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CD FÍSICO DO GRUPO ESPECIAL RJ 2023 - A SAGA DE UM COLECIONADOR
Edição nº 99 - 30/03/2023

CDs FÍSICOS DE CARNAVAL - A SAGA DE UM COLECIONADOR

Nesta sexta-feira (31), será lançado o EP com os sambas-enredo ao vivo da Sapucaí das seis primeiras colocadas do Grupo Especial em 2023. Sou um dos que resiste às novas tecnologias em alguns aspectos, como na divulgação das músicas. Assim, não utilizo plataformas digitais como Spotify ou Deezer para escutar sambas-enredo ou outros gêneros que aprecio. Então, procuro baixar as versões em mp3 para ouvir no computador ou no celular. E, é claro, busco ampliar a minha coleção de mídias tradicionais, como CD, LP e até K7.

Mas, a cada ano que passa, a atualização do acervo de CDs físicos se torna mais difícil. As tiragens dos discos com os sambas-enredo na Marquês de Sapucaí e de outras praças estão se tornando cada vez mais restritas a colecionadores. O CD para o Carnaval 2019 do Rio, pelo menos em Porto Alegre, foi o último que vi com uma grande tiragem nas lojas. A foto abaixo foi batida por mim num dos estabelecimentos musicais mais tradicionais da capital gaúcha: a Multisom da Rua da Praia, na Praça da Alfândega. Ou seja, em dezembro de 2018 foi a derradeira ocasião em que presenciei a velha briga natalina entre o disco de Carnaval e o de Roberto Carlos, que lançava naquele fim de ano o álbum em espanhol "Amor Sin Límite". Foi a despedida de uma era!


Pilhas do CD de 2019, o último ano em que presenciei uma cena assim, da qual tanto me acostumei - FOTO: Marco Maciel/Sambario

No ano seguinte, a mesma Multisom já não vendia mais o CD do Grupo Especial do Rio para 2020. Então, comprei na loja Rarities Music na Galeria Chaves, próxima dali. Pagaria 42 reais, naquela época o maior preço que já desembolsei pelo álbum até então. Então, comecei a perceber que as dificuldades para manter a coleção atualizada seriam maiores. A tiragem de 55 mil exemplares do álbum de 2019 cairia para 37 mil no do ano seguinte. Entre 2014 e 2018, consegui adquirir os discos físicos de São Paulo e do Acesso do Rio na Livraria Cultura, do Bourbon Country, que bravamente resiste até à falência decretada. A partir de 2019, começaria a comprá-los por outros meios. Na mesma Rarities, achei duas cópias do Acesso de 2019 e trouxe uma delas pra casa. Posteriormente, a gigantesca Multisom encravada no coração de Porto Alegre sucumbiria à praticamente extinção da fabricação dos CDs físicos e fecharia suas portas em definitivo nos tempos pandêmicos.


O Acesso 2020 compraria em pré-venda no site da Livraria Saraiva, demorando um mês para recebê-lo. Eu só o veria meses depois, na loja física da mesma Saraiva no Shopping Iguatemi de Porto Alegre. Já meu grande amigo e colunista Bruno Malta passaria a me enviar o de São Paulo a partir de 2019, com a já tradicional disponibilidade do CD nas festas anuais de lançamento dos sambas-enredo do Anhembi, organizadas pela Liga SP. Aliás, desde o ano passado que o álbum se tornou triplo. Com a pandemia e a não-realização do Carnaval em 2021, muitas coisas mudariam para o povo do colecionismo de samba-enredo. E pra pior.

