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CARNAVAL 84 - A INAUGURAÇÃO DA PASSARELA DO SAMBA 26 de maio de 2009, nº 14, ano V
Em
meados de 1983, ninguém sabia como seria a organização do
desfile do próximo carnaval. Com um número cada vez maior de
agremiações no grupo principal, Alcione Barreto, presidente da
Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, e um grupo
de dirigentes sugeriram à prefeitura que o desfile fosse
realizado em dois dias, mas não obtiveram resposta imediata.
Também não se sabia onde seriam realizados os desfiles, já que
alguns queriam transferi-lo para a Avenida Presidente Vargas ou
até mesmo para o estádio do Maracanã. Mas, no dia 11 de
setembro, o carnaval de 1984 começou a ganhar forma: o
governador Leonel Brizola convocou a imprensa ao palácio
Guanabara e apresentou um projeto para a construção de um
espaço definitivo para as apresentações das escolas de samba.
Tal projeto, encomendado pelo vice-governador Darcy Ribeiro ao
arquiteto Oscar Niemeyer, confirmou a Rua Marquês de Sapucaí,
que desde 1978 era o palco dos desfiles, como o local escolhido
para a realização das obras.
DESFILE DE DOMINGO Passistas da Unidos da Tijuca brincam o carnaval na enorme Praça da Apoteose UNIDOS DA TIJUCA – Abrindo o desfile das grandes escolas, a agremiação do morro do Borel entrou na Passarela enfrentando um sério problema: os integrantes de sua comissão de frente não conseguiram chegar na concentração na hora prevista e somente minutos antes de ser dada a ordem para o início do desfile é que a diretoria decidiu chamar um grupo de mulatas para defender o quesito. Menos bem preparada do que nos anos anteriores, a Unidos da Tijuca apresentou o enredo “Salamaleikum, a Epopéia dos Insubmissos Malês”, contando a saga da etnia de escravos politizados que desembarcaram no Brasil entre os séculos XVII e XIX. Com pouco mais de 2.000 componentes, a escola abriu seu carnaval apostando no seu símbolo (o pavão), que, infelizmente, desfilou sobre um quadripé de acabamento muito precário. Ao longo do desfile, o azul e o amarelo – misturados ao branco, prata e dourado – predominaram nos figurinos e adereços, mas, em termos plásticos, a Unidos da Tijuca deixou a desejar, tendo nas fantasias de alguns destaques seus melhores momentos. O samba, defendido por Sobrinho, e a bateria foram os pontos positivos. No final, a escola conseguiu agradar com sua ocupação na Praça da Apoteose, afinal era a primeira grande escola a chegar naquele novo espaço.
IMPÉRIO DA TIJUCA – Protestando contra a lei que fechou os cassinos no Brasil, o Império da Tijuca apresentou o enredo “9.215”, desenvolvido pelo carnavalesco José Félix. Com cerca de 1.500 componentes, a escola evoluiu razoavelmente bem, apesar do samba muito fraco, defendido pelo competente puxador Almir Saint-Clair. O carro abre-alas era formado por uma escadaria espelhada, com vedetes e destaques emplumados. Atrás, vinha a garbosa velha guarda, defendendo os 20 pontos do quesito comissão de frente. Menos numerosa que a escola anterior, o Império da Tijuca não ocupou de forma compacta todos os espaços da Praça da Apoteose, mas seu diretor de harmonia conseguiu fazer com que a maioria das alas continuasse a evoluir com animação. Tendo como pontos altos a bateria, a ala das baianas e a comissão de frente, o Império da Tijuca passou sem grandes tropeços, apresentando carros e figurinos mais bonitos do que em anos anteriores.
CAPRICHOSOS – Quando os mais de 5.000 componentes entraram na Passarela, o público foi só animação. O enredo “A Visita da Nobreza do Riso a Chico Rei, num Palco nem Sempre Iluminado”, uma bela criação do carnavalesco Luiz Fernando Reis, não apenas fazia crítica política bem-humorada, mas também satirizava o próprio desfile das escolas de samba. No abre-alas, destaque total para escultura de Chico Anísio (o Chico Rei do enredo), que cumprimentava o público girando a cabeça de um lado ao outro. A comissão de frente surgiu vestida de Popó e imitava os gestos de uma comissão formal. Multicoloridas, as alas representavam os vários personagens de Chico e as demais figuras citadas no enredo, com espaço inclusive para uma tal “Alice num País de Ilusões”, muito bem representada pela ala mirim. A Caprichosos de Pilares ocupou toda a Praça da Apoteose, mantendo o público animado até o final de seu desfile, que foi somente um pouco prejudicado pelos problemas no sistema de som e pelo excesso de componentes, que fez com que algumas alas deixassem claros na pista. Clamando por eleições diretas para Presidente, a Caprichosos surpreendeu e fez uma exibição que jamais será esquecida.
ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – Faltavam alguns minutos para as duas horas da madrugada de segunda-feira quando o Salgueiro deu início ao seu esperado desfile. O enredo “Skindô, Skindô” foi inspirado em um show de Haroldo Costa, denominado “Na Pista do Samba”, e abordava a influência negra na música brasileira. De volta à escola, o carnavalesco Arlindo Rodrigues criou um carnaval de inegável bom gosto, mas nem todo o seu projeto pôde ir para a Sapucaí. Ainda assim, os 2.500 componentes, divididos em 22 alas, desfilaram trajados com elegância, em figurinos que respeitavam as cores da escola. Mas por pouco, alguns deles não ficaram sem desfilar, pois algumas fantasias só foram entregues poucas horas antes do desfile. No primeiro setor, Arlindo Rodrigues mostrou a África, com destaque para uma ala de palha e uma carroça puxada por zebras, sobre a qual Paulo Varelli reinava absoluto em linda vestimenta africana. Na sequência surgiram alas ricamente vestidas e diversos tripés e painéis ilustrativos do enredo. Um lindo pavão espelhado abriu o quadro denominado “Samba Apoteótico”, mas a grande surpresa do desfile foi guardada para o final, quando Arlindo mostrou aquela que seria considerada uma de suas principais criações: o Carro da Favela, no qual esculturas em dimensões humanas representavam vários sambistas. Apesar de toda a beleza, o samba de David Corrêa (um dos mais cantados na fase pré-carnavalesca) não conseguiu empolgar tanto quanto o esperado. Outro problema aconteceu com a bateria: Mestre Louro foi destituído do cargo de diretor por Laíla semanas antes do carnaval. Mas, mostrando amor à bandeira, Louro desfilou tocando tamborim e ajudou seus ritmistas em uma apresentação impecável. Ao ocupar com grande beleza toda a Praça da Apoteose, o Salgueiro chegou ao final de sua apresentação tendo feito um desfile tecnicamente perfeito, mas, na comparação com a escola anterior, ficou faltando uma maior empatia com o público.
UNIÃO DA ILHA – Contando com cerca de 3.500 componentes, divididos em 38 alas, a simpática escola tricolor apostou suas fichas nos provérbios e ditos populares, defendendo o tema “Quem Pode, Pode, Quem Não Pode...”, desenvolvido pelo carnavalesco Geraldo Cavalcante. E se o samba de Didi e Aurinho alertava que “vovó sempre dizia: olha menino, leia o BÊ-A-BÁ”, nada melhor do que abrir o desfile com a enorme escultura de uma simpática velhinha (a “vovó-sabedoria”) mandando beijos para o público. Algumas das alas mais bonitas do carnaval de 84 passaram na Ilha, a começar pelas belas bruxinhas que compunham o quadro “Quem Vê Cara Não Vê Coração”. No setor “Nem Tudo que Reluz é Ouro” a Ilha mostrou suas fantasias mais luxuosas, todas muito bem ornamentadas com penas de pavão. Nas alegorias, houve um certo desnível, com destaque positivo para o abre-alas e para o carro da praça. Mas, se a escola passou bonita, nada melhor nesse desfile do que a atuação fantástica da bateria, com paradinhas e outras nuances rítmicas que deixaram o samba, ligeiramente fraco, em uma obra pra lá de saborosa. Belo desfile!
PORTELA – Quando a escola entrou na Passarela, o relógio marcava 6 horas da manhã e já era dia no Rio de Janeiro. “Contos de Areia”, dos carnavalescos Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo, era o enredo a ser defendido pelos mais de 6.000 componentes, um gigantismo que poderia atrapalhar um bom desempenho. Exaltando três de suas figuras mais importantes, a Portela se auto-homenageou através dos orixás de Paulo da Portela (Oranian), Natalino José do Nascimento (Oxossi) e Clara Nunes (Iansã). Os veteranos da velha guarda abriram o desfile na comissão de frente. A águia tradicional, dessa vez, desfilou no abre-alas emergindo das águas do mar, e só mostrou sua cabeça ao público, fato que acabou causando estranheza para quem não conhecia a belíssima sinopse desenvolvida pelos carnavalescos.
