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CARNAVAL 93 - O SALGUEIRO EXPLODIU DE ALEGRIA O décimo carnaval realizado no
Sambódromo foi o primeiro, desde 1973, sem a participação de
Joãosinho Trinta como carnavalesco. Foi também o primeiro ano,
desde que as escolas de samba ganharam fama nacional e
internacional, em que nenhuma escola desfilou com o céu claro.
Os tempos estavam mudando e a organização do evento ganhava, a
cada ano, mais atenção.
UNIDOS
DA PONTE - Sob uma
chuva insistente, a simpática agremiação da Baixada Fluminense
abriu o carnaval das grandes escolas com um tema que, no papel,
fora bem descrito: "A Face do Disfarce", do
carnavalesco Roberto Szaniecki. A idéia era contar a
importância das máscaras desde a pré-história até os dias
mais recentes e para isso o carnavalesco se valia da presença
dos mascarados em rituais, festas e costumes de grandes
civilizações. A comissão de frente desfilou com belas
fantasias, representando a "Corte do Rei Momo", mas
alguns componentes tiveram problemas com seus esplendores de
penas de pavão. No abre-alas, denominado "Túnel do
Tempo", foi apresentada uma síntese do enredo, com destaque
para as belas máscaras do Teatro Grego e da Comédia Del'Arte.
As baianas, vestidas nas cores da escola, desfilaram com a
representação de Odudua. Elas estavam bonitas, mas tiveram
dificuldades para preencher alguns claros provocados por
inúmeros problemas que a Ponte enfrentou durante seu desfile. A
escola, que anunciou 3700 componentes, desfilou com cerca de 2000
sambistas e, das nove alegorias prometidas, apenas seis
conseguiram passar pela Sapucaí, o que infringia o regulamento,
que exigia um número mínimo de oito carros alegóricos. Além
dessas adversidades, a armação da saia da porta-bandeira sofreu
danos com a chuva e a evolução do casal foi muito prejudicada.
Os ritmistas de mestre Nena, fantasiados de "Anjos da
Criação", mantiveram a cadência de sempre e a bateria
acabou sendo, a meu ver, o ponto alto do desfile, mesmo com um
samba que deixava muito a desejar. O carro "A Barca dos
Deuses", já no setor referente às máscaras do Egito, era
bastante grande, mas o cinza escuro das esculturas e a falta de
iluminação prejudicaram a exuberância da alegoria. Aliás, os
carros da Ponte (talvez pela chuva) apresentaram falhas de
acabamento, mas as fantasias, felizmente, estavam corretas, com
bons momentos de criação e realização. No entanto, o enredo
não foi passado conforme a sinopse, que prometia muitas
máscaras, ao contrário do que se viu no desfile.
UNIDOS DE VILA ISABEL - Os 4000 componentes da Vila pisaram no asfalto da Marquês de Sapucaí dispostos a apagar a péssima imagem deixada no carnaval do ano anterior quando, por pouco, a escola não caiu. O enredo "Gbala, Viagem ao Templo da Criação", do carnavalesco Oswaldo Jardim, era inspirado na religiosidade africana e mostrava o processo de criação do homem e sua evolução, apontando as crianças como a esperança para um futuro melhor. Foi com muita emoção que a escola iniciou seu desfile, embalada por um samba de qualidade, de autoria de Martinho da Vila. O samba tinha letra poética e contava o enredo de forma primorosa. Na primeira parte do desfile foi mostrada a entrada do Templo da Criação. No enorme abre-alas surgiu a coroa da Vila girando em meio a figuras do enredo. Os carros, em geral, eram grandes e, apesar de sérios problemas de acabamento em decorrência da chuva considerável que insistia em continuar caindo, conseguiam chamar a atenção pela originalidade. Além do abre-alas, dos tripés iniciais e dos carros de Xangô e de Iemanjá, destaco a criatividade do carro "Criação do Homem", que mostrava figuras vivas sendo moldadas em barro na grande oficina de Oxalá. As fantasias não eram tão atraentes quanto os elementos alegóricos, mas gostei bastante do figurino criado para os ritmistas e para a segunda ala de baianas, que desfilou com fantasias trabalhadas em lilás e prata, representando as "Sacerdotisas de Oxalá". E se as fantasias eram pobres, rica era a empolgação dos componentes, que - mesmo desfilando debaixo de chuva - esbanjaram garra e emoção, sentimento impulsionado pelos poéticos versos criados por Martinho. "A beleza é a missão de todo artista", dizia o samba. Oswaldo Jardim cumpriu seu papel.
