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TÁ NA HORA DO SAMBA QUE FALA MAIS ALTO, QUE FALA PRIMEIRO 1º de novembro de 2009, nº 33, ano IV Há mais ou menos dois anos, eu fiz uma coluna, que pode ser acessada neste link, comentando a polêmica envolvendo a escolha do samba da escola
CONSULADO DO SAMBA, em Florianópolis, onde um samba de uma
pessoa totalmente desconhecida da escola, chamada Célia Regina,
foi declarado campeão do concurso, ao som de vaias da comunidade
e de discurso exaltado do presidente, que desqualificou o carnaval da
cidade e os presentes. Inclusive, disponibilizei o áudio do
anuncio, que se encontra clicando aqui.
Toda esta rejeição, que inclusive levou praticamente toda a ala de compositores a sair da Consulado, não foi choro de mau perdedor. Havia suspeitas fortes de que o samba teria sido imposto, que teria sido feito por compositores do Rio e que as iniciais do nome da vencedora matariam a charada de quem seria o autor do samba. No ano seguinte, o samba foi vencido por uma parceria composta por pessoas da comunidade, que nunca tinham concorrido antes. Já não havia uma ala de compositores forte o suficiente para expor o que acontecia na disputa. O samba, como observado por este comentarista, tinha refrão genérico e apelativo, que não tinha qualquer ligação com o enredo. Recebeu nota baixa da nossa avaliação, o que causou revolta dos torcedores da escola. O júri oficial, formado por gente ligada ao segundo e terceiro escalão do carnaval carioca, deu notas dez para o samba, assim como para o de Fernando de Lima para a União da Ilha da Magia, também duramente criticado na mesma coluna. Após a apuração, recebi inúmeros e-mails de torcedores esfregando na minha cara as notas, dizendo que eu não entendia nada. Este ano, a mesma parceria voltou a vencer o samba. Uma semana depois, no entanto, o veículo de maior expressão do carnaval da cidade, o blog TAMBORIM, capitaneado pela excelente jornalista Ângela Bastos, ligado ao site da RBS (para quem não sabe, empresa afilhada da Rede Globo) publicou notícia que se tornou um escândalo de grandes proporções, sendo inclusive capa de jornais e matérias em televisão. A notícia era a seguinte: OS SAMBAS DE 2009 E 2010 DA CONSULADO DO SAMBA UTILIZAVAM REFRÕES EXTRAÍDOS DE SAMBA CONCORRENTES DERROTADOS NO CARNAVAL DE SÃO PAULO Se você quiser saber mais detalhes, clique aqui: Algumas observações: 1. Os sambas concorrentes utilizados foram: no samba de 2009, um derrotado na Vai-Vai; em 2010, um refrão de um campeão da Leandro de Itaquera que não foi utilizado na esdrúxula fusão de quatro sambas da escola. Ou seja, a Consulado estaria utilizando sambas que não serviriam para o carnaval de São Paulo, e, no caso do samba de 2010, não serviu nem para uma escola de ponta da cidade. 2. Um dos compositores da Leandro afirmou que quem pediu para usar o refrão foi o intérprete da Consulado, Luizinho Andanças. Andanças não assina os sambas da Consulado. 3. Outro compositor, chamado Xandinho, afirmou que autorizou a utilização dos dois refrões, que seriam de sambas seus. O Xandinho não assina o samba da Vai-Vai, ou seja, interpretando o que foi dito, não se pode nem afirmar que os sambas paulistanos seriam daqueles que os assinaram, uma vez que um compositor afirmou que um samba que ele não assina é seu. 4. A escola virou chacota. Em um dos comentários, um internauta avisou que irá compor para a Consulado ano que vem e que seu refrão será o seguinte: “Explode coração na maior felicidade / É lindo a Consulado contagiando sacudindo esta cidade”. É engraçado? Sim, e o pior – constatado o plágio, não haveria realmente diferença entre isso e o que foi feito. 5. Depois disso, Coloninha, Protegidos e Copa Lord ainda aceitarão jurados cariocas julgando na cidade? Por que será que tiram notas dez em samba os que foram assinados por compositores cariocas e os da Consulado, sobre os quais recaem as suspeitas de plágio? 6. O pior é que a escola provavelmente não poderia nem substituir o samba. A enorme safra de três sambas concorrentes – as demais escolas costumam ter mais de dez – faz com que não se veja grandes alternativas. Aliás, isso nem passa pela cabeça do presidente da escola, que acredita ser suficiente colocar a assinatura dos compositores da Leandro no samba que tudo estará certo. 7. E 2009? Vai ficar por isso mesmo? 8. O carnaval de Florianópolis quer ser forte, uma manifestação cultural com a cara da cidade, com o jeito da cidade, com o som da cidade, ou quer ser depósito do que não serve para São Paulo e Rio? 9. Vale a pena ser campeão deste jeito? Felizmente, vários torcedores da escola demonstram surpresa e tristeza com tais fatos, mostrando que ainda existe gente que coloca a arte e a ética acima de eventuais títulos. Aliás. lendo os comentários à notícia, um certamente me sensibilizou muito – o de Elias Marujo, um dos fundadores da escola, um senhor de setenta anos de idade, um homem que teve um sonho, que participou da criação deste sonho, que fez vários sonharem juntamente a ele, uma figura respeitabilíssima, ex-presidente da ala de compositores. Um sambista de verdade que viu em seu sonho ser escrita uma página negra, uma mancha histórica que será lembrada por anos e anos. Porém, o sonho dele pode continuar puro e ingênuo, como o de todos aqueles que não compactuaram com essas coisas. A Consulado é a Consulado. E há uma forma de purificar a escola. Está nas mãos de seus componentes. Conheça mais a história de Elias Marujo em: http://www.eliasmarujo.mus.br/ ***** Chamo atenção, também, para a coluna do carnaval de São Paulo, escrita pelo Weinny Eirado, que deu uma pequena resumida no verdadeiro show de horrores que foram as eliminatórias na cidade. Na Rosas, com o inspiradíssimo enredo “O Cacau é Show”, após o anúncio do campeão, a bateria se recusou a tocar o samba em protesto. Na Gaviões , o maior símbolo da escola, com o melhor samba da safra, perdeu para um samba mediano assinado por vários compositores do Rio – e isso no ano que a Gaviões fala do centenário do Corinthians. Na Tucuruvi, o horror foi na semifinal, quando os três sambas que tinham o maior apoio da comunidade e a melhor qualidade técnica foram derrubados de uma vez só, diante da perplexidade de todos os presentes, deixando claro qual seria o campeão. E a Leandro, com uma fusão doida de quatro sambas - que mais se pode falar diante deste simples fato? Se a qualidade dos sambas de São Paulo já tinha caído drasticamente em 2009, para 2010 a perspectiva é da pior safra da história, algo comparável ao ano de 1997 para o Rio de Janeiro. Pena não existir uma Ângela Bastos em São Paulo para demonstrar as razões disso. Abraços a todos! João Marcos |
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