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Discografia do carnaval de Niterói: Levantamento das produções fonográficas locais

DISCOGRAFIA DO CARNAVAL DE NITERÓI
Levantamento das produções fonográficas locais


João Gabriel Costa de França Souza (UFRJ/CENSUPEG)
Aline Ramos Leal (UnB/FAMATH)


Assista a LIVE SAMBARIO que analisou os discos de samba-enredo de Niterói

1. Introdução


O samba enredo, enquanto expressão artística e musical marcante nos desfiles das escolas de samba, mostra-se fortemente presente e arraigado em localidades de tradição carnavalesca. A cidade de Niterói, seja em virtude de sua proximidade à metrópole do Rio de Janeiro ou mesmo em razão de desenvolvimento natural, é um município de forte ligação com a cultura do carnaval. Ainda que atualmente dormente, tal conexão remonta aos tempos do entrudo e culmina na criação das primeiras escolas de samba nos anos 1930 e no desenvolvimento do modelo competitivo de desfiles, à exemplo do carnaval carioca (PERIGO, 2021). Personalidades como Jorge Amado e Ismael Silva deram, durante as décadas de 1970 e 1980, declarações acerca da qualidade das apresentações das escolas de samba niteroienses, categorizando-as, por vezes, como de nível similar às agremiações cariocas (SAMBISTA…, 1975).

A inegável relevância cultural e artística do carnaval de Niterói para a cidade e para o cenário carnavalesco como um todo, principalmente no tocante aos desfiles das escolas de samba, foi outrora fator motivador para a produção de uma interessante discografia subdividida em discos de vinil (long plays e compactos), fitas mini cassete e CDs. Ainda que a produção, de maneira geral, não tenha sido constante no decorrer das décadas, é possível ainda hoje encontrar registros materiais na posse de estudiosos e apaixonados. De forma ampla, tais produções encontram-se mais fortemente atreladas ao imaginário dos sambistas antigos, sendo majoritariamente desconhecida pelos mais jovens ou menos interessados na área.

Dessa forma, o objetivo deste trabalho é resgatar e concentrar, através de imagens e quadros informativos, a produção fonográfica realizada de maneira oficial no carnaval da cidade de Niterói, como forma de registro para os interessados, assim como fonte de consulta primária de pesquisa para estudiosos e jornalistas interessados na cultura carnavalesca do município.

2. Metodologia

A confecção do catálogo referente à discografia do carnaval de Niterói baseou-se, prioritariamente, na aquisição de mídias físicas disponíveis em plataformas digitais, livrarias e feiras. Materiais raros e de difícil aquisição foram gentilmente registrados e cedidos por apaixonados pelo carnaval. Agradecimentos especiais ao produtor musical e jornalista Chico Frota, ao jornalista especializado no carnaval de Niterói Luiz Eugênio, ao intérprete Jonathan Fragoso e aos colecionadores de sambas enredo Bruno Surcin e Cláudio Carvalho pela disponibilidade e interesse em contribuir para o presente projeto.

Através de entrevistas e pesquisa em hemeroteca realizou-se, inicialmente, a listagem de todo o conteúdo fonográfico produzido na cidade. Os ítens listados e obtidos foram então fotografados e elencados cronologicamente. Para cada um dos registros redigiu-se um texto sucinto e introdutório, para que o leitor situe-se temporal e historicamente.

Por fim, foi produzido um quadro geral de informações, subdividido por décadas, capaz de sintetizar informações das capas e prospectos dos discos e fitas cassete, como: grupos, ano de produção, gravadora, produtor musical e número de faixas.

3. Resultados

As livrarias especializadas em livros usados da cidade de Niterói apresentam à venda, recorrentemente, alguns discos específicos, como os dos anos de 1983, 1984 e 1986, sendo estes os de mais fácil aquisição. Discos mais antigos são mais raros de serem encontrados à venda e os valores, em geral, são mais elevados. Já os CDs, produzidos a partir de 2009, não foram comercializados e, sim, distribuídos gratuitamente nos dias de desfile. Dessa maneira, a aquisição de tais mídias físicas torna-se ainda mais difícil do que registros mais antigos, em razão das baixas tiragens (EUGÊNIO,2008), forma de produção e do modo de distribuição, exclusiva nos dias de desfile.

