PRINCIPAL EQUIPE LIVRO DE VISITAS LINKS ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES ARQUIVO DE COLUNAS CONTATO |
||
COMPLETANDO O CÂNONE Durante meses, pensei nos vinte e
quatro sambas que fariam parte do meu cânone do samba-enredo, ao lado de Seca no Nordeste a Aquarela Brasileira. Conclui que o número que estabeleci é pequeno
demais. Deveria ter selecionado vinte e seis compositores – o que aumentaria
consideravelmente o número de sambas. Até porque um cânone é composto pelo que
há de sagrado, intocável, e samba-enredo não teve apenas vinte e seis momentos
de genialidade. O samba da Tradição foi uma reação
a um processo que se iniciou com o samba da Vila, de 1967, que se consolidou
com Salgueiro 1969 e deu título para várias escolas nos anos seguintes, com
sambas fáceis de memorizar e refrões arrasa-quarteirão. Na minha opinião, o
grande momento desta formula foi em “Festa
do Divino”, o samba da Mocidade de 1974, que tem um vantagem - momentos
melódicos emocionantes, que, antes, só a Mangueira, em 1973, tinha conseguido.
A perfeição foi com a Mocidade e o melhor samba de sua história. É claro que
você encontra emoção em “Ilu Ayê”,
da Portela de 1972, outro samba do meu cânone, mas o espírito e a novidade
deste samba é outra – como meu parceiro Imperial define, este é um samba
“valente”. E esta valentia, não consigo lembrar em sambas anteriores. O primeiro samba canônico, ou
melhor, o mais antigo, é “Exaltação à
Tiradentes”, Império Serrano, A Mangueira, nos anos 50, foi uma
fábrica de grandes sambas, como o rebuscadíssimo e super lírico “Quatro
Estações do Ano”, talvez o mais poético samba-enredo da história e assinado
pelo eterno Jamelão. Mas foi nos anos 60, mais precisamente em 1961, que um
compositor criou o verdadeiro estilo Mangueira de fazer samba-enredo – Hélio
Turco e seu fantástico “Rio Antigo”,
o melhor samba da história da escola. Antes disso, só o samba em homenagem à
Getúlio Vargas tinha chegado perto disso. Nos anos 60, o Salgueiro fez uma
quantidade absurda de clássicos do carnaval carioca, quase sempre apostando em
enredos que tratam da história dos negros. O melhor exemplo, para mim, e o
momento de ruptura total foi com “Quilombo
dos Palmares”. Apesar dos sambas de 1963 e 1964 serem mais elogiados pelos
críticos, acho que o samba de 1960, além de ser o primeiro título da escola,
tem uma grande vantagem – a aposta não é numa figura, num personagem, mas na
força de resistência do negro. Zumbi é um coadjuvante, parte do todo. É algo
como fez Einsentein, cineasta russo, no meu filme preferido, “O Encouraçado
Potemkin”, que trata da rebelião de marinheiros diante das péssimas condições
de tratamento. O personagem principal é a coletividade e sua força na lutra
contra as injustiças. Além disso, o refrão é o mais sensacional dentre os
sambas salgueirenses da época: “Meu Maracatu é da Coroa Imperial / Meu Maracatu
é da Coroa Imperial / É de Pernambuco,
ele é / Da casa real”. Seguindo a mesma linha, temos mais cinco sambas
canônicos, as maiores representações de suas escolas: “Sublime Pergaminho”, da Unidos de Lucas, de 1969; “O misticismo da Africa ao Brasil”,
Império da Tijuca, de 1971; “Rio Grande
do Sul na Festa do Preto Forro”, da Unidos de São Carlos/Estácio de Sá, de
1972; e “A Criação do Mundo na Tradição
Nagô”, Beija-Flor, de 1978 e “Kizomba,
Festa da Raça”, Vila Isabel, 1988. Os sambas-lençóis tiveram uma
queda de prestígio nos final dos anos 60. Depois da última vitória de Silas de
Oliveira, e seu “Heróis da Liberdade”,
os sambas mudaram. Apesar de obras mais clássicas, como “Os Sertões”, Em Cima da Hora, 1976, ainda aparecerem,o panorama se
modificou. Martinho da Vila, com “Yayá
do Cais Dourado”, também de 1969, já mostrava os novos caminhos do
samba-enredo nas décadas seguintes, com sua dolência e estruturação diferentes,
que já podem ser ouvidas no transicional “Lendas
e Mistérios da Amazônia”, Portela, 1970, que apesar de ter um refrão mais
simples, tinha momentos experimentais na melodia, unindo o que, naquele tempo,
era o antigo e o novo. Estas experiências fizeram possível o surgimento de um “Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor
de uma Noite”, na Portela, em 1981. No entanto, a busca por sucesso e
comunicação nos anos 70, fez com que o gênero samba-enredo começou a sofrer
muitas críticas, inclusive dos próprios amantes do carnaval. A disputa de samba
no Império, em 1975, mostrou que entre um samba de maior qualidade e um samba
arrasta-povo, as escolas escolhiam o mais animado. A união entre comunicação
