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1990 - ALEGRIA, BONS SAMBAS, CRIATIVIDADE E LUXO NO DESFILE DO GRUPO 1 Em 1990, o
desfile do Grupo 1 (antigo segundo grupo) teve a participação
de 10 agremiações. Ao contrário do que aconteceu no ano
anterior, quando as quatro últimas colocadas caíram para o
terceiro grupo, ficou regulamentado que somente duas escolas
seriam rebaixadas. O tempo máximo de desfile foi alterado,
passando para 80 minutos.
INDEPENDENTES DE CORDOVIL - Primeira escola a desfilar no sábado, com o enredo "Cantares ao meu Povo - Solano Trindade", a Cordovil não chegou a empolgar, mas mostrou com alguma correção a vida e o universo do homenageado, que, além de poeta popular, era folclorista e um incansável batalhador pela causa negra. A Casa de Embu, cidade onde Solano criou um pólo cultural de tradições afro-americanas, foi mostrada em uma das alegorias. Alguns painéis ajudaram a compor o cenário da escola, que, em termos visuais, desfilou com bastante simplicidade. Apesar de deixarem alguns claros na pista, os componentes demonstraram garra, qualidade notada, principalmente, nas evoluções ágeis das velhas baianas, que se apresentaram de branco no final do desfile.
UNIDOS DO VIRADOURO - "Só Vale o Escrito", uma criação de Max Lopes e Mauro Quintaes, foi o enredo da Viradouro em seu primeiro desfile na Marquês de Sapucaí. Cercada de expectativas, a escola iniciou sua apresentação causando impacto pela grandiosidade de seu abre-alas e pelo bom gosto de suas fantasias. O tema, bastante interessante, não se limitou a mostrar a história do papel, mas, também, fez uma crítica irreverente à burocracia e à desvalorização da palavra. No setor do Egito, a escola mostrou as suas fantasias mais ricas, mas a ala das baianas e os figurinos referentes ao "Baile das Caveiras" (segundo o enredo, o atestado de óbito é o convite indispensável para a festa) também arrancaram aplausos. Os carros alegóricos eram grandes e bem cuidados, e desde a coroa medieval, que abriu o desfile, até a última alegoria, os carnavalescos mostraram muito esmero e criatividade. O único problema ficou por conta da nítida falta de alguns destaques, o que sempre pode prejudicar a nota do quesito. O samba foi interpretado por Quinzinho, que, por vezes, enfrentou algumas dificuldades com a letra, mas nada que pudesse prejudicar de forma decisiva o desfile. A bateria, que levou para a Sapucaí um naipe de frigideiras, manteve uma boa cadência. A Viradouro encerrou o seu desfile cheia de atributos para disputar as primeiras colocações.
TRADIÇÃO - Apresentando o enredo "A Coroação", de Jorge Luiz Vilela e João Rosendo, a Tradição mostrou as manifestações folclóricas de origem negra, nas quais as coroas têm importante papel. A comissão de frente desfilou muito bem vestida e fez uma ótima exibição. Atrás do abre-alas, surgiram alas e alegorias referentes ao reisado, à congada, ao frevo, ao maracatu, às folias de reis, ao bumba-meu-boi e à lavagem do Bonfim. Foram, ao todo, 17 alegorias, entre carros e tripés. As fantasias estavam belíssimas e multicoloridas, mas sempre com a predominância do azul, do branco e do dourado. O samba, que no disco parecia fraco, foi muito bem cantado e mostrou o seu real valor. A passagem da monumental Vilma Nascimento, ao lado do mestre-sala Julinho, foi mais um dos tantos pontos altos do desfile da Tradição. Os quase 3500 componentes desfilaram em alas organizadas com bastante coesão e, sem dúvida alguma, em termos de conjunto, a Tradição fez um desfile ainda melhor que o da Viradouro, pois apresentou maior regularidade em quase todos os quesitos.
