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O INESQUECÍVEL E POLÊMICO DESFILE DE 1983 Após a grande vitória do
Império Serrano no ano anterior, quando o regulamento do desfile
privilegiou o samba ao invés da riqueza de algumas escolas,
houve muito questionamento em relação aos itens que proibiam
figuras vivas em cima de alegorias e a limitação de apenas
quatro carros alegóricos. Para o desfile de 83, a Riotur decidiu
abolir essas restrições e as escolas puderam então ter mais
liberdade na confecção de seus carnavais. Os passistas da Ponte brincam o carnaval na Sapucaí UNIDOS DA PONTE – Com aproximadamente 2000 componentes, a Ponte fez sua estréia no grupo principal trazendo um samba emocionante para defender o enredo “E eles Verão a Deus”, desenvolvido pelo carnavalesco Geraldo Cavalcante. Com muita simplicidade e muito samba no pé, a escola trouxe carros pequenos, mas bem representativos do enredo, que exaltava as obras de Djanira, Portinari, Di Cavalcanti e Aleijadinho. Nas fantasias, o destaque ficou por conta da ala das baianas, que veio vestida de branco e com enormes tabuleiros cheios de quitutes. Muitas alas traziam as paletas dos pintores e, embora com a predominância do azul e do branco, muitas fantasias eram salpicadas de outras cores, para dar mais vitalidade ao enredo. Com uma bateria de cadência lenta e excepcional, a Ponte fez um desfile à antiga, no qual as raízes da escola de samba foram mantidas. Não importava se a escola teria ou não condições de ficar entre as Grandes. O que importava naquele momento era a essência do samba. Destaque do abre-alas da Caprichosos CAPRICHOSOS DE PILARES – Depois do simpático desfile de 82 e da ascensão para o Grupo 1-A, a Caprichosos manteve a linha dos enredos bem-humorados e críticos do carnavalesco Luiz Fernando Reis. Com “Um Cardápio à Brasileira”, a escola fez um passeio pela culinária de todo o país, sem esquecer de fazer crítica à inflação, um mal que faz com que o pobre coma cada vez menos. O visual era simples, mas estava interessante. A comissão de frente veio com cozinheiras, com direito até a enormes colheres de pau. As primeiras alas faziam alusão à influência do índio, do negro e dos colonizadores na nossa culinária. Achei muito simpático o carro da feijoada, que trazia uma divertida cabeça de porco sobre uma enorme panela. Além dos carros, que tinham até bom tamanho, o carnavalesco utilizou muitos painéis para melhor ilustrar seu enredo, cujo entendimento só foi prejudicado no momento em que faltou luz na avenida. A pane no sistema elétrico deixou às escuras o trecho que ia da Presidente Vargas até a altura do boxe da bateria. O curioso é que, a partir desse imprevisto, a Caprichosos cresceu em empolgação e garra, sendo impulsionada pelo público, que incentivava os componentes. A energia voltou a tempo de podermos acompanhar o final da apresentação da escola, que além de ter sofrido com o “apagão”, foi um pouco prejudicada pela ausência de um samba melhor. A Vila também mostrou seus destaques UNIDOS DE VILA ISABEL – No momento em que a escola entrava na pista, uma chuva de verão caiu sobre o Rio de Janeiro, deixando as fantasias e as alegorias um tanto quanto prejudicadas. Por sorte, a chuva forte logo se foi e a escola pode passar sem maiores problemas. O enredo “Os Imortais”, desenvolvido pelo carnavalesco Fernando Costa, era uma homenagem aos famosos escritores da Academia Brasileira de Letras e suas obras. A coroa da Vila veio girando no abre-alas, decorada com tecidos transparentes. As alas e carros eram bastante simples e traziam obras importantes da nossa Literatura, tais como “Iracema”, de José de Alencar, representada por um carro com um arco-íris e por alas vestidas de índios. O desfile não teve nenhum grande destaque em termos de plasticidade. O que mais me chamou a atenção foram uns tripés que traziam yaôs. Eram anos difíceis para a Vila e o dinheiro era curto. Para mim, o melhor do desfile foi o som da bateria, sempre muito firme e cadenciada. Também gostei do samba, apesar das pesadas críticas que ele recebeu. A Unidos da Tijuca trouxe fantasias luxuosas sobre seus carros UNIDOS DA TIJUCA – Para apresentar o enredo “Brasil: Devagar com o Andor Que o Santo é de Barro”, a Unidos da Tijuca contou com um belo samba-enredo. A escola apresentou carros grandes, com esculturas muito bem realizadas pelo artista Yarema Ostrower, figura de grande importância no Carnaval Carioca. Eu gostei muito do enredo