Não mudei as raízes do carnaval! Somente as coloquei
em vasos mais bonitos...
João
Clemente Jorge Trinta nasceu em 23 de novembro de 1933 na cidade de São Luís do
Maranhão e sendo de família pobre, desde pequeno
trabalhou duramente para suprir suas necessidades
financeiras. As dificuldades eram grandes, porém sempre
lutou para ter uma vida modesta. No Maranhão, João
participou de um grupo de amigos intelectuais, que sempre
se reunia para discutir idéias. Desse grupo também
participaram nomes como José Sarney e o poeta Ferreira
Gullar. Alguns anos mais tarde, o maranhense passou a
trabalhar como escriturário de uma empresa e em 1951,
ganhou uma transferência dessa empresa para uma filial
no Rio de Janeiro. Já no Rio, Joãosinho Trinta, como
era conhecido, passou a estudar balé na academia de
Eduardo Sena. Pouco tempo depois, conseguiu passar num
concurso público para trabalhar como cenógrafo no
Teatro Municipal do Rio de Janeiro. No Teatro, o
bailarino montou o cenário de inúmeras óperas, como,
por exemplo, “Tosca” (pronuncia-se tósca),
“Aída” e “O Guarani”.
Em
1965, Arlindo Rodrigues, nome consagrado do Teatro
Municipal que atuava como carnavalesco do Salgueiro,
decidiu chamar o maranhense para integrar a equipe de
aprendizes de Fernando Pamplona, grande personalidade da
escola que confeccionava os carnavais da agremiação. No
ano anterior, Pamplona já havia pedido a Joãosinho para
fazer alguns desenhos de carros para o Salgueiro e como
havia gostado intensamente, dessa vez, grande parte do
desfile salgueirense de 65 seria desenvolvida por ele. O
enredo se chamava História do Carnaval Carioca,
baseado num livro da pesquisadora Eneida de Moraes. Foi
um desfile belíssimo, de longe o melhor do ano e que
resultou de cara num campeonato para o Salgueiro.
Joãosinho Trinta acabou ficando na escola tijucana,
sendo também um dos maiores responsáveis pelos títulos
de 1969 e 1971.
Depois
do carnaval de 1972, Fernando Pamplona saiu do Salgueiro
e toda sua equipe se desmoronou. Porém Joãosinho
Trinta, juntamente com a cenógrafa Maria Augusta, ficou
na escola da Tijuca e continuou desenvolvendo carnavais
na agremiação. O enredo de 1973 se chamaria Eneida,
Amor e Fantasia e novamente falava da escritora
Eneida de Moraes. Só que ao contrário do desfile de
1965, o enredo falava da vida e obra de Eneida e não
apenas de um de seus livros. O carnavalesco foi até
mesmo ao Pará para recolher material sobre a infância
da pesquisadora. A diretoria da escola havia investido
muito naquele desfile financeiramente e o conhecido
“Joãosinho das Alegorias” (apelido que ganhou
pelo sempre bom gosto na confecção de carros
alegóricos) não poderia decepcionar. A primeira parte
do desfile falava da cultura do estado do Pará, local
onde Eneida havia nascido, e citava lendas paraenses,
comidas típicas e a Festa do Círio de Nazaré. O
restante do desfile contava sobre a vida artística da
escritora, fazendo alusões a toda sua obra literária e
suas pesquisas sobre o carnaval carioca. O Salgueiro
entrou com força máxima na avenida e fez uma
apresentação belíssima, um dos melhores momentos
daquele ano. A agremiação conseguira um agradável 3º
lugar, posição merecida pela escola tijucana.
Para
o carnaval de 1974, a dupla Maria Augusta e Joãosinho
Trinta decidiu fazer um enredo chamado O Rei da
França na Ilha da Assombração e tudo girava em
torno do sonho do rei-menino Luís XIII imaginando como
seria a expedição da esquadra francesa nas terras
brasileiras, onde o império francês gostaria de fundar
uma grande colônia, a França Equinocial. Esse tema deu
a João a possibilidade de recordar um pouco de seu
passado, já que o cenário do enredo era justamente o
Maranhão, onde o carnavalesco havia nascido. Grande
parte do desfile foi baseada nas lendas que as pretas
velhas contavam às crianças de São Luís. Entre as
principais lendas, estava a do cortejo de assombrações,
acompanhado pelo touro negro coroado, na Praia dos
Lençóis e a da escrava que havia se transformado em
Nhá Jança, uma serpente de prata que até hoje rodeia a
cidade de São Luís. Toda comunidade salgueirense se
empenhou muito num espírito de união para conseguir
fundos para investir no desfile de 1974, organizando
inúmeras festas e rodas de samba para garantir o
dinheiro suficiente. O Salgueiro também contou com
grande participação do figurinista Viriato Ferreira,
criador de muitas das fantasias. A escola entrou na
avenida com pinta de campeã. Acontece que o João
investiu muito em fantasias e alegorias que davam um
efeito altamente luxuoso. O carnavalesco fez um desfile
numa grandiosidade visual muito forte. Era algo tão
rico, tão impactante, tão esplendoroso, que chegava a
doer os olhos dos espectadores! Via-se apenas um
prenúncio de uma nova era, que estava apenas começando
a despontar no carnaval carioca. Joãosinho Trinta
também investiu num desfile mais compacto, com um
número reduzido de componentes para não atrapalhar a
evolução da escola. A agremiação se preocupou mais
com uma bela estética do que com um contingente elevado.
O Salgueiro foi ovacionado do início ao fim de seu
desfile. Todo o público cantava o samba, que já era
forte, com muita animação. As alegorias e fantasias
estavam primorosas, dando um efeito visual de vermelho e
prata admirável. A escola tijucana terminou seu desfile
sob os gritos de “já ganhou!” e estava óbvio
que aquele momento era único na história do carnaval. O
Salgueiro ganhou não só o Estandarte de Ouro de melhor
escola, como um merecido campeonato.
Em
1975, Maria Augusta e Joãosinho Trinta escolheram o
enredo O Segredo das Minas do Rei Salomão. Esta
temática era revolucionária, pois desde 1938, era
completamente proibido uma escola de samba desfilar com
um enredo internacional. Por mais que uma escola
abordasse um tema estrangeiro, nele sempre deveria contar
algum ponto de brasilidade. Mas a dupla de carnavalescos
usou a esperteza e tentou complicadamente driblar os
olhos dos jurados. Mas o Salgueiro enfrentava problemas
graves na época. A agremiação estava sem quadra, sem
dinheiro, cheia de problemas internos e ainda recebendo
ameaças dos traficantes do morro. João foi obrigado a
procurar sucata com os amigos em lixões para realizar
seu desfile. Essa revolta deu origem a uma frase que até
hoje causa polêmica: “Pobre gosta de luxo! Quem
gosta de miséria, é intelectual!”. Mesmo assim, o
Salgueiro veio fez um desfile luxuosíssimo, novamente
esbanjando do vermelho e do prata. Joãosinho deu um show
de originalidade, sempre enchendo a visão do público,
da crítica e dos jurados. Não faltaram camelos, tendas
árabes, palácios, pirâmides, tesouros e bigas puxadas
por zebras. O desfile primoroso do ponto de vista
estético, que empolgou toda avenida. E na apuração,
foi confirmado o que já era de se esperar: o Salgueiro
novamente levanta o caneco, conseguindo o único
bicampeonato de sua história.
