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1987: UM DESFILE DOS MAIS EQUILIBRADOS O primeiro carnaval após a criação do mal
sucedido Plano Cruzado trouxe um desafio a mais para os
carnavalescos: a falta de materiais. Poucas semanas antes do
desfile, algumas escolas não tinham como acabar a decoração
dos carros devido à escassez de tecidos, plumas, lantejoulas e
outros elementos decorativos tão usuais em nosso carnaval. A alegria dos passistas do Império da Tijuca IMPÉRIO DA TIJUCA – A morte de Marinho da Muda, um dos autores do samba, abalou os componentes da escola às vésperas do desfile. Marinho da Muda era autor de vários sambas do Império e foi homenageado por inúmeros sambistas de outras escolas durante todo o desfile do grupo 1-A. “Viva o Povo Brasileiro”, inspirado no livro homônimo de João Ubaldo Ribeiro, foi o enredo da escola no Carnaval 87. A tradicional agremiação do Morro da Formiga começou seu desfile com um atraso de 22 minutos, pois o segundo carro, denominado “Poleiro das Almas”, teve seu pneu furado e só conseguiu desfilar puxado pelo guincho da Riotur. Outro problema foi o atraso dos chapéus da bateria, que chegaram em cima da hora. O carnavalesco José Félix optou pelo multicolorido e se deu muito mal, pois o visual ficou bastante pesado, agravado pelo excessivo número de carros. Também houve um certo exagero com relação aos componentes, pois a escola nunca tinha desfilado com 3000 pessoas. O grande destaque do desfile foi, sem dúvida, a excelente bateria, que imprimiu uma cadência maravilhosa ao samba, que apesar de ter melodia agradável e letra pertinente ao enredo, não era tão bom quanto o do ano anterior. As baianas evoluíram muito bem, trajando bonitas fantasias brancas, ornamentadas com acetato dourado. O carro da Antropofagia, a meu ver, era o mais bonito, mas todo o conjunto visual se perdeu, devido à falta de unidade cromática. Como começou seu desfile com atraso, a escola estourou o tempo e acabou perdendo preciosos pontos. Abre-alas da Estácio ESTÁCIO DE SÁ – Com o enredo “O Tititi do
Sapoti”, das carnavalescas Rosa Magalhães e Lícia Lacerda,
a Estácio nos brindou com um desfile muito agradável. O enredo
passeou pelos diversos países onde o fruto era apreciado até
virar goma de mascar nos EUA. No abre-alas, o símbolo da escola
apareceu como o Leão da Metro (MGM), cercado de belas mulatas. A
partir daí, o enredo visitou o Império Asteca, a Corte de Dom
João VI, a Tailândia (representada por alas e adereços de rara
beleza), a Índia (simbolizada pelos tradicionais elefantes e
pelos bem vestidos componentes da bateria) e os Estados Unidos. A
ala das baianas veio vestida de Estátua da Liberdade e, com
ousadas saias, acabou não agradando. O samba, apesar da alegria
passada pelo refrão principal, era bastante marcheado e deixava
a desejar em relação aos sambas anteriores da escola. Mesmo
assim, devo confessar que foi um grande prazer assistir a
passagem da Estácio, que desfilou com seus 2800 componentes sem
deixar buracos, mas deixando saudade. Carro das pirâmides energéticas (Salgueiro) ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – Fernando Pamplona, salgueirense tradicional, disse, dias antes do carnaval, que o público gostaria que o desfile do Salgueiro durasse umas três horas, só para poder ficar cantando o delicioso samba de Didi, Bala e Cezar Veneno. Com 3800 componentes a escola entrou na pista por volta das 3 horas da madrugada com o enredo “E Por Que Não?”, de autoria de Renato Lage e Lilian Rabelo. Houve momentos de muita tensão no início do desfile, pois o carro da nave interestelar bateu numa caixa de som na entrada da Sapucaí, mas, felizmente, foi só um grande susto, sem danos à alegoria. O enredo era super positivo e a mensagem era de que o sonho é fundamental para um futuro melhor: “o que era sonho no passado, agora é realidade”, diziam os carnavalescos. E por que não acabar com as guerras? E por que não transformar usinas atômicas em usinas harmônicas? E por que não ver o Salgueiro novamente campeão? Aliás, o Salgueiro completava 12 anos sem título nesse carnaval e talvez por isso os carnavalescos tenham decidido trazer uma grande homenagem à própria escola no abre-alas, que reuniu seus dois principais destaques: Júlio Machado (Xangô do Salgueiro) e Isabel Valença. O carro era lindo e trazia elementos que lembravam o Salgueiro antigo, tais como pompons, máscaras e espelhos. O toque