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MOCIDADE LEOPOLDENSE
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Virtual Mocidade Leopoldense foi fundado no dia 20 de junho de 2004. A escola é oriunda do Rio Grande do Sul e fez grande sucesso no seu segundo desfile, no Grupo de Acesso de 2006, com o enredo "Mocidade's Fest", sobre a cerveja. Depois de conquistar a vaga para o Grupo Especial de 2007, a escola passou a enfrentar inúmeros problemas, que resultaram em atrasos e penalidades. Mesmo com quinze pontos a menos, a pantera mostrou garra e desfilou bem, falando dos "valores da moeda". Apesar do rebaixamento, a agremiação tem uma equipe de trabalho muito boa, que vem conquistando espaço no meio virtual. Em 2009, a escola chegou a anunciar samba-enredo, mas por problemas particulares do presidente Edson Dutra, a Mocidade Leopoldense não desfilou. Mas a agremiação felizmente se reergueu e voltou com tudo no ano seguinte, onde, com muita garra, obteve o acesso no Grupo de Avaliação do CAESV. Para o delírio da LIESV, desde 2011 que a Pantera, que tanta falta fez no carnaval (parafraseando seu samba de 2010), voltou!
SINOPSE ENREDO 2014 A Vez
do Morro
Sinopse
Ao Ilmo. Senhor Futuro Chefe Não quero mencionar aqui se o senhor (ou senhora) será chefe da cidade, do Estado ou até do país. Pode ser vereador, senador ou deputado. O objetivo desta carta é que ela chegue nas mãos daquele que realmente vai fazer algo pelo povo. Digo isso porque o que mais vejo é gente virando as costas para aqueles que ajudaram para que se alcançasse o poder. Parece até que fogem da gente, do povo! Ainda mais se esse povo morar num lugar longe, distante do centro, mais precisamente o morro. Por isso vou chamar você aí, destinatário de Senhor Futuro Chefe. Senhor Futuro Chefe porque o seu futuro será decidido logo mais, nas próximas eleições e essa carta chegará sim em suas mãos. Eu sei que o senhor já esteve aqui na minha comunidade, o Morro da Alegria. Infelizmente eu não pude ir ao encontro porque estava trabalhando. Se pra quem ta procurando emprego, a situação de emprego é difícil, imagina pra quem é morador do Morro. Por isso, quando eu peguei esse emprego na empresa de energia elétrica, eu agarrei com unhas e dentes. Acho que eu nem falei para o Senhor Futuro Chefe, o meu nome. Me chamo Zé Pantera. Eu sei que Zé é apelido. Mas é assim que todo mundo me chama, me conhece. Só chegar aqui, no pé do morro e dizer: onde mora o Zé? Todo mundo sabe! Eu moro naquele barraco lá na ponta de cima. O Senhor Futuro Chefe chegou a ver o meu barraco? Acho que não. Fiquei sabendo que o senhor ficou meia hora na Associação de Moradores, seus acompanhantes distribuíram uns santinhos com seu rosto estampado e depois de algumas palavras e promessas, mais promessas, o senhor foi embora. Pensei que o senhor iria fazer um caminho diferente, sabe? Mas não fez. Aliás, nem o senhor, nem os demais candidatos que por aqui passaram tentando ganhar a simpatia do meu povo, cair nas graças da minha comunidade e levar os votos da gente. E a gente vota e recebe o quê em troca? Só vejo nos jornais, na TV, corrupção, engravatados com dinheiro na cueca! Pagamos impostos (e que não são baixos) de tanta coisa que nem sabemos pra onde vai o nosso dinheirinho suado... Pessoal falando que o país ta avançando, que o Estado não tem dívida, que a cidade está crescendo... Mas eu não vejo isso não. Se está tudo tão bem, por quê tanto caos, protestos, insatisfação? Demagogia ou o povo é mal agradecido? Fico com a primeira opção. Nós caímos na real, Senhor Futuro Chefe. Não queremos promessas. Queremos soluções. Mais que isso: queremos VOZ. Voz o ano inteiro e não apenas nos anos pares. Sim, nos anos pares. Em 2010 você veio. Em 2012 também. Vai vir