Durante
o ano de 1975, o bicheiro Anísio Abraão David, que até
então era mangueirense, decidi do nada bancar a então
pequena Beija-Flor de Nilópolis, uma modesta escola de
samba, recém-chegada no Primeiro Grupo, cuja sede ficava
a aproximadamente 27 quilômetros do Rio de Janeiro. A
Beija-Flor havia conseguido subir para o Grupo 1 em 1973
e conseguia se manter nele à base de enredo que
exaltavam os “feitos” do regime militar. Porém
depois da vinda do bicheiro, a agremiação começou a
investir euforicamente no carnaval de 1976. Anísio
convidou Joãosinho Trinta e Laíla, além de outros
nomes do Salgueiro, para a Beija-Flor realizar seu
próximo desfile. O enredo se chamaria Sonhar com Rei
dá Leão, falando justamente da contravenção do
jogo do bicho.
Quando
a Beija-Flor entrou na avenida, todo o mundo do samba se
manteve estático e ficou claro que jamais ninguém iria
esquecer aquela manhã de sol. Nunca antes no carnaval
carioca se viu um desfile tão luxuoso quanto aquele.
Joãosinho Trinta preparou um desfile gigantesco e todo o
público olhava impactado todo aquele esplendor
fantástico. As fantasias eram riquíssimas, de um bom
gosto infinito. Elas estavam leves, criativas e tinham
uma comunicação muito forte com o público. As
alegorias eram de longe as maiores já apresentadas no
carnaval carioca até então, com espaço suficiente para
colocar inúmeros destaques elegantes. Aliás, colocar
destaques em carros alegóricos foi exatamente uma das
características mais marcantes do João. O que mais
impressionava não era nem o luxo nem a extravagância da
Beija-Flor, mas sim como uma escola até então pequena
havia se transformado tão bruscamente de um ano para o
outro. Toda enredo girava em torno de uma alegoria
principal, que trazia um casal proletário dormindo,
sonhando com 25 animais do jogo do bicho. Depois seguiram
várias alas de fácil compreensão, exaltando animais
como o avestruz, coelho, burro, veado, borboleta, pavão,
entre outros. O desfile também fez uma singela homenagem
a Natal da Portela, eterno bicheiro de Madureira que
havia falecido no ano anterior. Foi um momento
inesquecível do carnaval carioca! Um desfile
revolucionário, que viria a mudar completamente os rumos
do carnaval. No dia da apuração, deu Beija-Flor na
cabeça, um título que o povo já havia sentido chegar
desde o dia do desfile. Pela primeira vez em 39 anos, o
campeonato não foi uma do chamado “Bloco das Quatro
Grandes” (Mangueira, Salgueiro, Portela e Império
Serrano). Além disso, foi a primeira vez na história
que uma escola de samba de fora da cidade do Rio do
Janeiro foi campeã. Joãosinho Trinta cumpriu muito bem
seu papel! No mesmo ano, o carnavalesco também fez o
desfile do Império da Tijuca no Grupo 2. A escola
sagrou-se campeã, participando do Grupo 1 em 1977.
Em
1977, Joãosinho Trinta decidiu recordar antigos
carnavais, com o enredo Vovó e o Rei da Saturnália
na Corte Egipciana. A idéia baseou-se no enredo do
rancho de Ameno Rosendá para o carnaval de 1908, falando
da Corte Egipciana. A escola logo entrou na avenida sob
os tradicionais gritos de “já ganhou!” e a
cada momento que se passava, ficava cada vez mais clara
essa possibilidade. A Beija-Flor mostrou uma seqüência
irrepreensível de fantasias e alegorias, todas com um
acabamento deslumbrante. Os carros, todos banhados em
azul, branco e prata, traziam alguns dos mais ricos
destaques, cobertos com figurinos impecáveis. As
fantasias, todas suntuosas, faziam referências ao
entrudo, ao baile de Veneza, aos festejos da Roma Pagã,
às grandes sociedades, entre outros. Realmente, foi o
desfile mais animado do ano, que acabou resultando num
digno bicampeonato.
Em
1978, o carnavalesco desenvolveu o enredo A Criação
do Mundo na Tradição Nagô, um tema yorubá de
natureza riquíssima, baseado no duelo de amor dos deuses
Obatalá e Odudua na dinastia de Ifé e das três
princesas africanas responsáveis pela difusão da
cultura nagô no Brasil (Ya Calá, Ya Detá e Ya Nassô).
Logo na armação da escola, Joãosinho gritou nos
microfones: “Quando ganhamos em 76, disseram que foi
por acaso. Ganhamos outra vez em 77 e disseram que foi
por acaso. Agora, contamos com vocês para ganhar no
gogó. No gogó!”. Acontece que Joãosinho Trinta
recebia inúmeras críticas pelo fato de fazer desfiles
mais baseados na animação e no luxo do que na própria
emoção. Já para 1978, a Beija-Flor gostaria de mostrar
seu chão, seu povo, suas raízes! O carnavalesco ensaiou
toda escola sob segredo, deixando apenas a mensagem que
aquele ano seria muito diferente dos anos anteriores.
Toda comunidade de Nilópolis se empenhou muito para
fazer um desfile glorioso, recheado de emoção, digno de
um tricampeonato. E aquele foi sem dúvida o melhor
desfile do ano e um dos melhores da história da
Beija-Flor! A agremiação de Nilópolis novamente fez um
desfile belíssimo, extremamente bem-acabado e, como de
praxe, luxuosíssimo. Só que todo o luxo ficou muito
mais admirável quando unido com a garra do povo de
Nilópolis. E foi essa a tão comentada surpresa: era a
comunidade nilopolitana desfilando! Todo povo que havia
trabalhado o ano inteiro para o sucesso da Beija-Flor via
o resultado de tanto esforço. Joãosinho Trinta também
foi obviamente o personagem principal do evento, que
trouxe um deslumbre de fantasias banhadas em azul,
dourado e prata. As alegorias, cheias de seus
característicos destaques luxuosos, também tinham uma
comunicação inesquecível com o público. A Beija-Flor
fez um desfile histórico, que recebeu o Estandarte de
Ouro de melhor escola. Na apuração, a escola de
Nilópolis acabou se sagrando tricampeã, algo que todos
já esperavam.
Em
1979, buscando o tetracampeonato, a Beija-Flor de
Joãosinho Trinta veio a desfilar com o enredo O
Paraíso da Loucura, uma verdadeira viagem pelo
mirabolante imaginário do carnavalesco. João decidiu
apostar naquilo que havia dado muito certo no carnaval
anterior: a garra do povão de Nilópolis. Durante toda
temporada pré-carnavalesca, a agremiação de Nilópolis
era a favorita ao título, numa auto-suficiência
extremamente exagerada. O problema é que escola encheu
seu desfile com gente demais. As alas tinham contingentes
absurdos, algo que prejudicaria por completo o desfile da
Beija-Flor. Foi uma passagem muito desorganizada,
mostrando que o honorável Laíla teve problemas em 1979.
Além disso, as fantasias e alegorias vieram muito mais
pobres que nos anos anteriores. Os chapéus da bateria e
do mestre-sala, por exemplo, tinham exatamente o mesmo
desenho que os de 1978. Joãosinho Trinta também errou
feio na confecção do visual da escola. A Beija-Flor
apresentou um seqüência de carros horríveis,
grotescos, pesados e exagerados. Talvez esse desastre
tenha sido causado pela ausência do figurinista e fiel
escudeiro, Viriato Ferreira, que havia ido para a
Portela. Por incrível que pareça a Beija-Flor sagrou-se
vice, num desfile digno de uma colocação mais mediana.
