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ENTRE A BOLA E O PANDEIRO 29 de novembro de 2010, nº 2, ano I
O sábado de carnaval é sempre um dia no carnaval de
alegria e descontração. As escolas de samba que desfilam no sábado correspondem
ao acesso A, ou seja, são da ilustre segunda divisão. Nelas vê-se mais o espírito momesco e é o dia
que talvez eu mais me divirta. Nesse ano estava na arquibancada esperando a São
Clemente quando ouço um reboliço vindo do alto do setor 9. Bolas,
guarda-chuvas, apitos... O que seria aquilo?
Era a Bom, o mundo é redondo (até aí, nenhuma novidade), mas o
gênio João ousou dizer que “O mundo é uma bola” em meados dos anos de
1980. A Deusa Nilopolitana finalmente
costurava carnaval e futebol em um enredo, pois na história do samba, essa
costura já foi feita em tempos atrás. Mistura de fazer chover na Marquês! E
choveu tanto, que acho que os deuses do futebol e os deuses do carnaval
sambaram tanto no céu que São Pedro ficou com ciúmes de não ter sambado também.
Talvez ele não tivesse time nem escola de samba... Não ter time e nem escola de
samba para um carioca é um crime imperdoável, logo São Pedro não deve ser
carioca. E a Beija-Flor passou linda e molhada unindo passado e presente da
cultura dessa cidade. Como se começava um bloco? Na pelada de Domingo. O que se
discute hoje entre uma cerveja e outra na porta de uma escola de samba ou até
em fóruns sobre carnaval na internet? O gol da rodada. Quem é o namorado da
rainha de bateria? Aquele jogador... Falar de futebol e carnaval é falar dos Independentes, que
deram origem a estrela-guia de Padre Miguel. Um time que virou bloco nos anos
de 1950, e que por razões políticas e festivas virou escola de samba. A
Mocidade parece ter aprendido com seus fundadores os dribles exatos que o
sambista devem ter para botar o carnaval na rua. Não faço parte do Vasco da Gama e nem da Unidos da Tijuca
(embora goste e respeite muito as duas instituições), mas para um admirador da
boa cultura brasileira e carioca, chegar num estádio e ouvir “Vamos vibrar meu povão, é gol, é gol... A
rede vai balançar... Vai balançar... Sou Vasco da Gama, meu bem... Campeão de
terra e mar” é lindo e é de arrepiar. O incrível é quando o destino, regido por sambistas e torcedores, resolve juntar sabidamente as duas manifestações mais representativas dos últimos cem anos pelo menos. O futebol, filho da aristocracia pseudo-inglesa das esquisitices tropical-européias se apaixona pela menina dos olhos do morro, chamada, Carnaval. Eduardo Nunes |
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