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Coluna do Luiz Carlos Rosa

ELAS VOLTARAM!

29 de maio de 2010, nº 8, ano II


Amigo sambista,

Sim, elas voltaram!!!

A velha baiana voltou a sorrir! A razão? A sua querida escola de coração, que aprendeu a amar desde pequenina está de volta a ativa. "NEM MANGUEIRA, NEM PORTELA!!! O MEU CORAÇÃO É TUPINIQUENSE!!! SOL ESCALDANTE, TERRA POEIRENTA / DIAS E DIAS, MESES E MESES SEM CHOVER...". E assim, toda serelepe cantarola o seu samba predileto "Seca no Nordeste", que embalou a Tupy de Brás de Pina na conquista do Segundo Grupo de 1962. Esta obra-prima é apontada por muitos - inclusive eu - como o melhor samba da história dos Grupos de Acessos.

Não muito longe dali, o bairro vizinho à Brás de Pina, Cordovil, um antigo passista da Independente de Cordovil sambava com um copo de cerveja na mão e berrava à plenos pulmões: "E O DRAGÃO VOLTOU... E O DRAGÃO VOLTOU!!!!!!"... como se o doido estivesse na arquibancada do Maraca.

Em Bangu, o sentimento de vitória e felicidade não foi diferente. Aquele molequinho vivia tristonho, sempre às vésperas do carnaval. Todo mundo da sua familia já tinha desfilado pela Unidos de Bangu, menos ele. Porem, felizmente o seu sonho foi concretizado. "HOJE DESFILO PELA ALA DAS CRIANÇAS, QUEM SABE UM DIA SEREI O PRESIDENTE DA ESCOLA?"

Na Rua Maricá, foguetórios ensurdecedores marcam o retorno da famosa "Rainha dos sambas trash", a Império do Marangá. Antigos integrantes da escola desfilam pelas ruas da Taquara e na Praça Seca.

O mesmo acontece com a Aprendizes da Boca do Mato, União de Rocha Miranda, Unidos de Nilópolis e Foliões de Botafogo. Essas principais agremiações tiveram que enrolar a bandeira há alguns anos atrás. Os motivos foram muitos: falta de verba, dívidas intermináveis, falcatruas internas, a forte concorrência na região, perda de quadra, desânimo pelos péssimos desfiles apresentados... e por aí vai.

Entretanto, isso faz parte do passado!!! ELAS VOLTARAM!!! Tudo isso, graças à iniciativa e mobilização de sambistas, simpatizantes que resolveram criar a chamada LIEXESI. Parece nome de laxante, mas nada mais é do que a Liga das Ex-escolas de Samba Inativas. Esse pessoal conseguiu achar os representantes de cada ex-agremiação inativa e consequentemente levaram a proposta da "volta" para a Associação. Em acordo amigável, a Associação concordou com a proposta e decidiu cancelar todas as dívidas dessas agremiações. Em troca, as agremiações da LIEXESI fariam serviços sociais em suas comunidades. Outra condição é que os sambas das mesmas poderiam ser reeditados. O desfile seria na sexta-feira de carnaval na Sapucaí. "FECHADO!!! O IMPORTANTE É QUE VOLTAREMOS A FAZER CARNAVAL!", vibrou um dos representantes da LIEXESI.

É sexta-feira de carnaval. Marquês de Sapucaí, 20 horas. Surpreendentemente, o público lota as dependências da Passarela do Samba. Fogos e mais fogos para receber a primeira agremiação à voltar a desfilar: é o Império do Marangá adentrando na Avenida.

 
Iara um dos simbolos das diversas lendas aquáticas que o Marangá contará

A azul e branco da Taquara foi a PRIMEIRA A PISAR na nova Sapucaí em 1984. O presidente e intérprete da escola continua sendo Mizinho. Fundada em 1957, o Marangá ganhou apenas um título: o Quarto Grupo de 1986. A escola escolheu o enredo "Aguas Lendárias" de 1984. As baianas que representam o fundo do mar e a segunda alegoria "O carro do Boto" são os destaques positivos do Marangá.


E Machado de Assis baixa na avenida pela Aprendizes

A próxima ex-extinta é a Aprendizes da Boca do Mato, da região do Grande Méier e adjacentes. Fundada em 1953, a Boca do Mato enrolou a bandeira em 1970. A escola reedita o samba de 1959 "Machado De Assis", composto pelo Mestre Martinho da Vila. Alias, o próprio Martinho é quem puxa o belo samba, enlouquecendo a Sapucaí. Chama a atenção o abre-alas da escola com o rosto de Machado de Assis feito com vários livros.