de modernidade ficou por conta do letreiro que trazia o nome da escola, todo iluminado em néon. O conjunto visual do Salgueiro foi eletrizante, do mais puro bom gosto. Era difícil apontar qual era a alegoria ou a fantasia mais bonita, pois todos os elementos tinham uma harmonia fantástica, tanto em termos de forma, quanto em relação às cores. Além da beleza, havia bom-humor, como foi visto na passagem do carro “Polvo no Poder”, que trazia o presidente dos EUA e o presidente do Brasil nos tentáculos do “polvo”. No final do desfile, uma enorme pomba da paz, decorada com plumas brancas e espelhos, deu uma emoção a mais à apresentação da escola. Atrás do carro, vieram as belas baianas, muito elogiadas pela crítica especializada. O único senão ficou por conta da equipe de intérpretes, nitidamente cansada no quarto final da apresentação salgueirense. Não posso encerrar meus comentários sem fazer um elogio especial à bateria de Mestre Louro, que esteve excelente. O Salgueiro fechou seu desfile aplaudido pelo público e com a certeza de que tinha cumprido muito bem o seu papel. Foi, sem dúvida, a melhor exibição de domingo. Detalhes do exuberante abre-alas da Beija-flor BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS – Depois de dois desfiles de grande sucesso, a Beija-flor entrou na pista como uma das favoritas a vencer aquele carnaval. Passava das 4:30 quando o deslumbrante abre-alas começou a se movimentar rumo a Apoteose. A história do teatro foi ricamente contada através do enredo “As Mágicas Luzes da Ribalta”, de Joãosinho Trinta. Com mais de 4500 componentes, a escola fez uma passagem correta, porém deixando a desejar na qualidade da sua evolução. O samba era razoável, mas não conseguiu empolgar o público e nem mesmo alguns componentes da escola, que pareciam ser “turistas” em meio aos verdadeiros componentes da Beija-flor. Achei que houve um exagero no volume dos microfones das cantoras do Conjunto Vocal “As Gatas”, pois, em alguns momentos do samba, mal conseguíamos ouvir o Neguinho. Apesar desses problemas, não posso deixar de elogiar a beleza plástica que foi mostrada naquele ano. O luxo era exuberante e a combinação de cores bastante ousada: lilás e laranja em meio ao azul e ao branco tradicionais. No primeiro setor do enredo, nada mais bonito que o carro abre-alas, referente ao deus indiano Brahma, do qual, segundo Joãosinho Trinta, originou-se a palavra DRAMA. O carro era o mais alto já visto na avenida até então e trazia o destaque Jésus Henrique com uma fantasia deslumbrante. Eu gostei muito do carro em homenagem ao Padre José de Anchieta: primeiro homem de teatro no Brasil, segundo Joãosinho. Pinah apareceu no carro em homenagem ao Teatro de Revista, que era composto por uma enorme escadaria espelhada e cheia de luzes, além de armações decoradas com plumas que se movimentavam na parte de trás da alegoria. Não faltaram homenagens a Martins Pena, Nelson Rodrigues e Maria Clara Machado, que foi lembrada através do carro “Pluft, o Fantasminha”. Aliás, esse foi um dos carros em que Joãosinho optou por trazer bonecos infláveis ao invés das tradicionais esculturas de isopor. O desfile terminou com o “Teatro das Escolas de Samba”, representado por alas em azul e branco, com destaque para as maravilhosas baianas, ricamente vestidas. A Imperatriz relembra o tempo dos cassinos na homenagem a Dalva de Oliveira
IMPERATRIZ
LEOPOLDINENSE - A
escola entrou na Sapucaí com o dia claro para homenagear a
cantora Dalva de Oliveira, através do enredo “Estrela
Dalva”, do carnavalesco Arlindo Rodrigues. Lila, irmã de
Dalva, havia sonhado com a cantora alguns dias antes do carnaval;
no sonho, Dalva contava a ela que a Imperatriz faria um desfile
emocionante, independentemente de ser campeã ou não. O desfile,
de fato, emocionou, embora a escola tenha cometido alguns pecados
em evolução e harmonia. O enredo de Arlindo Rodrigues começou
com o nascimento de Dalva de Oliveira, representado pelo
abre-alas, que trazia um berço cercado por delicados anjos. À
frente do abre-alas, uma comissão de frente formada por
cantoras, com uma coreografia simples e não muito bem
sincronizada, arrancou aplausos do público. Aliás, os
tradicionais componentes que integravam a comissão de frente
ficaram bastante magoados com a decisão do Arlindo de
substitui-los pelas cantoras. Mesmo assim, a maior parte deles
aceitou desfilar um pouco mais atrás, após muita reclamação.
