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CARNAVAL 89 - SAMBA E TRADIÇÃO NO DESFILE DO GRUPO 2 Dia 4 de fevereiro de 1989.
Sábado de carnaval e de muita chuva no Rio de Janeiro, o que
prejudicou consideravelmente a armação das escolas de samba do
Grupo 2, cujo desfile estava previsto para às 21h.
EM CIMA
DA HORA - Com
aproximadamente 1800 componentes, divididos em 27 alas, a escola
de Cavalcanti retornou ao segundo grupo apresentando o enredo
"Num Passe de Mágica", que tratava da energia positiva
que envolve as pessoas no reveillon. A comissão de frente surgiu
com mulheres representando Iaôs e o abre-alas destacou o
símbolo da escola em meio a calendários. Alas com
indumentárias africanas retrataram o jogo de búzios no setor
referente às previsões, no qual a escola não deixou de abordar
a esperança que nos toma na passagem do ano. As baianas, sempre
graciosas, ofertaram flores à Iemanjá, mas foram um pouco
prejudicadas em suas evoluções devido a atropelos de diretores
e deficiências na harmonia. O samba, de agradável melodia, não
estava à altura dos grandes sambas da escola, mas foi cantado
com alegria durante todo o desfile, que se encerrou com a
passagem de um carro alusivo ao alvorecer do ano novo e de um
tripé referente ao reveillon no mundo.
TUPY DE
BRÁS DE PINA -
"Rio Boa Praça", tema desenvolvido pelo carnavalesco
Jairo de Souza, tinha tudo para ser um dos enredos mais
simpáticos do ano, mas com a quebra de dois carros muito
importantes - que representavam o bonde e os coretos - o desfile
foi bastante prejudicado. Além disso, muitos componentes, devido
à chuva e a problemas de transporte, não conseguiram chegar à
concentração a tempo de desfilar e o contingente anunciado, que
era de aproximadamente 2000 sambistas, foi reduzido para pouco
mais de 1200 figurantes. Até mesmo a comissão de frente, que
seria formada por mulatas, teve que ser substituída por
integrantes da velha-guarda, pois somente nove garotas estavam
prontas na hora do desfile começar. Apesar dos percalços, a
escola fez uma apresentação mais organizada que a da Em Cima da
Hora, pois sua evolução foi mais correta e convincente. David
do Pandeiro e seus auxiliares puxaram bem o samba-enredo, que
não era nenhuma obra-prima, mas tinha um bom balanço. A
alegoria mais bonita que os dirigentes da Brás de Pina
conseguiram colocar em desfile foi a que retratava a chegada da
Família Real, com a carruagem de Dom João VI. Carrinhos de
pipoca em meio a alas vestidas de palhaço ajudaram a compor o
cenário da escola que, mesmo com um contingente tão reduzido,
por pouco não estourou o tempo máximo permitido pelo
regulamento, que era de 75 minutos.
ARRASTÃO
DE CASCADURA -
Passava da meia-noite e a chuva já havia cessado quando os quase
3000 componentes da escola de Cascadura invadiram a passarela
para homenagear Zezé Motta. Integrantes da velha-guarda da
Portela abriram o desfile na comissão de frente, mas, no
início, a apresentação do Arrastão de Cascadura parecia que
ia ser uma tragédia, tamanha a pressa dos diretores em empurrar
a escola à frente. Para se ter uma idéia da correria, que
ocasionou vários claros na pista, vale salientar que a comissão
de frente atingiu o Setor 11 com menos de 20 minutos de desfile.
Felizmente, diretores mais atentos perceberam o problema e
reorganizaram a escola, que então começou a desfilar com mais
coesão. O enredo "Zezé, Um Canto de Amor e Raça" foi
desenvolvido pelo carnavalesco Joãozinho de Deus, que fez um
trabalho apenas razoável, uma vez que na maior parte das
alegorias não houve uma simbolização correta do enredo. As
fantasias estavam um pouco melhores e mostraram os países onde
Zezé fez sucesso, além de momentos importantes de sua carreira
no teatro, na música, na televisão e no cinema. Com mais
figurantes e um pouco mais rico que as duas escolas anteriores, o
Arrastão de Cascadura teve ainda uma outra vantagem, pois
apresentou o melhor samba do grupo. O desfile se encerrou com a
passagem da ala das baianas e com o carro em homenagem à Zezé,
no setor de Oxum, orixá da homenageada.
INDEPENDENTES
DE CORDOVIL - Com o
enredo "Marrom Som Brasil", do carnavalesco Paulo
César Cardoso, a escola prestou uma homenagem à cantora
Alcione. Meninas da Mangueira do Amanhã abriram o desfile na
comissão de frente e, ainda no primeiro setor, mais crianças
desfilaram em meio a nove painéis com pinturas que retratavam a
cantora em diversas fases de sua carreira. O carro do bumba meu
boi surgiu a seguir e foi a maior e mais bonita alegoria
apresentada pela escola. Os cerca de 2000 componentes foram
embalados por um samba de letra fraca, mas de melodia valente, e
por uma bateria correta, embora com um número bem reduzido de
ritmistas. Apesar de certas irregularidades no desenvolvimento do
enredo, a Independentes de Cordovil desfilou com um conjunto um
pouco superior ao das três primeiras agremiações, pois sua
evolução foi fluente, seu samba funcionou e seu visual foi
correto, ainda que bastante simples. A homenageada desfilou em
frente ao último carro, que fazia referência à Mangueira e
carregava vários destaques tradicionais da escola.