Os carnavais inesquecíveis de Arlindo relembrados pela União

A União de Rocha Miranda, fundada em 1960 como Independente do Zumbi, é a terceira escola a desfilar na avenida, reeditando o enredo sobre o carnavalesco Arlindo Rodrigues, que inclusive lhe garantiu o título do Grupo C de 1989. A azul e branco exalta não só a vida deste genial carnavalesco que nos deixou em 1987, como seus vários carnavais. Destaque para os tripés que homenageia os campeonatos conquistados pelo Salgueiro, Mocidade e Imperatriz.


A saga de Chico-Rei: enredo da Unidos de Nilópolis

Ja é meia-noite quando a Unidos de Nilópolis adentra a passarela com o enredo "Calanga, o Chico Rei" do carnaval de 1982. A verde e branco nilopolitana conta com a ajuda de sua famosa co-irmã Beija-Flor, que forneceu grande parte do seu contingente, inclusive seu intérprete: Neguinho da Beija-Flor. Fundada em abril de 1952, seu unico triunfo fora o título do Quarto Grupo de 1981.


A Foliões retrata a vida e obra de Aleijadinho

A Foliões de Botafogo, reforçados com os desfilantes da São Clemente e Mocidade de Santa Marta, empolga o público presente na Sapucaí com seu enredo "Glórias em Pedra-Sabão" que exalta o escultor Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Muitas esculturas estão presentes em diversos setores da escola. A vermelho e branco foi fundada em janeiro de 1950 como bloco, até virar escola de samba em 1974. Em 1979, com o enredo "A Ceia dos Orixás", a Foliões foi a campeã do Quarto Grupo, sendo assim sua única vitória no certame carnavalesco.


Dodô e Osmar: os homenageados da Unidos de Bangu

A Unidos de Bangu, fundada em 1937, é umas das agremiações mais antigas do nosso carnaval. A vermelho e branco de Bangu, que conta com o apoio de sua afilhada Acadêmicos de Santa Cruz, apresenta o enredo "Atrás do Trio Elérico", samba de 1984 e que embala a Avenida. No carro de som, Sobrinho com autoridade puxa o empolgante samba da escola. "CADÊ AQUELE MENINO QUE QUERIA DESFILAR PELA ESCOLA?" Lá está ele na ala das crianças, feliz igual pinto no lixo.

Cordovil e o seu enredo sobre a miscigenação

Fundada em 1946, a Independente de Cordovil, que um dia foi do Leblon, apresenta o enredo "A Festa das Três Raças" do carnaval de 82. O Dragão da Leopoldina foi campeão pelo Terceiro Grupo de 1985. O desfile é agradabilíssimo e o velho passista se esbalda de felicidade. Além do abre-alas com um enorme Dragão - o símbolo da escola -  cada uma das três alegorias representa o índio, o branco e o negro.


A Tupy apresenta o sofrimento e a redenção do sertanejo

E já ao raiar do dia, a Tupy de Brás de Pina, ultima agremiação da LIEXESI a se apresentar, vem com um belíssimo samba: "Seca no Nordeste" do carnaval de 1961. O desfile se divide em duas partes: o sofrimento e a redenção do povo no sertão nordestino devido à seca devastadora. Fundada em 1951, a escola enrolou a bandeira em 1998 para tornar-se o bloco Tupiniquim. Mas foi por pouco tempo. Para alegria de todos nós, principalmente daquela velha baiana.


Acabou-se o sonho que pensava ser realidade

E o desfile encerrou-se às 6:45 da matina, hora exata em que meu despertador tocou. UÉÉÉ, CADÊ O SAMBÓDROMO? E AS BAIANAS... A BATERIA! A TUPI VOLTOU? E A UNIDOS DE BANGU DE TANTOS CARNAVAIS INESQUECÍVEIS?

É... era tudo um sonho! Era apenas mais um devaneio, ou melhor, uma FICÇÃO! Uma pena, mas bem que elas poderiam voltar. Qual sambista que não sente saudades dessas agremiações?

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QUE O NOSSO TAMBOR CONTINUE SEMPRE A RUFAR DENTRO DE NÓS, GRAÇAS A DEUS!

Um grande abraço e até a próxima, amigo sambista!

Luiz Carlos Rosa
luizfuga@yahoo.com.br