UNIDOS DA PONTE - Já era madrugada de domingo quando a Ponte iniciou o seu desfile. O enredo "Robauto... Uma Ova", dos carnavalescos Antônio Carlos Mota e Paulo Roberto, corria o risco de ser considerado politicamente incorreto, mas a idéia era mostrar a Feira de Acari - que se tornou famosa por comercializar produtos de origem duvidosa - fazendo uma crítica sutil, porém, com muito bom humor. No carro abre-alas destacou-se a escultura de um misterioso gato preto com o nome da escola iluminado em neon. As alas estavam bastante coloridas e o setor mais bonito foi o dedicado às frutas e verduras, no qual a ala das baianas, mesmo não muito numerosa, desfilou graça e simpatia com fantasias bastante vistosas. Os 2500 componentes desfilaram com muita empolgação e se apresentaram divididos em 27 alas. Seis carros alegóricos de porte médio compuseram o cenário da Ponte, que teve na bateria e no cantar alegre de Aroldo Melodia os seus pontos mais fortes.
UNIDOS DE LUCAS - Com aproximadamente 1500 componentes, a escola desfilou em homenagem a Oscar Niemeyer, mas não teve uma atuação muito feliz, pois desde o início de sua apresentação, enfrentou vários problemas, a começar pela alegoria alusiva ao Memorial JK, que acabou batendo em uma das grades laterais da pista e por pouco não atravancou a passagem das alas e demais carros alegóricos. E o pior estava acontecendo lá na concentração, onde o último carro, em homenagem ao Memorial da América Latina, ficou preso no viaduto São Sebastião, fazendo com que Dona Marina, uma das principais destaques da Unidos de Lucas, tivesse que desfilar no chão, com sua enorme fantasia. Além desses percalços, o enredo foi mal desenvolvido e o samba, de letra pouco inspirada, não ajudou a empolgar. No final do desfile, a Unidos de Lucas apresentou alas referentes às escolas de samba, que precederam o Carro Apoteose. Com um visual de gosto duvidoso e com todos esses problemas, a escola nem de longe lembrou seus bons desfiles dos três últimos carnavais.
ACADÊMICOS DO GRANDE RIO - A escola de Caxias iniciou o seu esperado desfile logo após a rápida limpeza da pista, que aconteceu por volta das 3h30. Com cerca de 3000 componentes, a Grande Rio apresentou o enredo "Porque Sou Carioca", do carnavalesco Wany Araújo. A comissão de frente, formada exclusivamente por homens, estava trajada com elegância, com figurinos que faziam referência aos escudos e brasões portugueses. O luxuoso abre-alas, seguido por 4 tripés com representações da cruz de malta, antecedeu a bela ala das baianas, que desfilou vestida de branco e prata. Passaram alas alusivas aos índios tamoios e ao fundador Estácio de Sá, que também serviu de inspiração para a confecção do belíssimo figurino da bateria. Em termos de riqueza, nenhuma escola superou a Grande Rio, que só não teve um conjunto totalmente uniforme porque, ao contrário do que aconteceu nos setores referentes à história do Rio, as fantasias e alegorias destinadas a mostrar o Rio contemporâneo não estavam tão bem solucionadas. Mesmo assim, a escola certamente estaria na disputa por uma das vagas ao Grupo Especial, pois além do luxo apresentado, Dominguinhos do Estácio (o puxador) cantou um dos melhores sambas do ano.
UNIDOS DO JACAREZINHO - Com 2000 componentes e 10 alegorias, a Unidos do Jacarezinho desfilou ao amanhecer, defendendo o enredo "Jurupari, a Voz da Mata", de autoria do carnavalesco Oswaldo Jardim. O tema, que nada mais era do que um brado do índio em favor da preservação da natureza, foi apresentado com muita criatividade. Os materiais utilizados nas fantasias eram os mais simples, mas as alas, no conjunto, causaram um bom efeito visual. Nas alegorias, houve a predominância dos tons de verde, exceto no carro alusivo às queimadas, que foi confeccionado nas cores amarelo e laranja. Impulsionados por uma bateria excelente e por um dos mais bonitos sambas do grupo, os sambistas do Jacarezinho fizeram uma apresentação exemplar. O desfile foi dos mais agradáveis.
