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O IOGURTE E A DÁDIVA DOS CÉUS 15 de janeiro de 2012, nº 51, ano VII Inicialmente,
gostaria de colocar um link com o PDF do livro que lancei há um ano, o
“Retrospectiva SAMBARIO”. Agradeço aos que o colocaram em suas estantes. Para
os demais, espero que gostem do presente, apesar de ter certeza que um arquivo PDF
não substitui a experiência de folhear as páginas de um livro. Segue o arquivo: http://www.4shared.com/office/5YvhwXpp/joo_marcos_-_retrospectiva_sam.html A
cena é a seguinte: você é dirigente de uma escola; de repente, aparece um
sujeito com uma proposta que geraria um patrocínio. O tema? O iogurte. “Imagine
a alegoria tal, sobre a Via Láctea; imagine as alas com setores dedicados a
civilizações antigas, de lugares onde o iogurte teve alguma importância:
gregos, egípcios, assírios; imagine o caminhão de dinheiro...” Você,
dirigente, aceitaria o patrocínio? Ou apostaria num enredo autoral de seu
carnavalesco? Vamos
esquecer os “interesses maiores”, uma vez que um enredo patrocinado, numa
escola que não presta contas de seus gastos, pode ser bom para muita gente.
Vamos nos focar no aspecto cultural da coisa. Um
colunista do jornal O Globo resolveu bater na Porto da Pedra e seu enredo, até com
certa razão – a escola cometeu um erro estratégico ao levar o tema muito a
sério. Há um sentimento de que os caras cantam o iogurte como se fosse uma
divindade da natureza. Essa seriedade exagerada, essa devoção ao objeto tematizado
causou estranheza em todo mundo. E colocou a escola na situação desconfortável
de uma das favoritas ao rebaixamento. Mas
é em casos como o da Porto da Pedra que a gente pode analisar o contexto geral.
Afinal, qual a diferença do iogurte para o cabelo? Para o Gás de Coari? Para a
energia? Vamos
pegar os enredos “CEP” (cidade, estado ou país) patrocinados. Quer falar de São
José do Alto da Capetinga Dourada? A história já está pronta – existiam os
índios, aí vieram os bandeirantes, a cidade foi fundada, cresceu e hoje é o
principal polo da indústria de arames para armadilhas de ratos. 95%
das escolas do Brasil fazem isso. Ou é tema - e cabelo, cerveja, iogurte e
energia dão mais ou menos na mesma coisa; ou pegam patrocínio de governos
estaduais e municipais e fazem a história genérica de qualquer localidade
brasileira. E não é só o carnaval do Rio e São Paulo - o mesmo ocorre nos
carnavais menores, de cidades minúsculas, onde os carnavalescos, mesmo sem as
limitações temáticas impostas por patrocinadores, acabam imitando este tipo de
enredo. Afinal, as grandes escolas são a referência. E
o que sobra é uma visão negativa do desfile de escola de samba, ridicularizado
por grande parte da população que não consegue mais enxergar o que há de
cultura brasileira nestes desfiles sobre o “nada”. Como se empolgar ou se
emocionar ao cantar sobre o iogurte? Por isso, apesar de não concordar em
apontar o dedo apenas para uma escola, acredito que é válida a crítica e espero
que o comentarista, quando resolver novamente abordar o carnaval, atire para
todo o lado. Só assim poderemos mudar alguma coisa. ***** O
SAMBARIO, anualmente, comenta os sambas de carnaval de várias cidades do
Brasil. Vitória, São Paulo e Porto Alegre já foram devidamente comentados por
outros colunistas. Vamos, então, chamar atenção para outras localidades. Em
MANAUS, o ano foi fraquíssimo. A safra é uma catástrofe de proporções absurdas,
onde pouco se salva. E quem acompanhou as disputas, sabe o grande trabalho de
produção realizado por Leonardo Bessa no CD deste ano, salvando samba que sequer
melodia definida possuía. O destaque da safra é o samba da Balaku Blaku, sobre
a cerveja, que não é nada do outro mundo, mas pelo menos, é leve, agradável,
com dois refrões que grudam no ouvido. Em
FLORIANÓPOLIS, que é um dos melhores centros de compositores de samba de enredo
do Brasil, temos um destaque do carnaval nacional – o esplendoroso samba da
Protegidos da Princesa, que rivaliza com Portela, Império Serrano e Nenê de
Vila Matilde o título de melhor samba do ano. É um samba com diversos
experimentalismos entrecortados por trechos poéticos e que grudam no ouvido.
Confira você mesmo: Em
CORUMBÁ, no Mato Grosso do Sul, o CD, produzido por Wander Timbalada, valorizou
a participação dos intérpretes – todos foram muito bem, com destaque para o
excepcional Rixxa, e para os jovens Nino do Milênio, Leandro Santos e Tiganá.
Faltou apenas um cuidado maior com os arranjos, que mereciam mais destaque e
detalhamento. O violão ficou abafado pela batucada violenta. A safra é bem
razoável, mas os sambas não possuem grandes variações melódicas, o que torna a
audição um pouco monótona. O melhor samba é do Império do Morro, que é uma
exceção justamente na questão das variações melódicas, bastante arrojadas e bem
encadeadas. Outro destaque é o da Imperatriz Corumbaense, que só peca por falta
de um refrão mais explosivo. Para quem quiser conferir os áudios: http://www.diarionline.com.br/?s=noticia&id=40626 SANTOS
é um carnaval dos mais ricos em matéria de samba enredo e este ano não é
diferente. É sempre bom dar uma conferida no CD de lá. O destaque deste ano vai
para a Unidos dos Morros, que tem seu samba cantado pelo Baby, ex-Nenê de Vila
Matilde: http://www.rotadosamba.com/sambas-2012-de-santos Em
GUARATINGUETÁ, a safra é uma tragédia absoluta. Nada se salva. Em vez de
investir em rainhas de bateria, as escolas deveriam ter mais cuidado com os
sambas que levam para a avenida. Não adianta colocar Wantuir e cia. para cantar
sambas horrendos. Lamentável. Não destaco nada. Para quem tiver coragem: http://www.rotadosamba.com/sambas-2012-guara Na
próxima coluna, além dos desfiles e dos resultados, tentarei comentar sobre os
sambas de Uruguaiana, que desfilam em data posterior ao carnaval. Abraços a todos! João Marcos |
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