ACADÊMICOS
DE SANTA CRUZ -
"Stanislaw, Uma História Sem Final", do experiente
carnavalesco José Félix, foi o enredo que a escola da Zona
Oeste escolheu para disputar o título do segundo grupo, tarefa
que não parecia ser das mais difíceis, haja vista a beleza de
sua entrada, com um abre-alas muito bem projetado e de acabamento
refinado. Os 2500 componentes estavam divididos em 28 alas e suas
fantasias tinham perfeita identificação com os elementos do
enredo. O trabalho do carnavalesco, tanto em alegorias quanto em
fantasias, foi muito bom. Os sete carros alegóricos eram grandes
e apelavam para o bom humor, com soluções muito interessantes
para a transmissão das idéias. O segundo carro, por exemplo,
trazia os personagens de Sérgio Porto feitos em escultura,
sentados ao lado de uma enorme máquina de escrever, como se eles
próprios inspirassem o jornalista. No carro da Boate Sacha's,
todo decorado com espelhos e luzes, os amigos do homenageado
desfilaram com alegria e emoção. A letra do samba tinha a
irreverência exigida pelo tema e a melodia, mesmo não sendo das
melhores, acabou agradando o contingente da escola, que fez uma
passagem muito correta. A boa bateria, que não fez uma entrada
no recuo das mais felizes, desfilou chapéus com as caricaturas
dos personagens de Sérgio Porto. A ala das baianas, tradição
das mais bonitas nas escolas de samba, estava numerosa e bem
vestida. O desfile, que teve início com as "Certinhas de
Lalau" na bonita comissão de frente, foi predominantemente
marcado por tons de verde e prata, e se encerrou com a passagem
da alegoria: "Paraíso da Loucura", que mostrava o
jornalista, lá no céu, observando o Rio de Janeiro. Um belo
desfile!
PARAÍSO
DO TUIUTI - A sexta
escola da noite entrou na pista pouco depois das 3h30, com o
enredo "Folclore, Tradição Popular", do bom e velho
carnavalesco Júlio Matos. Os 2300 componentes estavam vestidos
nas cores da agremiação (azul e amarelo) e conseguiram compor
um bom conjunto, apesar da extrema simplicidade dos trajes. A
velha-guarda abriu o desfile na comissão de frente, sendo
seguida por um bonito "pede-passagem". Das dez
alegorias apresentadas, os destaques ficaram por conta dos
carros: "O Eldorado Amazônico" e o "Zé
Pereira". Várias esculturas, feitas pelo próprio Júlio em
outros carnavais, foram recicladas e reaproveitadas com
inteligência em vários momentos do desfile, e o enredo,
bastante amplo, foi desenvolvido com correção. O bom samba e a
excelente cadência da bateria levaram a escola a uma
apresentação envolvente, na qual a animação dos componentes
foi um dos pontos positivos. O setor referente ao
Candomblé encerrou o bom desfile do Paraíso do Tuiuti, somente
inferior, àquela altura, à apresentação da Santa Cruz.
LINS
IMPERIAL - Com o
enredo "Gênios da Ilusão" a escola verde e rosa se
propôs a homenagear os carnavalescos campeões dos últimos
quinze carnavais: Joãozinho Trinta, Arlindo Rodrigues, Viriato
Ferreira, Rosa Magalhães, Lícia Lacerda, Max Lopes, Edmundo
Braga, Paulino Espírito Santo, Fernando Pinto, Júlio Matos e
Milton Siqueira. Injustiçada no ano anterior (quando fora
apontada como uma das favoritas, mas acabou amargando um sétimo
lugar), a escola entrou na pista chamando a atenção pelo bom
gosto de suas alegorias e fantasias, mas a quebra de três carros
alegóricos, ainda na concentração, acabou prejudicando
bastante o desenvolvimento do enredo, que até o meio do desfile
vinha sendo apresentado de forma clara e muito bonita. Apesar
desse grave problema, os cerca de 2500 componentes saíram da
Sapucaí já com o dia claro cientes de que haviam feito uma bela
exibição, embalada por uma das melhores baterias do grupo.
