Coluna do João Marcos
AOS
LEITORES, COM CARINHO
É com grande alegria que recebo
as mensagens de e-mail dos amigos leitores do SAMBARIO. E fico
entusiasmado com o alto nível de debate, o que mostra que o público
do site possui um altíssimo nível de interesse e conhecimento
sobre sambas-enredo, o que muito me alegra. Tenho certeza de que
o Mestre Maciel e todos os outros colegas têm o mesmo
sentimento.
Por isso, resolvi dedicar o presente artigo aos questionamentos
dos amigos e homenageá-los. Sem vocês, o SAMBARIO nada seria.
Vamos a eles:
1. Você não fez análise dos sambas de 1991 e gostaria de
saber qual sua opinião sobre a composição que o Império
Serrano levou para a avenida nesse ano, cujo tema era sobre os
caminhoneiros. Eu tenho gravado esse e muitos outros desfiles em
casa,mas pelo que eu vi o desfile foi tenebroso e por isso
gostaria de saber se o samba pode ser ou não enquadrado no mesmo
patamar.
Não, o samba do Império de 1991 não é ruim. Para falar a
verdade, dificilmente o enredo daria um samba melhor do que o que
foi apresentado. Inclusive, é admirável a preocupação dos
compositores em retratar a parte psicológica de 'ser
caminhoneiro', a saudade de casa, a fé como escudo contra os
medos da profissão. Confesso que, como imperiano, eu tenho
dificuldade de escutar o samba devido ao fato do desfile ter sido
muito traumático. Mas o samba é bem razoável. Deixo a nota
para quando analisar os sambas de 1991.
2. Você acha que dos atuais compositores, exista algum que
possa superar ou igualar Silas de Oliveira?
Temos compositores vivos que fizeram sambas antológicos, do nível
dos sambas do Silas. Um exemplo? Martinho da Vila. Outro? Ary do
Cavaco. Outro? Hélio Turco. David Correa, Neguinho, etc. A
grande questão é - será que eles podem apresentar obras primas
e serem competitivos? Será que podem investir 100.000 reais numa
disputa para concorrer contra os escritórios? Será que podem
concorrer contra sambas apoiados pelos traficantes que comandam
os morros?
3. Você sabe onde anda Gera, Valcx Jorge Tropical e Godinho?
O que você acha deles? Bons, médios ou péssimos puxadores.
O Gera está pelas bandas do Estácio. Já o Jorge Tropical
estava defendendo sambas concorrentes, inclusive um na Ilha do
Governador, onde está negociando para ser apoio do Ito. Gosto
muito dos dois, são intérpretes que não fazer parte do
movimento de "wanderpiresação", e nem cantam como
pagodeiros mauricinhos. Com relação aos outros dois nomes, não
consegui informações.
4. Por que as escolas escolhem tanta porcaria para tocar na
avenida?
Porque as escolas perderam sua essência de expressão da arte
popular. Parecem escuderias da F1, acham que o importante é
vencer, a competição. Os sambas são escolhidos, quando as
escolhas são sérias, não pelo seu valor artístico, mas pela
sua funcionalidade no desfile. Na maioria das escolas, outras
coisas são levadas em conta, como o quanto a parceria gasta, a
influência do tráfico, etc. O panorama é desanimador.
5. Caro João Marcos, meu nome é Alan e visito o site
SAMBARIO com alguma freqüência por também ser amante de
sambas-enredo. Li seu recente comentário sobre os sambas do
Grupo 1-B de 1981 e gostaria de fazer um esclarecimento sobre o
tema do samba da Unidos de Lucas: um escritor chamado Orígenes
Lessa (1903 - 1986), que chegou a ocupar uma cadeira na Academia
em seus últimos anos de vida, dedicou -se a partir de
determinada época da carreira a escrever para o público
infanto-juvenil, tendo publicado mais de 40 obras nesse ramo. E
é dele a estória de que você suspeita: a de um cabo de
vassoura "especial" cujo nome era Napoleão e sua relação
com o menino que é o seu dono. Pelo nome, fica claro o tal vínculo
com o Imperador... Confesso que nunca li por inteiro nenhum dos
livros que tratam dessa temática; apenas me recordo de ter tido
contato com trechos em livros didáticos durante a minha infância.
Mas o que me vem à mente é que a tal estória do Napoleão era
normalmente citada para crianças (na éééépoca; em tempo, eu
tenho 27 anos). Que eu saiba, os livros que a contam são: Memórias
de um cabo de vassoura; Seqüestro em Parada de Lucas e Napoleão
ataca outra vez. Pelo título do segundo, parece ficar clara a
relação entre o tema e a escolha da Unidos de Lucas por tratá-lo
em desfile. Espero que tenha achado interessante e peço
desculpas se minha atitude e/ou explicação pareceu um pouco
"pedante". Um abraço e parabéns por suas contribuições
ao site... Os interessados no assunto agradecem ao trabalho
realizado por todos do SAMBARIO.
Obrigado, Alan, já colocamos a informação nos comentários.
