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Coluna do Fábio Fabato

Coluna do Fábio Fabato

STOP. A PORTO PAROU OU FOI A TRANSMISSÃO?

Revi o desfile do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra no carnaval 2006. Ou o quase não-desfile, já que a escola ficou meia hora estacionada na avenida, em razão da quebra de uma alegoria.

"Xi... Faz cinco minutos que a escola está parada", dizia Cléber Machado.

"É mesmo, é mesmo...", completou Maria Beltrão, atônita, sem muito que acrescentar diante da inércia estabelecida.

Bem, a partir daí...

Iniciou-se um festival de... Maria Augusta a tecer considerações desconexas, tentando dissertar sobre a questão estético-conceitual aplicada à temática e bibibi do bobobó dos materiais de que foi feita a decoração do carro que estava à sua frente, Ivo Meirelles, Dudu Nobre e Aroldão buscando extrair leite de pedra.

"Stop. A vida parou ou foi o automóvel?", escreveu Drummond em "Cota Zero".

Ali, foi a Porto da Pedra quem parou.

E a transmissão do desfile também.

Há muito se discute o fato de a cobertura de carnaval da Rede Globo pecar em múltiplos aspectos, o que torna a festa distante, sem vida para quem a acompanha de casa, e faz parecer que o "São Paulo Fashion Week" está passando no concretume engendrado pelo Niemeyer.

A folia se modificou, assim como a interação dos grêmios de samba com o povão. Mas a Globo, infelizmente, parece mesmo ter querido abandonar (ou nunca soube...) qualquer formuleta-mágica de fazer o espetáculo ficar atraente para os seus milhões de telespectadores, o que a Manchete de Bloch realizava com maestria...

Mas o mais incrível e inimaginável é que o canal está deixando de se lembrar também, mesmo com a macro-equipe de profissionais competentes que movimenta, de fazer JORNALISMO.

Traduzindo em miúdos: o canal passou a não INFORMAR mais nada "além-avenida", ou seja, nos bastidores da concentração e no calor humano final da Praça da Apoteose. Houve uma espécie de perda do feeling (ou do interesse JORNALÍSTICO...) em nosso querido festejo de todo fevereiro-março.

Pois bem...

Parada estava a Porto da Pedra.

Estanque.

Motivo? Um carro quebrado.

A visão do helicóptero Globocop, que, a bem da verdade, não mostra grandes coisas, dava a entender isso. Alguns flashes poucos mostrando o "vai-não-vai" do carro, o carnavalesco Cahê Rodrigues quase se descabelando em lágrimas, a grande Lucinha Araújo, destaque da alegoria, meio que com cara de... "Que raios estou fazendo aqui?" e só.

E tome de volta o desfile. Escola ainda inerte. Nada, nem ninguém caminhando.

Cléber Machado começa a ficar incomodado, sem saber para que santo acenderia suas velas:

"Precisamos apurar qual é o carro quebrado... Precisamos saber qual é este carro..." , soltava aos montes e ao vento, na vã tentativa de fazer com que o JORNALISMO da Rede Globo tornasse a "funcionar" ali.

Coitado...

Nada acontecia.

Beltrão, já perdida e desesperada, emenda então uma pergunta-pérola:

"Aroldo, alguma vez isso já aconteceu?" (Como se carros nunca quebrassem, e escolas nunca parassem...)

Com seu estilo "muitas palavras", o jornalista e pesquisador responde de bate-pronto: "Já!"

E a Porto ainda ali...

Imóvel!

A transmissão??? Também!

Não houve uma MÍSERA movimentação de câmeras na concentração para trazer notícias de bastidores, o que estava ocorrendo de fato, qual carro se encontrava quebrado, muito menos o motivo de a escola não deixar a alegoria problemática de lado, para que o desfile seguisse.

Não diziam nada. Não havia informação. Não havia JORNALISMO.

O telespectador que assistia àquilo, no mínimo, se sentia desprezado. Inútil. Desrespeitado.

Até o estúdio-bolha, no alto do camarote, foi usado como forma de "fugir" do desfile enguiçado.

Mas a mísera reportagem in loco, tão necessária, acabou desprezada.

Se a própria emoção da transmissão há muito é jogada para escanteio, com a ausência, por exemplo, de microfones e câmeras que captem o calor humano da platéia, as manifestações populares durante as apresentações, o grito de guerra na hora H do estourar do foguetório, agora o direito à informação também parece negado ao telespectador.

A Unidos do Porto da Pedra, depois de algum tempo, seguiu.

Mas a transmissão morreu ali mesmo.

Fábio Fabato
fabiofabato@yahoo.com.br