de Yarema, que girava em torno do folclore do Nordeste e seu maravilhoso artesanato de barro. Atrás do belo abre-alas, que era todo trabalhado em branco e prata, apareceu a comissão de frente com as famosas “burrinhas”. Muitas imagens de santos e de personagens do folclore nordestino pareciam realmente serem esculpidas em barro, tamanha era a perfeição do trabalho de Yarema. Nas fantasias, houve uma certa irregularidade, principalmente no uso das cores. A boa bateria do Borel veio com fantasias nas cores da escola: metade dos ritmistas trajava fantasias azuis e a outra metade, fantasias amarelas. Durante a passagem da Unidos da Tijuca foram gravadas cenas do filme Águia na Cabeça, estrelado por Hugo Carvana, que desfilou atrás do abre-alas, e por Zezé Motta, que veio sobre um tripé. A Estação Primeira pede passagem ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA – Com o enredo “Verde que te Quero Rosa, Semente Viva do Samba”, título inspirado num dos discos de Cartola, a escola se propôs a fazer uma auto-homenagem, contando um pouco de sua história e relembrando seus quatro últimos campeonatos: “Reminiscências do Rio Antigo” (1961); “O Mundo Encantado de Monteiro Lobato” (1967); “Samba, Festa de um Povo” (1968) e “Lendas do Abaeté” (1973). O carnavalesco era Max Lopes, que vinha de um excelente trabalho realizado na União da Ilha. Havia uma expectativa muito grande no ar quando um “pede-passagem”, trazendo o símbolo da escola e o nome do enredo, abriu alas para os 3000 figurantes, divididos nas mais de 50 alas. Na primeira parte foi mostrada a história do bairro e o destaque desse setor ficou por conta de uma bela alegoria que trazia um trem que soltava fumaça colorida. Aliás, essa era uma das alegorias mais esperadas do Carnaval 83. Para lembrar o Rio Antigo, já no segundo momento do enredo, a Mangueira se valeu de figuras de Debret, representadas por belíssimas fantasias, com muitas alegorias de mão. Dois lindos coretos ajudaram na composição do quadro e Clóvis Bornay esbanjou luxo para representar Estácio de Sá, o fundador da cidade. Bornay veio sobre um tripé, mas muitos destaques vieram no chão, inclusive Maria Helena, com sua bela fantasia intitulada de “Linda Senhora”. Para relembrar o enredo de 67, Max criou várias alas que representavam os personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo, tendo Dona Zica vestida de Tia Anastácia. O enredo de 68 foi relembrado por tripés e uma enorme ala com palha e estampas africanas. A tradicional ala das baianas desfilou no setor alusivo ao tema “Lendas do Abaeté”; veio vestida de branco, com detalhes em rosa. Um destaque representando o Mestre Cartola desfilou no último tripé, com uma atuação que fez com que muita gente pensasse que o velho compositor havia descido dos céus para participar do desfile. Foi um desfile muito bonito e feito com muita emoção. Apesar da simplicidade, havia uma beleza inquestionável, principalmente nos figurinos. O problema é que a harmonia voltou a apresentar suas falhas, principalmente do meio para o final do desfile, quando começou a ocorrer uma certa irregularidade na evolução das alas. Alguns buracos foram abertos e, como de costume, a escola foi prejudicada pela invasão da pista. Além desses problemas, a bateria desfilou sem chapéu, o que sempre acaba prejudicando na avaliação do conjunto. Problemas à parte, a Mangueira foi pura emoção em 83 e parecia ter atributos para brigar por uma boa colocação. Muito bom gosto no desfile da União da Ilha UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR – Faltavam quinze minutos para as duas horas da madrugada de segunda-feira, quando o enorme abre-alas da Ilha começou a se movimentar na concentração. Era uma escola diferente da habitual, com mais luxo e não menos alegria. O enredo “Toma Lá, Dá Cá”, do carnavalesco Wany Araújo, falava das mãos. O abre-alas, todo em branco e prata, era denominado “As Mãos Brancas da Paz do Toma Lá Dá Cá”. Nesse carro, que vinha cheio de mulheres bonitas, havia mãos que se movimentavam de forma sincronizada. O primeiro setor do desfile foi denominado “Toma Lá o Nosso Carnaval” e trouxe alegorias e fantasias com elementos alusivos a essa grande festa, tais como máscaras, pompons e muito espelho. Na confecção do carnaval, Wany Araújo contou com a luxuosa colaboração de Viriato Ferreira. Os dois produziram um visual muito interessante e de bom gosto. As fantasias dos 2500 componentes eram leves e permitiam