ARRANCO DO ENGENHO DE DENTRO - Passava um pouco das 6 horas quando os 2200 componentes do Arranco iniciaram o desfile. O enredo "Do Leite de Cabra ao Silicone", do carnavalesco Dionny, tratava da luta do ser humano (principalmente as mulheres) na busca da eterna beleza. Enredo à parte, aconteceu nesse desfile um fato bastante curioso. Como todos sabem, a comissão de frente apresenta a escola e, por tradição, os integrantes de uma comissão, ao chegarem ao final da pista, devem formar uma espécie de corredor humano (por onde a escola passa) ou se posicionar em uma das laterais até que o último componente passe. Tentando sensibilizar o último julgador do quesito, que estava à altura do Setor 7, algum diretor mandou que as moças da comissão encostassem à grade ao ultrapassarem a última cabine. Como resultado, metade do público pensou que a escola estivesse desfilando sem comissão de frente, pois nada havia à frente do abre-alas. Atrás do primeiro carro alegórico, que representou o Egito, surgiram alas com bonitas fantasias, mas, de um modo geral, o enredo não foi muito bem explorado, pois houve uma indefinição entre o tradicional e o deboche. Sem conseguir empolgar e deixando alguns claros na pista, os sambistas do Engenho de Dentro terminaram o desfile prestando uma homenagem à Neuza Monteiro, que havia morrido no ano anterior, após sofrer um grave acidente em uma das alegorias da escola.
PARAÍSO DO TUIUTI - "Eneida, o Pierrô Está de Volta" foi o título do belo enredo apresentado pelo Paraíso do Tuiuti em 1990. Com apenas 1200 componentes, a escola fez uma apresentação muito simples, mas de uma verdade comovente, haja vista o prazer de sambar demonstrado por seus componentes, que, mesmo com roupas muito simples, não deixaram de mostrar a beleza do carnaval. Cronista, escritora, militante do Partido Comunista (com várias prisões na época da Ditadura Vargas), a paraense Eneida de Moraes foi, sobretudo, apaixonada pelos festejos de Momo, tendo em "A História do Carnaval Carioca" a sua principal obra sobre o assunto. Baseados nessa paixão, os carnavalescos da escola mostraram na Sapucaí as imagens tradicionais do carnaval, com grande destaque para as fantasias de arlequins, colombinas e pierrôs (Eneida, durante vários anos, organizou o famoso Baile do Pierrô). Passaram carros alegóricos referentes à Praça Onze, ao Corso, às Grandes Sociedades e aos Bailes de Máscaras. O samba era simples, mas tinha um ar nostálgico, talvez pela cadência maravilhosa da bateria. O desfile terminou com a passagem de um carro saudando as escolas de samba.
ACADÊMICOS
DO ENGENHO DA RAINHA - Com cerca de 1600 componentes, o
Engenho da Rainha fechou o desfile do Grupo 1 apresentando o
enredo "Dan, a Serpente Encantada do Arco-Íris",
desenvolvido pelos carnavalescos Ricardo Ayres e Carlinhos
Andrade. As moças da comissão de frente representaram Oxumaré
e tiveram uma ótima performance. Em todo o conjunto visual, as
sete cores do arco-íris foram bastante utilizadas, mas o tema
foi melhor apresentado no samba-enredo, que, além de uma letra
interessante, tinha ótima melodia. O último setor homenageou
Oxalá, com destaque para uma alegoria feita em branco e prata,
que precedia uma bela ala de baianas, que trazia enormes jarros
com flores, mostrando as águas de Oxalá. Marcelo Guireli |
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