No ainda incerto Carnaval de 2022, com a pandemia ainda ocasionando milhares de casos de covid-19 no fim de 2021 através da variante ômicron, os colecionadores tiveram que se habituar de vez aos novos meios de se obter o CD físico de samba-enredo, visando a festa que seria adiada para abril. Aliás, havia a dúvida se o álbum seria comercializado. A intenção inicial era apenas lançá-lo nas plataformas digitais, já que o diretor de marketing da Liga, Gabriel David, num primeiro momento descartou o expediente dos CDs físicos, em live no Mais Carnaval. Então, a LIESA, através da Universal, decidiu colocar à disposição uma tiragem completamente reduzida, de apenas 2 mil cópias. Pelo site da gravadora, os aficionados por Carnaval puderam comprar o CD para 2022, a partir de 26 de novembro de 2021. O valor cobrado foi de R$ 39,90, mais o frete. A transação na página da Universal foi tranquila, sem nenhum percalço. Depois, uma nova tiragem de cerca de mais mil cópias seria prensada.

Discos grudados e em embalagens de papelão


Contudo, havia a dúvida se a Liga RJ produziria o CD físico do Acesso. Talvez com a medida da LIESA e a pressão dos colecionadores, a liga se sentiu no dever de atendê-los. Mas acabaria oferecendo aos consumidores um produto feito "nas coxas". Com uma embalagem de papelão, sem capa de acrílico e tampouco com as letras dos sambas, dois CD's foram colocados um grudado no outro. Afinal, como o tempo de produção ultrapassou os 80 minutos, foi necessária a confecção de um álbum físico duplo. Assim, o pouco esmero no cuidado dos discos gerou muitas críticas. Com os exemplares colocados à venda apenas nas quadras das escolas, para o público de fora do Rio de Janeiro, as opções foram as plataformas de comércio eletrônico. Assim, o Mercado Livre e a Shopee passaram a ser mais utilizados pelos adeptos do colecionismo de samba-enredo nos últimos tempos. Hoje, os CDs da Série Ouro 2022 se tornaram raríssimos, sendo pouco encontrados até mesmo nos já referidos Shopee e ML.

Se a missão dos colecionadores para o Carnaval 2022 foi difícil, para 2023 a batalha se tornaria hercúlea. Sobretudo para os fãs dos sambas-enredo da Sapucaí. Até o fim do ano passado, a certeza era somente do CD físico de São Paulo, como sempre presente na festa de lançamento dos sambas-enredo pela Liga SP. Somente depois da virada do ano, viriam novidades sobre as bolachas digitais do Rio.


Os CDs do Carnaval 2023, mais o copo da Liga RJ. Entre os discos, desponta o de Guaratinguetá, cortesia do meu amigo Paulo Santos, da OESG - Organização das Escolas de Samba de Guaratinguetá - FOTO: Marco Maciel/Sambario

CD e copo personalizado em sacos pretos

No último dia 6 de janeiro, a Liga RJ anunciou a comercialização do CD físico duplo da Série Ouro 2023. Entretanto, seria necessário entrar em contato com o WhatsApp disponibilizado pela liga. Além do disco, também foi colocada a opção de adquiri-lo num combo, junto com um copo personalizado. O recipiente a ser escolhido podia ser de cada uma das 15 escolas ou com os símbolos de todas. Optei pelo CD mais o copo com os 15 brasões, pagando 60 reais, mais o frete para Porto Alegre, é claro. Se quisesse somente o CD, o preço era de 48 reais.

A Liga RJ informou a chave do PIX, mas não comunicou uma previsão inicial de envio. Logo, conhecidos meus ficaram na dúvida se efetuavam ou não a transferência. Paguei no dia 9 de janeiro e só obtive um retorno do zap da entidade no dia 27. Ou seja, 18 dias depois. Então, a Liga RJ me enviou a seguinte mensagem, com duas fotos do CD, dessa vez em capa de acrílico ao invés de papelão, reproduzidas mais abaixo: "Olá! Estamos na etapa de recebimento dos pedidos. A partir de 2/2, começaremos a distribuição. Nosso portador, responsável pelas entregas e pelos Correios, entrará em contato para passar as demais informações. Obrigada!".