O desfile mostrou a infância de Dalva, seus primeiros trabalhos,
seu casamento com Herivelto Martins, seus grandes sucessos, além
de vários momentos importantes de sua carreira. A maior parte
dos carros alegóricos trouxe manequins ao invés de destaques;
segundo o carnavalesco, essa era uma medida para dar mais
realidade aos quadros. Num dos momentos de exceção a essa
regra, foi apresentado um belíssimo carro referente ao Teatro de
Revista, todo espelhado e com destaques muito bem fantasiados.
Foi notável o desempenho da bateria, que cadenciou o samba e
contagiou o público com seus maravilhosos tamborins. O momento
mais emocionante do desfile foi guardado para o final, com a
passagem das lindíssimas baianas mostrando bandeiras brancas. Um
belo momento da Imperatriz Leopoldinense!
O desfile simples e bonito da Estação Primeira
ESTAÇÃO PRIMEIRA DE
MANGUEIRA – O sol
já estava bem forte quando a campeã de 86 iniciou seu desfile.
O enredo “No Reino das Palavras” era uma homenagem ao
poeta Carlos Drummond de Andrade. Mais uma vez, o carnavalesco
Júlio Matos utilizou-se de fantasias e alegorias bastante
simples para passar sua idéia. O problema é que, em 87, a falta
de bom acabamento foi ainda mais nítida, principalmente nos
carros alegóricos. Vários poemas de Drummond foram lembrados na
Sapucaí. O enredo passeou por Itabira (terra natal do
homenageado), pelo “Rio de Janeiro dos Antigos
Carnavais”, pelo Rio São Francisco e por vários outros
lugares, motivos de inspiração do poeta. Os componentes estavam
muito empolgados e cantaram bastante o samba, que era mediano,
mas que acabou crescendo na avenida. A Mangueira foi muito
prejudicada pela invasão de pista, um fato não muito comum no
Sambódromo, mas que chegou a atrapalhar a passagem de carros e
alas. A harmonia da escola não soube organizar muito bem algumas
alas, que por vezes se misturavam com outras. Além disso, houve
uma certa correria no final da apresentação da escola, pois o
tempo estava ficando curto. As baianas estavam bonitas, num tom
de rosa bem suave e com panos da costa verdes, mas estavam muito
emboladas, sem poderem evoluir à altura da tradição
mangueirense. Foi um desfile alegre e bonito, mas não tão bom
quanto o do ano anterior.
