Coluna do João Marcos
O
CULPADO FEZ O BEM... O INOCENTE, O MAL... TODO MUNDO É JURADO
NESSE CARNAVAL
Se tiver algum culpado pelo fato
das Escolas de Sambas estarem fazendo um carnaval cada vez mais
frio, distante do público e, eu diria, CHATO, são os jurados. A
verdade é que este julgamento supostamente "técnico"
tirou toda a graça dos desfiles. Os jurados parecem não ter
mais sensibilidade para a resposta do público, para a empolgação
do componente. Sentam em seu camarote e analisam os aspectos
"técnicos". Buscam defeitos, e não o que é especial,
único, o que faz a diferença.
Na teoria, todas as escolas começam com nota 10 em todos os
quesitos. Ao longo do desfile, o jurado analisa e vai tirando
ponto. Ou seja, o sujeito desfila com medo de errar. Pior do que
isso - o público começa a ver o desfile com os mesmos olhos.
Assiste estático, procurando a imperfeição da fantasia,
esperando a paradinha para ver se tudo vai ocorrer bem.
Sinceramente, isto é medíocre demais. Outra coisa que não dá
para entender é separar o julgamento de melodia e letra - um
complementa o outro. Muitas vezes, a melodia serve para ressaltar
a emoção de um determinado verso. Como é que se pode julgar
separadamente coisas que se complementam!?
Por conta disso, não causa surpresa as justificativas dos
jurados. Quase todos julgaram muito mal. Teve um que chegou a dar
o décimo de bonificação para o fraquíssimo samba da Unidos da
Tijuca!
Diante disso, vamos julgar os jurados! Como o SAMBARIO é sobre
sambas-enredo, infelizmente não posso meter o pau
especificamente no sujeito que tirou meio ponto da Mangueira por
ela estar verde e rosa demais, tirando dela o título de legítima
campeã do carnaval de 2006 (com um desfile que sobrou, diga-se
de passagem). Também não posso comentar as notas absurdas para
o enredo do Império Serrano. Só vou julgar um jurado que não
é de Samba Enredo, até porque ele julgou samba enredo também,
fugindo das suas atribuições, com um motivo claro - APARECER NA
MÍDIA. Vamos lá:
RUY
MAURITI - Foi o
melhor dos quatro jurados do quesito. Conseguiu perceber que o
refrão do meio do samba do Salgueiro é fraco e só serve de
ligação entre as duas partes, como comentamos aqui no SAMBARIO;
percebeu, também, a fraqueza dos sambas de Porto da Pedra,
Rocinha e Caprichosos, que também já tínhamos apontado aqui. A
minha grande ressalva é que não especificou muito bem os
problemas de melodia que percebeu nos sambas da Imperatriz e
Viradouro. Parece ter uma visão mais conservadora, o que
transparece na concessão do décimo de bonificação para a
Portela. Mas é um jurado que merece continuar para 2007. NOTA:
9,4.
ERI
GALVÃO - O grande
problema desse jurado é ser "bonzinho" demais.
Julgador tem de ser duro para não nivelar a coisa por baixo. Dar
nota alta para todo mundo é não se comprometer com ninguém, é
querer não criar confusão. Muitas vezes é preciso uma atitude
mais dura para o resultado aparecer, para que as escolas se
esforcem mais no ano seguinte. Revela também uma face
saudosista, dando o décimo de bonificação para a Portela,
segundo ele "o melhor encaixe de letra e melodia", além
de dizer especificamente que o samba da Caprichosos não tem a
"riqueza poética dos sambas dos anos 70/80". Tirou
alguns décimos de onde não deveria tirar, deixou de ver
problemas patentes de alguns sambas. Não foi péssimo, mas não
diferenciou as escola. Merece pendurar as chuteiras. NOTA: 8,0.
MARTA
MACÊDO - Deu o décimo
de bonificação para a Mangueira porque o samba empolgou a
escola. Reclamou do esquema de rimas com "idade" da
Mocidade - ou seja, nunca daria nota 10 para qualquer samba da
escola. Pecou muito na análise das letras, tirando ponto de
Viradouro e Portela por não visualizar no samba fatos da
sinopse, sendo que estes fatos estavam representados nas obras...
Mas o maior crime, na minha opinião, foram os vários décimos
tirados do samba da Imperatriz. Inicialmente, não conseguiu
entender a inversão de termos da oração, dizendo que o
"românticas" estava sem conexão com nada, mostrando
total desconhecimento de interpretação de texto. Entretanto, a
justificativa de que o refrão não teria ligação com o enredo
é ridícula. É o tipo de jurado que faz com que as escolas
acabem engessando os compositores, transformando os sambas em
mero resumo de sinopse. Vamos pegar um exemplo: seguindo o
julgamento desta senhora, um refrão como "Explode coração/Na
maior felicidade/É lindo o meu Salgueiro/Contagiando sacundindo
a cidade", para esta jurada, ao invés de ser o ponto
alto do samba, é seu calcanhar de Aquiles! Muito ruim. NOTA:
7,0.
MARCELO
RODRIGUES - Só o
fato de dar o décimo de bonificação para a Unidos da Tijuca
mostra que este jurado não tem a menor condição de julgar o
quesito. Interessante que achou ruim a letra do samba da
Mocidade, apontando a melodia como ponto forte - exatamente o
oposto da justificativa do jurado Eri Galvão. Também elogiou a
letra do samba da Rocinha, cujos defeitos foram apontados pelos
outros jurados. Deu muitas notas altas, nivelando os sambas por
baixo. Foi o jurado mais bonzinho, defeito terrível, o que
mostra que não quis se comprometer e julgar nada. Também não
merece voltar. NOTA: 7,3.
BAFO
DE BODE - Bemvindo
Siqueira, julgador de Harmonia, veio com um único propósito:
ser o jurado comentado por tirar o título da Unidos da Tijuca.
Para isso, resolveu esquecer seu quesito e julgar samba-enredo. E
ele foi malandro - veio com justificativas supostamente "técnicas"
para não mostrar a perseguição contra a escola. Primeiramente,
reclamou de "eufonia" pelo deslocamento da sílaba tônica
no verso "Minhá Tijuca". Julgar erro de português
numa manifestação cultural popular é uma covardia. Exemplo: o
samba "51 anos de República", de Silas de Oliveira,
rima "República" com "rúbricas". Ocorre que
o correto é "rubrica", com sílaba tônica no
"bri". Eufonia. Será que alguém teria coragem de
tirar um décimo sequer daquela obra prima? Exemplos de eufonia
estão espalhados em sambas enredos consagrados. Pior ainda foi a
alegação de cacófato, no trecho "MúsiCA GANha". Cacófato
é o encontro de sílabas que formam nova palavra com sentido próprio.
Pelo que me conste, não existe a palavra "cagã".
Existe caga, existe cagam, existe cagão... mas desconheço a
palavra "cagã". Enfim, o samba da Tijuca é muito ruim
mesmo, mas não por estes motivos. O Bafo de Bode pensou que a
escola tijucana ia disputar o título e que ele ia seria o grande
nome da frustração deste objetivo. Ainda bem que seu objetivo
foi totalmente frustrado, não se dando muito espaço para ele na
grande imprensa. Agora, espero sinceramente que ele seja
defenestrado do corpo de jurados. O certo seria sequer ele pisar
no Sambódromo depois disso. NOTA: 0,0.
João
Marcos
joaomarcos876@yahoo.com.br