A seguir, encontram-se compendiados os registros fonográficos referentes aos desfiles das escolas de samba de Niterói, inicialmente divididos por ano e com sua respectiva imagem de capa. Na sequência, apresenta-se um quadro geral relativo às produções do século XX que sintetiza as informações obtidas por este estudo.

3.1. Carnaval de 1974

O gradual sucesso obtido nas gravações dos sambas enredo das escolas de samba cariocas, desde 1968, motivou os sambistas niteroienses a produzirem, em parceria com a gravadora Top Tape, para 1974 o primeiro longplay do carnaval local. O êxito dos desfiles de 1973, quando comemorou-se os 400 anos da cidade, motivou oito escolas de samba, três blocos carnavalescos e a Banda do Fonseca a gravarem suas obras para a posteridade, nos estúdios da Rádio Difusora Fluminense (ESCOLAS…, 1973).

Apesar das inspirações oriundas da folia da cidade do Rio de Janeiro, os sambistas locais defendiam a autenticidade das composições presentes no disco:

Ao contrário do que vem ocorrendo na Guanabara, onde as Alas de Compositores já começaram a sofrer competição de compositores profissionais de outros ramos de música, as escolas de samba de Niterói, pelo menos ainda este ano, podem ainda se orgulhar de manter autenticidade nos seus sambas, já que seus autores são todos de origem das próprias agremiações (OS COMPOSITORES…, 1974, p. 3).

Os sambas enredo, duramente criticados por especialistas da época (OS COMPOSITORES…, 1974), não contribuíram para o sucesso da produção. Niterói amargaria os quatro próximos carnavais sem registros oficiais de suas músicas, contando apenas com parcas gravações independentes de algumas agremiações, distribuídas em compactos com reduzido número de cópias.


Figura 1. Capa do disco de 1974 - Fonte: Os Autores (2021)

3.2. Carnaval de 1979

Para o carnaval de 1979 a gravadora Top Tape novamente manifestou interesse em produzir o disco oficial do grupo especial do carnaval niteroiense, que dessa vez fora também editado em mini cassete. O investimento mostrou-se mais maduro: a produção do consagrado Laíla, a divulgação massiva e as gravações antecipadas revelaram grande interesse da gravadora pelo projeto (MACHADO, 1978).



Figura 2. Capa do disco de 1979 - Fonte: Os Autores (2021)

A qualidade das obras dividiu opiniões. Alguns especialistas apontavam a safra niteroiense como superior à carioca:

Quase me sinto tentado a considerar este disco superior ao das escolas de samba cariocas. O samba enredo “Afoxé”, de Heraldo Faria e João Belém, com que a Acadêmicos do Cubango desfilará, é infinitamente superior a tudo que será cantado na Marquês de Sapucaí (MOURA, 1979, p. 20).

Outros jornalistas, mais conservadores, pontuavam inconsistências da safra e não pouparam palavras nas duras críticas:

Na sua maioria, os sambas de Niterói guardam muito de respeito - na temática, na cadência e nos traços melódicos - à tradição do gênero. Isso não quer dizer que a sua reunião em LP resultou num disco de fazer as delícias dos apreciadores puristas. Longe disso, o resultado é apenas medíocre, usada esta palavra aqui no seu significado real de comum, sem maior relevo (ANDRADE, 1979, p. 6).

Ainda que dividindo opiniões, o disco produzido para o carnaval de 1979 trouxe a gravação de grandes clássicos da cidade de Niterói e serviu como precursor ao que estava por vir durante a década de 1980.