6. João Marcos, admiro suas colunas e seus comentários
sobre sambas no site SAMBARIO. Li sua coluna sobre o carnaval
virtual e me interessei. Gostaria que você me informasse sobre
como fazer minha escola de samba virtual. E também que você
escrevesse mais colunas explicativas sobre esse curioso carnaval.
Entrei no site da LIESV mas lá não há informações sobre
nada. Apenas aparece escrito sobre a apuração do dia 30. Por
favor me informe mais pois estou interessado. Tenho 14 anos e sou
fanático por qualquer tipo de carnaval. Aguardo sua resposta.
Desde já agradeço. Ah! E se eu fizer minha escola componha
sambas para ela, hein! Valeu!
Organize sua escola, encontre um carnavalesco e um intérprete e
comece a trabalhar. Agora a LIESV terá um desfile de Avaliação
que permitirá todos aqueles que quiserem participar poderem
mostrar seus trabalhos, de forma democrática. O site já foi
atualizado com mais informações. Eu terei uma coluna no site da
LIESV (www.liesv.kit.net) onde explicarei mais sobre o assunto.
Montando a sua escola, terei prazer de compor!
* * * * *
Também me foi pedido para comentar as Eliminatórias de sambas
enredo. Vejamos o quadro.
Com relação ao samba do Império da Tijuca, é um bom samba,
mas é técnico demais, não é emocionante. E o enredo pedia um
samba para mexer com o público e com o componente da escola,
como o samba do Império Serrano deste ano. Mas um exemplo de
falta de ousadia dos compositores e das escolas no momento da
escolha.
No Especial, a Vila Isabel tinha duas boas marchas, oriundas de
uma pareceria que se desfez, mas que domina a escola no milênio.
O samba do Miguel BD e cia., em comparação com o de André
Diniz e cia era mais fraco de letra, mas tinha a cara da
"nova" Vila, com mais pegada. Mas, sinceramente, era um
tanto quanto indiferente quem ganhasse. A escola preferiu
continuar com o time que está dando certo.
Na Grande Rio, a parceria de Da Lua e Mingau fez um belo samba,
como os hinos que a escola escolhia nos anos 90. O samba é este,
como possibilidade até de Estandarte de Ouro. Quem tiver o áudio
do samba concorrente do David Correa, que já foi eliminado,
favor me mandar.
Na Viradouro, nenhum dos sambas me agradava. Acabou ganhando o
samba do Gusttavo, muito inferior ao da mesma parceria do ano
passado. Tinha ligeira preferência pelo de Zé Katimba e cia. Na
Tijuca, o caso é seríssimo, a safra é tenebrosa. Na Mangueira,
o quadro é bem melhor, nenhuma obra de arte, todos do mesmo nível,
que podem representar bem a escola. O meu preferido, que era de o
Beto Savanna e cia, caiu.
Na Beija Flor, não consigo me empolgar com o incensado samba de
Cláudio Russo, que tem falhas grosseiras, como no verso "África
o baobá da vida ilê ifé", onde a mistura de africanismos
e língua portuguesa tiram qualquer sentido no que está sendo
dito. O mesmo erro é cometido na maioria dos sambas do
Salgueiro. O meu preferido era o de Pedrinho da Flor e etc.
Adorava o refrão, com a repetição da palavra
"Candaces", que poderia dá um efeito bacana na
avenida. A escolha de Dudu Botelho não me agradou - é samba técnico,
mas sem nada que se sobressaia e fique grudado no ouvido.
Na Mocidade, nem o samba de Toco se salva. A Imperatriz novamente
se acovardou - o samba de Eduardo Medrado e cia. era o melhor
disparado. As informações dão conta de que o favorito é o de
Darcy do Nascimento, que é uma boa marcha, mas não me empolga.
O de Guga e cia. e de Niltinho e cia. são muito fracos.
No Império Serrano, o samba de Arlindo Cruz e cia. é muito
superior aos demais, diferente do que aconteceu ano passado,
quando o equilíbrio reinava. Com relação a Portela, temos
sambas muito bons, mas nada de deixar boquiaberto. Os de Diogo
Nogueira e cia, e Monarco e cia. tem o mesmo nível, mas o de
Noca, apesar de um pouco inferior, merece atenção - a gravação
é horrorosa, mas o samba em si tem qualidades.
Porto da Pedra, sinceramente, ainda não consegui escutar um
samba até o fim. A safra é lamentável em todos os aspectos. Lá
vem o Caveirão!
Enfim, 2007 aponta ser o ano das firmas e da mediocridade.
Escolas covardes apostando suas fichas naquilo que entendem que
dará certo na avenida e que, no final, geram indiferenças. A
podridão das disputas e das torcidas encomendadas está ganhando
de lavada. Depois reclamam que ninguém conhece os sambas e que
os CDs têm vendagens pífias. Com o que ta vindo por aí, o CD não
vale nem os 05 reais cobrados pelos camelôs.
Abraços a todos!
João
Marcos
joaomarcos876@yahoo.com.br