Para
1980, o carnavalesco decidiu revidar a
“injustiça” do ano anterior. Certa vez, João
perguntou a uma criança o que ela faria se pudesse
realizar todos seus sonhos. E a criança respondeu
ingenuamente: “Faria o sol brilhar à
meia-noite!”. Foi justamente daí que saiu o enredo O
Sol da Meia-noite, uma Viagem ao País das Maravilhas,
abordando todo universo do imaginário infantil. O
desfile foi aberto com um belíssimo carrossel, que teve
um impacto significativo muito grande. Seguiram-se
belíssimas alas, fantasiadas dos característicos azul e
prata da escola de Nilópolis. Também houve perfeita
integração do público, que recebia bem o alto astral
dos componentes da agremiação. Outro fator importante
foram os tripés, representando várias figuras dos
sonhos infantis. A Beija-Flor acabou sendo campeã (junto
com a Imperatriz e Portela). Era o quarto título da
escola.
Em
1981, Joãosinho Trinta escolheu o enredo Carnaval do
Brasil, a Oitava das Sete Maravilhas do Mundo. Além
de ser uma homenagem ao carnaval brasileiro, lembrou
todas as sete maravilhas do mundo antigo, alistadas pelo
escritor grego Antípatro de Sídon. Mas João havia
cometido um erro feio. O desfile fez alusões às
seguintes maravilhas: Jardins Suspensos da Babilônia,
Colosso de Rodes, Templo de Diana, Farol de Alexandria,
Estátua de Zeus, Pirâmides do Egito e Muralha da China.
Só que a Muralha da China não é uma das sete
maravilhas do mundo, mas sim o Mausoléu de Halicarnasso!
Apesar do erro gravíssimo, uma coisa era certa: foi um
desfile digno de entrar para a lista das sete maravilhas.
João Trinta apresentou fantasias riquíssimas e carros
gigantescos, de forte comunicação com o público. As
sete maravilhas foram lembradas com um acabamento solene,
planejado nos mínimos detalhes. Todos componentes
cantaram o samba com empolgação, mostrando a garra de
sempre. A Beija-Flor ficou em segundo lugar, perdendo
apenas para o desfile arrebatador da Imperatriz. Muito
justo!
Para
1982, o já consagrado carnavalesco desenvolveu o enredo O
Olho Azul da Serpente, falando da invasão holandesa
em Pernambuco no século XVI, sempre exaltada na
literatura de cordel do Nordeste brasileiro. Como
curiosidade, vale a pena lembrar que o título do enredo
foi muito elogiado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade.
“O título já é poesia! Só um poeta poderia
observar de imediato essa particularidade da serpente: os
olhos azuis!”, como averiguou o poeta. Voltando ao
assunto, aquele ano foi extremamente doloroso para
Joãosinho Trinta. O júri decidiu fazer quase uma
heresia com o carnavalesco, que foi a proibição
completa de destaques humanos em carros alegóricos.
João Trinta foi justamente a pessoa que mais colocou
destaques em alegorias e essa estranhíssima regra seria
um golpe baixo contra seu trabalho na Beija-Flor.
Supercontrariado, o carnavalesco desobedeceu a
restrição e colocou os benditos destaques nos carros da
escola. A Beija-Flor fez um dos seus desfiles mais
bonitos de sua história, numa elegância invejosa. Todas
as fantasias cintilavam na Marquês de Sapucaí, dando um
impacto riquíssimo, no ápice da palavra. Logo de
início, a agremiação de Nilópolis foi, como sempre,
ovacionada pelo público nas arquibancadas, que a recebia
com os gritos de “já ganhou!”. Foi uma
apresentação maravilhosa, um dos melhores momentos do
ano! Porém o júri não gostou nada da desobediência da
escola em relação à presença de destaques. A
Beija-Flor perdeu muitos pontos na apuração e mesmo
aclamada como campeã, ficou num injusto 6º lugar, a
segunda pior colocação do Joãosinho na escola.
Em
1983, a Beija-Flor desfilou com o enredo A Grande
Constelação das Estrelas Negras, uma tradicional
homenagem a grandes negros da história do Brasil, como
Pelé, Grande Otelo e Clementina de Jesus. João
trabalhou num desfile baseado nas cores da escola (azul e
branco), com pequenas relevâncias de dourado e prata. As
fantasias, em especial as das baianas e do casal e
mestre-sala e porta-bandeira, estavam como sempre
belíssimos, com minucioso luxo aparecendo em cada
mínimo detalhe. As alegorias, depois da desgraça do ano
anterior, se compactaram, justamente para não causar
confusão com nenhum dos jurados. Também merece destaque
os tripés, típicos de muitos desfiles do Joãosinho,
que ficavam nas laterais das alas. Foi um desfile de
grande comunicação com a massa popular e foi com
certeza um dos grandes momentos de 1983. Mas apesar de
existirem apresentações superiores ao da Beija-Flor, a
escola acabou sendo a campeã de 83 (pela última vez com
Joãosinho Trinta). Para tentar o bicampeonato em 1984,
Joãosinho preparou o enredo O Gigante em Berço
Esplêndido, falando sobre as riquezas do Brasil e as
possibilidades de transformá-lo em uma grande nação. A
Beija-Flor realizou um belíssimo desfile, cheios de bons
momentos e conseguiu admiração popular. A escola
nilopolitana ficou em 3º lugar no desfile de
segunda-feira e em 5º no placar final.
Em
1985, o enredo da Beija-Flor viria a se chamar A Lapa
de Adão e Eva. A idéia do interessantíssimo tema
surgiu quando Joãosinho Trinta descobriu que o Pão de
Açúcar era uma das formações rochosas mais antigas do
mundo. O carnavalesco deduziu que o paraíso do Jardim do
Éden foi então o próprio Rio de Janeiro, na região do
bairro da Lapa. Se caso fosse assim, Adão seria o
primeiro malandro da Lapa, Eva seria a Garota de Ipanema
e Madame Satã seria a diabólica serpente. O enredo
também tinha base nas inscrições fenícias deixadas na
Pedra da Gávea. Segundo o João, os fenícios foram os
inimigos dos Tenentes do Diabo. O Rio acabou se
transformando numa imensa Cidade de Babel, local onde
seus habitantes eram intensas vítimas dos pecados
capitais, oriundos dos malditos modismos da cultura pop,
super-influentes no Brasil naquela época. Na avenida, a
Beija-Flor foi prejudicada pelo sol claro. Toda
iluminação estava preparada para a noite, porém o
horário previsto para o desfile acabou sendo atrasado e
infelizmente, as cores prateadas das alegorias perderam
seu brilho sob a luz do dia. Mesmo assim, a escola de
Nilópolis arrepiou e foi muito aclamada por todos que
assistiram o desfile com atenção. A começar pela
comissão de frente, formada por um grupo de mulheres
altas que partiu os corações de muita gente. Depois
vieram fantasias e alegorias brilhantes, repletas de
originalidade. Foi um espetáculo divertidíssimo, que
impressionou meio mundo com a riqueza de detalhes de um
enredo tão interessante. O paraíso do livro bíblico
Gênesis foi apresentado com muita competência com pelo
deslumbrante trabalho do João, que como sempre, investiu
muito no luxo. A Beija-Flor foi dignamente vice, pois
ainda sim seria impossível deter a antológica Mocidade
de Fernando Pinto.