agora, em 2014 que eu to sabendo. Provavelmente virá em 2016... O povo quer ser visto e ouvido todos os dias, todos os anos e não apenas quando as urnas eletrônicas viram manchete. Falando em manchete, o senhor deve ter visto nos jornais que dias desses, dois homens morreram aqui. Tráfico de drogas, comando das bocas de fumo. Senhor Futuro Chefe, a violência aqui está terrível! Não se pode nem mais curtir um samba no Bar do Noca. Minha roupa de malandro eu nem visto mais, com medo da milícia. É, Senhor Futuro Chefe, a polícia ta aqui no Morro, mas acha que todo mundo que vive aqui é bandido. Poxa, eu sou trabalhador! Ralo o dia inteiro para sustentar a minha casa e a minha mulher. Quero dizer, ex-mulher. Eu não ia falar aqui, Senhor Futuro Chefe, mas eu preciso fazer esse desabafo. Minha amada, Rosa, se foi. Não, mas não pense que é morte não. Se foi embora do barraco. Cheguei em casa do serviço (depois de tomar aquela ceva bem gelada no bar) e ela não estava mais. Fazia dias que ela me dizia que ia embora. Mas eu não acreditava. Sabe o motivo dessa tristeza? Falta de estrutura, Senhor Futuro Chefe. Não sei se o senhor se lembra, mas aquele esgoto à céu aberto que corria por aqui, e que até teve promessa de ser tampado? Pois então, continua aberto. A ajuda para reforma das casas que foram destruídas por causa dos deslizamentos de terra, da última enchente? Pois então, nunca chegou aqui. E olha que nós vimos a notícia dos milhões que foram liberados para essas obras. Aí era o senhor prometendo pra mim que ia melhorar, eu prometendo pra nega Rosa que a vida ia melhorar, mas nem o senhor e nem eu cumprimos com as nossas palavras. Resultado: Rosa foi embora e só volta depois que o barraco estiver direitinho pra ela morar. Olha a minha situação, Senhor Futuro Chefe!... Quase adoeci de amor. Mas minha doença não foi mal de amor. Foi gripe mesmo. E quando eu pensei em ir no postinho consultar, advinhe só: fechado. E uma placa pequena, colada na porta, dizia: "falta de médicos, falta de medicamentos..." Falta de respeito, viu, Senhor Futuro Chefe. Saúde é coisa séria, não se brinca! Pra me curar, fui no terreiro do pai Jair. Ah, Senhor Futuro Chefe, não mal que meu pai Xangô não cure. Kaô! Ele é o orixá da justiça, do fogo, do trovão! E sei que o machado dele vai mandar pra longe todos esses males... Mas não pense que meu caso foi o único, Senhor Futuro Prefeito. A maioria das pessoas, na fila daquele posto de saúde, recorreu a outros lugares. Uns foram para o hospital geral da cidade e aí deu aquela superlotação noticiada em todos os jornais. Outros, foram orar para seus deuses, pedir ajuda aos céus. Sim, Senhor Futuro Chefe, aqui a gente acredita numa luz divina, que vá nos guiar aonde for para que nossos caminhos se abram! Falando em caminhos que se abrem, aquela rua que está para ser asfaltada, continua lá, esperando o asfalto, Senhor Futuro Chefe, promessa de anos... Não passa mais ônibus lá. Aliás, não passa mais ônibus em lugar nenhum aqui, pois o que estamos usando para o transporte são sucatas que não servem mais para a cidade e aí mandam pra gente, como se fossem restos de comida aos animais. Transporte decente também é direito de todos! Até as crianças já sabem o que precisa melhorar na comunidade. Na escola, que precariamente faz de tudo para levar uma boa educação aos pequenos e aos jovens, todos os dias esse assunto está em pauta, na boca dos alunos. Falta isso, falta aquilo. Falta professores... Falta muita coisa e o que a gente vê é que sobra descaso com a educação daqueles que serão o nosso futuro. E quando eu falo nosso, eu incluo o senhor também. O Senhor Futuro Chefe deve estar achando que aqui no Morro só tem tragédia, sendo até um deboche ele se chamar Morro da Alegria. Mas sabe