3.3. Carnaval de 1981

Após a ausência de gravações no carnaval de 1980, os sambas enredo de 1981 voltaram a ser compilados em um disco oficial em 1981, desta vez produzido e distribuído pela K-TEL. A produção, realizada em dezembro de 1980, contou com doze faixas das escolas de samba do grupo principal da cidade (NITERÓI…, 1980) e marcou a estreia das agremiações no sambódromo da cidade: Sambópolis (SILVEIRA; VIUG; DELMAR, 2017).



Figura 3. Capa do disco de 1981 - Fonte: Os Autores (2021)

3.4. Carnaval de 1982

O retorno do carnaval niteroiense aos holofotes, após a inauguração de Sambópolis, projetou ainda mais os desfiles das escolas locais (SILVEIRA; VIUG; DELMAR, 2017). Foi produzido pela SOMIL Records, para 1982, o disco dos sambas enredo do primeiro grupo de escolas da cidade, pela primeira vez por dois anos consecutivos. A produção, batizada de maneira homônima ao tema do carnaval da cidade para aquele ano, “Fantasia de Verão” obteve sucesso entre os sambistas da cidade (FOLIA…, 1982) e boa receptividade de suas doze faixas. Trouxe, inclusive, nomes consagrados do carnaval, como o intérprete Aroldo Melodia, na faixa do GRES Camisolão (SAMBAS…, 1981).



Figura 4. Capa do disco de 1982 - Fonte: Chico Frota (2021)

3.5. Carnaval de 1983


Figura 5. Fita cassete e capa do disco de 1983 - Fonte: Os Autores (2021)

Para o carnaval de 1983, a crescente qualidade dos discos ganhou o reforço do produtor e radialista Jorge Luiz, tendo sido as gravações realizadas no Estúdio Transamérica, na cidade do Rio de Janeiro (O OUTRO…, 1983). A produção da gravadora denominada Companhia Industrial de Discos (CID) apresentou as dez faixas do grupo principal em disco e em fita cassete, marcando o fim da era Sambópolis, uma vez que a partir do carnaval de 1984 os desfiles voltariam a ocorrer na Avenida Amaral Peixoto, com estruturas móveis de arquibancadas, som e pista (SILVEIRA; VIUG; DELMAR, 2017). Importante notar a ausência do GRES Corações Unidos, escola de samba campeoníssima do bairro da Engenhoca que encontrava-se suspensa das gravações da cidade por três anos por determinação da Associação das Escolas de Samba de Niterói (PERELO, 1983).

3.6. Carnaval de 1984

Gravado no Estúdio Rancho e produzido novamente por Jorge Luiz em parceria com a Edições Musicais Presença, o disco dos sambas enredo de Niterói para 1984, à exemplo de 1983, contou com bastante autonomia da Associação das Escolas de Samba em uma produção independente (SAMBAS…, 1983). Apesar das polêmicas relativas aos direitos autorais e de edição entre compositores e agremiações, a produção obteve, novamente, boa receptividade popular, contando com grandes clássicos do gênero da cidade (PERELO, 1983).



Figura 6. Capa do disco de 1984 - Fonte: Os Autores (2021)

3.7. Carnaval de 1985

A partir do carnaval de 1984 o carnaval de Niterói passaria por momentos delicados. Dificuldades de comunicação entre o presidente da Associação das Escolas de Samba e a comissão indicada pela prefeitura para gerir os desfiles de 1985 dificultaram acordo com a gravadora LASER (BEYRUTH…, 1984). À época, o presidente da Associação, Adalberto Beyruth declarou: “Estou tentando desde o final do carnaval passado uma aproximação com a ENITUR, mas só recentemente a ENITUR elegeu seu presidente. Até agora não há nada resolvido” (BEYRUTH…, 1984, p. 5).

A produção do disco acabou sendo realizada de forma independente, sendo reproduzida pela Gravações Elétricas S/A. O disco contou com doze faixas, majoritariamente de escolas do grupo principal, ainda que escolas do acesso, como Camisolão, Bohêmios da Madama e Cacique do Viradouro tenham participado. Vale também destacar que o GRES Branco no Samba, do primeiro grupo, ficou de fora do disco (SAMBAS…, 1984).