UNIÃO
DA ILHA - Para a
sorte de todos, a chuva parou logo que a Ilha começou a
desfilar, com seu enredo "Os Maiores Espetáculos da
Terra", do carnavalesco Silvio Cunha. A idéia era
apresentar na Sapucaí todos os tipos de circo, desde a arena
romana até o circo da Fórmula 1. Abrindo o cortejo, surgiu uma
simpática comissão de frente vestida de palhaços. O circo
romano e o circo medieval foram retratados no início do desfile,
através de dois carros e de alas bem fantasiadas. Gostei muito
de uma ala de palhaços tradicionais que antecedeu a passagem da
bateria de mestre Paulão. Os ritmistas da Ilha desfilaram
caracterizados como os "Músicos da Banda" e fizeram
paradinhas que empolgaram o público. No carro "Circo dos
Horrores" não faltaram citações ao lado trash dos
espetáculos circenses e na alegoria que representou os palhaços
o destaque ficou por conta de Carequinha. As fantasias desenhadas
pelo Silvio se mantiveram sempre num bom nível, quase sempre
superiores às alegorias. O desfile só não foi melhor porque a
escola tinha um samba muito ruim e porque os dois capítulos
finais do enredo, referentes à televisão e à Fórmula 1, eram
absolutamente dispensáveis.
UNIDOS
DO VIRADOURO - Com
cerca de 4000 componentes, divididos em 54 alas, a Viradouro
entrou firme na Sapucaí, com o enredo "Amor, Sublime
Amor", dos carnavalescos Max Lopes e Mauro Quintaes. As alas
e carros iniciais, numa espécie de introdução ao tema,
mostraram o amor do folião à própria escola de Niterói. Na
comissão de frente, sete casais de mestres-salas e
porta-bandeiras, vestidos com muito bom gosto, apresentaram a
escola com bastante elegância. Dois tripés com cavalos alados e
alas com a predominância do vermelho e do branco se seguiram no
cortejo. Uma pena que a primeira ala das baianas tenha desfilado
com saias completamente prejudicadas pela chuva. Por conta disso,
a evolução da ala também foi morna e falha. Na seqüência do
desfile surgiu o Carro do Amor, todo ornamentado com cavalos,
arcanjos e coroas. "Que Futuro É Esse?", título da
primeira parte do enredo, fez alusão à falta de amor do homem
do futuro. Nesse setor, a Viradouro alertou, através de
fantasias de robôs e seres espaciais, que o coração deve estar
sempre acima da razão. O amor à natureza foi representado pela
relação dos índios com o meio ambiente, através de três alas
muito bem vestidas e de um grande carro alegórico. O amor entre
Chica da Silva e João Fernandes de Oliveira foi lembrado na
dança do minueto, enquanto o romance entre Lampião e Maria
Bonita foi motivo de um dos carros. O amor à liberdade foi
caracterizado pelos ideais de Zumbi dos Palmares e de Tiradentes,
que surgiu em escultura sobre uma enorme bandeira de Minas
Gerais. O amor ao carnaval também não foi esquecido, mas nada
foi mais bonito no desfile da Viradouro do que a passagem do
carro em homenagem a Oxum, a Deusa do Amor. Plasticamente, o
desfile foi muito bonito, apesar do problema da primeira ala das
baianas e, também, do setor futurista, que, a meu ver, não
tinha uma concepção das mais elegantes. O samba era valente e
foi bem cantado pelo Quinzinho (interprete oficial) e pelos
componentes, mas a escola só conseguiu conquistar o público no
final de sua apresentação. Houve uma excessiva preocupação
com a cronometragem e por conta disso a Viradouro acabou correndo
demais, mas fez um bom desfile.
