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Coluna do João Marcos

COMEÇOU...

As primeiras gravações de sambas concorrentes concorrentes começam a pintar. É uma época que eu, particularmente, gosto muito, apesar de quase todo ano ficar de saco cheio de ouvir tanta bomba de uma vez só. E este talvez seja o grande problema para o povo da internet - ter acesso, em média, a 20 sambas de cada escola faz com que se perca um pouco o foco. Conseqüência - o povo acaba se fixando no pessoal mais famoso, seja compositor ou intérprete, deixando de lado as novas parcerias que estão pintando com potencial.

Um exemplo claro disso é a Imperatriz. Fala-se de Guga e Josimar. Armêmio, um pouco menos, apesar de sua torcida na internet ser sempre muito grande. Mas o melhor samba, nos audios que ouvi até agora, é o de Inácio Rios. O problema é que a gravação não está lá essas coisas e o intérprete não é um Anderson Paz, p.ex., que valorizaria muito mais trechos de melodia que, na gravação, passam com uma sutileza que só ouvidos mais treinados percebem.

No Salgueiro, o meu preferido é o de Aranha e cia., apesar de ter gostado muito do samba de Edgar Filho e cia. Aliás, é uma disputa de refrões fantásticos - "Menina, quem foi teu mestre? / Um batuqueiro / Que arrastava o povo do Salgueiro" é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores refrões a aparecer em um samba-enredo nos últimos dez anos. A interpretação de Rixxa é um massacre, mas não acho o 'todo' do samba no mesmo nível. Por isso, tenho leve preferência pelo samba de Aranha e cia., que tem um refrão de cabeça que segue a linha do samba de 2008 do Salgueiro, mas tem um refrão do meio espetacular: "O poder de uma batida tem axé / Cura o corpo e lava a alma quem tem fé / A FÉ... SAGRADA É!". Destaque também para Alexandre D'Mendes, que é um dos melhores intérpretes de samba concorrente da atualidade.

Na Beija-Flor, o samba de Claudio Russo é sem dúvidas o melhor dos divulgados até agora pela escola. Seguiu as recomendações de Laila e, por isso, tem uma linha parecida com a que a Vila Isabel tem adotado nos últimos anos, sem perder as características de um "samba Beija-Flor". Só não acredito que fique eternizado na boca do povo como Laíla pediu, mas acho que dificilmente qualquer samba ficasse.

Não me agradou a safra da Mangueira. O samba da parceria de Clarão, Fionda, Lequinho e Bernini é correto, mas estranhamente, não tem nenhum dos pontos fortes do quarteto - nem a poesia e arrojo melodico do Clarão, nem os refrões popularescos de Lequinho e Fionda, e só tem um pouco do peso melódico de Bernini. De resto, é apenas uma obra correta, profissional, sem grandes erros. O samba de David Correa é um pouco mais inspirado, mas o mestre erra ao tenta seguir os discípulos - samba de David Correa tem de ser samba de David Correa, como o de Djalma Sabiá é samba de Djalma Sabiá, no Salgueiro. Além disso, a interpretação de Pixulé não valoriza os poucos momentos em que o samba tem algum diferencial melódico, como na virada do refrão de cabeça para a primeira parte. O melhor, dos que ouvi, é o de Indio da Mangueira, mas ainda não é 'o samba'. Acho que a super-parceria acabou desmotivando a disputa na escola.

Na Grande-Rio, o nível da disputa me parece semelhante ao do ano passado, com bons sambas concorrendo. Ainda preciso ouvir mais algumas vezes para separar o joio do trigo - os que ouvi são muito parelhos em nível.

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Se o samba de Claudio Russo para a Beija-Flor é bom, o samba dele para a Nenê de Vila Matilde é ruim e mostra total desconhecimento das características dos sambas da escola. Foi o mesmo que aconteceu com Dominguinhos e o seu "vou japoneisar", na Vila Maria, ano passado. Aliás, esta é a tônica das aventuras dos compositores cariocas na terra da garoa. A visão do samba de São Paulo deles é de quem está distante e acha que a obra tem de ter um quê trash e ser jogado 'para cima'. Mal sabem que as escolas de São Paulo estão muito mais ousadas do que as do Rio em escolha de samba, apesar de alguns escritórios locais quererem deixar as coisas mais homogêneas.

Se eles querem mesmo concorrer, não basta nome. Na Nenê, Santaninha e cia. e Royce do Cavaco e cia. são muito melhores - aliás, são os melhores sambas concorrentes que eu ouvi este ano no Brasil, até agora. Destaque também para o samba do meu amigo Imperial, na Mocidade Alegre.

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Gostaria de agradecer ao público que prestigiou os desfiles da LIESV. Mesmo sem o apoio de grandes órgãos de comunicação, tivemos mais um recorde de público. Para isto, muito importante a ajuda dos meios alternativos de divulgação, como o SAMBARIO, O Desfile e o Tradição do Samba, que fizeram uma cobertura condizente com o interesse da festa. Menções especiais ao site Esquentando os Tamborins e ao programa de Claudio Britto, na Rádio Gaucha, que divulgou nossos sambas. Agradecimentos, também, ao Antônio Márcio (www.lojadocarnaval.com.br) que nos deu vários DVDs para serem sorteados.

Quanto aos sites que ignoraram o nosso potencial, deixaram de ter sua imagem vinculada a um evento que atingiu milhares de pessoas em todo o Brasil. O potencial da LIESV é tão grande, que tivemos o audio do nosso desfile transmitido por uma das maiores webradios do Brasil, a MP3z, que é especializada em música jovem. E eu acho paradoxal que uma rádio de rock tenha mais interesse pelo evento do que alguns órgãos especializados em carnaval e samba-enredo.

Se a mídia carnavalesca quiser continuar apenas alardeando notícias irrelevantes sobre os apadrinhados e amiguinhos, sobre rainhas de bateria ou determinadas parcerias de compositores, em vez de mostrar o carnaval alternativo que é feito pelo SEU VERDADEIRO PÚBLICO CONSUMIDOR, perderá credibilidade. A realidade de hoje é diferente da de anos atrás, quando a LIESV era só uma brincadeira. E ao não se tocarem disto, estes sites simplesmente estão perdendo o bonde da história.

Abraços a todos.