Figura 7. Capa do disco de 1985 Fonte: Os Autores (2021)

3.8. Carnaval de 1986

Para a gravação do disco de 1986, iniciou-se a parceria com a gravadora Nova Copacabana, que gravaria as faixas no Estúdio Hara e as mixaria no Estúdio Transamérica, no Rio de Janeiro. Pela primeira vez o disco principal apresentou-se acompanhado de um compacto com faixas dos grupos inferiores (SAMBAS…, 1985). O próprio LP principal mostrava-se uma mescla de grupos, contando com oito faixas de escolas do primeiro grupo, uma faixa com o samba do Bugres do Cubango (do segundo grupo) e outra com o samba enredo da Unidos do Viradouro, que já havia migrado para o carnaval carioca e não mais desfilaria competitivamente em sua cidade natal (SAMBAS…, 1985). Essa seria a última participação da campeoníssima vermelha e branca nas produções dos discos de Niterói. O disco, lançado em 20 de Novembro de 1985, já não contava com a faixa da Acadêmicos do Cubango, que justificou sua ausência por conta do atraso da escolha de seu samba (SAMBA…, 1985).


Figura 8. Fita cassete e capa do disco de 1986 - Fonte: Os Autores (2021)

3.9. Carnaval de 1987

Pelo segundo ano consecutivo a gravadora Nova Copacabana encarregou-se da produção do disco das escolas de samba de Niterói, apesar de impasses contratuais:

Muito embora houvesse um contrato assinado desde o último carnaval entre a gravadora e a Associação, até anteontem, alegando falta de matéria-prima, a Copacabana dizia-se impossibilitada de elaborar o disco com as Escolas, comprometendo-se em pagar a multa de Cz$ 10 mil por agremiação, o que totalizaria Cz$ 100 mil (ESCOLA…, 1986, p. 8).

As dez faixas marcariam, ainda que temporariamente, o fim das gravações oficiais da cidade, sendo o disco de 1987 o mais raro de ser encontrado nos dias de hoje.

Até o mês de novembro de 1987 a Associação das escolas de Samba de Niterói manteve negociações com a cervejaria Brahma para patrocínio do disco de 1988, porém sem sucesso (SAMBAS…, 1987). O afastamento de grandes escolas como Unidos do Viradouro e Acadêmicos do Cubango, a falta de participação de agremiações em eventos e reuniões e a inevitável comparação com o carnaval carioca, que vivia seu auge após a inauguração do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, contribuíam negativamente para a evolução das escolas de samba de Niterói (SILVEIRA; VIUG; DELMAR, 2017). Seria condizente com o momento a interrupção das produções fonográficas locais.



Figura 9. Capa do disco de 1987 - Fonte: Chico Frota (2021)

3.10. Carnaval de 1992


Figura 10. Capa do disco de 1992 - Fonte: Os Autores (2021)

O último disco produzido para o carnaval da cidade foi o primeiro com o selo Niterói Discos, fundado no ano anterior. À convite da Associação das Escolas de Samba o Acadêmicos do Cubango participou da produção com seu samba enredo “Negro que te quero negro” (SAMBAS…, 1991). As demais onze faixas mesclavam agremiações do primeiro grupo e de grupos inferiores. Ironicamente, o último disco do carnaval de Niterói apresentava em seu encarte o texto de César Augusto, então presidente da Associação: “O alento do sambista, sofrido, magoado e, às vezes até discriminado, é poder ouvir o hino da sua escola. Que esta obra seja o início de uma nova era para o samba e venha mostrar ao mundo os valores de nossa terra” (SAMBAS…, 1991, p.1).