MOCIDADE
INDEPENDENTE -
Vinda de um bicampeonato e de um vice, a Mocidade iniciou seu
desfile pouco depois da meia-noite e meia, cercada de
expectativas. O enredo "Marraio Feridô Sou Rei", do
carnavalesco Renato Lage, abordava a história dos jogos, desde a
Grécia Antiga até os modernos games eletrônicos. Abrindo o
desfile, surgiu uma comissão de frente fantasiada de "Dream
Team", numa ousadia de gosto duvidoso que, infelizmente,
funcionou negativamente para a escola. As primeiras alas e carros
fizeram referência aos jogos olímpicos, com destaque para uma
linda ala com componentes fantasiados de "Guerreiros do
Olimpo" e para o iluminado abre-alas, intitulado de
"Restauração Olímpica". Os jogos medievais surgiram
na seqüência do desfile, retratados por um carro de grande
porte e por uma ala com componentes carregando estandartes. As
baianas, como "Damas Medievais", evoluíram lindamente,
mas só eram reconhecidas pelas suas saias rodadas. Alexandre e
Babi, com bonitas fantasias referentes ao jogo de xadrez,
defenderam com elegância o pavilhão da escola, que teve na
atuação da bateria, maravilhosamente fantasiada de
"Coringa", seu ponto mais forte. O samba, que não era
bom, foi bem cantado, mas não conseguiu empolgar o público como
nos três anos anteriores. Em termos de harmonia, o desfile foi
quase perfeito, não fosse a ligeira pressa observada após a
entrada da bateria no boxe. Além da beleza das fantasias (de
muito bom gosto, embora um tanto quanto repetitivas), a Mocidade
levou para a Sapucaí um bom conjunto alegórico, com destaque
para o carro denominado "Diversões Eletrônicas", no
qual uma escultura enorme de um garoto jogando vídeo game
encantou o público. Interessante observar que a alegoria tinha
os sons dos games, que chegavam até a incomodar um pouco, devido
à altura. Apesar do sucesso da alegoria, o carro que mais gostei
foi o último, que representou a eterna luta entre o bem e o mal.
Menos eletrizante que nos anos anteriores, a Mocidade passou com
sua marca de escola de vanguarda e conseguiu agradar. Terminou
seu desfile com chances de brigar pelo título.
PORTELA - Nove anos distante de um campeonato, a
escola foi buscar no carnavalesco campeão de 92, Mário
Monteiro, a solução para seus problemas. Ele bolou um tema
inusitado, intitulado "Cerimônia de Casamento", com o
qual a Portela abordaria a história dessa instituição, desde o
cerimonial (em diversas culturas) até o surgimento da família e
das várias etapas da vida conjugal. A tradicional águia
apareceu pousada sobre uma cascata de luzes, tendo ao lado uma
águia fêmea e um filhote. As primeiras alas, trajadas com
fantasias de péssimo gosto, fizeram alusão a Adão e Eva e
abriram passagem para o carro "Jardim do Éden", que
apresentou Carlos Reis, vestindo uma linda fantasia, como
principal destaque. As fantasias referentes ao casamento entre os
povos também não estavam elegantes. Pelo contrário, elas
pecavam pelas formas e pelo mau uso das cores e dos materiais.
Felizmente, o nível dos figurinos começou a melhorar (um pouco)
quando o enredo passou a abordar o casamento tradicional. Gostei
bastante do carro "Cerimônia de Casamento", com sua
escadaria espelhada e passadeira azul. Aliás, Wanda Batista e
Pedrinho Martins, que desfilavam na escola havia décadas, se
apresentaram no alto dessa escadaria, como "Noivos
Tradicionais". O carro "Bolo Dançante", uma das
surpresas prometidas pelo carnavalesco, estava bem acabado, mas
passou pela Sapucaí sem chamar atenção. Uma das alegorias que
eu mais gostei foi a intitulada: "O Doce Inferno dos
Amantes", já no setor referente às crises conjugais. O
casamento gay e as amizades coloridas também fizeram parte do
bem-humorado tema da Portela, mas nada foi mais bonito que a
passagem do último carro, que era uma imensa Arca de Noé,
inspirada na obra de Hieronymus Bosch, representando o casamento
dos animais. Linda alegoria, mas, infelizmente, apesar de alguns
bons momentos de criação, a escola de Madureira não foi feliz.