Em
1986, Joãosinho Trinta, que completava dez anos como
carnavalesco da Beija-Flor, decidiu levar o enredo O
Mundo é uma Bola, falando da história do futebol no
Brasil e no mundo. Naquele ano, o carnavalesco pode
contar novamente com o figurinista Viriato Ferreira, que
havia voltado à escola. Enquanto a Beija-Flor ainda
despontava seu início de desfile no Setor 1 da Sapucaí,
famigerados raios cintilavam assustadoramente no
horizonte e uma desagradável chuva começou a cair na
avenida. Pouco tempo depois, a chuva virou uma terrível
tempestade, deixando uma sensação de perplexidade no
ar. A Beija-Flor tinha até a possibilidade de esperar o
temporal estiar para iniciar sua apresentação, porém o
patrono Anísio Abraão já havia dado a palavra e a
Beija-Flor teve de partir para a luta, mesmo contrariando
muita gente da escola. O abre-alas era monumental,
trazendo uma gigantesca bola de futebol representando o
globo terrestre. Já o segundo carro, lembrava o sol e a
lua, que na visão do carnavalesco, eram as inspirações
para a criação das primeiras bolas. Ambos os carros
integravam a primeira parte do desfile; parte essa que
lembrava as possíveis origens do futebol nas antigas
civilizações. Via-se ali uma seqüência maravilhosa de
fantasias, sempre esbanjando muito luxo. Depois,
Joãosinho preparou um grande setor lembrando a
trajetória do futebol no Brasil. O público ficou
impactado com belíssimos carros e criativas fantasias.
Já naquele momento do desfile, a água da chuva já
estava na altura dos joelhos, algo que mesmo assim era
quase insignificante, pois era impossível abaixar o
astral dos componentes, que cantavam o samba na maior
animação. O desfile foi acabando com uma bela
exibição de alegorias lembrando tradicionais times
cariocas, como Vasco, Flamengo, Botafogo, entre outros.
Aquela foi uma apresentação única na história do
carnaval e a Beija-Flor terminou seu desfile ovacionada
sob os gritos de “é campeã!”. Ironicamente, a
chuva só estiou no memento em que escola de Nilópolis
havia acabado de se apresentar. Foi um momento
irrepreensível do nosso carnaval, que mereceu o
Estandarte de Ouro ganho como melhor escola.
Infelizmente, o júri oficial não pensou da mesma forma
e a Beija-Flor ficou apenas com o 2º lugar, perdendo
para a Mangueira. O jurado Leon Hirszman tirou pontos da
escola no quesito Evolução, justo o quesito em que a
Beija-Flor havia dado um verdadeiro show. Como
justificativa, ele disse: “Jamais daria 10 para uma
escola que elogiou a revolução de 1964”. Essa e
outras ocasiões fizeram João se revoltar contra o
passado da própria Beija-Flor, que já havia feito
várias exaltações ao regime militar.
Porém,
se a Beija-Flor conseguiu animar a todos em 1986 mesmo
debaixo de chuva, não se pode dizer o mesmo sobre o
carnaval de 1987. O enredo se chamava As Mágicas
Luzes da Ribalta, contando a história do teatro. O
maranhense preparou um belíssimo desfile, com fantasias
e alegorias extraordinariamente bem-acabadas. Era um dos
carnavais mais elegantes do João, cheio de pontos
positivos. Mas infelizmente a Beija-Flor não conseguiu
empolgar e fez um desfile bonito, porém morno. Em 1988,
o carnavalesco entrou na onda de comemorar o centenário
da abolição da escravatura, que também foi enredo de
muitas escolas de samba. O enredo era chamado Sou
Negro, do Egito à Liberdade e contava a história da
raça negra desde os tempos do Império Egípcio. Aquele
foi com certeza o ápice de luxuosidade do João num
desfile de escola de samba. Nunca se viu tanto esplendor
e exuberância desfilarem na Sapucaí. Era uma estética
intensamente cara, capaz de impressionar a todos com
tanta elegância e bom gosto. Era luxo suficiente para
fazer arder os olhos do público! A Beija-Flor ficou com
a 3ª colocação, num ano em que a Vila Isabel foi
campeã com o rústico e revolucionário Kizomba, a
Festa da Raça.
Durante
toda trajetória do Joãosinho no carnaval carioca, o
carnavalesco foi atacado intensamente pelo fato de trazer
a estética do luxo aos desfiles de escolas de samba.
Mesmo se justificando, a crítica era impiedosa e o João
era o maior acusado de desfigurar as verdadeiras raízes
do samba. Mas para o desfile de 1989, o enredo da
Beija-Flor seria a grande resposta a todas essas
heresias. O tema se chamaria Ratos e Urubus, Larguem
Minha Fantasia, uma crítica a luxúria do povo
brasileiro. Só para constar, a Beija-Flor também pode
contar com o diretor de harmonia Laíla, que havia
acabado de retornar à agremiação. Logo de cara, houve
muita repulsa da diretoria da escola, que não gostou da
idéia do João e achava que a Beija-Flor iria fracassar
em 89. Porém foi uma ordem já promulgada pelo patrono
Anísio e não dava mais para discutir a idéia. Pouco
tempo antes do carnaval, a Cúria Metropolitana do Rio de
Janeiro, órgão de importância da Igreja Católica,
soube que Joãosinho Trinta traria a imagem do Cristo
Redentor caracterizado como mendigo para a Marquês de
Sapucaí. Imediatamente, um arcebispo brigou na justiça
pela proibição completa da imagem no carnaval. A Igreja
venceu e Joãosinho foi obrigado a esconder a imagem.
Momentos antes do desfile, o carnavalesco revidou e
decidiu encontrar alguma forma de colocar o Cristo
Mendigo na avenida. A diretoria colocou o Cristo dentro
de um rústico plástico preto (o mesmo material tipo
usado nas barracas dos manifestantes do MST) e João
Trinta colocou uma enorme faixa com uma frase talvez mais
impactante que a própria imagem da alegoria: “Mesmo
proibido, olhai por nós!”.
O
início do desfile foi talvez a imagem mais
impressionante do carnaval. Todos aqueles que tanto
criticaram o carnavalesco pela sua estética luxuosa,
calaram-se para reflexão. Tratava-se de uma imensa ala
de mendigos, todos vestidos com trapos velhos. A visão
conservadora de analisar um bom acabamento de fantasias
tinha que ser obrigatoriamente esquecida para julgar
aquele desfile. Era uma quantidade imensa de pessoas
fantasiadas com roupas esfarrapadas, feitas com materiais
rústicos, mas que davam um conjunto visual fantástico.
Viu-se também o abre-alas, com o Cristo coberto com a
lona preta e rodeado de mais mendigos. Tamanho choque
dado pela Beija-Flor foi suficiente para fazer todas as
arquibancadas virem a baixo. Joãosinho Trinta definiu os
mendigos como integrantes de um imenso “Bal
Masqué” (baile de máscaras em francês)
realizado pela escola de Nilópolis na Sapucaí. Para
quem não sabe, “Bal Masqué” é na verdade um
sofisticado evento de muito luxo, onde só os membros da
mais alta elite podem participar. O segundo carro,
apelidado de “O Convite”, trazia um chamado
geral a todos os revoltados com as injustiças do Brasil
e que quiserem usar o carnaval para manifestar seus
verdadeiros ideais. Mas como diz o ditado, “pau que
nasce torto, morre torto”, e o João, apesar do
impacto inicial, acabou não se rendendo e também
apresentou alegorias e fantasias altamente luxuosas. A
segunda parte do desfile era multicolorida e tinha um
belíssimo conjunto visual, confirmando cada vez mais o
sucesso da Beija-Flor. Eram críticas sociais rígidas à
polícia, ao governo, às guerras, ao sexo, à imprensa e
é claro, à Igreja. Já na metade do desfile, ocorreu
uma estranha abertura de alguns portões da avenida e
todos os espectadores que se aglomeravam nos viadutos
próximos à Sapucaí puderam invadir as arquibancadas. O
desfile terminou com uma imensa ala de garis, que na
verdade eram os próprios diretores da escola, incluindo
o próprio Joãosinho Trinta. Foi como certa vez disse
Neguinho da Beija-Flor: “Essa ala de garis era
falsa, pois na verdade ela só tinha magnata”. Esses
“falsos garis” se misturavam com o próprio
pessoal do caminhão da COMLURB que limpava a pista
naquele momento para o desfile da próxima escola. Mas
ambos os garis (falsos e verdadeiros) estavam numa
alegria gigantesca e davam imensos banhos de mangueira no
público. Foi um final de desfile mágico, um momento
apoteótico do carnaval. Um desfile emocionante,
revolucionário, visto por muitos como o melhor da
história.
