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SIMPLESMENTE CARNAVAL, NA SUA PRÓPRIA LÓGICA Se a festa de lançamento
dos enredos ficou por conta do brilhantismo de Milton Cunha, a do CD não houve
reedição que salvasse. A coisa parece
ter andado de mal a pior. A funkeira popuzuda devia ter ficado presa em sua
gaiola, ao invés de roubar a cena do casal mais importante da escola, na festa
de apresentação os sambas. Faltou assessoria, percepção e bom senso... virou
praxe os excessos das rainhas e seu ditos “momentos de glória”. E assim caminha o mundo do samba: público apático,
escolas afortunadas e uma tremenda necessidade do “novo”. Em contrapartida,
surge um nome estranho no ninho, Lesga, e mostra que o Grupo A tem charme “Simsinhô”.
Dito, reforçado e tirado prova disto com a apresentação do conjunto de
fantasias da Acadêmicos da Rocinha. Fábio Ricardo não só concebeu, mas como
desenvolveu um belíssimo trabalho, mostrou que de expressão visual a escola vai
muito bem, obrigado! Volto ao universo de fórmulas repetitivas, aquelas
que parecem não ser mais o ideal para ganhar visibilidade e legitimação. A
mesmice cansa, deixa tudo previsível e sem brilho e calor. Não se trata de
descartar o passado, a questão está em torno da simplificação – o que a
Beija-Flor prometeu, mas parece não conseguir. Enquanto espectadores, estamos acostumados a nos
surpreender e cada vez mais estamos atentos aos detalhes. Pisamos num
regulamento engessador e numa constante exigência de mudanças. Artisticamente,
criatividade e inovação fazem parte de um grande problema. Porém, não devemos
desconsiderar a contribuição que muitos artistas deram e que foram
significativas para a história e para a construção de nossas escolas de samba.
Se num determinado momento a eficiência técnica foi soberana, hoje sozinha não
sustenta grandes méritos, como o luxo gratuito também não. A linguagem simples
parece aproximar escola e arquibancadas. O padrão ideal para um contexto tão
complicado é não ter padrões rígidos, ou seja, uma eterna reinvenção. Faltaria então repertório aos artistas de hoje? É
possível dentre um leque de possibilidades escolher um caminho somente?
Julgadores, regulamentos, patrocínios... Não seriam essas próprias limitações
para a tão desejada inovação? É preciso construir uma comunicação com o público –
folião e arquibancadas. Promover um fuzuê, para “povo” cantar e pular... Um
desejo possível e 1999 não é exemplo tão distante assim. Contraria qualquer
formalidade da quarta-feira de cinzas e evidencia contentamento de cada um dos
setores da avenida, uma absorção máxima do enredo que tomou forma plena. Um
Villa Lobos alegre, muito Independente e... ponto final para qualquer outro
julgamento. Da sinopse à apresentação na avenida, falta a
realização do trabalho com base no desenvolvimento do aspecto artístico.
Portanto, espontaneidade e liberdade são peças fundamentais no processo. Não se
trata de conhecer o caminho, mas de estar aberto a novas escolhas e
posturas. É o momento mais propício de
cuidar de modo muito especial dos chamados grupos de base e de alargar as
passagens entre eles, para finalmente ser atribuído novos valores à festa
momesca. O necessário é simples. Como estamos na lógica do
capital e nós também pagamos a conta, temos que ser atendidos. Não é esta a
máxima mercadológica: atender desejos e necessidades dos “clientes”? Esqueçamos
então os clichês, as (pseudo) celebridades do mundo do samba. Deixem a
porta-bandeira e o mestre-sala como ícones autênticos de nosso carnaval, pois o
que queremos mesmo é a lógica pura e divertida de ser folião. Artigo dedicado a Sérgio
Ricardo Fernandes, pela paixão, pelas reflexões e pela pesquisa Alessandro
Ostelino |
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