Apesar de ter um bom samba e uma bateria cadenciada, a escola
não conseguiu empolgar. Não houve boa aceitação à
simplicidade e ao mau gosto de várias fantasias. Foi um desfile
irregular.
IMPERATRIZ
LEOPOLODINENSE -
Com o enredo "Marquês que é Marquês do Sassarico é
Freguês", de autoria da carnavalesca Rosa Magalhães, a
Imperatriz comemorou os duzentos anos de nascimento de Cândido
José de Araújo Viana (o Marquês de Sapucaí) e recontou a
história do carnaval, desde os tempos do Marquês até os atuais
super desfiles das escolas de samba. A comissão de frente,
vestida com fantasias referentes à nobreza, fez uma
apresentação de impacto. Toda a primeira parte do enredo foi
dedicada a mostrar o carnaval do tempo do Marquês, com destaque
para as fantasias alusivas ao carnaval de Veneza e para a ala das
damas. Os arlequins da bateria de mestre Beto deram boa cadência
ao samba interpretado por Preto Jóia e Rixxa, conduzindo a
escola a uma boa exibição em termos de evolução e harmonia.
Jerônimo e Neide formaram o primeiro casal de mestre-sala e
porta-bandeira, substituindo Chiquinho e Maria Helena com a mesma
competência. O enredo passeou pelos bailes de máscaras, pelos
carnavais de rua e pelo luxo das grandes sociedades, mas a parte
que eu mais gostei foi a dedicada a homenagear os carnavalescos
que fizeram história nos desfiles das escolas de samba. Na
homenagem a Arlindo Rodrigues, a Imperatriz mostrou a alegoria
mais bonita do desfile, denominada "O Que é Que a Bahia
Tem". A ala das baianas desfilou nesse setor, com fantasias
muito elegantes, trabalhadas em prata e branco. Para o meu gosto,
foi a melhor ala de baianas do ano. A homenagem a Fernando Pinto
se deu com um carro referente ao enredo
"Tupinicópolis", com direito a uma nova versão do
"Tatu Guerreiro", alegoria marcante do carnaval feito
por Fernando. O enredo "Ratos e Urubus Larguem Minha
Fantasia" foi lembrado na homenagem a Joãosinho Trinta e
Viriato Ferreira. Aliás, Viriato trabalhou com a Rosa na
confecção do carnaval de 93, mas morreu no final de 92. O
desfile terminou com uma visão do carnaval do futuro e com a
passagem do carro "Balança Sapucaí", cuja concepção
não foi das mais felizes. No geral, a Imperatriz fez um belo
desfile e, ao lado da Mocidade, foi a melhor da primeira noite.
ACADÊMICOS
DO GRANDE RIO -
Abrindo o desfile de segunda-feira e banhada por uma chuva que
teimou em cair durante sua passagem pela Sapucaí, a Grande Rio
levou para o Sambódromo o enredo "No Mundo da Lua", do
carnavalesco Alexandre Louzada. O carro abre-alas representou uma
nave espacial, com estilizações da coroa, símbolo da escola. O
primeiro setor abordou a relação dos povos antigos (chineses,
egípcios e indianos) com a lua, através de alas muito bonitas e
de uma enorme alegoria. Aliás, os carros da escola talvez tenham
sido os maiores do ano. Uma pena que tenham sido um pouco
prejudicados pela chuva, que danificou o acabamento de alguns
deles. O samba era, ao lado do samba da Vila, o melhor do ano e
foi muitíssimo bem interpretado por Nêgo e seus auxiliares.
Houve uma boa interação entre público e componentes,
principalmente no momento do refrão. Gostei muito da
distribuição de cores nas alas e dos carros alusivos às
marés, à lua de mel e à conquista da lua. Outro carro que
simbolizava o romance ao luar também me agradou muito. A escola
terminou sua apresentação com uma ala de baianas vestida de
"Fada Madrinha", representando o "Eclipse
Total", tema também do último carro. Foi um bonito
desfile!
CAPRICHOSOS - Ainda sem conseguir bons resultados na
década de 90, a Caprichosos foi buscar seu velho carnavalesco
dos anos 80 para tentar voltar a brigar por boas colocações.