A
Beija-Flor foi notícia em todos os cantos do Brasil e
Joãosinho Trinta fez merecer a todos o título de mago
do povo. Todas as escolas reconheciam que a probabilidade
do campeonato de 89 ir para Nilópolis era imensa. A
agremiação recebeu o Estandarte de Ouro de melhor
escola e de melhor enredo. Joãosinho Trinta recebeu o de
personalidade do ano. Era um título quase garantido, um
carnaval que todos saberiam que ficaria na história. Mas
quiseram os jurados que assim não iria ser
definitivamente. No final da apuração, a Beija-Flor e a
Imperatriz Leopoldinense acabaram empatadas e o critério
de desempate fora aplicado para definir a campeã. A
escola de Nilópolis havia recebido três notas 9, que
haviam sido eliminadas durante a apuração pelo fato de
serem as mais baixas de cada quesito. Já a Imperatriz
havia levado 10 de ponta à ponta e a clareza do
regulamento falou mais alto, obrigando as notas
eliminadas de Nilópolis voltarem a ser contadas no
somatório numérico final. Foi um vice-campeonato
extremamente doloroso, que fez todo Brasil chorar junto
à Beija-Flor. Um dos quesitos que mais prejudicou a
Beija-Flor foi o de samba-enredo, em que um dos jurados
tirou pontos do samba pelo fato de possuir muitas
palavras em afro. Joãosinho Trinta ficou decepcionado
com a verdadeira injustiça e até hoje, toda escola
ainda se revolta ao relembrar o carnaval de 1989. Mesmo
assim, houve uma grande festa na quadra da agremiação
comemorando o 2º lugar (festa sem motivo, pois o vice
daquele ano era muito mais para chorar do que para
festejar). No desfile das campeãs, o carnavalesco trouxe
um contingente de mendigos maior do que o desfile
oficial. João também trouxe três “Judas”,
representando os três jurados que tiraram pontos da
escola. Mas o que mais marcou aquele sábado das campeãs
foi o fato de Joãosinho Trinta ter retirado o plástico
do Cristo Mendigo. O público da Sapucaí não parava de
gritar euforicamente “Tira! Tira! Tira!”, até
que os diretores decidiram obedecer o pedido popular,
fazendo novamente outro momento histórico, mesmo já se
sabendo qual era o resultado oficial. No mesmo ano, o
carnavalesco deu a vitória à Acadêmicos da Rocinha no
Grupo de Avaliação do Acesso.
Em
1990, Joãosinho prometeu vingança! O enredo se chamava Todo
Mundo Nasceu Nu e falava sobre os caminhos da
humanidade desde os primórdios da história, passando um
belíssimo ideal de igualdade e respeito mútuo entre os
homens. Afinal, “todo mundo nasceu nu”!!! O
enredo era extremamente interessante, mas até hoje é
vítima da incompreensão, até porque o samba da
Beija-Flor para 1990 era muito confuso. A idéia veio da
proibição da “genitália desnuda” pela Liesa
após o carnaval do ano anterior, quando a ex-modelo
Enoli Lara, que havia desfilado na União da Ilha em
1989, mostrou todas suas partes íntimas da maneira mais
natural possível. O carnavalesco preparou um desfile
intensamente high-tech, cheio de efeitos especiais e
altíssimos investimentos financeiros. A Beija-Flor
entrou na avenida já com pinta de campeã, animando todo
o público de domingo. O abre-alas era gigantesco e
trazia enorme dinossauro azul com um homem de verdade na
boca. Depois, Joãosinho Trinta teve a ousadia de colocar
Jorge Lafond só de tapa-sexo sobre um belíssimo
vulcão. Um dos momentos mais impactantes daquele desfile
foi uma debochada alegoria que trazia inúmeros
políticos, como Lula, Leonel Brizola e Fernando Collor,
caracterizados com irônicos bonecos de bebês nus. Outro
momento marcante foi o belíssimo carro “Bárbaros
Modernos”, cheios de efeitos tecnológicos,
lembrando a opressão das máquinas sobre os seres
humanos. Foi outro desfile arrebatador, que não foi tão
bom quanto o de 1989, mas que merecia uma boa
colocação. Infelizmente, Todo Mundo Nasceu Nu
foi um carnaval que teve o azar de calhar no ano errado,
pois era impossível deter o sensacional “Vira
virou” da Mocidade. Joãosinho Trinta ficou
novamente com o vice-campeonato. Em 1990, João também
havia conseguido o campeonato da Rocinha no Grupo C do
Acesso.
Em
1991, a escola de Nilópolis desfilou com enredo Alice
no Brasil das Maravilhas, vindo de uma exposição
artística idealizada pouco tempo antes pelo Joãosinho.
Tratava-se de uma seqüência de críticas sociais
impiedosas, abordando a desesperança dos brasileiros
quanto o nosso futuro. João investiu muito na garra do
povo de Nilópolis para brigar por uma boa colocação,
tentando superar as tristezas do passado. A Beija-Flor
fez um carnaval gigantesco, com alegorias bonitas e boas
fantasias. Faltou, no entanto, certo efeito no
desenvolvimento dos figurinos da escola, talvez pela
ausência do amigo Viriato Ferreira, que havia ido embora
da Beija-Flor após o desfile de 1990. A agremiação
ficou com um justo 4º lugar, pois era bem obvio que não
dava para ir além desta colocação. No Acesso, o
carnavalesco novamente levantou um título à Rocinha no
Grupo B, deixando depois a escola.
