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Coluna do João Marcos

SOBRE OS CONCORRENTES E O CD ANUAL DO JOÃO MARCOS

30 de agosto de 2009, nº 30, ano IV

Com 90% dos sambas concorrentes na praça, chegou a hora dos pitacos e do nosso CDzinho com sambas concorrentes de qualidade. Este ano, resolvi fugir dos sambas concorrentes dos escritórios e das disputas mais óbvias, e buscar as pérolas reais, as grandes obras, aquelas que chamaram a minha atenção com aquele "algozinho a mais". Além disso, o CD deste ano traz, como novidade, duas faixas de São Paulo. Vamos lá:

CD - OS MELHORES SAMBAS DE ENREDO 2010 - SEGUNDO JOÃO MARCOS

LINK PARA BAIXAR: http://www.4shared.com/file/128770134/30f3ec0c/cdconcorrentes.html

1. Salgueiro - Autores: Zé Di, Mauro Torrão, Ivan Salvador, Carlos Bobola, Josias Passa-Régua

Não era o melhor samba da disputa, longe disso. Não vejo outra alternativa ao samba de Moisés Santiago, que tenta o bi. A safra da escola é muito fraca, provavelmente por conta de todos os problemas do ano passado. Mas, voltando ao samba de Zé Di, autor dos sambas de 1973, 1974,  1980 e 1982, o "Oh oh oh" chamou a atenção pela inocência da letra e o sentimento de encantamento da melodia. Sem intérprete famoso, sem lobby, o samba construiu uma reputação na base do boca a boca. Muitos chegaram a afirmar que poderia ter o efeito do samba de Beto Mussa, ano passado. Foi cortado logo, por via das dúvidas.

2. Beija Flor - Autores: Carlinhos Detran, Tomtom, Adilson China, Hugo Leal, Gilson Doutor, Aroldo do CAC

Outra safra fraca é a da Beija-Flor. O enredo difícil e as melodias repetitivas dos sambas devem tornar infernal a escolha para os jurados. Nada se destaca mesmo, os sambas são cansativos, enormes, arrastados. O de Tomtom e cia., pelo menos é agradável, com melodia bem construída, sem sobressaltos. É muito técnico. O destaque é o refrão do meio. Como o povo da internet não quer reconhecer a qualidade da obra, até por ser a rival do samba de um escritório poderoso, entra no CD só de pirraça.

3. Portela - Autores: Ary do Cavaco, Ari Jorge, Paulinho Rocha, Felipe Carvalho e Walter Alverca 

O enredo deu um nó na cabeça da espetacular ala de compositores da escola. Em 99% das escolas, a bizarríssima sinopse, uma das coisas mais esdrúxulas que eu já li de uma escola do Grupo Especial (com direito a Águia comparada a um "backbone" e puxação de saco ao prefeito e seu trágico Choque de Ordem). Nem a parceria campeã conseguiu fazer um samba sem passagens péssimas com alto teor "trash". E aí, sobrou para os veteranos. A parceria de Noca e cia. optou por uma obra mais romântica. Já Ary do Cavaco optou por uma melodia mais leve e alegre, mas que não foge muito do estilo dos sambas dos últimos anos. As duas podem salvar a pátria. Tenho leve preferência ao de Ary do Cavaco e cia., que entra no CD.

4. Vila Isabel - Autor: Martinho da Vila

Podem chorar a vontade. O melhor do ano, talvez o melhor do milênio. O samba é uma recriação de "Presença de Noel" - para quem reclama disso, saiba que Tradição 1987, "Sonhos de Natal", é recriação de "Homem de um braço Só", e foi estandarte de melhor samba de enredo. Chega a ser ridículo quererem fazer eliminatórias com um samba desses na disputa. E para quem tem dúvidas, afinal a gravação de Wantuir é estranhamente mal produzida, eu disponibilizei uma versão exclusiva SAMBARIO, com o próprio Martinho cantando. E aí, numa cadência agradável, com um cantor espetacular, talvez os últimos descrentes mudem de idéia.