Dividindo seu tema em partes distintas, a Portela começou seu carnaval na Bahia, o berço dos Orixás. Depois, as alas ganharam várias tonalidades de azul para mostrar a criação do mundo portelense de Paulo Benjamim de Oliveira. No setor dedicado à Natal, a escola exaltou Oxossi, orixá que cuida dos homens e dos animais, através de alas e alegorias que representavam as florestas, as estações do ano e o jogo do bicho. Na homenagem à Clara Nunes, a alusão aos ventos e tempestades de Iansã não foi esquecida, mas os destaques foram as alas alusivas às congadas e aos reisados de Minas Gerais, além da presença de Beth Carvalho representando a cantora no asfalto. Esse final foi emocionante, principalmente quando uma nova águia bateu asas abrindo o último momento do desfile, denominado “Portela na Avenida”.
Mas, mesmo com toda a beleza do tema e do excelente samba-enredo, alguns percalços na evolução, em decorrência do excesso de componentes e das coreografias em homenagem aos orixás, colocavam em dúvida uma possível vitória da Portela.
IMPÉRIO SERRANO – O sol brilhava forte quando os 2.800
componentes do Império pisaram na Passarela. O enredo “Foi
Malandro, É”, de autoria de Fernando Pamplona, foi
desenvolvido pelo carnavalesco Renato Lage, e contou a história
da malandragem no Brasil (não no sentido da picaretagem, mas sim
da esperteza) desde os tempos do Descobrimento. Segundo o enredo,
tudo começou com Pero Vaz de Caminha, que em sua carta ao Rei de
Portugal pediu emprego para o sobrinho, inventando o pistolão. O
desfile foi aberto por um lindo abre-alas, que mostrava de forma
bem-humorada Pero Vaz (Evandro de Castro Lima) cercado pelas
belezas naturais da terra descoberta. Na sequência surgiram
várias alas e adereços que representavam o encontro dos índios
com os portugueses. Em um dos setores mais bonitos, dedicado ao
Barão de Drummond (inventor do jogo do bicho), o Império
mostrou lindas alas com penas de pavão e um grande carro
espelhado. Misturando dourado ao verde e branco tradicionais, o
carnavalesco produziu o maior show de beleza da primeira noite,
dando um desenvolvimento correto e muito bonito ao enredo sobre a
malandragem. E embora o samba de Bicalho não estivesse entre os
melhores, a bateria e os integrantes da escola deram a ele o
brilho que faltava, fazendo com que a harmonia fosse praticamente
perfeita, ajudada, inclusive, pela fluência do desfile, que se
desenrolou de forma homogênea do princípio ao fim. Ocupando com
animação e beleza a enorme Praça da Apoteose, o Império
terminou sua apresentação deixando a todos uma ótima
impressão. Bonita ala de pierrôs da Estácio de Sá ESTÁCIO DE SÁ – Estreando seu novo nome e de volta ao grupo principal, a ex-Unidos de São Carlos entrou na Passarela do Samba disposta a iniciar uma nova fase em sua história. Contando com carros alegóricos e fantasias de bom gosto, a Estácio defendeu o tema “Quem é Você”, do carnavalesco Silvio Cunha. Seus mais de 2.000 componentes desfilaram com muita animação, celebrando os quatro dias de carnaval, com destaque para os mascarados e foliões que saem de suas casas em busca de diversão. O samba de Jangada, Darcy do Nascimento e Dominguinhos foi um dos mais executados na fase pré-carnavalesca, sendo bastante cantado no dia do desfile. Apresentando a comissão de frente, estava a figura importante de Bicho Novo, mestre-sala da Deixa Falar, a primeira escola de samba do Rio. Um bonito carro abre-alas, coberto de espelhos e figuras carnavalescas, surgiu em seguida. Nas fantasias das alas, houve a total predominância das cores da escola (vermelho e branco), misturadas ao rosa, prata e dourado. Sem muito luxo, mas com um carnaval bonito e bem apresentado, a Estácio deixou no ar um delicioso clima de carnaval.