Luiz Fernando Reis bolou o enredo "Não Existe Pecado do
Lado de Cá do Túnel Rebouças", que era, na verdade, uma
exaltação ao subúrbio carioca. Uma das polêmicas
pré-carnaval foi com relação ao abre-alas da escola, que fazia
referência à zona sul, mostrando uma prostituta e um turista
sendo assaltado. Isso desagradou a Liga e a Riotur, que não viam
na alegoria uma boa propaganda para o Rio e seu carnaval, mas,
polêmica à parte, o carro tinha tudo para passar despercebido,
já que seu esplendor não era dos mais favoráveis. Aliás, a
Caprichosos fez um desfile muito ruim em termos de alegoria, pois
quase todos os carros tinham sérios problemas de acabamento e
apresentavam formas pouco elegantes, além de péssimas fantasias
de destaques e composições. As fantasias das alas estavam
melhores, mas também não agradaram muito. Na primeira parte do
enredo, que exaltou os costumes suburbanos, gostei da ala
referente à Feira de São Cristóvão, mas, plasticamente, o
melhor da Caprichosos estava no setor alusivo à infância no
subúrbio. Nesse setor, destaco a passagem do Carro do Mafuá,
que causou um bom efeito com seu multicolorido. A última parte
do enredo mostrou as diversões suburbanas e o desfile se
encerrou com o Carro dos Farofeiros (de péssima concepção!) e
a ala dos banhistas. O tema foi bem escrito, mas na avenida houve
um desenvolvimento muito grosseiro e até preconceituoso, pois me
parece que no subúrbio há coisas muito melhores do que as que
foram apresentadas. Não gostei da apresentação da Caprichosos,
mas o publico até que se animou com a marchinha pavorosa da
escola.
ACADÊMICOS
DO SALGUEIRO -
Dezoito anos distante de seu último campeonato, o Salgueiro
entrou na Sapucaí com uma energia diferente. O público abraçou
a escola logo de início e passou a entoar com entusiasmo os
versos do samba "Peguei um Ita no Norte", enredo do
carnavalesco Mário Borriello. Inspirado na música de Dorival
Caymmi, mas sem estar preso a uma reconstituição histórica dos
anos 30 e 40, o tema fazia menção à viagem de um migrante que
partia do porto de Belém do Pará rumo ao Rio de Janeiro. A
idéia do carnavalesco era mostrar um pouco da cultura dos
diversos estados da costa brasileira e o fascínio desse migrante
no contato com esses diversos Brasis. Na primeira parte do
desfile foram mostrados aspectos da cultura paraense, com
destaque para a festa do Círio de Nazaré, presente no
abre-alas. O Carro do ITA (simbolizando a partida do migrante)
foi o segundo a desfilar, seguido por alas referentes ao mar. O
primeiro estado a ser visitado pelo enredo foi o Maranhão.
Adorei a ala do Bumba Meu Boi e, mais ainda, o carro de São Luiz
do Maranhão, que, além de portar bonitos destaques, era
decorado com azulejos que realçavam a arquitetura do local. Sem
grandes surpresas estéticas, o Salgueiro continuou mostrando a
viagem do migrante até sua chegada ao Rio de Janeiro. Gostei de
quase todas as fantasias, que estavam bem planejadas em termos de
forma e combinação cromática (o vermelho e o branco -
misturados ao prata e ao ouro - predominaram). Uma das alas mais
bonitas foi a que representou o Galo de Barcellos, na parte do
enredo referente ao Rio Grande do Norte. Aliás, o Carro de Natal
teve que ocupar grandes claros deixados na entrada da bateria no
boxe. O problema começou no momento da exibição do casal de
mestre-sala e porta-bandeira (Vanderli e Taninha), pois a ala
anterior a eles evoluiu com muita rapidez. Para agravar a
situação, a excelente apresentação do casal foi prejudicada
por um tombo de Taninha em frente à cabine dos julgadores.
