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Coluna do Alessandro Ostelino

SIMPLESMENTE CARNAVAL, NA SUA PRÓPRIA LÓGICA

Se a festa de lançamento dos enredos ficou por conta do brilhantismo de Milton Cunha, a do CD não houve reedição que salvasse.  A coisa parece ter andado de mal a pior. A funkeira popuzuda devia ter ficado presa em sua gaiola, ao invés de roubar a cena do casal mais importante da escola, na festa de apresentação os sambas. Faltou assessoria, percepção e bom senso... virou praxe os excessos das rainhas e seu ditos “momentos de glória”.

E assim caminha o mundo do samba: público apático, escolas afortunadas e uma tremenda necessidade do “novo”. Em contrapartida, surge um nome estranho no ninho, Lesga, e mostra que o Grupo A tem charme “Simsinhô”. Dito, reforçado e tirado prova disto com a apresentação do conjunto de fantasias da Acadêmicos da Rocinha. Fábio Ricardo não só concebeu, mas como desenvolveu um belíssimo trabalho, mostrou que de expressão visual a escola vai muito bem, obrigado!

Volto ao universo de fórmulas repetitivas, aquelas que parecem não ser mais o ideal para ganhar visibilidade e legitimação. A mesmice cansa, deixa tudo previsível e sem brilho e calor. Não se trata de descartar o passado, a questão está em torno da simplificação – o que a Beija-Flor prometeu, mas parece não conseguir.

Enquanto espectadores, estamos acostumados a nos surpreender e cada vez mais estamos atentos aos detalhes. Pisamos num regulamento engessador e numa constante exigência de mudanças. Artisticamente, criatividade e inovação fazem parte de um grande problema. Porém, não devemos desconsiderar a contribuição que muitos artistas deram e que foram significativas para a história e para a construção de nossas escolas de samba. Se num determinado momento a eficiência técnica foi soberana, hoje sozinha não sustenta grandes méritos, como o luxo gratuito também não. A linguagem simples parece aproximar escola e arquibancadas. O padrão ideal para um contexto tão complicado é não ter padrões rígidos, ou seja, uma eterna reinvenção.

Faltaria então repertório aos artistas de hoje? É possível dentre um leque de possibilidades escolher um caminho somente? Julgadores, regulamentos, patrocínios... Não seriam essas próprias limitações para a tão desejada inovação?

É preciso construir uma comunicação com o público – folião e arquibancadas. Promover um fuzuê, para “povo” cantar e pular... Um desejo possível e 1999 não é exemplo tão distante assim. Contraria qualquer formalidade da quarta-feira de cinzas e evidencia contentamento de cada um dos setores da avenida, uma absorção máxima do enredo que tomou forma plena. Um Villa Lobos alegre, muito Independente e... ponto final para qualquer outro julgamento.

Da sinopse à apresentação na avenida, falta a realização do trabalho com base no desenvolvimento do aspecto artístico. Portanto, espontaneidade e liberdade são peças fundamentais no processo. Não se trata de conhecer o caminho, mas de estar aberto a novas escolhas e posturas.  É o momento mais propício de cuidar de modo muito especial dos chamados grupos de base e de alargar as passagens entre eles, para finalmente ser atribuído novos valores à festa momesca.

O necessário é simples. Como estamos na lógica do capital e nós também pagamos a conta, temos que ser atendidos. Não é esta a máxima mercadológica: atender desejos e necessidades dos “clientes”? Esqueçamos então os clichês, as (pseudo) celebridades do mundo do samba. Deixem a porta-bandeira e o mestre-sala como ícones autênticos de nosso carnaval, pois o que queremos mesmo é a lógica pura e divertida de ser folião.

Artigo dedicado a Sérgio Ricardo Fernandes, pela paixão, pelas reflexões e pela pesquisa 
realizada sobre a influência das escolas de samba nos trabalhos artísticos.

Alessandro Ostelino
ostelino@hotmail.com