A quarta-feira de cinzas do compositor de samba-enredo, aquele que ninguém fala o nome na Globo e só tem seu dia durante as eliminatórias nas escolas de samba, tem outro nome: final de samba. Passada a ressaca, o compositor faz o que tem que fazer junto às organizações e espalha sua obra aos ventos. Ou se resigna e se prepara para o ano seguinte.

Passado o hiato de quase dois meses no Passarela Virtual, este que vos fala faz um balanço das eliminatórias para o carnaval de 2010, um ano infelizmente magro para os sambas Made In Virtual, mas cheio de promessas para os concursos de 2011. Além disso, relembraremos os sambas dos aventureiros virtuais que já apareceram nas grandes ligas – você pode ter ouvido e cantado um deles, e nem sabe.

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Nosso samba para o Paraíso do Tuiuti foi pra final – coisa que, por si só, parecia impossível –, mas não levou. Mas não há de ser nada. O “samba dos meninos”, como ficou conhecido (nem de longe injustamente! A média de idade da parceria era de 21 anos!), causou impacto, abriu os olhos dos jornalistas e deu um nó na cabeça de todo mundo. Saímos de São Cristóvão naquele domingo, 11 de outubro, às 4h30min da manhã, com um suporte por parte da harmonia e diretoria do Paraíso que nunca recebemos em nenhuma outra escola.

Não tenho palavras para descrever a gratidão que senti quando ouvi aquele que imagino ser o diretor de harmonia dizer para nós: “Vocês são bons. Não desistam, queremos vocês de volta ano que vem”. Ah, pode esperar, que a gente volta. É incrível saber que ainda existem escolas de samba que apóiam o jovem compositor. Renova nossa esperança e nos dá vontade de continuar. Antes e continuar, gostaria mais uma vez de agradecer a todos os segmentos do Paraíso do Tuiuti que tanto nos apoiaram nessa aventura que virou coisa séria.

Assim como o nosso samba na azul e amarelo, os sambas do nosso companheiro Luís Butti também não foram longe na Gaviões da Fiel e na Nenê de Vila Matilde. Na primeira, venceu a parceria de Júnior Fionda. Na segunda, houve o bi de Cláudio Russo.

Gostaria, porém, de fazer uma menção honrosa a Thiago de Xangô – intérprete da Princesa da Zona Norte neste ano – cujo samba entrou na fusão do Império de Casa Verde, junto com a obra de Bruno Ribas. Parabéns, rapaz!

Como já adiantei na última coluna, o samba da tríade LIESV Imperial, João Pinho e João Marcos também não levou na Morro de Casa Verde, caindo na final. Imperial também concorreu na Acadêmicos do Tatuapé, mas também não levou.

Algum samba levou? Sim, dois. Nosso parceiro no Tuiuti James Bernardes, junto a Evaldo Júnior e Luiz Paulo, leva para a Sapucaí o hino da União de Jacarepaguá, uma bela obra sobre o Retiro dos Artistas. Enquanto isso, lá em Santa Catarina, um dos meus “professores” Willian Tadeu, junto a Conrado Laurindo, Fred Inspiração e Mancha do Cavaco, emplacaram o samba dos Protegidos da Princesa, uma das cinco escolas do carnaval de Florianópolis. Um parabéns para a diretoria dos Protegidos, que não teve medo de ousar, escolhendo nosso amigo para o bi-campeonato, com uma belíssima obra que não deve nada a grandes sambas do Rio de Janeiro e São Paulo.

Seguem os dois sambas campeões que acabei de citar, e a letra, para você cantar junto.
 

União de Jacarepaguá 2010 – “Da Morada da Esperança ao Grande Palco dos Sambistas, Somos Todos Iguais Nesta Noite, Somos Todos Artistas”
Luiz Paulo, James Bernardes e Evaldo Jr.

Senhoras e senhores! Boa noite!
O show vai começar!
A ribalta é iluminada
Por belas “estrelas” e a luz do luar
No teatro, hoje o samba é a canção
Nossa alegria vai tocar seu coração
Em cartaz... Belos momentos que ficaram para traz
Lembranças, que alma não se desfaz
De um tempo em que a vida era feita de sonhar
Sorrir, viver, cantar!

Vejam! Brilha os olhos do artista
Somos palhaços, trapezistas
Coristas e orquestras, vedetes a dançar
Juntos desse sonho despertar!