Passados os incidentes, o Salgueiro voltou a se encontrar e o
público insistiu em aplaudir e acompanhar a escola com uma
euforia que eu jamais vi em qualquer outro desfile. No carro
"Riquezas da Cultura Pernambucana" o destaque ficou por
conta do maracatu. Gostei da alegoria, mas, no geral, as
fantasias foram sempre superiores aos carros, que, por vezes,
não chamavam muita atenção. A ala das baianas, como era de se
esperar, surgiu toda vestida de branco em frente ao Carro da
Bahia. Uma pena que a essa altura o Salgueiro estivesse
desfilando com relativa pressa para dar vazão aos seus 5500
componentes. Foi um exagero que por pouco não custou à escola a
perda de pontos preciosos na disputa pelo título. Felizmente os
últimos componentes chegaram na Apoteose dentro do tempo e o
Salgueiro se credenciou com grande dose de favoritismo à disputa
do campeonato. Parecia impossível que alguma escola superasse
aquele momento de emoção e, sobretudo, de alegria.
UNIDOS
DA TIJUCA - Contar
a história da dança no Brasil, desde antes do descobrimento
até o final do século XX, foi o desafio da Unidos da Tijuca,
com seu enredo "Dança Brasil", de autoria do
carnavalesco Shangai. Belos índios, cheios de penas de pavão,
abriram o desfile na comissão de frente. O abre-alas, denominado
"O Pavão e a Floresta", apresentou grandes esculturas,
mas não conseguiu causar impacto, pois a combinação de cores e
as formas não eram das mais elegantes. Na primeira parte foram
mostradas as danças indígenas. O carro "Templo de Jaci e
Guaraci" foi todo montado com bambus, que faziam um bom
contraste com as plumas azuis dos destaques de composição.
Atrás do Carro dos Navegantes surgiram duas das melhores alas da
escola, referentes à dança colonial e à dança no Império.
Hermínia Paiva foi a destaque central do Carro do Teatro
Municipal, que fazia alusão às danças clássicas e aos bailes
de fantasias. A ala das baianas, com muitos problemas em suas
saias, desfilou no setor africano. Aliás, tantas foram as
contribuições da África para a nossa dança que eu esperava
que esse setor fosse dos mais densos do desfile, o que acabou
não acontecendo. O desfile terminou com a passagem do carro
"Quem Dança seus Males Espanta", que fazia referência
às danças de academia. Não gostei do desenvolvimento do
enredo. Aliás, tive impressão que vários carros e muitas
fantasias poderiam se prestar a qualquer tema. Faltou
imaginação e coerência, além de um samba um pouco melhor.
ESTÁCIO
DE SÁ - Tudo
parecia bem no início do desfile da campeã de 92, mas um
problema no carro de som fez com que Dominguinhos parasse de
cantar o samba, mesmo sabendo que o tempo já estava sendo
contado. Conforme mandava o regulamento, o presidente da Liga,
Capitão Guimarães, esbravejou: "a escola tem que continuar
seu desfile!". E assim seguiu a Estácio, sob os protestos
de Dominguinhos e com o relógio marcando nove minutos de
desfile, em busca do bicampeonato. O enredo "A Dança da
Lua", do carnavalesco Chico Spinoza, era baseado numa
interessante lenda dos índios Karajás, que tinha a luz da lua,
em suas quatro fases, como fio condutor da trama. O abre-alas (A
Criação - Um Pensamento Bom) tinha efeitos de luzes
interessantes, uma grande serpente e leões. Os 4800 componentes
desfilaram divididos em enormes 36 alas. As fantasias tinham bom
acabamento e algumas eram bastante criativas, mas houve um
planejamento de cores um tanto quanto equivocado. A escola esteve
pesada durante todo o tempo de sua apresentação. Além disso, o
samba, que para o meu gosto não era dos melhores, não
funcionou, talvez pelo andamento muito apressado da bateria. As
alegorias também tinham ótimo acabamento, mas algumas delas se
perderam nas excessivas cores das alas que as antecediam. Gostei
do carro "Reino das Pedras Verdes (Lua Crescente)" e do
Carro da Mitologia Lunar, mas o momento mais bonito do desfile
foi guardado para o final, com a passagem do carro "Carnaval
Renovação", que trazia um dragão de 21 metros, todo
montado em alumínio, envolto por luzes especiais. Apesar de
alguns bons momentos, a Estácio nem de longe repetiu o sucesso
do ano anterior. Houve claros na pista, principalmente antes da
bateria entrar no boxe. Prejudicada pela perda dos nove minutos
no início do desfile, a escola acabou correndo durante todo o
tempo de sua apresentação. Na minha opinião, a lua da Grande
Rio foi bem mais simpática e leve do que a sombria lua da
Estácio.