uma evolução bastante ágil. As alegorias tinham um perfeito acabamento e algumas apelavam para o bom-humor, como no tripé que representava a “mão boba”. O carro mais bonito, a meu ver, foi o que trazia um enorme espantalho, cujas mãos eram movimentadas por um destaque, que parecia intencionalmente ser a marionete. As belas baianas traziam sobre seus tabuleiros as figas de guiné. Dona Benedita, impossibilitada de desfilar no chão, veio sobre um bonito carro que vinha próximo à ala. O samba não estava entre os melhores do ano, mas, com a excelente bateria da União e com o cantar perfeito de Aroldo Melodia, acabou crescendo bastante, empolgando os componentes e parte do público. A bateria fazia convenções ousadas sob o comando de Mestre Bira, que ameaçava sair da escola se não houvesse um maior cachê para o próximo desfile. Isso causou muita polêmica, assim como a presença do casal de mestre-sala e porta-bandeira Peninha e Adriane, que teriam deixado o Salgueiro para defender a Ilha em troca de cento e cinqüenta mil cruzeiros, fato que foi negado várias vezes por Peninha. Apesar de um desfile correto, a fragilidade do tema não me convenceu. Mesmo assim, até aquele momento, a Ilha figurava tranqüilamente na segunda posição, logo abaixo da Mangueira. A maioria dos destaques do Salgueiro desfilou no chão ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – Definitivamente, os tempos eram de muita dificuldade para a escola da Tijuca. Muitos problemas políticos atrapalhavam a confecção de seus carnavais na fase que foi de meados dos anos 70 a meados dos anos 80. Em 82, após vencer com facilidade as eleições para a presidência, Régis Cardoso passou a procurar por um tema para o ano seguinte, que segundo ele deveria ter a cara da escola. Por idéia de Augusto César Vanucci e do cartunista Lan, o enredo escolhido foi “Traços e Troças”, que pretendia contar a história da caricatura no Brasil. Para desenvolver o tema foi chamado o artista José Rodrigues, que acabou abandonando o barco bem antes do carnaval. Ao invés de contratar um novo carnavalesco, Régis preferiu esconder o fato e tocar como podia os trabalhos de barracão. No dia do desfile, o Salgueiro era aguardado com muita ansiedade, pois a crítica especializada considerava o seu samba, juntamente com o do Império Serrano, o melhor do ano, o que, para o meu gosto pessoal, era um certo exagero. Oitava escola a desfilar, o Salgueiro abriu seu desfile com uma comissão de frente formada por atrizes, com figurinos desenhados por Lan. Atrás, vinha o abre-alas que era uma estilização do Pão de Açúcar, do qual surgia, de vez em quando, a caricatura do governador Brizola. Embora tenha anunciado oficialmente 3000 figurantes, o Salgueiro pareceu desfilar pelo menos com 4000 pessoas, o que acabou por prejudicar sua apresentação. Entre seus figurantes, percebia-se nitidamente a presença de intrusos, que “sujavam” o desfile se misturando às alas com suas fantasias surradas e de péssimo gosto. O enredo foi mal desenvolvido e as fantasias e carros mostraram pouca criatividade. Na primeira metade do desfile, as únicas alegorias, excetuando-se o abre-alas, eram grandes estandartes que traziam frases de difícil leitura com alguma alusão ao enredo. Do meio para o final, começaram a surgir alguns carros diferentes: um pior do que o outro. Nunca vi o Salgueiro tão mal nesse quesito. Nos figurinos, nos quais predominaram o vermelho e o branco, a escola foi um pouco mais feliz, embora fosse quase impossível identificar o enredo nas fantasias. A harmonia, dirigida por Laila, esteve muito bem no início, mas os diretores não conseguiram manter a escola coesa durante toda a apresentação, pois o Salgueiro foi prejudicado pelos penetras que tradicionalmente invadiam a pista e pelos “intrusos” aos quais eu já me referi. Além do belo samba e da excelente exibição da bateria, que teve uma ala de tamborins fantástica, a escola se salvou pela incrível empolgação de seus componentes, mas o desfile deixou muito a desejar. Elizeth Cardoso, destaque tradicional da Portela, homenageou Eneida no setor referente ao "Reinado de Momo" PORTELA – Os relógios marcavam cinco horas, mais dez minutos, quando a águia coroada da Portela começou a bater asas na concentração. Com o enredo “A Ressurreição das Coroas – Reisado, Reino e Reinado”, dos carnavalescos Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo, a escola entrou com muita garra e cantando forte seu belíssimo samba-enredo, de