UNIDOS DA PONTE – Desfilando pelo segundo ano consecutivo no Grupo 1A, a Ponte levou à Sapucaí cerca de 1.600 sambistas, que cantaram e sambaram ao som do samba “Oferendas”, enredo de autoria do carnavalesco Mário Barcelos. Dividido em 16 setores, o tema foi apresentado de forma didática, com as comidas típicas e presentes ofertados a cada santo. Destacando Exu em seu abre-alas, a Ponte iniciou o desfile corretamente, mas seu samba, ainda que bonito, não permitiu aos componentes e nem ao público uma grande empolgação. As alas pequenas, divididas pelos tripés referentes aos santos, não favoreceram uma grande visão de conjunto, ainda que transmitissem o enredo com alguma eficiência. Visualmente, o desfile ganhou mais corpo em sua segunda metade, quando a escola definiu melhor suas cores e homenageou Iemanjá e Oxalá. Tendo como pontos fortes a bateria e a ala das baianas, a Ponte fez uma apresentação ligeiramente melhor do que as duas primeiras escolas de domingo, mas na comparação com a Estácio de Sá, as vantagens para a ex-Unidos de São Carlos foram grandes.
MOCIDADE INDEPENDENTE – Frustrados com a sexta colocação do ano anterior, os 3.500 componentes da Mocidade estrearam na Passarela do Samba com a disposição de disputar o título. Investimento não faltou na montagem do enredo “Mamãe Eu Quero Manaus”, delírio carnavalesco de Fernando Pinto que contou a história da muamba no Brasil desde a chegada da Família Real até à Zona Franca de Manaus. Na abertura, uma comissão de frente fantasiada de piratas (“os contrabandistas do passado”) e uma sequência incrível e de grande impacto de quatro proas de embarcações e uma grande galera arrancaram aplausos do público. Revestida em lamê dourado e carregada de tapetes, bebidas e perfumes importados, a grande alegoria trazia, nas laterais, escravos com cocares remando com talheres de prata: o maior barato! Mucamas e belos destaques emplumados compunham o quadro. As primeiras alas estavam vestidas com muito luxo e faziam alusão aos cristais, destacados em lustres e candelabros. Abrindo o setor da Zona Franca, surgiram as “baianas muambeiras”, com óculos de sol e perucas coloridas, para desespero dos tradicionalistas e delírio do grande público. E se o samba puxado pelo brilhante Aroldo Melodia não estava entre os melhores (marcheado demais para alguns), isso não importava para o povo de Padre Miguel, que dançou e cantou com entusiasmo durante todo o desfile. A escola terminou sua apresentação preenchendo com beleza todos os espaços da Praça da Apoteose e fazendo um dos melhores desfiles do ano até aquele momento.
UNIDOS DE VILA ISABEL – Apresentando “Pra Tudo se Acabar na Quarta-Feira”, enredo inspirado em “A Felicidade”, de Tom e Vinícius, a Vila fez uma homenagem aos artesãos do carnaval, aqueles que passam o ano todo preparando figurinos e alegorias para alguns momentos de sonho e magia. O carnavalesco Fernando Costa dividiu o tema em quatro partes: “A Gente Trabalha o Ano Inteiro”, mostrando os heróis anônimos do carnaval; “Por um Momento de Sonho”, retratando a inspiração dos artistas; “Pra Fazer a Fantasia de Rei, Pirata e Jardineira” e “Pra Tudo se Acabar na Quarta-Feira”. Martinho da Vila, autor do maravilhoso samba-enredo, foi destaque no abre-alas. A Vila desfilou em suas cores e fez um carnaval romântico, à moda antiga, com alegorias pequenas e fantasias tradicionais. Terminou sua simpática apresentação mostrando a vida no morro, onde “a quaresma é colorida com fantasias já usadas na avenida, que são cortinas e são bandeiras, razões pra vida tão real da quarta-feira”. Agradou a crítica, mas não empolgou as arquibancadas.
IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE – Após o intervalo para a limpeza da pista, a escola da Zona da Leopoldina entrou na Passarela com disposição para superar seus problemas financeiros e mostrar um bonito carnaval. Foi um ano difícil para a Imperatriz, pois o patrono Luizinho Drummond esteve afastado e, como resultado, o luxo exuberante dos últimos carnavais teve que ser trocado pela criatividade, que se fez presente nas bonitas fantasias criadas pelas carnavalescas Rosa Magalhães e Lícia Lacerda. Abrindo seu desfile com um enorme telefone, a Imperatriz apresentou o tema “Alô, Mamãe”, inspirado no primeiro discurso feito pelo deputado federal Agnaldo Timoteo ao assumir o cargo em Brasília. Lamentando a desvalorização da moeda nacional, sugada pelo vampiro do dólar norte-americano, a escola tentou ser bem-humorada em relação às mazelas da economia brasileira, mas o enredo não chegou a empolgar. Decepcionando nas alegorias, a Imperatriz teve como pontos mais fortes a comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, além da bonita evolução da ala das baianas. Na Praça da Apoteose, o pequeno número de componentes (a Imperatriz desfilou com menos de 2.000) fez com que o final do desfile fosse quase melancólico, principalmente por conta das vaias recebidas pelo deputado Agnaldo Timoteo.
