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ISTO A HISTÓRIA REGISTRA! Quando em Talvez se a escola não fosse a Paraíso do
Tuiutí, a situação fosse diferente. Imaginemos que a
Imperatriz, p.ex., levasse um samba assim para a avenida. A
atenção na obra seria diferente. Será que um samba como este,
na Imperatriz, conseguiria, finalmente, mostrar novos caminhos
para os compositores e uma nova forma de escutar samba para o
público? Ano após ano, a escola nos nega a resposta, rejeitando
as obras de Eduardo Medrado e cia. O compositor e seus parceiros vêm fazendo
sambas-enredo neste estilo desde 2000. Em 1999, quando venceram
pela última vez as eliminatórias na Imperatriz, já tinham um
estilo de compor diferenciado. Porém, foi a partir de 2000 que
eles ‘endoidaram’. Concorreram na Imperatriz, no
Salgueiro... Até na tradicional Mangueira, ousaram tentar levar
seu estilo diferente de fazer samba. A única vitória,
entretanto, continua sendo na Paraíso do Tuiutí. Anderson Paz, intérprete de praticamente todos os
sambas da parceria, gravou o samba enredo da minha escola, a
Imperatriz Paulista, no CD da LIESV. Confesso que senti um pouco
de orgulho quando ele disse que o samba parecia “os sambas
doidos do Estevam”. Evidentemente, falou isso como um
elogio. João Estevam, radialista da Manchete, é mais um dos
integrantes das parcerias de Eduardo Medrado e cia. Conversando comigo, Anderson elegeu o seu favorito
– justamente o concorrente de 2000. Chegou a afirmar que se
gravasse um CD solo, certamente incluiria o samba no repertório.
O meu preferido é o concorrente de 2006, cujo clima de
romantismo, particularmente, me encanta e que foi, absurdamente,
cortado na semifinal. O de 2007, bilhões de vezes melhor do que
o que foi cantado na avenida, nem a isso chegou. Acabei de receber o primeiro samba “doido”
concorrente para 2008. É de Kleber Rodrigues e Diego Moura, para
o Salgueiro. Ambos já fizeram parceria com Eduardo Medrado.
Kleber, inclusive, participou, com Medrado, do Festival Fábrica
do Samba, de 2004, com a canção “Semente do Samba”,
que chegou à semifinal do concurso. À medida que o samba é divulgado, as opiniões
se dividem. Quando algo rompe com o tradicional, alguns sentem
repulsa, outros abraçam com paixão. As escolas, medrosas,
acabam optando por sambas mais “funcionais”.
Entretanto, o que importa é a influência que este tipo de samba
terá na futura geração de compositores, não só de
samba-enredo, mas de samba * * * * * Com relação ao samba em si, apesar de alguns
trechos brilhantes, como na linda entrada “Rio de Janeiro
continua sendo / Rio do Salgueiro / Sempre, sempre a encantar”,
parece o samba mais desconjuntado do “núcleo” Medrado.
Geralmente, esse tipo de samba tem uma lógica interna, um tema
melódico recorrente que conecta as diversas partes – o que
este não tem. É um dos melhores concorrentes da escola, mas
não é genial. Aliás, um dos mais interessantes fatos nestas
eliminatórias do Salgueiro é ver tantos nomes de compositores
consagrados nas décadas de 70 e 80 voltando a concorrer. Djalma
Sabiá e Zuzuca não ganharão - estão fora da realidade das
disputas de samba atuais (infelizmente) - mas colocam um tempero
especial na disputa. O da parceria campeã de 2007 é muito superior a
“Candaces”. É um samba com passagens excelentes, em
especial, a melodia em “Chega a Família Real / Dando um
charme especial”, que sai do comum e prepara para um forte
no refrão do meio. A minha única ressalva é a entrada da
segunda parte, em que o samba dá uma caída grande – uma
coisa um pouco parecida com o samba de 2006 da escola. Dos que ouvi, o meu preferido é o de Cezar
Veneno, um dos autores de “E Por Que Não?”. O refrão
de cabeça pode funcionar brilhantemente na avenida – é
possível até visualizar a Sapucaí cantando junto com a escola:
“Maracanã tá lotado... É GOOOOOOOOOL!” É esse tipo
de simplicidade que vem faltando aos sambas atuais e que
aproximam a escola do público. O resto do samba tem uma pegada
gostosa, típica da virada dos anos 80 para os anos 90. O refrão
do meio, numa levada tipo “Sou Amigo do Rei”, ficaria
lindíssimo. ***** Já que falamos de Salgueiro, e Salgueiro terá
como enredo o Rio de Janeiro, resolvemos disponibilizar um
samba-enredo sobre o Rio – trata-se do clássico de Walter
Rosa, “Rio, Capital Eterna do Samba”, que levou a
Portela ao título em 1960. A versão é cantada pelo próprio compositor e
apareceu na coleção “A História das Escolas de Samba”,
no volume 6. É um samba curto, com um refrão bastante simples e
uma melodia maravilhosa. Acho que o grande mérito deste samba,
mais do que suas qualidades técnicas, é passar o “espírito
carioca”. Não é apenas um samba sobre o Rio de Janeiro,
mas é a própria cara do Rio, em especial a do Rio dos anos 60.
Link: http://www.4shared.com/file/20842388/6441d54d/04_walter_rosa_-_rio_capital_eterna_do_samba.html Aliás, Renato Lage foi muito feliz ao escolher o
enredo do Salgueiro. Parece que ele abandonou o modernismo e as
referências pop dos seus carnavais dos anos 90, com um
enredo pós-moderno, de ar nostálgico, porém atemporal. É a
revolução que o Império Serrano quase adotou a partir de 2006,
mas que foi abortada prematuramente com aquela coisa horrível do
ano passado. Espero que ele mantenha o bom gosto do visual de
“Candaces” e dê um tempo no néon, que, se nos anos
90, simbolizava o futuro, hoje simboliza decadência. ***** Não deixem de acompanhar o desfile das escolas de
samba virtuais, dias 3 e 4 de agosto, a partir das 00:00 horas,
em www.liesv.com. Abraços a todos! João
Marcos |
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