PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

História & Samba

ENTRE A BOLA E O PANDEIRO

29 de novembro de 2010, nº 2, ano I

O sábado de carnaval é sempre um dia no carnaval de alegria e descontração. As escolas de samba que desfilam no sábado correspondem ao acesso A, ou seja, são da ilustre segunda divisão.  Nelas vê-se mais o espírito momesco e é o dia que talvez eu mais me divirta. Nesse ano estava na arquibancada esperando a São Clemente quando ouço um reboliço vindo do alto do setor 9. Bolas, guarda-chuvas, apitos... O que seria aquilo?  Era a La Padilla Clementiana, grupo formado por amigos e amigos de amigos (que são aqueles que você bebe sem saber o nome) que fizeram a torcida organizada da São Clemente. Que idéia genial, localizada exatamente entre a bola e o pandeiro. Conversando com um dos fundadores, amigo meu de carnaval virtual, Felipe Damico, entendi o propósito da torcida. Sim, tinha que ser fundada na São Clemente, afinal qual escola de samba tem mais domínio sobre a bola do que a querida escola de Botafogo. O Felipe me explicava, “-Dudu, futebol e carnaval tem tudo a ver!”. Sim eu tinha que concordar... E a escola preta e amarela das cores do Peñarol seria a primeira escola de samba a ter uma torcida Hincha/Barra Brava na cidade do Rio, essa mesma, maravilhosa e com o corpinho violão.

Bom, o mundo é redondo (até aí, nenhuma novidade), mas o gênio João ousou dizer que “O mundo é uma bola” em meados dos anos de 1980.  A Deusa Nilopolitana finalmente costurava carnaval e futebol em um enredo, pois na história do samba, essa costura já foi feita em tempos atrás. Mistura de fazer chover na Marquês! E choveu tanto, que acho que os deuses do futebol e os deuses do carnaval sambaram tanto no céu que São Pedro ficou com ciúmes de não ter sambado também. Talvez ele não tivesse time nem escola de samba... Não ter time e nem escola de samba para um carioca é um crime imperdoável, logo São Pedro não deve ser carioca. E a Beija-Flor passou linda e molhada unindo passado e presente da cultura dessa cidade.

Como se começava um bloco? Na pelada de Domingo. O que se discute hoje entre uma cerveja e outra na porta de uma escola de samba ou até em fóruns sobre carnaval na internet? O gol da rodada. Quem é o namorado da rainha de bateria? Aquele jogador...

Falar de futebol e carnaval é falar dos Independentes, que deram origem a estrela-guia de Padre Miguel. Um time que virou bloco nos anos de 1950, e que por razões políticas e festivas virou escola de samba. A Mocidade parece ter aprendido com seus fundadores os dribles exatos que o sambista devem ter para botar o carnaval na rua.

Não faço parte do Vasco da Gama e nem da Unidos da Tijuca (embora goste e respeite muito as duas instituições), mas para um admirador da boa cultura brasileira e carioca, chegar num estádio e ouvir “Vamos vibrar meu povão, é gol, é gol... A rede vai balançar... Vai balançar... Sou Vasco da Gama, meu bem... Campeão de terra e mar” é lindo e é de arrepiar.

O incrível é quando o destino, regido por sambistas e torcedores, resolve juntar sabidamente as duas manifestações mais representativas dos últimos cem anos pelo menos. O futebol, filho da aristocracia pseudo-inglesa das esquisitices tropical-européias se apaixona pela menina dos olhos do morro, chamada, Carnaval.

Eduardo Nunes
eduardopiresnunes@hotmail.com