Do drama à comédia, um gesto, um olhar
O ato da vida pra representar
Somos a imagem na tela
De um filme ou novela, que o vento não levou...
Queremos sim, a reestréia aos picadeiros
Aos palcos... Com muito amor contracenar
À vida... Com toda garra e confiança
Fazer do sonho a esperança
Pra outra vez recomeçar

Pode aplaudir a minha União
E Jacarepaguá é emoção!
Morada da alegria, talento e fantasia
Somos todos iguais, nesse mundo de ilusão
 

Protegidos da Princesa (Florianópolis) 2010 – “Um Grito em Favor da Vida: Energia Renovável, é a Terra Preservada”
Conrado Laurindo, Fred Inspiração, Mancha do Cavaco e Willian Tadeu
Intérprete: Alan

Amor, vou te levar
Pra conhecer cada estrela do meu céu
Vem nos meus braços viajar e ver
Que a energia está em mim e em você
Fogo que acende a paixão
Clareia os passos da evolução
Monumental... Em tantos povos pelos tempos
Move sentimentos pra conquistar
Maravilhas construiu, foi preciso navegar
Quando velas vão ao vento
Muitos sonhos vão ao mar
O moinho que girou viu o mundo renascer
E a luz da ciência resplandecer

E nos trilhos da Revolução
Tantos sonhos produziu
Se o apito ecoou
Fabricando ilusões eu vou

Veja... Quantas faces reveladas numa flor
Explode a “rosa”, seu perfume traz a dor
O ouro negro derramando a ambição
Faz o planeta clamar por preservação
A humanidade ao usar sua razão compreender
Quero sentir a força que há em cada um de nós
Eu esperei o ano inteiro
E solto a voz pro meu destino brilhar
Como o sol iluminando a consciência
Brotar na Terra a essência de renovar

Eu sou pura energia
Linda Princesa, “irradia”!
Bate no peito eterno amor
Que “um raio de luz iluminou”

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A LIESV faz sucesso nas passarelas reais não é de hoje. Existem sambas de renome na história do carnaval, sobretudo o paulista, e maioria deles eu já citei na semana passada, e vou repeti-los.

O samba de maior repercussão da LIESV no carnaval de São Paulo foi o da Mocidade Alegre de 2004, no ano do aniversário de 250 anos da cidade. O samba levou a Morada do Samba ao campeonato depois de um jejum de 24 anos, quando, em 1980, a escola foi campeã. O que poucos se lembram é que o legado de Imperial no carnaval paulista começou no ano anterior, 2003, com seu primeiro concurso no Grupo Especial de São Paulo, na mesma Mocidade Alegre, com o enredo “Omi - O Berço da Civilização Iorubá”. Foi, inclusive, o samba que me fez despertar para o maravilhoso carnaval de São Paulo, três anos antes de eu conhecer a LIESV, já que antes eu era mais um projeto de sambista, condicionado ao carnaval carioca. O bi, no ano seguinte, só fez confirmar para o sucesso do nosso “Professor”.

Mas ele não parou por aí, não. Quatro anos depois, o Mestre emplacou mais uma obra espetáculo maior do Anhembi, desta vez na Mancha Verde. O samba sobre o escritor Ariano Suassuna levou a Mancha ao sétimo lugar naquele ano.

Outro membro da LIESV com trajetória parecida é Willian Tadeu – sim, o mesmo do samba acima sobre a energia. O samba que você ouviu agora a pouco é o bi-campeonato do compositor na Protegidos da Princesa. No carnaval de 2009, foi dele o samba que levou a Resistência no seu canto ao eterno Beto Carreiro. A escola ficou em penúltimo (4º) lugar, mas o samba era um dos melhores do Brasil. Nosso colega comentarista João Marcos, na sua coluna nº 28 (“Longe de ser Curto, Porém Bastante Grosso”), comparou este samba ao do Império Serrano de 1997. Você iria se impressionar com o que ele disse. E olha que ele é imperiano.

Will, assim como Imperial, é, na verdade, cria de outra agremiação. No caso, da Consulado do Samba, onde, em 2007, conseguiu sua primeira vitória na Nego Quirido. Curiosidade: O carnavalesco da Consulado já era Raphael Soares, também LIESViano, atual desenhista da Colibris. A escola foi campeã.

Tanto Willian quando Imperial saíram da Consulado e da Mocidade Alegre por problemas pessoais, e decidiram recomeçar em outra agremiação.

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Na próxima coluna, semana que vem, volto a falar de LIESV: escolas que já lançaram seus enredos e estão recebendo sambas concorrentes. Você, compositor, pode colocar sua obra no maior espetáculo da tela, que é visto pelo mundo inteiro (sem brincadeira) através da grande rede, e nem paga nada, é tudo free.

Aquele abraço!