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É PRECISO PENSAR O SAMBA-ENREDO COMO UM GÊNERO MUSICAL

    É PRECISO PENSAR O SAMBA-ENREDO COMO UM GÊNERO MUSICAL

24 de fevereiro de 2023, nº 23

Amigos do Sambario! Quem vos escreve é Túlio Rabelo, do canal TR - Sambas de Enredo. Nesta nova coluna, farei uma reflexão a respeito dos rumos do samba enredo, hoje quase todos esquecidos ao término do Carnaval. Temos sim, ótimos sambas para o Carnaval 2023, mas há muito o que melhorar.

Antes de mais nada, é preciso dizer, que oficialmente o samba enredo é considerado um sub-gênero do samba, tendo surgido por volta da década de 1930 para fins de embalar o desfile das escolas de samba durante o Carnaval. Entretanto, por mera ousadia deste colunista, mesmo que erradamente, prefiro pensar o samba enredo como um gênero musical à parte.

A crítica que aqui faço é que quando penso no samba enredo como gênero musical, penso nele com muito cuidado e carinho, atribuindo-o importância para além do Carnaval. Como qualquer música, o samba enredo embala minha vida o ano inteiro e por isso, o quero forte e com variadas vertentes de estilo. O problema é que, com a padronização dos desfiles, tornando-se um produto comercial (não tão somente cultural), os sambas enredo também estão sendo padronizados e estão virando apenas mais um quesito.

Os jurados penalizam as agremiações que ousam em seus sambas e com isso os compositores se sentem obrigados a seguir à risca as sinopses, perdendo nuances melódicas, criando sambas funcionais. Com receita de bolo, formato padrão, o samba enredo perde potencial de evolução. Parece que todo ano, será um déjà vu. Sambas bonitos, mas que trazem um grande déjà vu. Dessa forma, é criado o que eu chamo de “samba bonito descartável e genérico”, pois no ano seguinte terá outro igual.

Isso se justifica, vale dizer, pois os mesmos compositores, dos ditos escritórios de samba, assinam grande parte dessas obras, seja no RJ, SP, Vitória, Uruguaiana, Porto Alegre. E eles, ao vencer as badaladas disputas do Especial do RJ e SP, ditam o estilo a ser seguido, criando, por exemplo, uma legião de sambas do Compositor X, que não foi feito pelo Compositor X, mas que traz o estilo dele. Isso desanima quem gosta de fazer algo diferente.

Na década de 1970, tivemos um número expressivo de sambas oficiais e de sambas concorrentes regravados em LPs. Os sambas tinham alma, eram criados por poucos compositores, eram pensados para cair na boca do povão. Não havia rigidez das sinopses e repetindo, almejava-se a popularização, inclusive com refrão curtinho, com letras contagiantes como “Oi brilha emoção, antes que eu me esqueça / Extra, extra/ Deu Ilha na cabeça” (União da Ilha 1987) e “Diga espelho meu / Se há na avenida alguém mais feliz que eu” (União da Ilha 1982). Facilmente, um samba enredo era transformado em um samba de meio de ano, em um samba de álbum de carreira, como por exemplo o samba concorrente de Aroldo Melodia e Franco para a União da Ilha 1982, eternizado por Joel Teixeira.

Primeiro, segue a gravação da disputa, na voz do Aroldo Melodia, do acervo do Russo, resgatado no TR.



E agora a versão do Joel Teixeira, gravado como “Hoje sou Felicidade”:

 

Outro exemplo, da mesma União da Ilha, é o samba finalista de Fred, Bujão e Kleber Rodrigues para 1995, que neste caso manteve a ótima melodia, mas trocou a letra do enredo, para uma letra romântica na voz de Jorginho do Império.

Primeiro, segue a gravação da disputa.

 

E agora, a versão do Jorginho do Império, gravado como “Você de Lá Eu de Cá”.

 

Portanto amigos compositores, inclusive vocês dos escritórios do samba, quando forem criar um samba… tente deixar ali alma, melodia, um samba enredo que pode até virar música de carreira, vencendo ou não na quadra. Tenha seu próprio estilo, traga a essência dos sambas antigos, juntando-o ao presente. Sei que isso é uma utopia, pois para vencer, as parcerias se adaptam às necessidades das escolas, mas vale refletir.

A Coluna acima foi escrita por um mero pesquisador de samba enredo, que escutou todo o acervo carioca e paulista de sambas oficiais, bem como um grande número de sambas concorrentes gravados em álbuns oficiais ou somente para disputa. Também compositor, criando apenas por lazer sambas de enredo para o Carnaval Virtual e de Maquete, tento levar essa essência para minhas obras musicais. Até por este motivo, deixo aqui meus parabéns aos poetas do Carnaval Virtual e de Maquete, que muitas vezes fazem sambas sozinhos, em dupla ou em trio, no gogó ou com cavaquinho. Nestas ligas, podemos ter um gostinho do que é samba enredo feito com alma e melodia.

Para registrar, cito aqui Imperatriz Nordestina 2021, samba composto e gravado por Raphael Gravino, em exaltação ao Lima Barreto.

 

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Túlio Rabelo

Twitter: @EnredoTR
Canal TR - Sambas de Enredo