Em
1992, inspirado no enredo em que a Leão de Nova Iguaçu
foi campeã do Grupo de Acesso no ano anterior, chamado Quem
te Viu, Quem TV, Joãosinho decidi fazer um carnaval
falando sobre a televisão. O tema se chamaria Há um
Ponto de Luz na Imensidão, relacionando a
transmissão de imagens da televisão com os pontos
luminosos do espaço sideral. O abre-alas era de imenso
impacto, cheio de canhões de luzes e televisores que
traziam imagens do próprio desfile. O carro também
trouxe um guincho com uma câmera na ponta, transmitindo
a imagem do próprio público ao vivo. Depois,
seguiram-se diversas alas, que apesar de apresentarem um
belo conjunto, tinham vários problemas de acabamento,
fato ausente nos desfiles anteriores da escola. Não
faltaram alusões a novelas como “Escrava
Isaura”, “Pantanal” e “Que Rei Sou
Eu?”. Infelizmente, a Beija-Flor teve vários
problemas estéticos e mesmo com a animação de seus
componentes, foi um desfile sem muito impacto, ainda mais
depois de um acidente tenebroso com foi o que havia
acabado de acontecer com uma alegoria da Viradouro. Além
disso, a escola acabou não seguindo o regulamento da
Liesa, pois Joãosinho descumpriu a restrição da Liga
quanto o nu e trouxe duas pessoas despidas, com a
“genitália desnuda”. A Beija-Flor, mesmo com
um enredo interessante, fez uma de suas piores
apresentações desde o começo do patrocínio do
bicheiro Anísio Abraão David. A agremiação perdeu
dois pontos pela presença das pessoas de
“genitália desnuda” e ainda teve o azar de
levar uma nota 7 no quesito Alegorias e Adereços do
julgador Juciê Mendes, que naquele ano havia dado
também notas baixíssimas para inúmeras escolas. A
agremiação acabou em 7° lugar, não indo para o
Sábado das campeãs. Porém, a escola poderia ter ficado
até na 5ª colocação se não recebesse tais
“sacrilégios”. Depois de fazer seu pior
carnaval até então, Joãosinho Trinta deixou a
Beija-Flor de Nilópolis. Na Beija-Flor, o carnavalesco
revolucionou a estética do carnaval carioca, além de
transformar a agremiação a numa das mais fortes escolas
de samba do Brasil.
Em
1993, foi a primeira vez em 28 anos que Joãosinho Trinta
não participou da confecção do desfile de nenhuma
escola de samba, pois estava ocupado participando do
projeto social Flor do Amanhã. Mas pouco tempo mais
tarde, o carnavalesco foi convidado para fazer o carnaval
da Viradouro de 1994. A escola de Niterói já era um
nome forte no Grupo Especial e já tinha estrutura para
levantar um campeonato. O enredo se chamaria Tereza de
Benguela – Uma Rainha Negra no Pantanal,
contando a história de uma rainha africana que havia
sido escravizada em Vila Bela (cidade do Mato Grosso) e
governou por muitos anos o quilombo Quariterê no século
XVIII. Este enredo era uma espécie de protesto
defendendo a liberdade de liderança política das
mulheres negras no Brasil, virtude ainda rara em nosso
país. E foi um desfile arrebatador! Muitos momentos
lembraram os desfiles que o carnavalesco havia feito duas
décadas anteriores no Salgueiro. Um belíssimo conjunto
visual que proporcionou notas máximas nos quesitos
Fantasia e Alegorias e Adereços. A Viradouro conseguira
o 3º lugar no placar final, sua melhor colocação no
carnaval do Rio de Janeiro até então.
Em
1995, Joãosinho Trinta bolou um de seus enredos mais
criativos: O Rei e os Três Espantos de Debret.
Tratava-se de uma homenagem à vida e obra do célebre
pintor francês Jean Baptiste Debret. O Rei, citado no
enredo, era Dom João VI, que convidou o artista para
implantar a arte erudita no Brasil. Depois, o enredo
citou os três grandes espantos que Debret teve em sua
vida. O primeiro espanto foi o que o pintor teve ao
chegar ao Brasil, quando se admirou assustadoramente com
as maravilhosas riquezas minerais, com a fauna e a flora
exuberantes e, sobretudo, com a singular mistura de
raças. O segundo espanto saiu do rico imaginário de
Joãosinho Trinta. Segundo o carnavalesco, após Debret
“descansar no Céu”, ele volta à Terra,
reencarnando como um simples cidadão comum, morador da
atual Paris, mas ainda lembrando de sua vida passada. O
segundo espanto veio à acontecer quando Debret se
apavorou com as notícias tenebrosas mostradas nos
jornais parisienses sobre as desigualdades existentes no
Brasil de hoje. Daí, Debret decidi vir ao Brasil para
confirmar pessoalmente esses fatos, quando o terceiro
espanto acontece. O francês vê que muitas notícias
são reais, porém também vê que nosso país é muito
mais que calamidades e redescobre a garra do povo
brasileiro reagindo com euforia contra os problemas
sociais. O terceiro espanto aconteceu no carnaval quando
Debret descobriu a magia das escolas de samba. Joãosinho
imaginou o Debret moderno como um turista assistindo
emocionado a Viradouro homenageando-o. A escola, com esse
enredo magistral, fez um desfile correto, multicolorido,
mas extremamente frio, apático e cheio de problemas
graves de acabamento. A Viradouro acabou ficando em 8º
lugar, perdendo pontos nos quesitos Harmonia, Evolução
e Alegorias e Adereços.
Mas
se a escola havia ido mal em 1995, nada se compararia ao
que viria a acontecer no ano seguinte. O enredo se
chamava Aquarela no Brasil no Ano 2000, falando
sobre os valores culturais do povo brasileiro e as
riquezas naturais de nossas terras do Oiapoque ao Chuí.
E foi um desfile tenebroso! A Viradouro veio cheia de
problemas técnicos, com acabamento lastimável.
Joãosinho Trinta não soube desenvolver o enredo com
clareza e isso causou uma profunda tristeza nos
componentes da agremiação. O samba até hoje é
considerado precário. A escola tinha até fantasias com
efeito, muitas com um bom acabamento, porém grande parte
das alegorias eram desastrosas, de um repúdio infinito.
Alguns momentos do desfile tiveram até impacto, como uma
das alegorias que trazia uma imensa escultura
representando uma mulata do cartunista Lan. Essa
escultura, segundo o carnavalesco, era a maior que já
havia passado no Sambódromo até então, com dez metros
de comprimento e nove de altura. Mas desfile como um todo
foi uma verdadeira tragédia! E mesmo depois desta
patética apresentação, a Viradouro continuou
enfrentando problemas. A Portela, que havia desfilado
antes da escola de Niterói, sofreu com a quebra de
vários de seus carros. Essas alegorias ficaram presas na
Praça da Apoteose, causando um terrível
congestionamento de carros alegóricos na dispersão da
escola. Logo após o desfile da Portela, as alegorias da
Viradouro, por sua vez, acabaram se prendendo em meio aos
carros portelenses, engarrafando ainda mais a Praça da
Apoteose. A própria alegoria da mulata do Lan, um dos
poucos bons momentos do desfile, ficou completamente
emperrada num dos suportes do Sambódromo, o que
danificou por completo o conjunto visual do carro. Isso
prejudicou muito todo desfile de domingo, principalmente
a Mocidade, que estava se preparando para entrar na
avenida. A Viradouro recebeu um festival de notas baixas
e Joãosinho Trinta viu seu orgulho em 13º lugar.
Depois
de levar a sua pior colocação no carnaval carioca,
fazendo a Viradouro quase ser rebaixada, o carnavalesco
foi vítima de inúmeras críticas. Entre as mais
ferozes, Joãosinho Trinta foi visto como decadente e
ultrapassado. Seu estilo de carnaval não se enquadrava
os novos tempos. Era quase um declínio de um dos maiores
magos do carnaval carioca! Porém o maranhense se manteve
firme e sabia que não se renderia tão facilmente. Para
1997, João prometeu vingança em relação à tragédia
do ano anterior. O enredo se chamaria Trevas! Luz! A
Explosão do Universo, que seria uma interpretação
carnavalizada da teoria do Big Bang e do surgimento da
vida. Mas ainda em julho de 1996, outra bomba caiu sobre
o carnavalesco. Ele sofreu uma isquemia cerebral e foi
obrigado a operar o coração. Desde os tempos da
Beija-Flor, o carnavalesco já sentia fortes dores no
peito, porém nunca parou para analisá-las e essa
isquemia serviu de alerta para a sua saúde. Aos poucos,
o João conseguiu se recuperar, mas ainda sim teve seus
movimentos do lado direito do corpo limitados,
comprometendo sua coordenação motora. Entretanto, para
sua completa recuperação, foi obrigado a mudar seus
padrões de vida, se alimentando melhor e tendo mais
horas de descanso. Em pouco menos de quatro meses,
Joãosinho Trinta já estava de volta aos barracões da
Viradouro, preparando o carnaval de 97. Foi uma
demonstração de força e de vontade de viver e o
desfile de 1997 seria a representação visual de sua
importância no carnaval carioca.