As primeiras fotos do CD da Série Ouro, enviadas pela Liga RJ para quem comprou na pré-venda

Foi um alívio para quem pagou para ver tal qual um jogo de pôquer, como eu. Mesmo que haja um agradecimento no gênero feminino, o texto não foi assinado por ninguém. Então, o portador informado passou a se comunicar manualmente e pessoalmente com os compradores, para definir as formas de entregas de cada um. Assim, um rapaz muito solícito se identificou como membro da Liga RJ e novamente me pediu as informações de envio, que já havia concedido no zap da entidade, além do tipo do copo personalizado. Ele fez a postagem nos Correios, mas me mandou o código de rastreamento apenas dias depois, porque eu solicitei. O álbum duplo da Série Ouro chegou para mim no dia 14 de fevereiro, na semana do Carnaval.

O copo, o mesmo comercializado nos minidesfiles das escolas do Acesso na Cidade do Samba, felizmente chegou para mim intacto. Outros colecionadores não tiveram a mesma sorte: houve casos do recipiente, de material não muito resistente, chegar rasgado e danificado ao destinatário. Relatos curiosos de como ocorreram as entregas pessoalmente dos CDs ou dos combos com o copo na cidade do Rio de Janeiro: os produtos vinham embalados em sacolões pretos, que lembram os de lixo.

PayPal é meu p...

Mas a história mais estapafúrdia envolve o CD físico do Grupo Especial do RJ. Quando ninguém mais esperava, eis que a LIESA anuncia, em suas redes sociais, a tardia comercialização do álbum com os sambas-enredo de 2023 das 12 escolas da chave principal da Sapucaí. Então, pegando a todos de surpresa, o Instagram da entidade publicou, no dia 9 de fevereiro, que o e-commerce com a edição física do disco estava disponível, ao valor de 55 reais (mais taxa de entrega). Ou seja, faltando somente pouco mais de uma semana para os desfiles. E numa tiragem de 3 mil exemplares.

Para meu espanto, o link divulgado pela LIESA exigia um cadastro no PayPal, empresa voltada para pagamentos e compras online. Mesmo que tivesse a opção de preencher as informações do cartão de crédito, a plataforma obrigava a colocação de dados do PayPal para conclusão da transação. Então, você fazia a conta lá, mas todos os cartões cadastrados não passavam, sem qualquer explicação. Coloquei mais de um no sistema de lá, além de criar outra conta no site para buscar homologar os cartões. Sem sucesso. Erros e mais erros. Muitos conhecidos passaram pelo mesmo problema. Alguns conseguiam driblar o PayPal, mas na bacia das almas e após inúmeras tentativas. Mas a maioria fracassava na missão. Como eu brinquei em minhas redes sociais: a LIESA e o PayPal me envelheceram 10 anos em uma semana. No vídeo abaixo, tirado da edição de 9 de fevereiro da LIVE SAMBARIO DEBATE, nota-se toda a minha revolta com a plataforma de compras, sob os olhares e risos dos companheiros Carlos Fonseca e Cassius Silva (canal Carnaval & Parintins).

Ora, a maior incoerência de todas era a LIESA disponibilizar o disco físico para colecionadores acostumados a mídias mais tradicionais... utilizando um conceito moderninho de compra e venda. Garanto que a maioria dos que tentou comprar o CD, geralmente pessoas de 30 anos pra cima, jamais tinha ouvido falar em PayPal. Inclusive, uma atendente muito simpática e dedicada da empresa entrou em contato comigo, diante de minhas queixas nas redes sociais, para tentar me ajudar na compra do disco. Diante do erro de sempre na plataforma, a funcionária creditou a recusa do cartão a problemas com o banco e que eu teria que pedir para a minha agência liberar.

"No momento que você insere seu cartão tem uma cobrança de pequeno valor, essa cobrança esta sendo negada pelo processador do seu cartão", justificou a representante do PayPal, que concluiu: "Essa questão não é relacionada ao PayPal, por isso precisa confirmar seu cartão para poder fazer sua compra por qualquer site". Afinal, o que era mais fácil naquele momento? Comprar o CD do Grupo Especial do Rio de 2023 ou adquirir a Taça Jules Rimet original, mesmo depois de derretida?