3.11. Carnaval de 1995

O carnaval de 1995 ficou marcado em Niterói como o último de uma era. A partir de 1996 os desfiles não mais ocorreram, sendo a fita cassete produzida naquele ano o último registro carnavalesco da cidade por um longo período de tempo. A gravação contou com os Grupos I e II das escolas de samba divididas em treze faixas. A fita, produzida nos estúdios Zen e impressa pela Edições Muiraquitã, não foi comercializada, sendo apenas distribuídas 50 cópias para cada agremiação (SENA, 1995). Estimando-se, portanto, uma tiragem próxima de 700 cópias, justifica-se a grande dificuldade de se localizar tais fitas cassete nos dias atuais.



Figura 11. Fita cassete de 1995 - Fonte: Chico Frota (2021)

3.12. Carnaval de 2009

Anos após a interrupção dos desfiles oficiais das escolas de samba na cidade de Niterói, em 1996, ocorreu o processo denominado pelos sambistas locais como revitalização a partir de 2006 (MOITAS, 2005). Ainda que os desfiles competitivos tenham retornado neste ano, a primeira gravação pós revitalização somente ocorreria para o carnaval de 2009, pela primeira vez em CDs divididos entre “Escolas de samba e blocos carnavalescos” e “Blocos carnavalescos”, novamente com o selo Niterói Discos (EUGÊNIO, 2008). Destaque para a presença da faixa “Sorria, Você Está Numa Cidade Com Muito Sorriso, Suor e Sossego”, do Acadêmicos do Sossego. O segundo CD, com o selo da própria União das Escolas de Samba, contava com as faixas dos grupos de blocos.


Figura 12. CDs de 2009 - Fonte: Luís Eugênio (2021)
 
3.13. Carnaval de 2010



Figura 13. CDs de 2010 - Fonte: Jonathan Fragoso e Luís Eugênio (2021)

Os carnavais seguiram pela década seguinte sem grande expressividade de mídia e público e sem comercialização dos CDs, tornando difícil o rastreio das obras nos dias atuais. As gravações seguiram independentes, agora organizadas pela União das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos de Niterói (UESBCN…, 2009), contemplando novamente escolas de samba e blocos de enredo.

3.14. Carnaval de 2011

Para o carnaval seguinte foram produzidos, novamente de maneira independente, três CDs, desta vez contemplando dois grupos de escolas de samba e o terceiro grupo, denominado blocos de enredo.



Figura 14. CDs de 2011 - Fonte: Luís Eugênio (2021)

3.15. Carnaval de 2012

Novamente inovando, a União das Escolas de Samba decide contemplar também com um CD oficial os blocos de embalo que animavam o carnaval da cidade, em um total de quatro produções para o carnaval de 2012.
 


Figura 15. CDs de 2012 - Fonte: Luís Eugênio (2021)

3.16. Carnaval de 2014

Após um breve hiato nas gravações, que não contemplaram o carnaval de 2013, o carnaval de Niterói voltou a contar com CDs oficiais em 2014. Diferentemente dos anos anteriores, a produção contava para este ano com capa acrílica e encarte, tendo sido mixada no estúdio Astral Music no Rio de Janeiro.


Figura 16. CDs de 2014 - Fonte: Luís Eugênio (2021)

3.17. Carnaval de 2015

Voltando às embalagens de papel, a gravação novamente conta com apoio da Neltur e da Prefeitura de Niterói em sua edição comemorativa de dez anos da União das Escolas de Samba. Apenas oito faixas compõem o CD do grupo principal, sendo novamente a produção dividida entre os três grupos de agremiações da cidade.


Figura 17. CDs de 2015 - Fonte: Luís Eugênio (2021)

3.18. Carnaval de 2016

O disco produzido para 2016, apesar de ser o mais recente do carnaval niteroiense, é um dos mais difíceis de ser localizado. Foram distribuídos gratuitamente durante os dias de desfile cópias dos grupos principal e dos acessos. O presente estudo localizou apenas um exemplar do grupo de acesso.