BEIJA-FLOR
DE NILÓPOLIS - Foi
muito estranho ver a Beija-Flor entrar na Marquês de Sapucaí
sem Joãosinho Trinta, que depois de dezessete carnavais no
comando da agremiação, se afastou do carnaval. A carnavalesca
Maria Augusta Rodrigues foi convidada para substituí-lo e bolou
um enredo bem ao estilo com o qual marcou época na União da
Ilha: "Uni-Duni-Tê, a Beija-Flor Escolheu, É Você!".
Os 4500 componentes da escola convidaram o público a voltar a
ser criança, para que o mundo encontrasse seu equilíbrio. Os
integrantes da comissão de frente surgiram fantasiados como
"Mensageiros do Cosmos", mas não fizeram uma
apresentação das mais satisfatórias. No abre-alas, denominado:
"Uni - O Gerador da Vida", um pião girava em meio às
luzes e fazia um bonito efeito. As baianas desfilaram no primeiro
setor (Uni - Universo) e simbolizaram flores. Sobrevoando a ala,
um beija-flor com balões azuis deixava claro que Maria Augusta
queria fixar o símbolo da escola. No segundo setor (Duni),
destacaram-se o carro "Sol e Lua" e a alegoria
"Terra e Céu". A bateria de mestre Odilon estava
multicolorida, mas o ritmo não me agradou. Aliás, o samba, que
eu já não considerava dos melhores antes do desfile, foi
cantado de forma a favorecer o sono dos expectadores. No último
setor (Tê - O Equilíbrio), a carnavalesca optou por uma suave
combinação do azul claro com o rosa e conseguiu um bom
resultado. A escola, ao contrário da Estácio, desfilou muito
bem planejada em termos de cores, mas não conseguiu causar
impacto, pois as alegorias, apesar de leves e bonitas, não
tinham a grandiosidade habitual da Beija-Flor. No final no
desfile algumas alas apressaram o passo e claros se formaram na
altura do Setor 11. A escola terminou sua apresentação deixando
a certeza de que, mesmo com a correção do trabalho da
carnavalesca, aquela não era a estética ideal para o sucesso da
agremiação. O desfile não empolgou.
ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA - Passava um pouco das quatro horas quando a Mangueira entrou na Sapucaí com seu enredo "Dessa Fruta Eu Como Até o Caroço", do carnavalesco Ilvamar Magalhães. A origem da manga foi mostrada na comissão de frente e nas belíssimas alas que abriram o desfile. No bonito Carro da Índia o destaque ficou por conta de Laerte Rafael, com sua deslumbrante fantasia intitulada: "Essência Indiana do Esplendor Asiático". O setor africano, ao contrário do que manda a tradição da escola, veio multicolorido, mas, apesar disso, apresentou fantasias de bom efeito. Quando o enredo chegou ao Brasil, foram mostrados os diversos tipos de manga, sempre com fantasias bem cuidadas e de boa criatividade. Na última parte, a Mangueira apresentou o quadro: "Manga Que Dá Samba", numa referência à própria escola. As baianas tradicionais desfilaram nesse setor, vestidas de "Manga Rosa". Fantasias típicas de carnaval, como as dos tradicionais pierrôs e arlequins, fecharam a boa apresentação da escola. Até mesmo o samba, que não era muito bom, conseguiu empolgar e levar a Mangueira à disputa de uma boa posição. Gostei do desfile. Os últimos
componentes da Mangueira chegaram a dispersão com o dia
começando a clarear. Enquanto isso, na concentração, o
público que costumeiramente acompanhava o final dos desfiles no
chamado bloco do arrastão era impedido de entrar na Sapucaí,
numa ação policial que me pareceu absolutamente desnecessária.
Num carnaval em que várias escolas foram atrapalhadas pela
chuva, essa ação da polícia fez valer a tese da saudosa
escritora e cronista carnavalesca Eneida de Morais, que dizia que
os piores inimigos do carnaval carioca eram a chuva e a polícia.
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