Na Grande Rio, tenho leve preferência pelo samba de Márcio das Camisas e cia., mas nenhum samba merece fazer parte do meu CD. Então, prossigamos:

5. Mangueira - Autores: Conrado Laurindo, Fred, Mancha do Cavaco e Willian Tadeu

Deixa eu abrir um parêntesis aqui. As eliminatórias da Mangueira talvez sejam o maior circo que eu já tenha visto numa disputa. Começa pela não divulgação dos autores dos sambas - cada samba recebeu uma numeração ridícula, que não bate com a numeração do sites, causando uma confusão esdrúxula e escondendo quem é o mais importante nisso tudo, o compositor que, como sempre, faz papel de babaca. Quem acabou chamando a atenção foram os intérpretes - e pelos intérpretes, o povo já advinhava de quem eram os sambas das parcerias principais. É assim que a escola quer ajudar o compositor, aumentando ainda mais a importância do intérprete -  o que gerará mais gastos e competições pelos principais nomes? A entrega foi feita pela internet, foi divulgado um número X de sambas, sem que a escola sequer tenha disponibilizado todas as obras em um site. Ou seja, dos 70 inscritos, poucos dos 50 chegaram ao público. A escola proibiu a divulgação dos compositores, mas toda a internet carnavalesca recebeu um "print" com um dos autores fazendo sua propaganda no Orkut. Foi cortado? Só se fosse o Zézinho da Esquina... E na quadra? Choveu e-mails na minha caixa de entrada de compositores reclamando de que pediram para intérprete da escola cantar o samba, opção dada na inscrição, e estes mudaram a melodia toda, ou então que determinada parceria coloca torcida lá dentro enquanto as outras não podem. O resto, corram atrás para saber. E aí, dentro dessas circunstâncias, é fácil cortar de cara um samba que poderia crescer e incomodar. A letra bem elaborada e poética, o clima de samba de anos 80 com pitadas de ousadia, enfim, ficou para poucos, mas está no meu CD.

6. Imperatriz Leopoldinense - Autores: Jeferson Lima, Flavinho, Gil Branco, Me Leva e Guga

7. Imperatriz Leopoldinense - Autores: Eduardo Medrado, João Estevam, Thiago Gomes, Lair e Nelson Juliano

A safra da Imperatriz merece dois sambas no CD. O primeiro é o meu favorito da disputa, um samba intenso, de refrões espetaculares e um slogan irresistível: "A Imperatriz é um mar de fiéis". Bonito demais e exemplo que samba moderno, sem inventar muito, pode dar certo. O outro, do Medrado e cia., já caiu, mas CD do João Marcos sem um bom samba do Medrado não é CD do João Marcos. O enredo não favorecia o estilo do compositor, mas ele montou uma obra com alguns momentos espetaculares - não era o melhor, mas merece a menção.

Na Viradouro, nenhum dos sambas me chamou grande atenção. O de Heraldo, Flavinho e cia. disponta como favorito, até por ter sido gravado pelo novo intérprete da escola.

8. Unidos da Tijuca - Autores: Lula e Márcio Bijú

Esta dupla tenta levar algo diferente para as eliminatórias da escola, mas não adianta - nunca chegam nem perto de uma final. Já caíram. Este aqui não é tão bom quanto o "1+1+1+1+1", mas também tem momentos interessantes, como no refrão de cabeça e a saída da primeira parte para o refrão do meio. Acho que falta um parceiro que organize melhor as boas idéias da dupla e consiga eliminar alguns excessos que fazem seus sambas perderem o "momento" quando chegam no climax.

Porto da Pedra e União da Ilha têm safras realmente trágicas, que me fizeram não incluir nenhum samba no CD. Na Mocidade, uns três sambas poderiam representar a escola, mas nenhum deles chama muito a atenção. Destaco o do Dico da Viola e o do Igor Leal - este peca em letra, com muitos jogos de palavra que escondem a essência do enredo, e um refrão do meio genérico.

No Acesso, a coisa está mais interessante. Apesar de na Renascer e na Estácio, eu não ver grandes alternativas aos sambas de Cláudio Russo e cia. e Gusttavo Clarão e cia., ficamos no aguardo porque são duas escolas com escolhas imprevisíveis nos últimos anos. Na Cubango, a torcida é para o samba de Renan Gêmeo.

A Caprichosos resolveu aposta na reedição do samba de 1985, o que pode gerar problemas - o enredo está datado e a letra do samba transparece isso, como em "diretamente, o povo escolhia o presidente".

Eu só tive acesso a dois sambas da Unidos De Padre Miguel e cinco da Inocentes, e nenhum me chamou a atenção. Na Santa Cruz e na Rocinha, enquanto eu fazia este artigo, nenhum samba tinha sido divulgado ainda.