Figura 18. CD de 2016 - Fonte: Os Autores (2021)

3.19. Quadros informativos

Os quadros a seguir foram divididos por décadas e apresentam informações acerca das produções fonográficas da cidade de Niterói no período pré revitalização, como gravadora, número de faixas, formato, produtor musical, e grupos contemplados.

O período de CDs, que apresentou majoritariamente produções independentes, não foi discriminado nos quadros.

Quadro 1: Década de 1970
Ano Gravadora Faixas Formatos Produtor Grupos
1974 Top Tape 12 LP Paulo Ribeiro Especial
1979 Top Tape 12 LP e Cassete Laíla e Orlando Costa Especial
Fonte: Os Autores (2021)

Quadro 2: Década de 1980
Ano Gravadora Faixas Formatos Produtor Grupos
1981 K-TEL 12 LP Waldomiro Oliveira Especial
1982 SOMIL 12 LP William Luna Especial
1983 CID 10 LP e Cassete Jorge Luiz Especial
1984 Presença 10 LP Jorge Luiz Especial
1985 Independente 12 LP AESCBNSG Especial e Acesso
1986 Copacabana 14 LP e Compacto Talmo Scaranari Especial e Acesso
1987 Copacabana 10 LP - Especial
Fonte: Os Autores (2021)

Quadro 3: Década de 1990
Ano Gravadora Faixas Formatos Produtor Grupos
1992 Niterói Discos 13 LP Ezio Filho e Geraldo Brandão Especial e Acesso
1995 Independente 13 Cassete Diskonha Especial e Acesso
Fonte: Os Autores (2021)


4. Discussão

Ainda que inconsistente e intermitente, a discografia do carnaval de Niterói obteve êxito em registrar os principais sambas enredo do carnaval do município, sobretudo durante a década de 1980. É possível que a proximidade com a capital, a cidade do Rio de Janeiro, tenha engendrado um modelo comparativo, claramente prejudicial à folia niteroiense, com destaque para os carnavais ocorridos após 1984, quando da construção do Sambódromo da Marquês de Sapucaí e a consequente verticalização dos desfiles cariocas. Tal modelo contribuiu não só para a saída de grandes agremiações do carnaval local, como para o declínio da qualidade artística e técnica (PERIGO, 2021), culminando no desinteresse pela manutenção dos registros fonográficos oficiais. Fato é que mesmo em anos que não contaram com produções oficiais de discos ou fitas cassete, diversas agremiações registraram seus sambas enredo de maneira independente em forma de compactos.

Após a revitalização, com o carnaval já fragilizado, o modelo principal de produção dos CDs ocorreu de forma similar. Cada agremiação, de maneira independente, registrava suas faixas com recursos próprios, músicos contratados e estúdios de preferência da diretoria, à exceção da produção de 2009 (EUGÊNIO, 2008). A mídia física era apenas mixada e prensada nos estúdios parceiros da União das Escolas de Samba. Tal despadronização impactou a qualidade das produções e acarretou produtos finais que, recorrentemente, não agradaram os ouvintes.

Outro fator possivelmente motivador da inexistência de registros físicos oficiais desde 2016, é a forma de distribuição. Desde 1995 não há produção para vendagem, apenas para os sambistas diretamente ligados às agremiações. Os CDs, nos anos que foram produzidos, não puderam ser comprados ou adquiridos de outra maneira que não a distribuição gratuita nos dias de desfile em estande próprio da prefeitura na pista.

5. Considerações Finais

Ainda que constantemente às margens da folia carioca, o carnaval de Niterói experienciou momentos de fausto e grandeza, sobretudo na década de 1970 e na primeira metade dos anos 1980. A intensa cobertura jornalística e a valorização dos desfiles do município culminaram na produção de registros fonográficos que, mesmo inconstantes, são atualmente registros históricos valiosos do ponto de vista da cultura local. Ainda que o século XXI e a revitalização dos desfiles das escolas de samba não tenham permitido a Niterói reviver seus tempos áureos, é louvável que os sambistas locais tenham perpetrado a frágil tradição de gravações oficiais dos discos de samba enredo.

