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DAS JUSTIFICATIVAS E DO MEU IMPÉRIO Com a
divulgação das justificativas, começa o chororô de sempre. E
o pior, além da análise minuciosa das falhas nas
justificativas, os sambistas agora utilizam os recursos da
tecnologia para documentar os erros das concorrentes. O vídeo
dos problemas da Grande Rio foi um hit na internet carnavalesca.
Como uma escola com tantos problemas pode ter sido a terceira
colocada? E a Beija-Flor - por que os jurados só tiram 0,1 dos
problemas da escola e, com as demais, são tão mais severos? E
aí, começam as teorias, cada uma mais doida do que a outra. Se
bobear, até o FBI e a CIA teriam entrado no meio para que a
escola do “papai” fosse campeã. Não é nada
disso. O que acontece é que o julgamento da LIESA não é nem um
pouco técnico. E é impossível que seja. Hiram Araujo quis
enganar todo mundo, mas a verdade é que o jurado julga o todo.
Ou você acha que o jurado de alegorias só vê os carros e não
se influencia pela bateria, o samba e o canto? Seja sincero
– você acha que o cara que analisa a Comissão de Frente
não vê as alegorias também? A nota do jurado,
em geral, não é técnica – é apenas uma reação visceral
ao desfile. E isso explica as incoerências e os diferentes pesos
e medidas do julgamento. Se o jurado vê um erro na Beija-Flor,
ele pondera aquele erro em relação ao resto do desfile. E faz o
mesmo com o desfile da São Clemente. Por isso, o mesmo erro pode
ter descontos diferentes. Eu senti isso naquela reportagem da
Globo, que mostrou a leitura labial dos jurados. Com algumas
escolas, o jurado via a falha, mas achava o espetáculo tão
bonito que tinha pena de tirar ponto. Algumas vezes, o
jurado sequer viu a falha. Como dar 10 para a escola X, que foi
tão morna? E aí, começa o problema das justificativas malucas.
O sujeito tem de justificar porque tirou 0,3. Ele não pode dizer
que foi porque a escola foi um saco e ele odiou o desfile.
Então, ele inventa. Ou então, ele percebe que a escola foi
muito mal em alguma coisa e, simplesmente, não sabe explicar.
P.ex., os jurados de 2007 não souberam explicar as notas baixas
em samba e harmonia no Salgueiro. O samba não funcionou,
ninguém cantou e a escola toda foi prejudicada por isso. Como
explicar que a melodia, tentando ser diferente, estava mal
resolvida, com buracos, e que, por isso, não conseguia manter a
atenção? Que o refrão não dizia nada para o público e que o
samba se arrastou na avenida? É querer demais. Aí, é mais
fácil culpar o ôôô. O mesmo aconteceu com o inacreditável
samba da Vila Isabel deste ano – o jurado pode até não
saber as razões técnicas, desconhecer a fusão Frankestein, mas
sentiu que o samba foi uma catástrofe. Quando a
Beija-Flor entra na avenida, a impressão do jurado é aquela que
a leitura labial mostrou: “é outro nível, é profissional”.
E a Grande Rio, com seu gigantismo, impacta o jurado também. Ele
vai ver o desacoplamento, o carro parado, a ala dando marcha-ré
para o buraco não ficar muito grande, a correria no final e...
vai tirar 0,1 mesmo. Como tirar mais do que isso? Como massacrar
uma escola que veio com um ótimo samba, uma bateria que dispensa
comentários, com fantasias e carros, riquíssimos, de encher os
olhos? A Mocidade podia ter a melhor Comissão de Frente do ano,
mas o desfile foi nota 9,9. E foi a nota que o jurado deu no
quesito. Por isso, aos
meus olhos, as classificações acabam sendo justas. Como a coisa
acaba indo para a questão de gosto pessoal, eu gostaria de ver a
Imperatriz e a Mocidade em posições melhores. Sinceramente,
não gostei muito da Portela (o desfile de bichinhos do comercial
da Parmalat não me convenceu). Porém, a classificação deixou
bem claro quais as escolas que foram muito bem (Beija-Flor e
Salgueiro), as que foram medianas (de Grande Rio à Mocidade) e
as que foram muito mal (de Vila Isabel em diante). As escolas que
querem melhorar de colocação, tem de pensar no todo. ***** Em 1992, o
Império Serrano desfilou, pela segunda vez em sua história, no
Grupo de Acesso. Tinha sido rebaixada em 1978, mas logo em
seguida voltou a desfilar entre as grandes. Poucos anos depois,
em 1982, conquistou o seu último título de campeã do grupo
principal. Foi justamente quando meu coração se apaixonou e eu
descobri ser imperiano – sim, descobri, porque essas coisas
não escolhemos. Nós é que somos escolhidos. O samba foi uma
coqueluche nacional e uma das músicas mais exibidas nas rádios
durante o ano, repetindo o mesmo feito que “Das Maravilhas
do Mar...”, samba portelense de 1981. O final do samba era
emblemático: Super Escola
de Samba S.A. O Império nunca
se adaptou muito bem ao carnaval das Super Escolas de Samba S.A.