A homenagem do Império Serrano a Chacrinha
IMPÉRIO SERRANO – A escola da Serrinha entrou na pista
prometendo um grande desfile; a idéia era repetir o sucesso de
82 e abocanhar o título. O enredo “Com a Boca no Mundo,
Quem Não se Comunica se Trumbica”, de autoria de Fernando
Pamplona, foi desenvolvido pelo carnavalesco Ney Ayan, e contou a
história da comunicação no Brasil. O samba era um dos mais
cantados na fase pré-carnavalesca e prometia levantar as pessoas
nas arquibancadas, o que, de fato, acabou acontecendo. Era um
samba muito alegre e que me agradou, apesar de ser um pouco
marcheado; foi acompanhado pela sempre excelente bateria da
escola, que teve uma ótima performance e acabou ganhando o
cobiçado Estandarte de Ouro. Abrindo o desfile, o Império
apresentou a figura do pequeno jornaleiro, ladeado pelas coroas
imperiais, símbolos da escola. A partir daí, o verde e o branco
tomaram conta da Sapucaí. Na primeira metade do desfile, o
carnavalesco foi mais feliz, apresentando, principalmente nas
alegorias, bastante criatividade e beleza. O carro que trazia
Pero Vaz de Caminha era lindo, todo ornamentado com conchas e
mariscos muito bem espalhados pelo carro. Do meio para o final do
desfile, começou a haver uma certa irregularidade,
principalmente quando passou um carro muito simplório em
homenagem ao Correio Aéreo Nacional, quebrando completamente o
conjunto visual da escola. Os carros que representavam os meios
de comunicação também não me agradaram muito, apesar de serem
bem melhores que o do Correio Aéreo. Muito criativas estavam as
baianas, com jornais e revistas plastificadas formando a saia. O
desfile terminou com uma bela homenagem ao apresentador
Chacrinha, autor da frase que deu título ao enredo. Foi um belo
e empolgante desfile, mas o Império, a meu ver, não foi tão
bem quanto em 86.
Verão, filho preferido de Arapiá, representado por uma linda alegoria (Vila) UNIDOS DE VILA ISABEL – Passava das duas horas da madrugada quando as cinco malocas da “terra Kaapor” entraram na avenida para ilustrar o enredo “Raízes”, de autoria de Max Lopes. A grande novidade era o samba muito poético, mas sem rimas, dos autores Martinho da Vila, Ovídio Bessa e Azo. Os 2800 componentes, sob o comando de Jaburu (experiente diretor de harmonia), evoluíram de forma coesa e sem indecisões. Eu considero o enredo de Max Lopes um dos mais bonitos da história dos desfiles. A lenda indígena começa com o Deus Maíra, criador do universo e pai de Arapiá, que vivia num templo cercado por sete deusas de pedra. Numiá, uma das deusas, ganha vida e torna-se a “Mãe dos Peixes”. Como “por ela Arapiá sentiu paixão”, segue para o fundo do mar, onde é recebido pela Corte de Polvos de Numiá. Aliás, esse setor do desfile era especialmente bonito. A ala das baianas estava lindíssima e compunha muito bem com as alas que simbolizavam o mar, enfeitadas com acetato e plástico, com a intenção de passar a idéia de escamas. Voltando ao enredo, a lenda diz que Arapiá e Numiá tiveram quatro filhos: Verão, Outono, Inverno e Primavera. A luta pelo poder universal entre Arapiá e Numiá fez com que “Vovô Maíra” lançasse os dois para o céu, transformando-os em sol (Guaraci) e lua (Jaci). Assim, cada neto de Maíra passaria a governar o universo durante três meses a cada ano: estavam criadas as quatro estações. Além de toda a beleza plástica apresentada e do belo samba-enredo, a Vila contou com sua ótima bateria, que, mesmo sem precisar de convenções ousadas, apresentou um ritmo fantástico, que teve o comando de Mestre Ernesto, Mug e do filho do Mestre Marçal: Marçalzinho. Foi um dos mais belos desfiles da Vila Isabel, sem sombra de dúvidas! Segunda alegoria do desfile da União da Ilha
UNIÃO
DA ILHA DO GOVERNADOR
– O enredo “Extra, Extra”, do carnavalesco
Alexandre Louzada, pretendia contar a história da imprensa
escrita, desde a chegada das caravelas de Cabral até as mais
recentes manchetes de jornais. Na verdade, a Ilha abriu na
avenida um grande jornal, com suas várias partes: as notícias,
o caderno b, os passatempos, os esportes, etc. As notícias de
grande repercussão na época ganharam destaque através de
carros e alas referentes ao Plano Cruzado, ao desastre de
Chernobyl, entre outros acontecimentos. O carnavalesco caprichou
no acabamento dos carros e das fantasias, mas exagerou um
pouquinho na quantidade de cores, assim como excessiva foi a
quantidade de componentes: 6000 figurantes. O samba, apesar de
marcheado, foi muito bem acompanhado pela bateria de Mestre
Paulão, que sempre colocava tocadores de prato à frente dos
demais ritmistas, o que me agrada muito. Gostei muito do primeiro
casal de mestre-sala e porta-bandeira: Bagdá e Jujú Maravilha,
que além de uma boa apresentação, estavam ricamente vestidos.
