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MULHER À BRASILEIRA - A HISTÓRICA DUPLA DE SAMBA DA PORTELA PARA 1978
   
  
MULHER À BRASILEIRA - A HISTÓRICA DISPUTA DE SAMBA DA PORTELA PARA 1978

14 de julho de 2023, nº 29

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Gbalá - Versão Dona Ivanisia e Cia

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Amigos do Sambario! Quem vos escreve é Túlio Rabelo, do canal TR - Sambas de Enredo. Em mais uma Coluna referente a gloriosa Portela, em comemoração ao seu centenário, irei desta vez trazer à tona a disputa de samba para o Carnaval de 1978, cujo enredo era “Mulher à Brasileira”. É uma disputa muito conhecida pelos amantes de Carnaval, sobretudo por ter sambas concorrentes considerados melhores que o samba vencedor e que cujo resultado gerou a saída de notáveis compositores da Portela, sejam temporariamente ou definitivamente. Para ilustrar este tema, apresentarei o relato fiel de André Poesia e apresentarei o samba campeão e os quatro concorrentes regravados.

Relato de André Poesia (Extraído da série pessoal “Pau Com Formiga”, nº3):

E a Portela lança seu enredo com pompas para o Carnaval de 1978, enredo inovador, diferente para a escola que sempre se propôs ao tradicional, mas precisava mudar. Então a Portela vem com "Mulher Brasileira", cuja ideia foi de Hiran Araújo e teve desenvolvimento de Rosa Magalhães. O enredo busca contar a história da mulher brasileira, como forte, contundente, faceira, guerreira e pondo ícones femininos.

A ala de compositores fincou várias parcerias: Jair Amorim e Evaldo Gouveia (Samba Campeão); Romildo, Cardosinho e Jair do Cavaco; Noca da Portela, Joel Menezes e Carlito Cavalcanti; Anézio do Cavaco e Candanda; João Nogueira e Ary do Cavaco; Agepê e Canário; Monarco e Wilson Moreira; Edson China e Marques Balbino; Luiz Ayrão; Catoni, Dedé da Portela e Jabolô; Waltenir e Jorge Macedo; Norival Reis e Vicente Mattos; e outras parcerias com David Corrêa, Tião Nascimento,  Walter Rosa, Valdir 59, dentre outros poetas.

Com os sambas na quadra, surgem os favoritos. Nésio Nascimento lidera os cortes e organiza a disputa, sendo o real mandante. Nos primeiros cortes, David Corrêa é cortado e parte para a Beija-Flor, onde tentaria participar da disputa de samba, mas não consegue disputar devido a uma mobilização de Neguinho da Beija-Flor. A cada corte surge uma revolta, pois os burburinhos ficam latentes de que já havia vencedor. Os compositores se contrariavam com as previsões. Monarco que é avisado que seria cortado, realmente foi e abandonou temporariamente a Portela, voltando em 1980. Os tradicionais, junto a Candeia e Paulinho da Viola, apoiavam o samba de Romildo, Jair do Cavaco e Cardosinho, considerada a letra mais bonita, e o samba também é cortado. Luiz Ayrão na sua estreia em disputa, torna-se um dos favoritos, mas é cortado com a alegação de ter gravado o samba antes da escolha. Com o corte de Ayrão, o samba de Noca, Joel Menezes e Carlito Cavalcanti se torna franco favorito.


Na final a Portela deixa quatro sambas, os de: (1) Norival Reis (que disputa sua quarta final, com duas vitórias) e Vicente Mattos (que deixa o Império Serrano e em sua primeira disputa chega a final); (2) Agepê e Canário; (3) Noca da Portela (que sonha com sua segunda vitória), Joel Menezes (retornando na disputa, novamente se põe na final, aliás só não chegou a final nos dois primeiros anos dele “1971 e 1972" e Carlito Cavalcanti; (4) Jair Amorim e Evaldo Gouveia, que não tinham o apoio portelense, ninguém os viam como possíveis vencedores, nem finalista, apesar do samba ser interpretado por Abílio Martins.

O mundo do samba parte para a Arruda Câmara na divisa oficial entre Madureira e Oswaldo Cruz para participar da falada final portelense. Gente de todos os cantos no portelão, a torcida do samba do Noca já comemora o provável título. Sambas cantados com empolgação, todos fazendo o possível para abrilhantar a finalíssima e o resultado inesperado acontece: Jair Amorim e Evaldo Gouveia vence. O silêncio de quem não participava da torcida tornou-se mais barulhento que o canto de quem comemorava e em menos de cinco minutos a quadra esvazia, como num protesto de indignação, atônito o mundo do samba abraça a mais uma derrota.
 