BEIJA-FLOR – Campeã em 1983, a escola de Nilópolis preparou seu carnaval para a noite, mas só conseguiu entrar na Passarela do Samba quando o dia já estava claro. Mesmo assim, seus quase 3.000 componentes entraram firmes para conquistar o “bi”, defendendo o enredo “O Gigante em Berço Esplêndido”, através do qual o carnavalesco Joãosinho Trinta pretendia exaltar a força do povo brasileiro e o seu potencial de transformar o país. Tal idéia nasceu do mutirão organizado em Nilópolis pelo próprio carnavalesco. O desfile teve início com os navegadores da Escola de Sagres. No exuberante abre-alas, uma nau estilizada navegava sobre monstros marinhos, que se movimentavam sob destaques de composição. As três raças que formaram o povo brasileiro foram homenageadas através de grandes carros alegóricos e de alas ricamente vestidas. Dessa vez, o azul e o branco tradicionais se misturaram ao dourado e ao laranja, produzindo uma visão de conjunto muito bonita. Na Praça da Apoteose, Joãosinho Trinta organizou um espetáculo belíssimo, com uma ocupação perfeita dos espaços. Mas, mesmo com todo luxo e beleza, a Beija-Flor não conseguiu empolgar como suas principais concorrentes.
MANGUEIRA – Homenageando o compositor João de Barro (que esbanjou simpatia e emoção no abre-alas da escola), a Mangueira apresentou “Yes, Nós Temos Braguinha”, tema dividido em três quadros: “A Bela Época”, “Festa Junina” e o “Carnaval”. Com cerca de 3.800 componentes, divididos em 43 alas, a Mangueira iniciou o desfile com casais da Belle Époque formando sua comissão de frente, seguidos por um enorme carro com a perfeita representação de um gramofone. O carnavalesco Max Lopes optou pelo rosa claro para fantasiar as damas e cavalheiros do início do século XX, época do nascimento do homenageado. Suavizando as cores também nos demais setores, a escola desfilou bonita como nunca e mostrou as três partes de seu enredo com bastante coerência.
Impulsionada por um samba de primeira, interpretado pela voz potente de Jamelão, a Mangueira empolgou o público do princípio ao fim e nem mesmo um pequeno descompasso na evolução, que fez com que a escola abrisse alguns claros na pista, parecia poder atrapalhar na briga pelo título. Na Praça da Apoteose, a Mangueira evoluiu de forma contagiante e caiu definitivamente nos braços do povo quando, ao invés de dispersar, começou a retornar pela Passarela, oferecendo mais um desfile ao público, que se misturou à escola, formando um grande e comovente desfile de carnaval. Foi fantástico!
Com a apresentação da Mangueira, a polêmica Praça da Apoteose
parecia ter sido, enfim, coroada de êxitos, afinal, não fosse a
sua existência, jamais teríamos tido um final de desfile tão
emocionante. Seus críticos, contudo, continuariam a afirmar por
um bom tempo que a ideia do vice-governador representava um
perigo às tradições. Os tradicionalistas não observaram,
porém, que os sambistas gostaram da Praça, pois o espaço
tracejado por Niemeyer possibilitou um momento de brincadeira e
mais tempo de carnaval. O que ninguém discordou é que a nova
Passarela foi um sucesso em seu primeiro ano, com vários
desfiles de alto nível. Além disso, a insuportável invasão de
pista de anos anteriores não aconteceu, permitindo às escolas
um total aproveitamento do espaço.
O desfile do supercampeonato aconteceu no sábado e, pela ordem,
desfilaram Acadêmicos de Santa Cruz (vice-campeã do Grupo 1B),
Unidos do Cabuçu (campeã do Grupo 1B), Caprichosos de Pilares,
Beija-Flor, Império Serrano, Mocidade, Portela e Mangueira. Sete
quesitos foram julgados: bateria, harmonia, samba-enredo,
evolução, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira e
conjunto.
Eis a classificação geral com a pontuação de todas as
escolas: Marcelo Guireli |
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