O setor que representava os signos do Zodíaco também me agradou
bastante, principalmente pelas belas tonalidades de azul,
utilizadas pelo carnavalesco. Também achei bem interessante a
crítica feita à “imprensa marrom”, que foi muito bem
representada por uma enorme bruxa. Apesar dos bons momentos, a
escola foi prejudicada pelo gigantismo; teve que acelerar
consideravelmente para encerrar seu desfile a tempo.
A beleza do desfile da Portela
PORTELA – Com mais de 4000 sambistas, a
Portela pisou forte na avenida, disposta a conquistar seu 22º
título. Mais uma vez, a escola desfilaria no mágico horário do
alvorecer. Sua entrada na Sapucaí foi triunfal, tamanho foi o
entusiasmo da platéia e a nítida emoção proporcionada pelo
belíssimo samba, que contou o enredo “Adelaide, a Pomba da
Paz”, desenvolvido pelo carnavalesco Geraldo Cavalcante. O
samba, de autoria de Neném, Mauro Silva, Isaac, Arizão e
Carlinhos Madureira, tinha uma melodia muito bonita e uma letra
bastante poética. A opção da direção de harmonia, em
desprezar as caixas de som espalhadas pela pista, fez com que o
coro da escola fosse ouvido com clareza, o que aumentava a
emoção de quem assistia o desfile. A bateria, apesar da
ausência de Mestre Marçal, que havia deixado a escola para
comandar a bateria da Unidos da Tijuca, manteve-se muito firme
durante toda a apresentação. Muitas pessoas criticaram o
carnavalesco pelo excesso de cores utilizadas na primeira metade
do desfile, mas esse “excesso” era pertinente ao
enredo, na minha opinião. O primeiro setor do desfile trouxe os
animais e os perigos da noite, que tanto assustaram a pombinha
Adelaide. A águia da Portela veio batendo asas, ladeada por duas
corujas, montadas sobre tripés. Na comissão de frente, os
tradicionais componentes da velha-guarda abriram o desfile,
fantasiados de arautos da paz. As fantasias, ao contrário dos
anos anteriores, eram bastante leves: a maioria delas era muito
bonita, mas algumas, como a apresentada pela ala dos tucanos,
deixavam a desejar. As alegorias eram leves e de fácil
compreensão. Eu adorei o carro do pavão, que trazia vários
destaques que formavam sua cauda. O enredo da Portela também era
muito bonito: contava a história da pombinha Adelaide que,
perdida na floresta, acaba encontrando o significado da palavra
AMOR e se torna a mensageira da paz. O público ficou tão
empolgado com a passagem da escola, que começou a jogar para o
alto as ventarolas publicitárias distribuídas nas
arquibancadas. Apesar de pequenas falhas na concepção visual do
desfile, a Portela terminou sua apresentação como uma das
melhores escolas do ano, sem dúvidas.
O cassino de Tupinicópolis
MOCIDADE
INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL – Faltando alguns minutos para as sete horas
da manhã de terça-feira, a Mocidade entrou na Sapucaí para
mostrar o brilhante carnaval preparado por Fernando Pinto, que
retornava à escola. O enredo era dos mais criativos:
“Tupinicópolis”. O desfile foi aberto por um conjunto
de carretas que dava uma visão panorâmica da metrópole
indígena. Nada que existe numa grande cidade faltou à
“avançadíssima” metrópole tupinicopolitana. O
“Shopping Boitatá” foi representado por uma grande
alegoria, com direito a fonte artificial e a vários produtos
muito apreciados pelos tupinicopolitanos. Mais uma vez, as cores
predominantes no conjunto foram o verde, o amarelo, o azul e o
branco, sempre salpicados de outras cores para salientar os
detalhes. As baianas vieram vestidas de “oncinhas” e
evoluíram lindamente. Eu adorei os carros referentes às Forças
Armadas Tupinicopolitanas. Nesse setor, apareceram o “Tatu
Guerreiro”, representando o Exército; o “Marreco
Bélico”, representando a Marinha e o “Aero
Gaviavião”, representando a Aeronáutica. Na verdade, o
desfile todo foi cheio de surpresas e de criações geniais.
