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História & Samba

UM NOVO TEMPLO COM VELHOS HÁBITOS

15 de fevereiro de 2012, nº 5, ano III

O ano era 1984, quando o templo maior do carnaval era erguido: a Marquês de Sapucaí. Ou só “Sapucaí” para nós mais íntimos. A criação de Niemeyer no governo do Brizola consagraria o carnaval carioca de uma vez por todas. E consagraria também um modelo de carnaval-espetáculo que tanta discórdia causa entre os sambistas.

A Sapucaí mudou o conceito estético de desfile aumentando significativamente as alegorias e fantasias. O concreto das arquibancadas com o passar dos anos e com a o crescimento do carnaval-espetáculo parecia “concretar” também o público, cada vez mais apático e estranho ao mundo carnavalesco. Cada vez mais o desfile se tornava frio. Em 1993 penso que foi a última grande explosão do sambódromo carioca no espetacular explodir de coração do Ita salgueirense. A partir de então, e principalmente na última década, o carnaval carioca perdeu muito em emoção. O público foi ficando cada fez mais frio. O carioca que adora gabar-se de que tem o “melhor carnaval do mundo” em quesito “temperatura do público” vem perdendo de lavada para o seu “primo” Anhembi em São Paulo. Prova disso foi a avassaladora resposta popular durante a entrada da Vai-Vai com o enredo sobre o mestre João Carlos Martins em 2011. Nunca tinha acontecido comigo com uma escola paulistana, lágrimas vieram aos meus olhos quando vi aquela força e resposta popular da entrada da escola.

E o carnaval carioca? Esse precisa disso, de mais resposta popular aos desfiles que são sim fantásticos, mas precisam de menos passividade de quem assiste. Por isso esta reforma da Sapucaí, dando o contorno original à passarela com arquibancadas em ambos aos lados, poderia encher-me de esperança de que o carnaval do Rio volte aquecer as arquibancadas como fazia no passado. Mas parece que essa mudança não passará por uma (re)popularização do desfile das escolas de samba, em especial do Grupo Especial do Rio. Espero que as cabeças pensantes e do poder público do Rio não continuem com a política de “curralização” dos populares nos setores menos nobres da Avenida.

Bom, nos meus sonhos eu queria crer que essa mudança arquitetônica na Sapucaí tornasse o desfile mais popular, mas infelizmente penso que não será isso que vai acontecer. Numa tremenda contradição, tudo indica para a continuidade da elitização da festa popular. Esse carnaval de 2012 parece nos sinalizar os carnavais que virão.