdida.

- Pomba do Rosas – Rosas de Ouro. Precisa comentar?
- Bombeiro apagando Tiranossauro Rex – Águia de Ouro. Essa pérola veio do enredo confuso do Águia. Tinha um Tiranossauro Rex no abre-alas e depois a bateria, vestida de bombeiro. Não entendi.
- Caaanta setor 4! - Zé Paulo Sierra, X-9 Paulistana. Zé Paulo Sierra, caqueando como se estivesse na Sapucaí
- Seleção Brasileira no Teatro Amazonas – Unidos de Vila Maria. Tudo bem que vai ter jogo da copa no Amazonas, mas não sabia que o palco do teatro vai se transformar em palco
- Tobogã egípcio – Gaviões da Fiel. Um carro. Com um escorregador infantil inflável. E uma esfinge atrás.

Resultado do carnaval e outras coisas

Não gosto muito de comentar sobre notas de jurados e resultado oficial. Geralmente elas refletem uma realidade diferente da vivenciada e sentida pelos sambistas durante os desfiles. Vence a escola que erra menos, a mais técnica. Felizmente, em 2011, venceu a escola do povo, a escola da emoção. Acredito que o júri paulistano caminha para uma estabilidade nos critérios de julgamento. O vice-campeonato da Acadêmicos do Tucuruvi foi uma grata e merecida surpresa, jogando a ultima pá de cal  no preconceito que ainda existe contra os nordestinos e mesmo contra a escola! A injustiça justificada (se isso existe) é o rebaixamento da Nenê, escola que tanto prezo e admiro, infelizmente o visual falou mais alto!

Acho que o caso mais curioso dessa apuração ocorreu com a Mocidade Alegre:

Eu não preciso entrar com cinco carros para vencer, só preciso de quatro!
                        Solange Cruz Bichara ao Diário de São Paulo. Segunda-Feira 07/03/2011

Notas da escola no quesito enredo:
Cabine 1: 9,50
Cabine 2: 9,50
Cabine 3: 9,25
Cabine 4: 9,50
Cabine 5: 9,75
Total com descartes: 28,5

A escola terminou a apuração no sétimo lugar. Se tivesse tirado 30, sem mais nenhuma modificação em nenhuma nota, ficava 0,25 ponto na frente do Vai-Vai sagrando-se campeã do carnaval de São Paulo 2011.

É presidente Solange, os jurados discordaram da sua colocação... Afinal, nem tudo está perdido!

Ronaldo Figueira
ronaaldo.figueira@gmail.com