com o público, simplicidade e qualidade é uma fórmula difícil de ser
encontrada. Talvez o maior exemplo de sucesso nesta fórmula tenha sido “Domingo”, de 1977, o grande momento da
Ilha. “Bum-Bum Paticumbum Prugurumdum”, Império
Serrano, 1982, foi o primeiro grito de alerto, que foi seguido pelo
aparecimento da Tradição. No final da década, alguns sambas mais clássicos
começaram a se destacar, como Mangueira, 1988 “Cem Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão”. No entanto, o grande
samba clássico dos anos 80 é “Liberdade,
Liberdade, Abre as Asas Sobre Nós”, Imperatriz Leopoldinense, 1989, trilha
sonora do mais perfeito desfile da história. Os anos 90 foi uma época
complicada para os sambas-enredo. Os melhores sambas foram aqueles que tinham
um espírito anos 80 e, por isso, encontram-se no início da década. “Peguei um Ita no Norte” é um exemplo,
com seu andamento marcheado e seu refrão fantástico, que fez a Sapucaí pegar
fogo. Mas os enredos foram ficando cada vez mais esquisitos, teve escola
falando do guarda-chuva, da Disney, etc. O melhor samba da segunda metade da
década de 90, “O Dono da Terra”,
acabou sendo visto por poucos, porque a Unidos da Tijuca, em 1999, estava no
Grupo de Acesso. O samba, fruto de um enredo simples, baseado na cultura
brasileira, era poético sem ser prolixo ou complicado. No novo milênio, como canônico,
vejo apenas “Manoa, Manaus, Amazônia,
Terra Santa: Alimenta o Corpo, Equilibra a Alma e Transmite a Paz”, samba
da Beija-Flor, de 2004, que se mostra como a grande obra do movimento que se
percebe nos sambas atuais, resgatando os
valores das obras dos anos 60, porém com uma nova roupagem. No entanto, a fase
ainda é de transição e poucos sambas atuais conseguiram fazer isso sem ser
desnecessariamente longos e chatos. Por isso, para mim, “Manoa” é o último
samba nota 10 do carnaval do Rio. * * * * * Para quem ficou curioso sobre o filme “O Encouraçado Potemkin”, citado mais acima, filme russo de 1925, coloco o link de um trecho abaixo, um dos mais famosos da história do cinema. Trata-se do massacre de Odessa, quando os cossacos saem atirando contra a população da cidade, que saúda o navio com os marinheiros revoltosos. As cenas são impressionantes – a fuga desesperada do povo pelas escadas, o pisoteamento, o assassinato de mulheres e crianças, o desespero de um deficiente físico, etc. Além disso, tem o momento em que o carrinho de um bebê desgovernado desce pela escadaria, que foi imitada em diversos filmes, inclusive “Os Intocáveis”, com Kevin Costner e Sean Connery. http://www.liesv.com/musical/cds2008.html * * * * * Ainda falando em LIESV, alguns
amigos me perguntaram sobre as semelhanças entre os enredos da União da Ilha
para 2009 e um que eu fiz para a Imperatriz Paulista, em 2007, inclusive
perguntando se houve plágio. Lendo a sinopse, diria que há semelhanças, sim,
evidentemente. Ambos são bem próximos no trecho sobre Júlio Verne, iniciando
com as influências do meio sobre sua visão do mundo (a sinopse da Ilha fala só
da Revolução Industrial, e eu falo do liberalismo e da Revolução Francesa),
passeia pelas culturas e lugares exóticos por ele retratados, a viagem ao
centro da terra, a viagem espacial onde a nave é projetada por um canhão, etc,
e termina com a Jangada (chamada de aldeia flutuante na sinopse da Ilha), que é
o livro do Verne ambientado no Brasil. Bem, serei sincero – acredito que
o Jack Vasconcelos tenha se inspirado no meu enredo, sim, tendo em vista que
diretores e compositores da Ilha já passaram pela LIESV, alunos do carnavalesco
são da LIESV e, suspeita-se, ele fez um carnaval na LIESV em 2006, para uma
escola que hoje está em outra liga. Portanto, acho que o Jack conhece a LIESV
ou tomou conhecimento do enredo enquanto pesquisava sobre o tema na internet. Agora, não posso falar Acho que o Jack utilizou a mesma
“sacada” para criar algo novo. Se isso realmente aconteceu, tenho de ficar
envaidecido de ver a idéia servindo de inspiração para um enredo da maravilhosa
escola da Ilha do Governador. E se não aconteceu, se foi só coincidência, eu
tive uma sacada de carnavalesco com passagem Para quem quiser conferir o
carnaval da Imperatriz Paulista, de 2007, este é o link do desfile: www.liesv.com/imperatriz_index.htm E este é o samba, que o Mestre Maciel, quando era jurado da LIESV, deu um inexplicável 9,5 (ai, ai, ai, Maciel!)
P.S.: Só espero que o Jack
Vasconcelos não use o enredo para fazer um carro “cérebro com redinha de neon João Marcos |
Tweets by @sitesambario Tweets by @sambariosite |