Talvez tenha sido culpa dos princípios que nortearam a sua
criação, quando o povo do Prazer da Serrinha se revoltou contra
os desmandos do presidente e fundou um império democrático. Sem
um Castor ou um Anízio, ficou difícil acompanhar o ritmo das
demais. Talvez não tenha sido nem isso. Talvez, apenas, tenha
faltado visão e organização. Sei lá. Só sei que a escola
viveu um verdadeiro calvário nos anos 90. Porém, talvez
por não ser uma Super Escola de Samba S.A., o Império resistiu.
Enquanto, várias escolas tiveram ascensões meteóricas, quase
sempre seguidas de quedas homéricas, o Império continuou sendo
o Império - mesmo quando o enredo era equivocado, mesmo quando
nada dava certo no desfile. E o Império se tornou uma escola
segregada – ao mesmo tempo em que não combinava com as
demais escolas do desfile da LIESA, era estranho e esquisito
vê-lo no grupo inferior. Algumas vezes, o
Império tentou acompanhar o ritmo das Escolas de Samba S.A.
Quase sempre, o resultado foi trágico. Os melhores desfiles da
escola, nos últimos anos, foram com enredos simples –
Betinho, Suassuna, religiosidade, etc. E este talvez tenha sido o
grande trunfo deste ano. Por mais que o sujeito não conheça a
história de Carmem Miranda, estava tudo muito claro nas
alegorias e fantasias. O samba, que não chamava atenção no CD,
cresceu absurdamente no desfile. E, com o enredo simples, a
mensagem chegou ao público e ao componente. E pensar que, no ano
anterior, o Império veio com um carro que era uma redinha de
neon com um cérebro em cima e que simbolizava Einstein...
(Observação – o mesmo carnavalesco conseguiu, este ano, a
proeza de fazer de “É hoje” um desfile afro!) O Império, em
2008, desfilou como Império. Bom gosto, delicadeza, emoção. O
público, depois de nove escolas (algumas, com apresentações
muito ruins), ficou lá, esperando o Império. A chuva caía
torrencialmente, mas ninguém foi embora. Ela só serviu para
lavar a alma do imperiano. A brancura da saia das baianas não se
alterou - sabe por quê? Porque as senhoras imperianas flutuavam.
E a exibição da bateria de Mestre Átila? O que você me diz?
A única coisa que faltou foi uma Comissão de Frente
tradicional. Como escola de samba mesmo, o Império sobrou. Quem
estava lá e viu com os olhos do coração, sabia que tinha visto
algo especial, que não se repetiria mais em 2008. Calejado, eu não
acreditava no título. E quem se importa com título? Eu prefiro
este Império do Grupo de Acesso, do que aquela coisa do “Ser
Diferente é Normal”. Porém, os jurados, como todos os que
estavam lá, sentiram o desfile. O título não foi porque a
escola foi a mais técnica. Foi a reação dos jurados à emoção
que tomou conta da avenida. ***** Aliás, a dupla
Renato e Márcia teve um sacada brilhante. Talvez o Rio de
Janeiro seja o tema mais cantado pelo Salgueiro - assim como
Carmem Miranda, pelo Império. E utilizar estes temas foi
fundamental para que estas escolas se reecontrassem. São enredos
tradicionais, desenvolvidos como se os carnavalescos tivessem
entrado na máquina do tempo e voltado aos anos 80. O carro da
Lapa foi uma típica alegoria dos anos 80 – simples, de
fácil leitura e bom efeito. Não tenham dúvidas - o Salgueiro
fez um desfilaço e, para o meu gosto pessoal, merecia o título.
