Em
1971, deu para a Serrinha sentir a força do nome
convidado. O Império Serrano ficou em 3º lugar com um
enredo sobre a cultura e o folclore nordestino. O
belíssimo trabalho apresentado, combinado ao sem-jeito
de muitas co-irmãs em relação ao famoso “efeito
Pega no Ganzê”, convenceu a cabeça dos jurados que
o desfile imperiano não era apenas uma tentativa de
barrar o Salgueiro, mas uma luta honesta de conseguir um
campeonato tão sonhado à escola. Além disso, o samba e
o intérprete eram pontos muito positivos do desfile de
71.
No
ano seguinte, já havia uma expectativa do que viria da
mente do carnavalesco, com o enredo Alo alô, taí
Carmem Miranda. Mas acontece que a célebre turma do
arroz-com-couve tomou consciência de que aquele era O
Ano e que nada naquele desfile poderia falhar! Porém, na
armação da escola na Avenida Presidente Vargas, houve
certo pânico de muitos componentes em relação a
situação das alegorias no momento: a maioria delas
estavam praticamente nuas, quase somente as “carcaças”,
sem enfeites, bonecos ou acabamento! Os imperianos
começaram a se apavorar e um temível zum-zum-zum surgia
contra com o carnavalesco. Já algum tempo próximo do
começo dos desfiles, o polêmico Fernando aparecia e
tirava calmamente de sacos plásticos, vários animais,
matagais e coqueiros. Do nada surgia o cenário do
desfile, deixando todos extasiados! Criava-se ali o
tropicalismo, estilo que seria mais tarde um marco do
carnaval carioca e geraria desfiles antológicos vindos
do cérebro do carnavalesco.
Na
avenida, a escola realizou um desfile trouxe talvez um
impacto talvez maior do que o próprio Bumbum
Paticumbum Brugurundum, realizado dez anos mais
tarde. A garra do componente foi algo pouquíssimas vezes
visto num desfile de escola de samba. Fernando Pinto
trazia o carnaval de raiz; algo muito simples, mas
extremamente fantástico. Foi aberto pela clássica
alegoria com o violão “Serenata Tropical”. Do
início ao fim, via-se algo esdrúxulo para um desfile de
escola de samba tradicional (o tão falado tropicalismo),
mas um espetáculo que envolvia a alma do espectador.
Quando a escola chegou na dispersão, já ao raiar do
dia, todos sentiam um mágico quê de campeonato pairando
no ar. E não deu outra: o Império Serrano não só
conquistou o primeiro Estandarte de Ouro da história,
como um dos mais merecidos títulos do carnaval carioca.
E isso para alguém que havia estreado no mundo do samba
apenas um ano antes!
Em
1973, o Império mais uma vez apostou em Fernando Pinto,
com o enredo Viagem encantada Pindorama adentro, e
novamente a combinação de impacto visual com garra do
componente deu certo. O desfile não foi tão bom quanto
ao do ano anterior, mas foi suficiente para ganhar grande
carisma do público e ser bicampeã no Estandarte de
Ouro. A maioria dos sambistas até hoje consideram o
desfile imperiano como o melhor do ano, porém os jurados
não pensaram assim e o título acabou indo para a
Mangueira. No ano seguinte, a escola veio meio sem-jeito
depois da perda do bicampeonato de 73, mas conseguiu um
belo 3º lugar, com o enredo Dona Santa, rainha do
Maracatu.
Em
1975, havia grande expectativa em relação ao Império
Serrano. O carnavalesco escolheu um enredo sobre a vedete
Zaquia Jorge, uma bailarina que abandonou o esplendor dos
palcos para construir um teatro em Madureira. O contato
da escola com o público foi algo inacreditável,
comparando-se a 1972. O desfile foi para todos algo
incomensurável, perfeito em todos os sentidos. A escola
acabou ficando na 3ª colocação, perdendo apenas para a
Mangueira e o Salgueiro.
No
ano seguinte, Fernando Pinto acabou errando feio. O
inovador carnaval de 76 foi um mau momento para o
histórico do carnavalesco. Mesmo não sendo um desfile
ruim, era muito pouco para barrar os imponderáveis
desfiles da Portela, Mangueira, Mocidade e principalmente
Beija-Flor (revolucionada por Joãosinho Trinta). O
resultado foi o triste 7º lugar, “obrigando” a
diretoria da escola expulsar Fernando Pinto do Império.
Em 1977, ele não fez carnaval. Um ano depois, o Império
tomou ciência da burrada que havia feito dois anos antes
e chamou o carnavalesco de volta a agremiação. Mais uma
vez, a escola fez um desfile péssimo, ainda pior que
1976, pois teve o azar de contar com um samba precário.
Resultado: o primeiro rebaixamento da história do
Império Serrano! Novamente, Fernando Pinto é expulso da
escola da Serrinha, desta vez para não voltar mais.