No
desfile da escola, Joãosinho mostrou todas suas armas
contra as grosseiras críticas que estava recebendo. Logo
de cara, o carnavalesco proporcionou uma visão
memorável, pois o carro abre-alas, denominado “As
Trevas”, era completamente preto, honrando o nome
que tinha. Mas o impacto viria logo depois, quando João
colocou todas as baianas vestidas de branco, gerando um
belíssimo contraste de cores. Depois vieram inúmeras
alas multicoloridas, com o azul e prata alternando com
colorações mais quentes, como o laranja e o vermelho.
Em todo momento, viu-se uma seqüência monumental de
fantasias, todas com um acabamento impecável. Além
disso, a Viradouro trouxe uma das melhores baterias do
ano, que trazia a tão falada “paradinha funk”,
que empolgou em muito todo o público das arquibancadas.
Outro momento marcante daquela apresentação foi o
belíssimo carro “A Terra”, que representava
elegantemente o planeta Terra ainda em seu estado de
formação geológica. Também houve vários setores da
escola lembrando os quatros elementos primordiais: a
terra, a água, o fogo e o ar. Foi um desfile mágico e
animadíssimo, que rendeu um merecido Estandarte de Ouro
de melhor escola à Viradouro. João conseguiu cumprir
mais uma vez seu papel no carnaval, respondendo o
pensamento preconceituoso dos críticos. A Viradouro
acabou conseguindo seu primeiro (até hoje, único)
campeonato e o Joãosinho levou seu título tão sonhado,
tirado apenas por 0,5 ponto da Mocidade em harmonia.
Em
1998, para buscar um bicampeonato, João criou o enredo Orfeu,
o Negro do Carnaval, que trazia uma interessante
assimilação de um caso de amor de um sambista de um
morro carioca com a lenda grega de Eurídice e Orfeu, o
Deus da Música. O enredo tinha forte inspiração no
filme de Cacá Diegues, “Orfeu do Carnaval”,
que inclusive tinha muitas de suas cenas gravadas no
próprio desfile da Viradouro. O carnavalesco preparou um
desfile de muito bom gosto, com fantasias e alegorias
riquíssimas, tendo as colorações da própria
agremiação como base: o dourado, vermelho e branco. Foi
outro momento mágico da escola de Niterói, inferior
apenas por muito pouco em relação ao ano anterior. O
desfile foi aberto por uma excelente comissão de frente,
representando o deus Apolo, pai de Orfeu. Houve também
várias alusões à história do carnaval, que, segundo o
enredo, era o tema campeão da Escola de Samba do Morro,
cujo “Orfeu moderno” fazia parte. O terceiro
carro, que, aliás, tinha uma belíssima coloração de
branco e prata, lembrava os ranchos da década de 40.
Depois, viu-se uma seqüência deslumbrante de fantasias,
que ajudava a aumentar mais ainda a comunicação com o
público. O samba da Viradouro era incrivelmente popular
e foi cantado com empolgação por toda Sapucaí, além
de ser levado com uma cadência maravilhosa da bateria da
escola. A última alegoria, que fora muito aplaudida pelo
público, era de fato uma das mais bonitas do ano,
representando o Orfeu como um compositor do morro (como
já dito anteriormente) e seu Olimpo como uma favela
carioca. Foi um desfile irrepreensível, cheio de
momentos magistrais, que animou intensamente o público
do Sambódromo. Contudo a Viradouro teve o azar da
porta-bandeira deixar seu chapéu cair no meio do desfile
e perdeu pontos. A agremiação de Niterói ficou
infelizmente apenas na 5ª colocação. As campeãs foram
a Mangueira e a Beija-Flor. Porém João não gostou em
nada do título dado à agremiação de Nilópolis, pois
ele já havia perdido na escola com desfiles muito
melhores. Deu os parabéns à Mangueira e ao excelente
trabalho do Alexandre Louzada na escola, mas não é
simpatizante do título da Beija-Flor.
Em
1999, o carnavalesco prepara uma vingança em relação
ao ano anterior e conta o enredo Anita Garibaldi,
Heroína das Sete Magias, uma homenagem aos 150 anos
de morte da catarinense companheira do revolucionário
Giuseppe Garibaldi. Em busca de maiores informações
sobre a vida da heroína, João viajou até a cidade de
Laguna, em Santa Catarina. O desfile de 1999 teve como
abre-alas, um imenso sabá de bruxas, baseado na lenda de
que as mulheres viravam bruxas nas noites de Lua Cheia.
Durante todo o desfile, ficou muito claro que a Anita
abordada no enredo do João era apenas um mito, pois não
tinha nenhuma relação com os verdadeiros fatos da vida
da catarinense. Para o carnavalesco, Anita Garibaldi era
uma personalidade mística descendente de índios
caribós e negros africanos, filha do espírito corsário
dos piratas e dos imigrantes italianos, além de maga,
que foi às Índias Orientais em busca de poções. Na
verdade, Joãosinho queria assimilar a imagem de Anita
com a personalidade guerreira de todas as mulheres do
mundo. Era um enredo complexo, mas que foi abordado com
muita elegância na Sapucaí, com fantasias e alegorias
maravilhosas. Foi um desfile belíssimo, que logo de cara
já havia recebido os gritos de “é campeã!”.
A Viradouro ficou merecidamente em 3º lugar. Em 2000, o
carnavalesco cria o enredo Brasil: Visões de
Paraísos e Infernos, relatando o imaginário europeu
a respeito do Brasil e fazendo uma síntese dos 500 anos
do descobrimento, num ano cujo tema de todas as escolas
de samba fora o mesmo. Novamente, João mostrou porque
veio e fez um desfile belíssimo. A escola fica em 3º
lugar. Depois daquele carnaval, João sai da Viradouro.
Para
o carnaval de 2001, Joãosinho Trinta foi chamado por
Milton Perácio para confeccionar o desfile da Grande
Rio, substituindo o carnavalesco Max Lopes. O enredo se
chamava Gentileza X, o Profeta do Fogo, contando a
história do empresário José Datrino, que havia perdido
toda família num incêndio de um circo em Niterói e
depois passou a percorrer o mundo pregando mensagens de
amor e paz. A grande surpresa, que fora guardado a sete
chaves, do João para aquele carnaval foi a vinda de um
dublê americano trinado pela Nasa para sobrevoar o
Sambódromo. O astronauta Eric Scott abriu o desfile da
escola cruzando de uma ponta a outra a avenida com uma
mochila voadora, movida à peróxido de hidrogênio. Esse
vôo marcou mais uma vez o nome de Joãosinho Trinta na
Marquês de Sapucaí e levou todo o público ao delírio
com a apresentação da Grande Rio. E aquele momento já
havia dado uma trabalheira muito grande à escola! Só o
combustível da máquina, por exemplo, demorou cerca de
um mês para vir de navio para o Brasil, pois como era um
material muito corrosivo, não podia vir da avião. Mas
não foi somente esta atração que marcou o desfile da
escola. A começar pela comissão de frente, que
representava o fogo e o alvorecer do novo milênio e que
teve uma comunicação gigantesca com o público da
Sapucaí. Depois veio o belo abre-alas, todo acabado em
prata e que possuía uma grua levando a Globeleza
Valéria Valenssa até próximo do público nas
arquibancadas. A escola de Caxias veio com um conjunto de
fantasias e alegorias mágicas, todas muito bem-acabadas,
cheias de efeitos visuais. Foi um amanhecer
inesquecível! Infelizmente, a Grande Rio perdeu três
pontos por seu desfile ter o número de alegorias maior
do que o permitido. A escola ficou em 6º lugar.