Renato e Márcia fizeram o mesmo que a Beija-Flor, só que
percorreram um caminho diferente – eles redescobriram a
pólvora. Só que enquanto a Beija-Flor aposta no chão e em
sambas lençóis, continuando com os enredos maionésicos e
patrocinados, como as demais, Renato e Márcia vêm apostando
numa criação artística mais tradicional. E está dando certo. ***** Agora, palavras
sobre o samba da Cubango – é evidente que o júri se deixou
influenciar pela apresentação péssima da escola. Só que os
jurados conseguiram perceber problemas que realmente existiram e
que eu já sinalizava no meu último artigo. O jurado Jovi
Joviniano, p.ex., tirou 0,2 porque houve falha na adaptação da
letra com a melodia, e 0,3 por incoerência no fraseado
melódico. Na verdade, ele tirou 0,5 pela mesma coisa –
versos longos demais, que prejudicavam a melodia e o canto, em
alguns momentos. A dificuldade de cantar o samba, inclusive no
refrão do meio, com os termos em francês le embromacion,
também foi observada pelo jurado Marvio Batiste Ciribelli, que
em vez de simplesmente dizer isso, veio tentar dar uma aula de
fonética maluca. Porém, falhas
técnicas em sambas de compositores que correm riscos e tentam
coisas diferentes são perdoáveis. Acho que a obra foi um sopro
de criatividade e o fato de ter tirado nota menor do que muitos
sambas péssimos do Acesso não deve fazer os compositores
mudarem de caminho. Apostem sempre na emoção, como vocês
fizeram, mas lembrem que o samba tem de ser cantado por milhares
de pessoas. ***** Na última
coluna, falei do samba “Corumbê”, da escola de samba
Climério Galvão, do Grupo de Acesso de Guaratinguetá, que é
uma reedição de um samba da escola de 1972 e que é uma obra de
arte. Achei o vídeo do desfile no Orkut. Esqueçam a pobreza da
escola, as fantasias e alegorias super simples, e concentrem-se
no belíssimo samba, cantado pelo meu amigo Pedro Ferraz,
intérprete da escola virtual Colibris, da LIESV. E, aproveitando o
embalo, não deixem de participar da LIESV, www.liesv.com . ***** A leitora Simone
Fernandes perguntou para mim quem teria sido a campeã do
carnaval de Vitória, em 1982. Foi a Independentes de São
Torquato. A escola, este ano, foi a terceira colocada do Grupo de
Acesso, mas possui cinco títulos de campeã do Carnaval
Capixaba. Como curiosidade, eia a foto do abre alas da São Torquato deste ano. Mais informações sobre os desfiles de Vitória no blog http://carnavalcapixaba.blogspot.com/ , do companheiro de LIESV, Lucas Monteiro. O amigo Vitor
Pedrassi pediu para eu comentar os sambas de Santos, mas vou
ficar devendo esta para o ano que vem. Infelizmente, o carnaval
no início de Fevereiro acabou dando pouco tempo para que eu
pudesse fazer uma análise maior nos sambas dos principais
desfiles do país, como era a minha intenção. ***** Vamos ao giro das
campeãs. No Rio, Beija-Flor consagrou-se bicampeã. Em Vitória, a
Jucutuquara foi campeã. A sua grande rival, a MUG, que tinha
sido rebaixada por causa dos desastres ocorridos no desfile do
ano anterior, ganhou o grupo de acesso. Em Floripa, a Copa Lord
interrompeu a série de títulos da Consulado, que se prejudicou
pelos problemas internos, relatados na última coluna. Problemas
que tendem a piorar – há boatos de que a escola
encomendará o samba de Em Manaus, deu
Mocidade Independente de Aparecida, com Vitória Régia, em
segundo e Reino Unido, Em Santos, a
campeã foi a X-9 (não confundir com a X-9 Paulistana, que
desfila ***** Continuando a
saga pelos sambas enredos que poderiam ser reaproveitados por
sambistas e cantores da MPB, trazemos o meu concorrente preferido
para o enredo da Portela de Link: http://www.4shared.com/file/42022431/c9c5cdc4/05_Portela.html?dirPwdVerified=ad5f427b
***** Na próxima
coluna, voltarei a falar dos sambas-enredos “canônicos”,
que, junto com Aquarela Brasileira e Seca no Nordeste, fazem
parte das obras fundamentais do gênero. Além disso, chamo a
atenção ao site do meu amigo Marcelo Sampaio, o www.carnavaldecampos.com.br
. Na minha próxima coluna lá, que deve ir ao ar em breve, falo
dos sambas enredos de Campos, com direito a link para download. Por fim, a LIESV,
está selecionando jurados para os desfiles virtuais. O objetivo
é encontrar pessoas novas, que conheçam de carnaval e queiram
avaliar o trabalho da rapaziada. Os interessados serão
selecionados através de um “simulado”, onde
colocaremos desfiles antigos. Quem tiver interesse, basta se
inscrever através do e-mail diretoriajuridica@liesv.com. Abraços a todos!
João
Marcos |
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