O presente estudo mostrou-se capaz de concentrar em apenas um documento a produção musical carnavalesca da cidade de Niterói, no tocante aos desfiles das escolas de samba e, especificamente, ao samba enredo, podendo vir a servir futuramente como fonte de consulta primária e de referência.

6. Referências

ANDRADE, Moacyr. Discos: Outra cadência. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, n. 305, p. 6, 9 fev. 1979.

BEYRUTH quer definir próximo carnaval. O Fluminense, Niterói, n. 24892, p. 5, 4 out. 1984.

ESCOLA de Samba acerta gravação. O Fluminense, Niterói, n. 25570, p. 8, 10 dez. 1986.

ESCOLAS de Samba: Carnaval de 1974. Niterói: 1973. 1 LP.

EUGÊNIO, Luís. Escolas de blocos de Niterói gravarão CDs dos sambas de 2009. Na Cadência da Bateria, Niterói, p. 1, 1 out. 2008. Disponível em: http://nacadencia.blogspot.com/2008/10/escolas-e-blocos-de-niteri-gravaro-cd.html. Acesso em: 18 set. 2021.

FOLIA começa às 19h30m em Niterói. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, n. 316, 20 fev. 1982. Primeiro caderno, p. 4.

MACHADO, Ito. Discão da Top Tape. O Fluminense, Niterói, n. 2613, p. 9, 8 out. 1978.

MOITAS, Danielle. Prêmio para os blocos de embalo no carnaval. O Fluminense, Niterói, n. 37529, p. 3, 26 nov. 2005.

MOURA, Roberto. Discos: Escolas de samba de Niterói. O Pasquim, Rio de Janeiro, n. 507, p. 20, 16 mar. 1979.

NITERÓI: Carnaval 81. Niterói: K-TEL, 1980. 1 LP.

O OUTRO lado da ponte. A luta democrática, Rio de Janeiro, n. 8443, p. 6, 7 jan. 1983.

OS COMPOSITORES e seus sambas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, n. 320, p. 3, 24 fev. 1974.

PERELO, Geraldo. De samba: Escolas têm prazo até dia 15 para escolher o samba-enredo. O Fluminense, Niterói, n. 24596, p. 9, 20 out. 1983.

PERIGO, João. GRES Combinado do Amor: O Caramujo em azul e branco. 1. ed. Joinville: Clube de Autores, 2021. 60 p. v. 1.

SAMBAS de Enredo: Carnaval 92 Niterói. Niterói: Niterói Discos, 1991. 1 LP.

SAMBAS de Enredo Niterói Carnaval 82: Fantasia de verão. Niterói: SOMIL, 1981. 1 LP.

SAMBAS Enredo 84. Niterói: Presença, 1983. 1 LP.

SAMBAS Enredo 86. Niterói: Nova Copacabana, 1985. 2 LP.

SAMBAS Enredo: Carnaval 1985. Niterói: Independente, 1984. 1 LP.

SAMBAS enredo são os donos da noite. O Fluminense, Niterói, n. 25865, p. 3, 21 nov. 1987.

SAMBA pede Cr$ 2 bi para fazer desfile, mas faltam recursos. O Fluminense, Niterói, n. 25238, p. 5, 14 nov. 1985.

SAMBISTA agora deseja sossego. Diário de Natal, Natal, n. 9720, p. 4, 13 fev. 1975.

SENA, Carla. Carnaval animado em Niterói. O Fluminense, Niterói, n. 34177, 4 fev. 1995. Segundo Caderno, p. 3.

SILVEIRA, Leandro; VIUG, Matheus; DELMAR, Winnie. Antigamente é que era bom: A folia Niteroiense entre 1900-1986. 1. ed. Niterói: Niterói Livros, 2017. 262 p. v. 1.

UESBCN: Carnaval 2010. Niterói: Independente, 2009. 1 CD-ROM.