por que se chama Morro da Alegria? Porque foi aqui, lá no início da cidade, bem nos primórdios mesmo, que os negros chegaram aqui, libertos da escravidão. O som dos tambores ecoavam a noite inteira. Era festa para comemorar a liberdade! Os brancos, preconceituosos, ficavam lá embaixo na vila, só ouvindo a alegria dos tambores. Pobre coitados, loucos para subir o morro e compartilhar da alegria que vinha de cá, mas não faziam isso com medo de se misturar. Mas hoje já tem gente que sobe o morro e não apenas em época de eleição, viu, Senhor Futuro Chefe? Temos uma rota de turismo! Daqui se enxerga toda a cidade. E à noite, parece que as estrelas do céu estão agora no chão, iluminando a cidade. A gente se diverte muito por aqui. Tem time de futebol, aliás, o campeão do último campeonato municipal. O goleador, foi do nosso time. O goleiro menos vazado, é daqui da comunidade também. E a melhor torcida? Ah, essa foi a nossa com orgulho! Criamos uma pequena associação de cultura, para homenagear os artistas surgidos daqui do morro, que ajudaram a moldar esse novo cenário cultural da cidade, mas que sofrem o preconceito por serem daqui e morarem aqui ainda. Isso se chama preservar sua raiz! Raiz que vem do gueto, na rima de pura poesia social saída das batidas do hip hop, servindo de arma contra os males da vida. O balanço do funk das ladeiras do meu morro, Senhor Futuro Chefe, hoje está sendo dançado nos altos salões aí de baixo. Estão usando nossa cultura do rap, versando contra as mazelas que esse povo enfrenta pra seguir adiante. Seguir adiante, por um caminho colorido, tal qual o grafite que redesenha o cenário urbano, com formas, cores, traços fascinantes. E por favor, Senhor Futuro Chefe, não confunda grafite com pichação! Grafite é arte, pichação e crime e o pessoal daqui condena também. Condenamos também a hipocrisia com a nossa cultura popular. Querem acabar com o nosso samba, Senhor Futuro Chefe! As festas tem hora pra começar e pra acabar! Não se pode mais sambar com a luz da lua e encerrar com os raios de sol... Mas engraçado é que quando chega o carnaval, são os primeiros a querer destaque no desfile... Mas na hora de ajudar a nossa escola e as co-irmãs, ninguém sabe de nada, ninguém pode... Mas nós aqui temos poder! Nossa escola de samba também ensina a viver. Nossa escola nos dá alegria, Senhor Futuro Chefe. Esse pavilhão que cobre como manto toda uma comunidade aguerrida, nos enche de orgulho de ser tantas vezes campeã e também símbolo de resistência, herança dos nossos ancestrais, que libertos, subiram o morro para criar uma vida nova. E agora, anos depois, o Morro desce o asfalto para pedir melhores condições para que essa nova vida, idealizada no passado, seja realmente concreta no futuro, mas já sendo trabalhada agora, no presente. Depois de tudo o que eu já relatei aqui pro senhor, não acha que está na hora de ouvir a gente um pouco, de verdade? Faça como o maestro Antônio Carlos Jobim. "O morro não tem vez, e o que ele fez já foi demais... Mas olhem bem vocês, quando derem vez ao morro, o mundo inteiro vai cantar". Queremos cantar os nosso direitos, clamar por respeito e dignidade! Queremos alcançar a paz através do exercício da democracia. Não são apenas votos que o senhor está, Senhor Futuro Chefe. São vidas de milhares e milhares de pessoas que depositam em você, a confiança de um lugar melhor para viver. E falando em lugar melhor, peço que o senhor cumpra com a sua promessa, para que eu cumpra com a minha, para que finalmente, a minha amada Rosa volte pra cá. Aí sim, o morro vai ter vez e meu coração será feliz outra vez. Bom mandato, Senhor Futuro Chefe. Estarei de olho! Forte abraço! Zé Pantera. Comissão de Carnaval |
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