Em
80, o patrono Castor de Andrade chamou Fernando Pinto
para substituir Arlindo Rodrigues na Mocidade
Independente de Padre Miguel. Com o enredo Tropicália
Maravilha, a escola da Vila Vintém deu início a
mais uma era dourado no carnaval carioca. O tropicalismo,
mesmo atacado certas vezes por alguns saudosistas, já
era evidentemente implantado nos desfiles de escola de
samba. A combinação de flores, frutas e diversas
plantas deram ao desfile um colorido especial. A Mocidade
foi vice, empatada com a Vila Isabel e União da Ilha. Em
81, a escola ficou em 6º lugar, com o enredo Abram
alas para a folia, aí vem a Mocidade. Em 82, ele
fora convidado para fazer carnaval na Mangueira, dando um
agradável 4º lugar para a verde-rosa com um enredo
sobre as noites cariocas.
Mas
a estrela do carnavalesco só começaria a brilhar um ano
depois, quando Fernando retornou a Mocidade. Com o enredo
Como era verde meu Xingu, o carnavalesco levou
legitimamente toda fauna e flora da mata do Xingu pra
avenida, fazendo uma maravilhosa exaltação as nações
indígenas. Mais uma vez, um desfile incomensurável, com
a criatividade e o bom acabamento reinando do início ao
fim! A escola soube agradar a todos, realizando uma
apresentação digna de campeonato. Injustamente, a
Mocidade ficou apenas na 6ª colocação. Em 1984 (ano da
inauguração do Sambódromo), veio outro enredo
criativíssimo: Mamãe, eu quero Manaus.
Tratava-se de uma crítica bem-humorada ao comércio
ilegal da Amazônia, citando o excessivo comércio
informal da região nos tempos atuais, incluindo a
pirataria. Quem não se lembra das super irreverentes
baianas muambeiras?
Porém
nada jamais pode se comparar a mágica do carnaval de
1985. Fernando Pinto havia deixado de lado o tropicalismo
e os enredos nacionalistas para exaltar um tema
absolutamente atual na época, que era a conquista humana
do espaço sideral: Ziriguidum 2001 – Carnaval
nas estrelas. O que parecia um tema abstrato, acabou
se tornando talvez o maior desfile que Fernando Pinto já
realizou! Até hoje é inacreditável a genialidade do
carnavalesco de imaginar o efeito das abusivas cores
prateadas refletindo na luz do sol, naquela manhã de
carnaval. A primeira impressão era de que esse uso de
prata nas fantasias e alegorias seriam problemáticas no
contado com o sol, mas era evidente a todos que Fernando
era um profissional e sabia do risco que estava correndo.
E como já disse, tudo deu muito certo no final! Além
disso, o gênio abusou da criatividade nas
representações de estrelas, planeta, espaçonaves,
discos voadores, alienígenas, astronautas, luas e
cometas. Ainda teve direito ao alusivo carro da
nave-mãe, trazendo um “minidesfile” em cima
com vários sambistas e cinco naves espaciais acopladas.
Antológico! Imprescindível! Dava impressão que o
talento de Fernando Pinto também era de outro mundo.
Em
1986, o carnavalesco ficou longe do carnaval, mas decidiu
dar uma de cantor ao gravar um LP, denominado “Estrelas”
(foto da capa abaixo). Nele, constavam-se pérolas
do quilate de “Cântico”, “Que nem balão”,
“Barulho de chuva”, “Pureza”, “Rainha
do Dancing”, entre outros. Uma das participações
especiais foi de Tiãozinho Mocidade, eterno compositor
da escola.
Em
1987, Fernando voltou a fazer desfile. Dessa vez, ele
criou uma cidade imaginária, onde tudo girava no estilo
de vida dos índios: a lendária Tupinicópolis.
Novamente, a escola da Vila Vintém fez um desfile
assombroso, cujos 5000 componentes desfilaram com pinta
de verdadeira campeã. Todas as fantasias e alegorias
assimilavam a cultura indígena com o nosso cotidiano.
Shoppings, boates, hotéis, farmácias, cafés, cassinos,
presídios, forças armadas e até torcidas de futebol;
tudo representado com muita criatividade. Tupinicópolis
foi talvez o maior lugar imaginário que um carnavalesco
já criou para algum desfile. Fechou a terça-feira de
carnaval com um clamor afoito de campeonato, algo que
injustamente não veio acontecer, pois a Mocidade perdeu
por um ponto da Mangueira no resultado oficial.
No
meio do ano de 1987, já depois do carnaval, Fernando
Pinto escolheu um enredo crítico para o carnaval de 88,
falando da crise sociopolítica que o Brasil passava no
momento. Ele estava voltando de um ensaio da escola,
quando veio a falecer ainda jovem num acidente de carro.
O Rio de Janeiro não perdia apenas um excelente
carnavalesco, como um dos maiores gênios da história do
carnaval. O desfile de 1988 acabou sendo desenvolvido por
Mário Monteiro e Cláudio Amaral Peixoto. Vale a pena
constar que a escola de Padre Miguel foi muito mal
naquele desfile, pois só a ausência do carnavalesco era
um ponto negativo. Acabou ficando em 8º lugar, empatado
com a Caprichosos de Pilares e Tradição.