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Coluna do João Marcos

DAS FIRMAS, DO SAMBA-ENREDO PAULISTA E DO CARNAVAL DA TERRA DO GUGA

Em reportagem recente do jornal “O GLOBO”, o assunto das “firmas” de samba-enredo foi abordado de forma crua, com direito a entrevista de compositores. Os jornalistas chegam a citar as escolas e os respectivos campeões – Arlindo Cruz e cia., teria vencido, além de Império Serrano, Portela e Grande Rio. Cláudio Russo seria responsável pelo samba da Beija-Flor, da Porto da Pedra e da Unidos da Tijuca. Ou seja, duas firmas seriam responsáveis por metade dos sambas do Grupo Especial. E não falaram das vitórias dessas firmas nas escolas do Acesso.

Por bater nessa questão, volta e meia recebo e-mails de leitores denunciando as práticas das firmas. É muito comum intérpretes de escolas do Rio fazerem shows em quadras de outros Estados e assumirem, publicamente, a autoria de sambas que não foram, por eles, assinados. Não podemos afirmar que todas estas informações são verdadeiras e não seremos irresponsáveis de divulga-las como tal. Evidentemente, muitos boatos correm a boca pequena, plantados por compositores para promoção pessoal. Por exemplo, recebi um e-mail dizendo que o samba do Salgueiro, na verdade, é do Leonel. Duvido muito.

Quando critiquei a semelhança entre os sambas da Imperador do Ipiranga e da Portela, duas pessoas me alertaram que não são da mesma firma – o da Imperador seria de uma firma de São Paulo, que também teria feito mais dois sambas no Grupo Especial. Independente dos boatos serem verdadeiros ou não, eu acho muito triste a desmoralização total dos concursos de samba-enredo por estas firmas. O resultado é péssimo para todo mundo – sambas feito em esquema fordista, fraquíssimos e descartáveis; escolas sem personalidade; compositores de talento desistindo de concorrer, etc. O samba está sambando mesmo...

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Disponibilizaremos, a partir desta semana, um arquivo com sambas enredo de São Paulo dos 30 últimos anos. Sem ser uma retrospectiva definitiva, serve como uma introdução, trazendo obras que entraram para a história, seja por sua qualidade, seja por embalarem desfiles maravilhosos.

Eis a lista:

1.            Sete Cidades Encantadas (Rosas de Ouro, 1976)
2.            Narainã, a Alvorada dos Pássaros (Camisa Verde e Branco, 1977)
3.            Visungo, Canto de Riqueza (Mocidade Alegre, 1981)
4.            Orun Ayê, o Eterno Amanhecer (Vai Vai 1982)
5.            Negros Maravilhosos, Mutuo Mundo Kitoko (Camisa Verde e Branco, 1982)
6.            Água Cristalina (Unidos do Peruche, 1985)
7.            O Dia em que o Cacique Rodou a Baiana, Aí ó! (Nenê da Vila Matilde, 1985)
8.            A Volta ao Mundo em 80 Minutos (Vai Vai 1987)
9.            Babalotim, a História dos Afoxés (Leandro de Itaquera, 1989)
10.        Non Ducor Duco, Qual é a Minha Cara (Rosas de Ouro, 1992)
11.        Coisa Boa é Para Sempre (Gaviões da Fiel, 1995)
12.        Mamma África (Unidos do Peruche, 1998)
13.        Quem é Você Café! (X9 Paulistana, 2000)
14.        Omi! O Berço da Civilização Ioruba (Mocidade Alegre, 2003)
15.        Mar de Rosas (Rosas de Ouro, 2005)
16.        Bem Aventurados Sejam os Perseguidos, Por Causa da Justiça dos Homens... Porque Deles é o Reino dos Céus (Mancha Verde, 2006)

Nesta coletânea, encontramos, p.ex., aquele que foi eleito, recentemente, o melhor samba-enredo do carnaval de São Paulo, “Narainã”, Camisa 1977. Da mesma escola, tem o de 1982, do baluarte Talismã, um dos melhores compositores de São Paulo.

Alguns sambas foram selecionados porque entraram para a história, mesmo sem embalar grandes conquistas, como Mocidade 1981, Rosas 1976, Leandro 1989 e Peruche 1985. Da Peruche temos, também, o samba de 1998, um dos quatro que Jamelão interpretou pela escola. Outros, foram selecionados por serem a afirmação da potência de escolas que ganharam força ao serem campeões, como o da Gaviões - um dos mais conhecidos fora do Estado de São Paulo.

O samba de 1985 da Nenê, além de coroado por um título, tem uma curiosidade - embalou o desfile da escola na Sapucaí, quando ela desfilou entre as campeãs do Rio.

Na parte final, sambas de dois compositores de muito talento – Imperial, com o fantástico “Omni”, que mudou totalmente a cara dos sambas paulistas, que começaram a ganhar mais pegada a partir do sucesso da Mocidade, em 2003; e Armênio Poesia, com o bom samba da X9 Paulistana de 2000. Além deles, dois sambas que embalaram desfiles emocionantes nos últimos anos – o “Mar de Rosas”, da Rosas de Ouro, de 2005, e o belíssimo samba do desfile de superação da Mancha Verde do ano passado.

