Coluna do João Marcos
PEQUENAS, CURTAS, QUENTES...
14
de novembro de 2010, nº 42, ano V
Algumas
discussões com amigos e leitores do SAMBARIO, pequenas
observações que não serão aprofundadas, mas
que servem como provocações, como
sinalizações do que vem acontecendo com
relação aos sambas-enredo. Quem quiser dar
opinião, já sabe – email para joaomarcos876@yahoo.com.br.
*****
Lista de compositores dos sambas do último CD de Zeca Pagodinho:
Alamir
Almir Guineto
Arlindo Cruz
Beto Sem Braço
Brandão
Carlito Cavalcanti
Delcio Carvalho
Dona Ivone Lara
Efson
Fabinho do Terreiro
Fred Camacho
Gilson de Souza
Levy Vianna
Magalha
Marquinhos PQD
Mauro Diniz
Moacyr Luz
Monarco
Nelson Rufino
Nelson Sargento
Raimundo Fagner
Randley Carioca
Roberto Lopes
Sereno
Serginho Meriti
Toninho Geraes
Trio Calafrio
Zé Roberto
Zeca Pagodinho
Nenhum
destes terá um samba no CD de sambas-enredo de 2011. Tá,
alguns já morreram; outros entraram porque o Zeca pesquisou
coisas mais antigas. Tudo bem. Mas os bam-bam-bams das escolas, aqueles
que vencem todo ano, que os sites de carnaval fazem reportagem de capa
quando eles coçam os pés, também não
têm sambas nos discos de Zeca. Não só de Zeca
– se pegar o últimos CDs do Martinho, acontece o mesmo.
No CD de Zeca, nenhum samba concorrente que perdeu nos últimos anos.
Aí eu compro o relançamento, na Série 2 em 1, de
álbuns do Roberto Ribeiro, saudoso intérprete do
Império que era um, digamos, equivalente ao Zeca nos anos 70.
Está lá o “Flor Mulher”, de Noca, que perdeu
no concurso da Portela em 1978. Está lá o samba do
Quilombo, a escola que o Candeia fundou para resgatas as raízes
negras do samba. Tem o “Glórias e Graças da
Bahia”, samba do Império de 1976. Tem samba de Noca,
Geraldo Babão, Joel Menezes, Joacyr Santana, Wilson Moreira,
Silas, do próprio Roberto - compositores que concorriam e
ganhavam sambas-enredo.
E aí, qual a razão disso?
*****
CD do especial vazou. Você está com pena dos compositores,
que receberão menos porque a pirataria fará diminuir a
vendagem dos CDs?
Então, lembre-se: cada parceria gastou de 30 a 50 mil para
vencer o samba. Dinheiro, portanto, não é problema.
*****
E o que falar da produção do CD?
Nem vou me alongar muito. Ano passado, eu fiz um artigo dizendo os
problemas. Recebi alguns e-mails que concordavam, mas houve uma
porcentagem bastante significante criticando este colunista:
Pô JM, você não
gosta de nada! Se a gravação é de estúdio,
critica; se é ao vivo, critica. Sempre está tudo ruim!
Ou então, aqueles que mandam mensagem do tipo, tá ruim? Então faz melhor.
Bom, então para quem curtiu o CD, vou dar um conselho. Pega o
seu filme preferido, mete no DVD e aperte o play e depois o FF do
controle remoto. É a mesma sensação que eu tive
com o andamento dos sambas no CD deste ano.
*****
Além disso, vocês notaram que os surdos agora fazem PAM?
Isso mesmo. Era uma vez um instrumento chamado surdo. Ele fazia buuuuuuuuuuuuuuuum.
Com o passar do tempo, ele passou a fazem buuuuuuum, em seguida buuum.
Depois bum. Agora, faz pam. No futuro, creio eu, será um chiado
inaudível na gravação.
*****
Conversei com amigos ritmistas, perguntando qual a razão deste
fenômeno. Confirmaram o óbvio – a
afinação antigamente era diferente, o couro ficava mais
frouxo.
Sempre tive a impressão de que isso era conseqüência
do medo que as baterias tinham da desafinação que ocorria
durante alguns desfiles, principalmente quando chovia. O surdo deixava
de fazer buuuuum e fazia buuuuuuuuuuuuuuuuuum e a ressonância
atrapalhava a bateria. Só uma pessoa confirmou a versão,
depois de consultar um mestre de bateria de escola de fora do Rio de
Janeiro.
No mais, era opção da escola mesmo. Um surdo que ressoa
por menos tempo faz com que a bateria tenha de acelerar para não
ficar espaço vazio. Quanto mais acelerar a bateria, menos o
surdo fará buuuum. Agora, nem bum faz, é PAM. PAM PAM PAM.
E aí, vem o grande problema. Com esta afinação, se
jogar a bateria mais cadenciada, vai arrastar mesmo, vai ficar
estranho, vai sobrar espaço não preenchido e acontece o
que aconteceu em alguns desfiles da Mocidade no início dos anos
2000, em especial 2003 e 2005.
*****
Uma vez, vi uma entrevista do Sérgio Cabral. Ele dizia que o
melhor carnaval é aquele de quando a gente tinha 18 anos.
É por aí mesmo. Alguns garotos me questionam, dizem que
acham os sambas antigos chatos, arrastados, que eles gostam é da
fórmula atual. Garotos aí, na faixa dos 16 a 20 anos.
Os meus 18 anos passaram já há algum tempo. Nos meus 18
anos, os sambas eram Liberdade, Liberdade; Raízes; Vira-Virou;
Kizomba, e etc. Velhos tempos que não voltam mais. A mensagem
que eu deixo para o pessoal dos 18 anos é a seguinte –
daqui a 20 anos, vocês não terão mais 18.
*****
Inscrições abertas para o Troféu Há Muito Tempo O Homem Deu No Couro 2011, premiando os grandes versos da safra. A primeira indicação vem de Madureira:
“A AMBIÇÃO DO EUROPEU SE ENCANTOU”
Nada mais emocionante do que uma ambição que se encanta.
Abraços a todos!
|
|