Em
2002, o carnavalesco decidiu novamente relembrar suas
terras maranhenses, com o enredo Os Papagaios Amarelos
nas Terras Encantadas do Maranhão. Foi um desfile
muito bonito, cheio de efeitos especiais, contudo ainda
sim frio e insosso, sem muita empolgação tanto do
público quanto dos componentes. Entre os grandes
momentos, a escola de Caxias contou novamente com a vinda
do astronauta Eric Scott, que sobrevoou o Sambódromo e
entusiasmou todo o público tal como no ano anterior.
Ficou com sorte em 7º lugar. Para 2003, o carnavalesco
criou o enredo O Nosso Brasil que Vale, falando
sobre as riquezas minerais do Brasil. Mas na verdade, o
enredo era uma implícita homenagem ao aniversário de 60
anos da Companhia Vale do Rio Doce e o título não
deixava dúvidas de quem estava sendo exaltada. A Grande
Rio foi a única escola de samba que recebeu patrocínio
financeiro naquele ano (cerca de R$ 2,5 milhões). Apesar
da aparente merchandising, foi um desfile arrebatador! A
comissão de frente retratava de forma magistral os tipos
de minérios existentes nas terras brasileiras. Eram
quinze bailarinos de corpos pintados de diferentes cores,
representando o ouro, a prata, o cobre, a bauxita, o
ferro, o bronze, entre outros. Houve alegorias
representando as reservas de minérios de ferro de
Carajás e o paradisíaco Eldorado brasileiro. O
penúltimo carro causou impacto repentino na Sapucaí,
pois trouxe um condenado encapuzado numa cadeira
elétrica, com direito a uma fumaça saindo da cadeira.
Atrás do condenado, João colocou a imagem de um
temível demônio. À frente da alegoria veio uma frase
em néon dizendo: “Para o futuro chegar, vamos matar
a fome”. Foi um desfile fantástico, de um impacto
surpreendente, que sacudiu o público da Sapucaí. A
Grande Rio chagou ao 3º lugar, participando pela
primeira vez do Sábado das Campeãs.
Para
2004, Joãosinho Trinta decidiu fazer um enredo sobre
sexualidade chamado Vamos Vestir a Camisinha, Meu Amor.
Mas o carnavalesco, assim como em 1989 com “Ratos e
Urubus” na Beija-Flor, enfrentou problemas com a
Igreja Católica. A Igreja descobriu que a agremiação
traria várias alegorias trazendo explicitamente imagens
do ato sexual e entrou na justiça pedindo pela
proibição dessas reproduções. A Igreja venceu e
Joãosinho foi obrigado a esconder tais carros
alegóricos. O carnavalesco preparou um desfile bem
criativo, mas o tema até hoje é repudiado por muitos
sambistas. A escola não conseguia agradar ninguém na
temporada pré-carnavalesca pelo tema esdrúxulo e quase
nas vésperas do desfile, João foi demitido da escola de
Caxias. Dessas imagens “pornográficas”, muitas
entraram na avenida cobertas, com faixas escritas
“Censurado”. Foi um desfile até bonito, porém
atravessado e extremamente grosseiro, até porque era um
enredo muito pesado. O carnavalesco quis fazer o mesmo
impacto que já havia feito na Beija-Flor em 89, todavia
acabou errando gravemente. A Grande Rio ficou em 10º
lugar e ficou claro que aquele foi, sem a menor dúvida,
um dos piores carnavais do Joãosinho.
Depois
de um carnaval lamentável, a Vila Isabel, que havia
acabado de ser campeã do Acesso, convida o carnavalesco
para confeccionar o desfile de 2005, tentando fazer a
escola se manter no Grupo Especial. O enredo se chamaria Singrando
em Mares Bravios... EConstruindo o Futuro, uma
homenagem à história da navegação. Durante todos os
preparativos do desfile. Joãosinho teve um apoio imenso
de toda comunidade do Boulevard, além de contar com seu
assistente Wanny Araújo e o cantor Martinho da Vila, que
o ajudaram muito no desenvolvimento do enredo. O
espírito deixado no João na comunidade foi de que a
Vila estaria brigando para voltar ao Sábado das Campeãs
e não para não ser rebaixada. Mas em novembro de 2004,
o carnavalesco sofreu sua segunda isquemia. Enquanto
descansava no barracão da escola, João passou mal e foi
internado em estado grave. O carnavalesco ficou internado
em coma induzido e respirando com ajuda de aparelhos.
Como o carnaval da escola estava muito adiantado (foi a
primeira escola a aprontar seu desfile), a participação
do João no desfile não foi tão necessária assim,
apesar da ausência do carnavalesco ser uma pena. Foi um
desfile excelente, de uma comunicação muito grande com
o público. Uma das novidades do desfile foram os 2.000
metros de tecido azul utilizado ao redor de todas as
alegorias formando um imenso mar composto por pessoas da
comunidade. O belíssimo abre-alas era a Arca de Noé,
com magistrais efeitos de néon. Depois, seguiu-se
luxuosos carros e alas representando as antigas
civilizações. Houve alegorias lembrando o período das
Grandes Navegações e o tráfico negreiro. O desfile
terminou com uma bela homenagem à marinha moderna. Foi
uma passagem muito bonita, digna do cumprimento da
promessa do Joãosinho de voltar ao Desfile das Campeãs.
A escola do Boulevard ficou em 10ª lugar. Uma boa
colocação para quem voltava do Acesso, porém um tanto
injusta (diga-se de passagem) pela qualidade do desfile
apresentado.
Depois do carnaval de 2005, João
continuou internado, ficando assim afastado do mundo do
samba. Após receber alta, foi novamente vítima de outra
isquemia, voltando a se internar em julho de 2005. Passou
muito tempo sendo submetido à traqueostomia e respirando
com apoio de aparelhos. Vinte dias depois, o carnavalesco
fora levado para o Hospital Sarah Kubitcheck em
Brasília, que é especializado em tratamento de vítimas
de derrame. Aos poucos, João foi melhorando até
finalmente deixar o hospital em outubro de 2005. Mesmo
estando longe do carnaval por motivos de saúde, sua
influência nos desfiles de escolas de samba foi sempre
notável. Desde sua chagada na Beija-Flor em 1976 até
hoje, o carnaval de todo Brasil passou a ser diferente.
Joãosinho Trinta foi o responsável por uma era
revolucionária do mundo do samba e toda sua
criatividade, ousadia e inteligência fazem qualquer
sambista se ajoelhar aos seus pés. Não a dúvidas que
João é o maior nome do carnaval brasileiro e uma das
personalidades mais marcantes da história do Brasil.
Esse bailarino maranhense, vindo de família humilde,
mudou por completo a estética do carnaval e seu nome
está marcado em cada uma das escolas em que passou. Não
é a toa que Joãosinho Trinta é chamado de “Mago
do povo” e responsável pelo luxo e pelo lixo de
toda uma nação.
Joãosinho Trinta morreu em 17 de dezembro de 2011, em São Luís do Maranhão.
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