Alguns dos trocentos problemas nas tentativas da compra do CD do Grupo Especial do Rio

Diante de tantas tentativas em vão, decidi pedir para amigos que haviam conseguido comprar o CD ou que já tinham conta no PayPal, como meus parceiros de SAMBARIO, Bruno Filandra e Theo Valter. Porém, para eles apareceu uma nova mensagem de erro, provocado antes mesmo de chegar ao sistema do site de compras. Ou seja, o e-commerce estava definitivamente com problemas e numa espécie de manutenção.


Em nome do SAMBARIO, enviei um e-mail para a Imprensa Rio Carnaval, procurando explicações sobre os problemas com a venda do CD do Grupo Especial. Recebi no dia 15 de fevereiro, seis dias depois do anúncio da venda da edição física dos sambas, a seguinte resposta da equipe de comunicação da LIESA: "Informamos que, em função do alto volume de vendas, o sistema de pagamento está enfrentando instabilidades. Nossa equipe de desenvolvimento já está trabalhando para solucionar o problema".

No dia seguinte, entrei novamente no e-commerce do CD. Para minha alegria, a opção do PayPal havia sido retirada pela LIESA na surdina. Ou seja, a entidade carnavalesca não fez nenhum pronunciamento aos consumidores. Então, consegui finalmente efetuar a compra do álbum físico sem problemas, no cartão de crédito. O porém é que o sistema aceita cartão de débito somente da bandeira Elo. Comunicamos as mudanças da loja virtual nas redes sociais do SAMBARIO, o que ajudou muitos colecionadores, que não haviam conseguido comprar o álbum físico até então. O CD só chegaria aqui em casa no dia 1º de março. Ou seja, depois do Carnaval, já com a Imperatriz campeã.

CDs piratas à venda com Paolla Oliveira na contracapa

A polêmica loja virtual disponibilizada pela LIESA ainda se mantém no ar, com poucos exemplares do disco presentes no Mercado Livre e na Shopee, a preços mais elevados. Portanto, o CD do Grupo Especial do Rio em 2023 deve se tornar uma peça rara no mercado. Nestas plataformas digitais de compra, estão vendendo um CD não-oficial, com a capa ainda apresentando os símbolos coloridos da Rio Carnaval que geraram rejeição do público, retirados na versão definitiva. Ainda por cima, a contracapa do CD pirata mostra a atriz Paolla Oliveira, ao invés da porta-bandeira Selminha Sorriso, que estampa a verdadeira. Além disso, a Universal não esteve por trás da prensagem do CD físico oficial de 2023. Já a versão falsa do disco apresenta o logo da gravadora.

A foto da contracapa oficial com Selminha Sorriso e a versão pirata em que desponta Paolla, com código de barra e tudo

Logo após a divulgação dos resultados dos desfiles e as justificativas dos jurados, chamou a atenção a manifestação de um presidente de escola de samba filiada à Liga SP no Twitter. "O que se gasta na festa de lançamento do CD (mídia ultrapassada e obsoleta) poderia ser investido num baita curso de capacitação de jurados, com maior tempo de duração (prático e teórico) e sobraria até ajuda de custo para os escolhidos". Pronto: agora a culpa das falhas do julgamento nos desfiles do Anhembi é... dos CDs físicos. Se outros representantes e dirigentes de escolas de samba apresentarem este mesmo pensamento, é mais um fardo que nós, colecionadores, teremos que carregar. Até porque, numa destas festas da principal entidade carnavalesca paulistana, um apreciador de Carnaval integrante da mídia esportiva não sabia o que fazer com o CD triplo que recebeu, já que não utiliza os meios tradicionais para reprodução de música: "Vou brincar de disco voador", sugeriu.

Afinal, estamos naquela época em que, todo ano, pensamos que será a última vez em que veremos as edições físicas das bolachas digitais com os sambas-enredo à venda. Entretanto, também imaginamos isso antes do Carnaval 2022. O fato da LIESA ter decidido comercializar os CDs aos 45 do segundo tempo pode ter sido um sinal de que os colecionadores dos discos de Carnaval ainda representam um nicho forte e significativo. Logo, que mais epopeias venham para 2024.

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Marco Maciel
Twitter:
@marcoandrews