Links:

1ª Parte:

http://www.4shared.com/file/10067371/b5c757fa/30_anos_de_sambas_sampa1.html

2ª Parte:

http://www.4shared.com/file/10068305/a5881572/30_anos_de_sambas_sampa2.html

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Chegou a hora de Florianópolis ter seus sambas comentados. O carnaval de lá tem apenas quatro escolas, mas a qualidade surpreende os desavisados. Recebi os sambas por mp3 e resolvi montar um pequeno CD com sambas históricos da cidade e os de 2007 para os leitores do SAMBARIO. Antes, os comentários sobre os sambas, que parece ainda não terem sido “infestados” pelas firmas e mostram um estilo diferente e interessante.

CONSULADO DO SAMBA - Na minha humilde opinião, o melhor samba do ano no Brasil. Interpretado por Luizinho Andanças, a obra é uma verdadeira aula de como se fazer um samba moderno. É samba de verdade, não é uma marchinha. É cadenciado, sem ser arrastado. A melodia é muito variada, mas sem mudanças bruscas que dificultem a harmonia. As pausas, que são pouco exploradas nos sambas enredo atuais, são utilizadas de maneira exemplar, como nos melhores sambas enredo de Hélio Turco na Mangueira. A métrica é perfeita. As sílabas são cantadas com a ênfase necessária para provocar a emoção do público. A letra é poética sem ser truncada. Os refrões são irresistíveis e convidam ao canto. O samba é um verdadeiro achado. NOTA: 10,0.

UNIDOS DA COLONINHA – A Vice Campeã de 2006 resolveu homenagear a cidade de Santo Amaro, a Imperatriz das Águas. O samba é muito superior ao de 2006 e não faria feio em uma grande escola do Rio ou de São Paulo. Lembra um pouco os sambas da Beija Flor, predominando o tom menor, com uma mudança para tom maior no meio da segunda parte – fórmula consagrada na escola desde “Manôa”. Aliás, o clima do samba, talvez por causa do enredo, é parecido com a de grande parte dos sambas que concorreram na Beija Flor em 2006. A primeira parte inicia com uma variação melódica arrojada. O refrão do meio é fortíssimo, mas, infelizmente, entra um pouco atropelando o último verso da primeira parte. Apesar deste clima Beija Flor e de alguns poucos erros de métricas, o samba é muito bom. NOTA: 9,0.

EMBAIXADA COPA LORD – Com São José da Terra Firme, Terra sem Males, mais uma escola homenageia uma cidade de Santa Catarina. A letra é um resumo de sinopse bem feito, mas sem grande poesia. O refrão de cabeça é muito bom, tem uma melodia inusitada, que pode crescer ao vivo. Entretanto, o samba pede uma pegada maior, que dificilmente conseguirá ser dada no desfile pela dificuldade de se cantar a letra, cheia de indianismos. O samba tem alguns problemas técnicos, com métrica errada em trechos como no verso “Seguem seu destino no rastro do sol”. NOTA: 8,3.

PROTEGIDOS DA PRINCESA – Choque neles! Com um enredo um tanto confuso, misturando peão boiadeiro, caprichoso x garantido, fandango e festas juninas, a escola apostou num samba bem leve, que não amarra bem os temas. O resultado é uma letra que sai citando um monte de coisas sem grande conexão entre si. O refrão de cabeça é muito forte. Já o do meio é forçado e precisa de um “tecladinho” para chamar atenção. A gravação que me foi disponibilizada é pessimamente produzida, arrastada e é salva pelo intérprete, que apesar da voz pouco convencional, interpreta muito bem o samba. É, de longe, o mais fraco da cidade no ano, mas ainda assim é interessante e diferente das mesmices que escutamos por aí. NOTA: 7,4.

Lá vai a relação dos sambas do CD com sambas históricos de Floripa e os sambas de 2007:

1.        Quem Vem Lá (Embaixada Copa Lord, 1965)
2.       
O Último Carijó Na Ilha Encantada (Embaixada Copa Lord, 1982)
3.        Das Bananeiras do Libâneo ao Palácio do Samba (Protegidos da Princesa, 1983)
4.        Na Boca da Noite (Unidos da Coloninha, 1985)
5.        Moro no Mundo e Passeio em Casa (Consulado do Samba, 1989)
6.        No Comércio da Vida, Vi, Gostei, Mas Não Comprei. (Embaixada Copa Lord, 1990)
7.        Vôo Noturno (Consulado do Samba, 1992)
8.        Floripa, Terra do Já Teve (Protegidos da Princesa, 1996)
9.        Colorindo o Milênio (Unidos da Coloninha, 1999)
10.        Cruz e Souza, O Cisne Negro Universal (Embaixada Copa Lord, 2000)
11.        O Guarani (Protegidos da Princesa, 2002)
12.        Uma Rosa Para Neide Maria (Consulado do Samba, 2004)
13.        Vinte Luas de Esperança, Vinte Luas de Saudades... Das Matas da Babitonga ao Velho mundo! (Consulado do Samba, 2007)
14.        Imperatriz das Águas, Coloninha Canta Santo Amaro (Unidos da Coloninha, 2007)
15.        São José da Terra Firme,Terra Sem Males (Embaixada Copa Lord, 2007)
16.        No Arraial Do Samba, Festas Juninas Brasileiras de Norte A Sul (Protegidos da Princesa, 2007)

Links:

1ª Parte:

http://www.4shared.com/file/10062043/457c2b7e/Sambas_de_Floripa1.html

2ª Parte:

http://www.4shared.com/file/10062952/24b11126/Sambas_de_Floripa2.html

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Agradeço os que mandaram e-mail, em especial ao companheiro Gabriel Carin, que vem enriquecendo o SAMBARIO com seus comentários para os sambas anteriores ao primeiro LP de sambas enredo da história.

Abraços a todos!

João Marcos
joaomarcos876@yahoo.com.br