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“Excitando
a mente à poesia Os sambas de 1980
realmente nos fazem viajar e é esse o convite que eu faço a
vocês agora. Vamos embarcar nesse sonho colorido, através de um
mágico túnel do tempo, rumo a um desfile que é considerado por
muitos como um dos melhores da história. Nessa viagem eu sou
apenas o mero narrador desse belo momento do carnaval do Rio de
Janeiro. O GRANDE DESFILE DE 1980 A Marquês de Sapucaí, pelo
terceiro ano consecutivo, foi o palco principal dos desfiles das
escolas de samba do Rio de Janeiro. Pela primeira vez, no
entanto, o desfile foi realizado no sentido Presidente Vargas -
Catumbi, sentido que perdura até os dias de hoje.
IMPÉRIO SERRANO – Depois de uma breve passagem pelo grupo inferior (1-B), a escola de Madureira abriu o desfile principal disposta a conseguir uma boa colocação. Com o enredo “Império das Ilusões – Atlântida, Eldorado, Sonho e Fantasia”, a escola entrou na pista embalada por um samba de boa melodia e que apresentava bem o enredo. Nas fantasias e carros havia a predominância das cores da escola, misturadas ao prata (principalmente no setor de Atlântida) e ao dourado. O abre-alas trouxe a coroa imperial, mas foi uma das alegorias mais fracas da escola. Aliás, em termos plásticos, o desfile foi crescendo gradativamente com a passagem das alas. Os carros mais bonitos representaram a Atlântida e o Eldorado, com destaque para Evandro Castro Lima, que apareceu vestindo uma fantasia dourada de extremo bom gosto. A escola terminou sua apresentação com a ala "Sente o Drama", que trouxe casais de mestres-salas e porta-bandeiras, num claro protesto contra a extinção do quesito. Foi um desfile apenas correto, mas sem a ousadia prometida pelo carnavalesco José Eugenio e sem a força que se espera de uma escola do porte do Império Serrano. Também achei que a escola desfilou com bem menos do que os 2500 componentes anunciados.
UNIDOS DE SÃO CARLOS – Com o enredo “Deixa Falar”, do carnavalesco Francisco Fabian, a Unidos de São Carlos se propôs a mostrar um pouco da história da primeira escola de samba do Rio de Janeiro. O samba-enredo, de autoria de Sidney da Conceição e Elinto Pires, atendia bem ao enredo e, sobretudo em sua segunda parte, tinha uma bela melodia. Com a predominância do vermelho e do branco, a escola passou com um visual bastante simples, ajudado por alas que traziam alegorias de mão. A boa bateria apresentou-se com chapéus de malandro e a ala das baianas, já no final do desfile, com enormes cestos de frutas na cabeça. Alguns tripés ajudaram o carnavalesco a compor o enredo. Eu gostei de alguns deles, com destaque para os que apresentaram máscaras africanas. Nada, no entanto, chamou mais atenção do que o triste acidente envolvendo Mauro Rosas, tradicional concorrente dos desfiles de fantasias e figura relevante do carnaval do Rio de Janeiro. Mauro estava desfilando em um carro que trazia instrumentos e notas musicais. Sorridente, ele vinha acenando para o público que o aplaudia, quando, de repente, descuidou-se e caiu, causando um enorme susto na platéia e nos telespectadores que acompanhavam o desfile. Rapidamente, o destaque foi socorrido e levado ao hospital, onde ficaria internado por várias semanas. O carro, que já havia passado da linha de meio de desfile, seguiu sem o destaque e as alas continuaram suas evoluções, mas sem muita coesão. Na verdade, a partir do lamentável acidente diante das câmeras, ninguém conseguiu prestar muita atenção no desfile, que acabou sendo um pouco arrastado.
UNIDOS DE VILA ISABEL – Com o enredo “Sonho de um Sonho”, inspirado na obra de Carlos Drummond de Andrade, os carnavalescos Silvio Cunha e Fernando Costa organizaram um dos desfiles mais bonitos de 1980. A Vila desfilou com mais de 3000 componentes (um certo exagero para a época) embalados por um dos mais belos sambas do ano, cuja autoria era de Martinho da Vila, Rodolpho e Graúna. Os ritmistas da Vila, comandados por Ernesto, um dos maiores mestres de bateria da história do carnaval carioca, imprimiram uma cadência deliciosa e inigualável e o samba, que já era bom no disco, ficou emocionante. O carro abre-alas mostrou cavalos alados e chamou muita atenção, assim como os dois quadripés que o seguiam. A “chuva de espelhos”, invenção de Arlindo Rodrigues, marcou presença em vários carros e tripés. O azul e o branco tomaram conta da pista e a evolução seguiu fluente até o final da apresentação. Sem dúvida, foi um dos melhores desfiles da Vila Isabel e um dos melhores daquele carnaval.
ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – Em meados de 1979, o Salgueiro apresentou Max Lopes como seu carnavalesco. Emocionado com o convite, Max propôs um enredo sobre Lamartine Babo, com quem havia sonhado, e logo começou a desenvolver os figurinos. Muitas fantasias já estavam desenhadas, muitos carros estavam criados, quando, de repente, Osmar Valença reassume a direção da escola e resolve mudar tudo. De imediato, manda embora Max Lopes, alegando que o enredo sobre Lamartine não possibilitaria a vitória ao Salgueiro. Ney Ayan é chamado para desenvolver mais um enredo de temática negra. A ele se junta o carnavalesco Jorge Nascimento e o Salgueiro leva para a avenida o enredo “O Bailar dos Ventos, Relampejou, Mas Não Choveu”. O samba foi escolhido rapidamente, pois toda essa confusão criada pelo Osmar aconteceu no final de 79, poucos meses antes do carnaval. Quarta escola a entrar na pista, depois de um lindo desfile da Vila Isabel, o Salgueiro parecia ser outra escola, pois tons de amarelo e negro abriram o desfile, seguidos por alas multicores. O vermelho e o branco tradicionais apareceram somente de vez em quando, fato que valeu muitas críticas aos carnavalescos. Não se pode dizer que o Salgueiro não tenha apresentado um visual de bom gosto, pois a escola mostrou fantasias e alegorias de qualidade. Muitas alas trazendo alegorias de mão e vários tripés ajudaram a compor o desfile. As baianas se apresentaram no final da escola e não apresentaram uma boa evolução, pois estavam mal dispostas na pista. Dona Maria Romana, destaque da ala, desfilou em um carro e Isabel Valença, que desfilou no carro que trazia a “borboleta encantada”, mostrou elegância. A bateria esteve firme, com uma boa cadência e com belos “desenhos” feitos pelos tamborins, que ajudaram a valorizar o samba, que não estava entre os melhores do ano.
BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS – Passava da meia-noite quando o monumental abre-alas entrou na pista chamando muita atenção. O carrossel, que trazia as belíssimas mulatas de Nilópolis e uma iluminação de impacto, era de deixar qualquer um de queixo caído. O enredo “O Sol da Meia-Noite, uma Viagem ao País das Maravilhas”, de Joãozinho Trinta, falava do sonho infantil. As lindas baianas vieram logo no início do desfile, ladeadas por grandes adereços. Em seguida, vinha a bateria, que teve uma atuação brilhante, valorizando muito o samba de Zé Maranhão, Wilson Bombeiro e Alceu. O melhor momento, aquele que fazia toda a arquibancada cantar com os entusiasmados componentes da escola, era observado no refrão que abordava a língua do P. Auxiliando Neguinho, estava o conjunto vocal “As Gatas”, uma presença tradicional na Beija-Flor durante muitos carnavais. O sonho infantil foi mostrado através de alas muito bem planejadas. Houve uma perfeita harmonia de cores e formas e os tons predominantes foram o azul e o branco, sempre misturados ao prata. As outras cores apareceram em pequenos detalhes e, vez por outra, em alas inteiras. Aliás, havia uma ala em dourado que estava uma beleza. Eu adorei uns tripés que traziam anjinhos e candelabros em meio ao desfile. A carruagem de Cinderela também era um carro maravilhoso. O carro do jogo de xadrez e a ala das mil e uma noites também chamaram a atenção. Foi um desfile perfeito e um fator que contribuiu para o sucesso da escola, na minha opinião, foi o contingente não exagerado de 2500 figurantes. A escola passou sem abrir e com uma evolução sempre fluente.
MOCIDADE INDEPENDENTE – Um maravilhoso colorido tropical, formado por plantas e flores dos mais diversos tipos, marcou presença para ilustrar o enredo “Tropicália Maravilha”, do genial Fernando Pinto. O samba não era dos mais belos do ano, mas com a ajuda da bateria, pela última vez comandada por Mestre André, e com o vozeirão de Ney Vianna, a melodia acabou sendo valorizada. Gostei bastante do que vi, sobretudo de uma embarcação feita com pedaços de frutas e das lindas palmeiras que decoravam alguns tripés. Uma ala com samambaias nos chapéus e uma outra com delicadas margaridas também agradaram os meus olhos. No final da apresentação, vários tripés decorados com bananas, laranjas, cajus e todas as maravilhas tropicais encantaram o público. Pena que, nos quesitos "evolução" e "harmonia", a escola não tenha se saído tão bem quanto a Vila e a Beija-Flor, mas, em termos de criação, aplausos para o talento do saudoso carnavalesco.