autoria de Hilton Veneno e Mazinho da Piedade, defendido pelo sempre correto puxador Silvinho. Preocupado com a costumeira invasão de pista, Edmundo Braga optou por alegorias bem amplas, em torno de 9 metros de largura. Segundo ele, essa seria uma medida para fazer o público encostar nos alambrados ou voltar às arquibancadas. De fato, a idéia funcionou e a escola pode fazer seu desfile sem maiores problemas. Na primeira parte, denominada de “Reinado Nativo”, a Portela apresentou lindos painéis alusivos à natureza, decorados com feltro, paetês e espelhos. Com o público muito entusiasmado, o dia ia amanhecendo e os mais de 3500 componentes iam evoluindo ao som da pesada e harmoniosa bateria de Mestre Marçal. Em termos plásticos, a Portela fez um dos desfiles mais bonitos do ano, mas houve um senão, que ficou por conta de uma ala inteira que desfilou sem chapéu. Os tripés africanos, já no segundo setor do enredo, estavam maravilhosos e um deles trouxe Viriato Ferreira, muito bem fantasiado como o Rei de Oyó. No enredo, não faltaram citações a Dom Pedro I e a realeza no Brasil, representada por uma grande carruagem, com cavalos esculpidos por Yarema. No final do desfile, já com o dia completamente claro, a escola trouxe uma mensagem otimista: “a Era de Aquarius será o Reinado do Amor”, diziam os carnavalescos. Foi um belo desfile da Portela, a melhor escola até aquele momento e com muitos pontos de vantagem para a segunda colocada. Império Serrano: desfile compacto para tentar o bicampeonato IMPÉRIO SERRANO - A campeã de 82 entrou na pista anunciando 4000 componentes para defender o enredo “Mãe, Baiana Mãe”, de autoria de Fernando Pamplona. O enredo foi dividido em sete quadros e teve seu desenvolvimento a cargo do carnavalesco Renato Lage. No primeiro quadro, denominado “A Mãe Negra da Baiana Mãe”, apareceram várias alas com ricas fantasias e tripés muito bem trabalhados referentes à África. Na segunda parte, denominada “A Fé Negra da Mãe Baiana”, o Império mostrou vários tripés em homenagem aos orixás. “O Homem da Mãe Baiana” foi o terceiro setor do desfile, com destaque para Evandro de Castro Lima, figura tradicional do Império e legítimo filho da Bahia. A parte mais densa do enredo foi dedicada ao quadro “A Comida da Mãe Baiana”, momento no qual foi mostrado um belíssimo carro que representava um grande mercado. Alas com enormes e belos adereços ajudaram na composição desse setor. Em seguida vieram os quadros “A Filha da Baiana”, “Baiana, Mãe do Samba” e, para finalizar “A Mãe Nossa da Bahia”, setor representado por duas alas de baianas e por um lindo carro que trazia uma enorme escultura de baiana com um resplendor que girava atrás de seu torço: era a glorificação da baiana. Ao todo foram três carros de grande porte, três de médio porte e inúmeros tripés que compuseram o “cenário” da escola, que desfilou com, nada mais, nada menos do que quatro alas de baianas. Renato Lage mostrou talento na combinação de cores e de materiais; foi um desfile de muito bom gosto. O samba, todos hão de concordar, era belíssimo e foi bastante cantado pelo público que àquela altura teria uma enorme dificuldade de apontar qual era a melhor escola: Portela ou Império? Muita beleza na ala das baianas da Imperatriz IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE – Prejudicada com a perda de pontos no ano anterior, a escola de Ramos entrou na Sapucaí disposta a brigar por mais um campeonato. O enredo de Arlindo Rodrigues tinha um nome pomposo: “O Rei da Costa do Marfim Visita Chica da Silva em Diamantina”. Na verdade, tratava-se de uma “loucura” carnavalesca da melhor espécie inventada pelo Arlindo, pois tal fato nunca acontecera. Foi uma maneira inteligente do artista reeditar dois de seus grandes carnavais (Salgueiro 63 e 71) num desfile só, com os vultosos recursos da década de 80. O sol era forte e isso só ajudou a abrilhantar ainda mais as excepcionais fantasias da escola. Atrás da alinhada comissão de frente vinha uma exuberante coroa espelhada, girando e abrindo alas para a escola passar. Arlindo dividiu seu carnaval em duas partes distintas. Na primeira metade foram apresentadas alas africanas, feitas com muita palha e outros materiais rústicos. Os carros e adereços também seguiam essa linha. Já no segundo setor, Arlindo mostrou o luxo da Corte de Chica da Silva. Nessa parte as cores predominantes eram o branco, o prata e o dourado. Com o sucesso do carro do “sarau”, feito no