Escolhi três sambas do acesso para o CD:

9. Império Serrano - Autores: Arlindo Neto, Arlindo Cruz, Maurição, Carlos Senna e João Bosco

No Império, a safra é de bom nível. O meu preferido é do Arlindo Cruz e cia., que tem refrões espetaculares, sacadas lindas como em "o que a estrada é pro mundo a rua é pra cidade" e conta o enredo com simplicidade e precisão. A versão do CD é aquela de ensaio, divulgada por engano e, depois, rapidamente, retirada dos sites. Sinceramente, pode não ter efeito especial, nem bateria pesada, mas tem energia e uma sonoridade que lembra, involuntariamente, a produção dos LP de samba enredo dos anos 60. Quase não ouvi a versão com Bruno Ribas.

10. Paraíso do Tuiuti - Autores: Rodrigo Raposa, James Bernardes, Junior Santana, Leandro Kfé e Thiago Meiners

Samba dos meus amigos da LIESV - a Tuiuti faz uma pequena homenagem ao carnaval virtual em seu enredo sobre Eneida, o que motivou a formação de uma parceria para a disputa lá. A obra é bem leve, de bons refrões e letra poética. Algumas ousadias melódicas extremamente sofisticadas, como no bom refrão de cabeça. Destaque para o intéprete Evandro Malandro - quem quiser entrar em contato com ele para gravação ou defesa de sambas, basta mandar um e-mail para mim: joaomarcos876@yahoo.com.br.

11. Império da Tijuca - Autores: Beto Mussa, Simas e Edgar Filho

A parceria sensação do ano passado traz um samba mais técnico, porém menos marcante do que o "menina, quem foi teu mestre?" É provável a vitória deste samba, tendo em vista que o enredo é inspirado num livro do Beto Mussa, "O Trono da Rainha Jinga", cuja leitura é bem interessante e recomendável.

De São Paulo, separei dois sambas concorrentes que eu achei interessante:

12. Unidos de Vila Maria - Autores: Panda, Edmilson Silva, Jorge Zanin, João Pedro e Léo Silva

13. Acadêmicos do Tucuruvi - Autores: Chumbinho, Waltinho S.A. e Tião

O primeiro, da parceria que nos deu o famoso "Advinha quem é? Vila Maria" é um samba com muita pegada e uma letra simples e elegante para falar de um enredo árido, sobre o ferro. Já o segundo tenta a façanha de acabar com a série de sambas insossos da Tucuruvi, tentando tirar água de pedra de um batido enredo sobre o Maranhão. O refrão "Cacuriá... O Povo Dança / Cacuriá... Deixa O Corpo Balançar / Vibração E Energia / O Tambor Anuncia... Vem Rodar!! " é um dos melhores do ano. Destaque para a paradinha ao som de reggae na segunda passada do samba.

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E na nossa saga anual de eliminatórias problemáticas, fenômeno que a cada ano se torna mais nacional e frequente, aportamos em Porto Alegre, na Império da Zona Norte.

A escola abriu suas eliminatórias oferecendo um valor bem alto para o samba campeão, o que atraiu a atenção de muita gente. Uma parceria, a Rogério Acioly, Sérgio Mani, Fabão e Cesinha, com um intérprete do Rio, Bruno Ribas. O samba, inclusive, antes da final, foi cantado na quadra do Salgueiro quando representantes da escola estavam presentes.

A parceria entregou uma gravação diferente da letra apresentada na inscrição. Segundo o regulamento, a data final para a entrega do samba era no dia 02 de maio e, depois de entregue, o samba não poderia sofrer qualquer mudança "sob hipótese nenhuma, independente de qualquer motivo".

Os compositores da escola se uniram para tirar o samba. A direção o manteve, rasgando o regulamento. Todos os compositores, tirando os acusados e outras duas parcerias, retiraram seus sambas. Resultado: a parceria "carioca" ganhou o samba. E para facilitar a situação para o ano que vem, a escola não realizará festival - será criada uma ala com os compositores que não se afastaram do concurso, garantindo o bicampeonato da parceria carioca.

Parabéns à escola e aos grandes campeões...

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Obrigado ao Lucas Vagner pela capa do CD.

Abraços a todos!

http://www.4shared.com/file/128770134/30f3ec0c/cdconcorrentes.html

João Marcos
joaomarcos876@yahoo.com.br