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Coluna do Fábio Fabato A COMPARAÇÃO NA BALANÇA... E
saiu a ordem dos desfiles para o carnaval 2006. E outra vez sortearam uma escola
grande para o sacrifício de abrir os “trabalhos”. E novamente, talvez,
poderemos ter um julgamento esdrúxulo para o carnaval já no porre de
felicidade inicial. E, então, simbora de novo à pergunta que não quer calar já
faz algum tempo: as notas devem mesmo ser fechadas somente após a passagem da
última escola? Com o perdão do festival anafórico inicial, talvez motivado
pelo meu enfado com relação a esta desculpa comparativa do julgamento de
carnaval, vamos começar o bombardeio da vez. Um fogo amigo básico. Primeiramente,
não dá para deixar de lamentar o fato de o Salgueiro ser a primeira a passar
no domingo. Recentemente, ouvi uma declaração que achei interessante: “Puxa!
Está sendo mais negócio ficar em décimo terceiro do que em quinto lugar”.
Respeitadas as devidas proporções, tem-se aí a mais pura verdade. Afinal de
contas, a Portela ganhou o direito de fechar os desfiles sem sequer entrar no
sorteio, e o Salgueiro, que, ao contrário da co-irmã azul e branca de
Madureira, fez uma bela apresentação em 2005, levou o azar de apanhar a pior
das posições na gaiola das bolinhas. Pois
bem, pelo menos tomando por base os espermatozóides de enredo que são as
sinopses, ficou cristalino que a idéia engendrada pelo Renato Lage para a
Academia, é das mais criativas da safra. E, sabendo disto, traz revolta pensar
que, por exemplo, se a escola tivesse caído em uma posição central na
segunda-feira, o olhar dos jurados para a sua passagem poderia ser... Como
dizer... Mais condescendente. Tudo
ainda está no campo hipotético. Estou brincando de Mãe Dinah, confesso.
Mas... Basta olhar o retrospecto das escolas que desfilam no domingo para notar
que, muitas vezes, há um descompasso entre o olhar crítico do júri e o que
requebrou na pista. Sem dúvida, as escolas da primeira noite acabam
prejudicadas com o fato de os mapas de apuração somente serem lacrados após a
passagem da última agremiação de segunda-feira. É
inadmissível, portanto, este atual sistema de recolhimento das notas. Minha
primeira crítica ferrenha tange os critérios desta tal “comparação”.
Para mim, falando em português bem claro, o método comparativo se estrutura da
seguinte maneira: um erro de escola grande, aquelas que estão na crista da
onda, cheias de títulos recentes e tal, consegue a proeza de gerar descontos
mais tímidos (estou sendo educado...) que o mesmo erro de agremiações que não
gozem de tanta força. Vide a sapecada monumental e injustificável que o Tigre
de São Gonçalo tomou em alegorias no último carnaval. A
segunda crítica é direcionada ao sistema mesmo. Ok, é um único espetáculo.
Mas... Meu Deus! Será que a trupe comandante da Liesa não percebe que são
distintos os momentos que compõem a festa? Como não achar patético, por
exemplo, o fato de o mapa de notas do Salgueiro (tomando a ordem de 2006 por parâmetro...)
ser definitivamente fechado só depois do desfile da Portela? São dois dias,
dois olhares, muitas horas de distanciamento, e ninguém conseguirá
estabelecer, de fato, a tão exaltada comparação entre elas, nem o jurado com
a mais prodigiosa das memórias de elefante. Enfim, as avaliações de domingo
deveriam ser entregues, pelo menos, assim que passasse a sétima escola. Fim de
papo! Além
de tudo, tal medida visaria impedir que opiniões descabidas de alguns
comentaristas pudessem influenciar no rabiscar de notas do primeiro dia. Ou
seja, as palavras de La Augusta para a
primeira noite passariam a sensibilizar solamente o telespectador, não o jurado. Sem contar que a galera da
caneta seria obrigada a exercer um critério de julgamento mais correto e
coerente com aquilo que foi apresentado. O
fato é que a guarda pretoriana que defende com unhas e dentes o modelo
comparativo, e, conseqüentemente, o lacrar de notas ao final da segunda etapa,
sempre fica com a argumentação vacilante quando faço a seguinte pergunta:
“Vem cá, meus caros, se a Beija-Flor de Nilópolis e a Acadêmicos da
Rocinha, (para tomarmos como parâmetro a atual tricampeã e a agremiação que
ascendeu ao especial) cada qual ao seu estilo, são perfeitas, por exemplo, no
quesito “alegorias e adereços”, por que não premiar ambas com uma nota 10? Ou
seja, a idéia comparativa, no meu entender, serve apenas para camuflar a
seguinte máxima que paira no imaginário coletivo dos quarenta homens
adestrados pela Liga: a de que as agremiações têm diferentes pesos na hora de
o jurado optar subjetivamente pela nota. E é por isto que, apesar de
inicialmente defender o fechamento dos mapas ao final de cada noite, eu ainda,
para um futuro mais distante, apostaria em uma medida mais radical para testar
coerência e a lisura deste critério de julgamento: recolhimento das avaliações
após a passagem de cada grêmio. Se
o Salgueiro, por exemplo, der um baile na avenida logo no começo da grande
festa, se for merecedor de notas máximas nos diferentes quesitos, o corpo
julgador não tem de ficar esperando a passagem das outras 13 escolas para premiá-lo
com uma avaliação positiva. O rabisco definitivo, portanto, tem de ser feito
na hora H do calor dos acontecimentos, ou, pelo menos para uma mudança inicial,
ao término de cada noite. Que a comparação até se dê na cabeça dos
jurados, o que ainda me faz colocar um pé atrás, mas... Esperar a décima
quarta escola desfilar para aí fechar os graus da primeira, é assinar um
atestado de esquisitice galopante para o critério em voga. Insisto: esta desculpa esfarrapada de critério comparativo é apenas a conversa para boi dormir que esconde a diferenciada “massa” dos pavilhões quando postos na “balança” cheia de incógnitas do julgamento. E nada pior que avaliações com olhares no passado, na força política, ou em uma espécie de Sobrenatural de Almeida Momesco e coisas do gênero. São o anti-carnaval, a anti-festa, a anti-premiação do momento. E a magia da folia está, exatamente, em seus grandes momentos. Fábio Fabato
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