MANGUEIRA – “Coisas Nossas”, esse foi o enredo desenvolvido pelas carnavalescas Liana Silveira e Érica Cirne. O tema abordava as coisas típicas na vida do brasileiro, tais como o futebol, o jogo de baralho, o namoro, a boa música. Falava também da Petrobrás, de índios, gafieira e samba. A bateria, dirigida pelo lendário Mestre Waldomiro, esteve, mais uma vez, com um ótimo desempenho, o que contribuiu para valorizar o samba de letra fraca, mas de boa melodia. Parece-me que o maior erro da escola foi ter colocado muitas pessoas em desfile: mais de 3500 componentes. O visual foi irregular, principalmente se considerarmos que o uso das cores não foi dos mais felizes em alguns momentos. Gostei muito dos quadripés que traziam coqueiros. Aliás, as carnavalescas se valeram muito dos tripés para ilustrar o enredo. Havia tripés com cartas de baralho, com figas de guiné e com tantas outras “coisas nossas”. As alegorias de mão também foram muito utilizadas pela escola nesse ano. Algumas conseguiram efeitos muito bons, mas há quem diga que as carnavalescas tenham exagerado no uso desse recurso. Na minha opinião, essas alegorias funcionaram bem na visão de conjunto. Alguns carros apresentaram destaques muito bem fantasiados. Havia um pierrô, no carro do carnaval, que era uma beleza. Aliás, esse carro também estava interessante, com máscaras espelhadas de bom efeito. Um momento melancólico se deu na passagem do craque Mané Garrincha, completamente “fora de sintonia”, sobre um tripé da escola. Foi um desfile simpático, mas bastante irregular.
PORTELA – “Hoje Tem Marmelada”, de Viriato Ferreira, foi o enredo da Portela no Carnaval 80. O circo foi mostrado em todos os detalhes e o belíssimo samba, que já era conhecido do povo, fez com que todos cantassem com entusiasmo. A comissão de frente foi formada por delicados palhacinhos e a águia tradicional abriu passagem para as várias alas vestidas de índios, palhaços e odaliscas, que marcaram presença no “rio” azul colocado na avenida pela escola. Aliás, o “rio” azul estava cheio, pois a Portela fluiu com muita rapidez, porém com uma ótima evolução. Os mais de 3000 componentes vinham separados por carros simples, mas muito bem planejados. Gostei muito de um carro giratório, que trazia cavalos brancos muito bem decorados com os “azuis” da Portela. Os animais do circo vinham em delicadas jaulas, ornamentadas em dourado. Até um globo da morte foi colocado em desfile pelo Viriato, que não esqueceu de nenhum detalhe da magia circense. Havia um setor referente ao circo chinês que apresentou alas vestidas com fantasias orientais, sempre com o bom gosto do carnavalesco. No final do desfile, já com o dia clareando, a dúvida era saber quem foi melhor: Beija-Flor ou Portela?
UNIÃO DA ILHA – Com o enredo “Bom, Bonito e Barato”, do carnavalesco Adalberto Sampaio, a escola pretendia contar a sua própria história, focalizando, principalmente, seus recentes bons momentos entre as grandes escolas. Foi mais um momento de grande integração entre componentes e platéia. Com o dia já claro, a escola pisou na pista com um colorido incrivelmente harmônico. Novas formas de chapéus e de adereços foram apresentadas pelo carnavalesco. Com muitas alegorias de mão e com uma leveza extraordinária, a Ilha passou arrancando aplausos e brindando a todos com uma ótima exibição. Toda essa empolgação teve início logo de cara, quando o abre-alas começou a se movimentar rumo a dispersão. As cores da Ilha marcaram presença na fantasia da bateria e, também, em várias outras alas, sempre com muito bom gosto. O samba muito bom, puxado pelo excelente Aroldo Melodia, tinha na segunda parte o seu melhor momento. Belíssimo desfile!
IMPERATRIZ
LEOPOLDINENSE
– O desfile teve início com um painel em homenagem a Amaury
Jório, que havia falecido semanas antes do carnaval. Logo em
seguida, surgiram tripés belíssimos trazendo figas e
esplendores barrocos que giravam com delicadeza. A beleza das
alegorias que abriram o desfile já era um prenúncio do
espetáculo que estaria por vir. “O Que é Que a Bahia
Tem”, de Arlindo Rodrigues, foi o enredo da escola. No
abre-alas, que apresentou os mesmos adereços dos tripés
iniciais, o destaque ficou por conta de Gal Costa. O belíssimo
samba de enredo cresceu muito no dia do desfile, graças à
atuação da bateria, que foi uma das melhores do desfile de 80.
Com pelo menos três alas de baianas (uma mais bonita que a
outra) e com alegorias de uma beleza incontestável, a Imperatriz
foi uma festa para os olhos. Adorei os anjos barrocos que o
Arlindo colocou em desfile. A fantasia da bateria, toda em branco
e prata, tinha um efeito belíssimo sob a luz do forte sol
daquela manhã. No meio do desfile, enormes esculturas de baianas
(cada uma trazendo diferentes ornamentações) giraram em
quadripés muito bem realizados. Vários painéis em homenagem a
personalidades da Bahia marcaram presença no terço final do
desfile, que foi encerrado com a apresentação dos “gandhis
da Bahia”, através de fantasias multicoloridas.O único
pecado da escola foi ter aberto vários claros, provocados por
uma certa indecisão do pessoal da Harmonia na hora de puxar a
escola. Isso, a meu ver, prejudicou um pouco o conjunto da
escola. Marcelo Guireli |
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