ACADÊMICOS
DO ENGENHO DA RAINHA
- Apresentando pouco mais de 1500 componentes, divididos em 30
alas, a escola levou para a Sapucaí o enredo "Canta
Brasil", que pretendia mostrar a presença de vários
estilos musicais na formação de nossa cultura, além de prestar
homenagem a cantores, cantoras e programas musicais. O desfile
começou na Grécia, mostrou os índios do descobrimento, a
música erudita e passeou pelos ritmos populares, tais como o
frevo e as marchinhas de carnaval, mas tudo foi organizado de
forma muito confusa e superficial. O samba, apesar do título do
enredo, não era dos melhores e o canto da escola foi bastante
acanhado. Nem mesmo a correção da bateria conseguiu levantar os
componentes, que passaram com certo desânimo. Felizmente, no
entanto, houve algumas exceções a essa regra, principalmente na
passagem da ala das baianas (muito empolgadas!), já no final do
desfile. O vermelho e o branco (que substituíram pela primeira
vez o verde e o rosa tradicionais) predominaram em toda a
apresentação da simpática escola do Engenho da Rainha, que,
apesar de alguns momentos de beleza em seus carros e fantasias,
ficou devendo uma apresentação melhor para 1990.
IMPÉRIO
DA TIJUCA - Com
pouco mais de 1000 figurantes, a tradicional escola do morro da
Formiga entrou na Sapucaí pouco antes das 7h30 para apresentar o
enredo "Rio, Samba e Carnaval", que nada mais era que
uma bem intencionada homenagem à cidade. Depois de quatro anos
consecutivos desfilando no grupo principal e de um bom desfile no
ano anterior, o tradicional Império da Tijuca decepcionou e
acabou realizando um desfile muito fraco. O carnavalesco José
Eugênio não conseguiu superar os problemas financeiros, e o
tema, que possibilitava vários enfoques, não foi apresentado de
forma convincente. Nem mesmo a velha-guarda, que formou a
comissão de frente, conseguiu fazer uma boa exibição. Os
carros e figurinos eram inexpressivos, além de acrescentar muito
pouco ao conjunto. Cantando um dos piores sambas do ano, a escola
fez uma apresentação desastrosa, pecando, inclusive, na
utilização do tempo, que previa o mínimo de 60 minutos para
cada agremiação e o máximo, conforme salientado anteriormente,
de 75 minutos.
UNIDOS
DE LUCAS - Última
escola a entrar na passarela, a Unidos de Lucas prestou uma
bonita homenagem às irmãs Linda e Dircinha Batista, através do
enredo "Estrelas Solitárias", dos carnavalescos Luiz
Orlando e Clóvis Siqueira. Com cerca de 2000 sambistas em 17
alas e 12 alegorias, entre carros e painéis, a escola conseguiu
transmitir com clareza vida e obra das cantoras. A comissão de
frente, composta por integrantes da velha-guarda, foi uma das
melhores do todo o desfile, e o galo de ouro, símbolo da
agremiação, destacou-se no abre-alas, que contou ainda com as
ilustres presenças de Elizeth Cardoso, Hermínio Belo de
Carvalho e Neguinho da Beija-Flor. O samba tinha uma bonita
melodia e permitiu aos componentes um canto emocionado e
convincente, mas, infelizmente, a escola se apresentou com alguns
claros entre as alas, o que sempre prejudica o conjunto. Um carro
sintetizando todo o enredo, com as fotos das homenageadas, fechou
o desfile da Unidos de Lucas, que, assim como o Império da
Tijuca, não soube utilizar muito bem o tempo, pois teve que
diminuir o andamento de seus componentes a fim de cumprir o tempo
mínimo de 60 minutos. Apesar dos problemas, a escola, mesmo sem
ter um visual dos mais equilibrados, se apresentou com dignidade,
com consideráveis chances de brigar por uma boa colocação.
O desfile terminou por volta das 9h30, dividindo opiniões com relação às favoritas. Para o meu gosto, a Santa Cruz, sem nenhuma dúvida, foi a melhor, sendo seguida por Lins Imperial e Paraíso do Tuiuti. A apuração, realizada no Maracanazinho, revelou o seguinte resultado: 1º - Acadêmicos de Santa Cruz - 215 pontos; 2º - Lins Imperial - 209; 3º - Unidos de Lucas - 207; 4º - Acadêmicos do Engenho da Rainha - 189; 5º - Independentes de Cordovil - 186; 6º - Paraíso do Tuiuti - 186; 7º - Império da Tijuca - 185; 8º - Arrastão de Cascadura - 185; 9º - Em Cima da Hora - 182; 10º - Tupy de Brás de Pina - 170 A Santa Cruz participou do Desfile das Campeãs no sábado, mas não pôde contar com o abre-alas, pois, segundo um dos diretores da agremiação, a alegoria havia sido avariada, logo após o desfile oficial, por alguns dos integrantes da própria escola, que, felizes com a beleza do carro, resolveram levar alguns de seus elementos decorativos para casa. Após o carnaval, a Lins Imperial entrou com uma ação na Justiça e acabou conquistando o direito de participar do grupo principal em 1990, mas para as quatro últimas colocadas (Império da Tijuca, Arrastão de Cascadura, Em Cima da Hora e Tupy de Brás de Pina) não houve salvação. As quatro agremiações foram rebaixadas para o Grupo 3.
Marcelo Guireli |
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