Faltou um samba de melhor qualidade, mas a escola deu seu recado
com competência, com seus 5000 componentes evoluindo muito bem
ao som da Bateria Nota 10. Com certeza, a Mocidade disputaria o
título com muita força e com uma grande dose de favoritismo.
Terminado o desfile, o problema era apontar apenas uma escola como a grande favorita. Desde a apresentação do Salgueiro, no domingo, até a apresentação da última escola de segunda, a Mocidade, várias escolas tinham chances. Na minha opinião, quatro escolas eram as favoritas absolutas: Salgueiro, Vila Isabel, Portela e Mocidade. Mas, além delas, eu acreditava nas possibilidades do Império Serrano e de remotas chances para a Imperatriz e para a Beija-flor. As notas do saudoso Júri da Globo também mostravam equilíbrio: Vila e Portela (100 pontos); Salgueiro e Império Serrano (99 pontos); Mocidade (98); Imperatriz e Mangueira (97) e Estácio de Sá e Beija-flor (94). Como o critério de desempate não seria utilizado, muitos achavam que duas ou três escolas poderiam empatar com contagem máxima. Bira, da Mangueira, chegou a dizer que talvez ganhassem três ou quatro escolas, com duas ou três na segunda posição. Abertos os envelopes, começaram a surgir as surpresas. No entanto, nada escandalizou mais do que as notas da julgadora Marina Montine (quesito conjunto). Ela deu notas “zero” e “um” para todas as escolas, exceto para a Mocidade, que foi agraciada com a nota máxima. A confusão estava formada: o que fazer se o regulamento previa somente notas entre “cinco” e “dez”? A solução mais óbvia, na minha opinião, seria o cancelamento de todas as notas da jurada, mas, para minha surpresa, a Riotur e a Liga decidiram transformar as notas “zero” em notas “cinco” e as notas “um” em notas “seis”. Por sorte, o regulamento, como já foi observado no início, previa a eliminação das notas mais baixas. Vejamos a classificação final, que apontou a Mangueira, para a surpresa geral, como a campeã absoluta do Carnaval 87: 1º Mangueira – 224 pontos 2º Mocidade – 223 3º Império Serrano e Portela – 221 4º Estácio e Beija-flor – 219 5º Salgueiro e Vila – 216 6º Imperatriz – 203 7º São Clemente e Cabuçu – 197 8º Caprichosos – 196 9º Ilha – 190 10º Unidos da Ponte – 188 11º Jacarezinho – 170 12º Império da Tijuca – 152 No Desfile das Campeãs, houve a participação das duas escolas que subiram do Grupo 1-B: Tradição e Unidos da Tijuca (ambas com excelentes desfiles) e das três primeiras colocadas do Grupo 1-A. Como houve empate na terceira posição, desfilaram, pela ordem: Império Serrano, Portela, Mocidade e Mangueira. Aliás, além das injustas vaias que a Mangueira recebeu ao ser anunciada na Sapucaí (os mangueirenses têm culpa de terem sido campeões?), a escola foi, assim como no desfile oficial, muito prejudicada pela espantosa invasão de pista, que fez com que Jamelão, extremamente irritado, reclamasse bastante (em meio ao desfile) contra a desorganização da Riotur.
Marcelo Guireli
NOTAS DE 1987 por Denise
Tendo em vista que vi o desfile pelo vídeo, não vou analisar os quesitos EVOLUÇÃO, HARMONIA E BATERIA. Os quesitos MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA e COMISSÃO DE FRENTE somente vou julgar a fantasia e o seu contexto com o enredo. O quesito SAMBA-ENREDO será julgado pela gravação do LP. O quesito ENREDO será julgado pela representatividade no desfile.
1º) UNIDOS DO
JACAREZINHO |
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