Em matéria divulgada no Jornal do Brasil, Candeia critica o samba escolhido, dizendo que os dois compositores vencedores não tinham a mínima condição de ganhar. Para Candeia, os compositores Jair Amorim e Evaldo Gouveia, mais conhecidos pelo bolero, não tinham capacidade para fazer samba enredo. Candeia alega também que o samba deles não tinha estrutura e que o dinheiro venceu. Veja a matéria:


Escute o samba vencedor



Antes de partirmos para os concorrentes, vale também expor uma visão positiva do samba vencedor, pois nem tudo é crítica. Primeiro, uma crítica pessoal do colunista que vos escreve. Ao meu ver, a mensagem passada pelo samba vencedor é a que mais sobrevive ao tempo, ao respeito com as mulheres. É um bom samba, mesmo que musicalmente inferior aos quatro concorrentes que conhecemos. Segundo, segue uma matéria de jornal, onde o jornalista Edward da Rosa se mostra a favor do samba campeão:


Temos gravação de quatro sambas concorrentes: (1) Agepê e Canário (Finalista); (2) Noca da Portela, Joel Menezes e Carlito Cavalcanti (Finalista); (3) Luiz Ayrão; (4) Anézio do Cavaco e Candanda.

Agepê e Canário (Finalista)


Gravado por Agepê como “A Musa dos Heróis” no LP “Agepê - Tipo Exportação (1978)”

Uma melodia maravilhosa, um canto emocionante de Agepê. Muito mais gostoso de ouvir em comparação ao samba que venceu. Romantismo puro.


Se a vitória não veio, o samba “A Musa dos Heróis” fez baita sucesso e engrandeceu ainda mais a discografia do Agepê. Curiosamente, neste caso, os compositores mantiveram o nome da agremiação ao regravar, deixando explícito a todos que foi um samba para a Portela. Canário, seu parceiro, saiu dessa disputa maior do que entrou, aponta o jornal Tribuna da Imprensa.


Noca da Portela, Joel Menezes e Carlito Cavalcanti (Finalista)


Gravado por Roberto Ribeiro como “Flor Mulher” no LP “Roberto Ribeiro (1978)”

Novamente romantismo puro. Um primor de letra e de melodia. Eternizado pelo Roberto Ribeiro.


Não venceu, mas fez muito sucesso. E foi muito divulgado nas mídias da época, como aponta a seguinte matéria de jornal:



O vídeo a seguir, publicado por Luiz Tadeu Soares no Facebook, evidencia o que foi dito na foto acima. Este bonito samba concorrente, já como “Flor Mulher”, foi entoado em uma cena da novela Dancin' Days:

 

Luiz Ayrão (Concorrente)


Gravado por Luiz Ayrão como “Mulher a Brasileira” no LP “Luiz Ayrão (1977)”.

Também com a pitada romântica do enredo, o samba de Luiz Ayrão tem uma letra mais longa que a dos demais citados, descrevendo muito bem o enredo. Destaca-se o trecho “No campo ou nas cidades / No morro ou no asfalto / Nas mais diversas atividades / A mulher vai falando mais alto / Com raça, talento e um jeitinho à brasileira / Faz muito mais que fez oculta, a história inteira”.


Vale lembrar, que o compositor Luiz Ayrão, conforme já havia antecipado André Poesia em seu relato, foi cortado da disputa por ter gravado seu samba durante a disputa. O jornal Tribuna da Imprensa destacou esse acontecimento na foto abaixo, ressaltando que apesar do corte, o samba de Luiz Ayrão estava fazendo muito sucesso:



Anézio do Cavaco e Candanda (Concorrente)

 

Gravado por Jorge Aragão como “A mulher do Brasil” em seu LP “Verão (1983)”

Diferente dos demais que foram gravados menos de um ano depois do término da disputa, este último concorrente que temos a ciência de que foi regravado, só foi chegar ao público em 1983, via LP do Jorge Aragão. Trata-se de um samba muito bonito, embora para mim, sendo um pouco inferior que os demais. A letra é primorosa.


Vale frisar, que dentre os finalistas, só não temos gravação do samba de Norival Reis e Vicente Mattos. Infelizmente, não conheço ninguém que se lembre da letra e melodia do samba. Edinaldo Souza, compositor portelense, relata se lembrar do estribilho “...MULHER BRASILEIRA É… NO ANDAR…”.

Quanto às saídas acarretadas por essa polêmica disputa, não temos um exato conhecimento de todos que saíram, salvo aqueles que já foram citados nesta coluna. Mas os relatos da época apontam que houve uma série de baixas na ala de compositores da agremiação.

Para finalizar, voltamos ao samba vencedor, pois foi ele que, meses depois da disputa, passou na avenida. Segue trechos do desfile oficial:

 

 

Glórias a Portela!!! 100 anos de muita alegria, muita briga, muito amor. Altos e baixos; vitórias e derrotas; chegadas e despedidas… Portela nós te amamos!!!