carnaval anterior, Arlindo resolveu apresentar carros sem figuras vivas, fato que se repetiria mais uma vez, anos mais tarde, na mesma Imperatriz. Apesar de toda a beleza de carros e fantasias, a escola pecou em três quesitos: harmonia, evolução e bateria, mas, mesmo assim, fez um desfile digno de uma agremiação postulante aos primeiros lugares. Além da beleza das alegorias e fantasias, a Mocidade mostrou a sensualidade do Xingu MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL – O calor de quase dez horas da manhã era intenso, mas o público ainda super lotava as arquibancadas quando a Mocidade abriu alas com um “pede-passagem” que trazia a seguinte frase: “GRES Mocidade Independente de Padre Miguel Pede Passagem e Abraça o Índio Brasileiro”. O enredo “Como era Verde meu Xingu”, do carnavalesco Fernando Pinto, foi dividido em oito partes. No início foram mostrados os aspectos da floresta, ainda sem a presença do homem branco. Várias “índias” seminuas marcaram presença no belo abre-alas, que veio composto pela flora e fauna do Xingu. No setor denominado “Seus Mitos e Lendas” a Mocidade apresentou um dos carros mais bonitos do desfile: “O Morena”, um paraíso imaginário na confluência dos rios que formam o Xingu. No setor que Fernando Pinto chamou de “Deu a Louca no Xingu”, apareceu um grande carro com a “Águia Dourada Malfazeja”, que trazia sobre suas asas elementos estranhos à cultura indígena. Esse carro era muito moderno para a época e a águia batia asas, abria o bico e soltava fumaça branca, além de bolinhas de sabão. A partir desse momento a escola conquistou o público de vez, que aplaudia a escola com entusiasmo e vigor. Nas alas, Fernando preferiu fantasias que mostrassem as diversas tribos do Xingu, com traços muito criativos, principalmente nos chapéus. Muitos índios com bicicletas, patins e com placas de trânsito fecharam o setor que criticava a influência do homem branco. O desfile se encerrou com a passagem de cinco quadripés com a seguinte inscrição: “Pela Demarcação das Terras Indígenas”. O público aplaudiu intensamente e elegeu a escola como uma das favoritas. O samba, que funcionou muito bem, foi acompanhado por uma bateria incrivelmente cadenciada. No entanto, apesar de toda a criatividade do carnavalesco e da empolgação dos mais de 3000 componentes, os diretores da escola não souberam lidar com o problema da invasão de pista, que acabou acarretando enormes buracos, além de uma acentuada correria para a escola não estourar o tempo. Joãozinho Trinta mostra muito bom gosto na monumental ala das baianas da Beija-flor BEIJA-FLOR DE
NILÓPOLIS –
Mordidos com a injusta colocação do ano anterior, os quase 3000
componentes da Beija-Flor entraram na Sapucaí por volta das onze
e quinze da manhã sem se importar com o calor de quarenta graus.
O público que estava no início da pista chegou a gritar o
tradicional “já ganhou!”, tamanha foi a força da
entrada da escola. O enredo “A Grande Constelação das
Estrelas Negras”, do carnavalesco Joãozinho Trinta, fazia
uma bela homenagem a vários negros ilustres. A comissão de
frente veio formada por negros altos vestidos de branco e com uma
bonita coreografia. Atrás vinha o primeiro casal de mestre-sala
e porta-bandeira: Élcio PV e Juju Maravilha. O abre-alas era
todo espelhado e trazia, além do destaque Jésus Henrique,
várias negras esculturais. Aliás, o carro fez jus ao nome, pois
a invasão de pista naquele momento era impressionante. A partir
daí, seguiu-se um mar de plumas brancas e de detalhes dourados.
O posicionamento da bateria chamou muito minha atenção: ela
veio logo após a passagem do carro abre-alas e de um grupo de
uns trinta passistas. Em termos plásticos, o que mais me chamou
a atenção foram os enormes adereços que ladeavam mais da
metade das alas; marcaram presença inclusive ao lado das lindas
baianas. Os carros vieram menores do que de costume e, embora
estivessem bonitos, não apresentaram nenhuma novidade. Achei as
fantasias bem superiores às alegorias, principalmente quando o
enredo homenageou Pinah, com alas referentes ao próprio
carnaval. Além de Pinah, outras “estrelas” da
constelação negra desfilaram: Clementina de Jesus, Luana e
Grande Otelo. O desfile terminou com a homenagem a Pelé, que,
para variar, não apareceu. Em termos de harmonia, nenhuma escola
foi melhor que a Beija-Flor, que também foi perfeita em quase
todos os outros quesitos. Marcelo Guireli |
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